Na apresentação de seu Tomás da bolandeira, percebe-se
Fabiano tinha ido à feira da cidade comprar mantimentos. Precisava sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinhá Vitória pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita vermelha. Mas o querosene de seu Inácio estava misturado com água, e a chita da amostra era cara demais.
Fabiano percorreu as lojas, escolhendo o pano, regateando um tostão em côvado, receoso de ser enganado. Andava irresoluto, uma longa desconfiança dava-lhe gestos oblíquos. À tarde puxou o dinheiro, meio tentado, e logo se arrependeu, certo de que todos os caixeiros furtavam no preço e na medida: amarrou as notas na ponta do lenço, meteu-as na algibeira, dirigiu-se à bodega de seu Inácio.
Aí certificou-se novamente de que o querosene estava batizado e decidiu beber uma pinga, pois sentia calor. Seu Inácio trouxe a garrafa de aguardente. Fabiano virou o copo de um trago, cuspiu, limpou os beiços à manga, contraiu o rosto. Ia jurar que a cachaça tinha água. Por que seria que seu Inácio botava água em tudo? perguntou mentalmente. Animou-se e interrogou o bodegueiro:
- Por que é que vossemecê bota água em tudo?
Seu Inácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-se na calçada, resolvido a conversar. O vocabulário dele era pequeno, mas em horas de comunicabilidade enriquecia-se com algumas expressões de seu Tomás da bolandeira. Pobre de seu Tomás. Um homem tão direito andar por este mundo de trouxa nas costas. Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria?
(Graciliano Ramos. Vidas secas. 118. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2012, p. 2728. Adaptado)
Comentários
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Letra C e letra D é a típica alternativa sem noção!
Letra B ninguém falou nada de ascensão social.
Letra E ninguém falou nada de garantia
Letra A é a alternativa, pois ao afirmar "Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria?"
Sendo assim, conclui-se que votar não era algo tão comum assim naquela época.
➦ Esse livro cai muito em provas de Polícia.
Em Vidas Secas, há trechos de um abuso de autoridade. O "homem amarelo", como descrito no livro, é a autoridade, homem da lei. O livro aborda várias vezes sobre a injustiça cometida pelo soldado diante do personagem, vaqueiro da caatinga, Fabiano. A história se desenrola no sertão e em diversas vezes volta a cena e ao dia do fato supracitado.
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