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Nos anos 30, milhões de americanos foram atingidos
pelos efeitos calamitosos da Grande Depressão — e não foi
diferente com Napoleon Hill (1883-1970). Empreendedor que
saltava de galho em galho, e naquela altura tentava a sorte
como escritor, ele sobrevivia do socorro financeiro da família
da esposa — isso, até o divórcio arrastá-lo ao fundo do poço.
Mas Hill encontrou uma forma de dar a volta por cima: se ele
não podia lutar contra a ruína econômica, por que não lucrar
com ela? Com base em seu próprio desalento, escreveu o
que viria a ser seu maior sucesso, Quem Pensa Enriquece
(1937). Hoje com 120 milhões de cópias vendidas, a obra foi
pioneira em explorar uma premissa básica do aconselhamento motivacional: com determinação e pensamentos positivos,
qualquer um pode vencer na vida.
Que a literatura de Hill tenha conservado seu apelo ao
longo das décadas não chega a ser surpresa. Ele foi, afinal,
um dos inventores da autoajuda moderna. Não deixa de ser
uma ironia, contudo, seu súbito empoderamento no Brasil
da pandemia, da crise econômica e da polarização tóxica.
Mais Esperto que o Diabo, livro que o americano fez em 1938
e ganhou edição no Brasil em 2014, atropelou o mercado
editorial no ano passado. Isso mesmo: a obra de autoajuda
dos anos 30 foi o livro mais vendido do país em 2020, com
234000 cópias comercializadas.
A ascensão do título coroou um movimento que se delineava desde 2019, quando o líder do ranking foi Como Fazer
Amigos e Influenciar Pessoas (1936), de Dale Carnegie
(1888-1955) — outro autor que fez fama à sombra da Grande
Depressão. “Vivemos um período de medo, o que aumentou
a busca por livros de superação”, diz o editor Marcial Conte
Jr. Inebriado pela obra de Hill, Conte Jr. largou o ramo farmacêutico para se dedicar ao editorial e, junto de outros empresários, criou a Citadel, casa de Mais Esperto que o Diabo.
Hill escreveu a obra em 1938, na esteira de Quem Pensa
Enriquece. O livro, contudo, foi engavetado por veto de dona
Annie Lou, última das cinco esposas do autor, por questões
religiosas. Além da menção ao dito-cujo no título, o manual
é todo construído em torno de uma fictícia entrevista entre o
autor e o diabo – que exige ser chamado de “Sua Majestade”.
Hill usa a metáfora demoníaca para denunciar os pensamentos negativos como fonte insidiosa de toda infelicidade. Essa
pérola só seria publicada pela primeira vez nos Estados Unidos em 2011.
(Raquel Carneiro, O pai da autoajuda. Veja, 27-01-2021)
Na passagem do primeiro parágrafo – … naquela altura
tentava a sorte como escritor –, a expressão destacada
faz referência