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Q1611939
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Ser solidário é bom, mas não basta
As doações de empresas e indivíduos para financiar o
esforço no combate à pandemia de covid-19 já superaram
R$ 3 bilhões. É uma cifra formidável. Dessa forma, a elite
nacional exibe notável senso de solidariedade em relação
aos milhões de brasileiros que dependem de ajuda para
sobreviver, não só ao coronavírus, mas à miséria.
O problema é que, passada a pandemia, a elite, hoje solidária, retomará seus afazeres privados, mas nada da duríssima realidade de seus miseráveis compatriotas terá mudado. Assim, a solidariedade ante o padecimento dos desafortunados, embora louvável e necessária, não é suficiente. É preciso que a sociedade, em especial a elite política e econômica, considere inaceitável que a maioria de seus conterrâneos viva apartada daquilo a que chamamos de civilização.
Adentramos o século 21, quando as maravilhas das tecnologias digitais multiplicam o conforto e a sofisticação das sociedades, mas há uma parte significativa dos brasileiros que vive como se ainda estivéssemos no século 19 – sem acesso a equipamentos públicos que a esta altura já deveriam ser universais.
O problema é que, passada a pandemia, a elite, hoje solidária, retomará seus afazeres privados, mas nada da duríssima realidade de seus miseráveis compatriotas terá mudado. Assim, a solidariedade ante o padecimento dos desafortunados, embora louvável e necessária, não é suficiente. É preciso que a sociedade, em especial a elite política e econômica, considere inaceitável que a maioria de seus conterrâneos viva apartada daquilo a que chamamos de civilização.
Adentramos o século 21, quando as maravilhas das tecnologias digitais multiplicam o conforto e a sofisticação das sociedades, mas há uma parte significativa dos brasileiros que vive como se ainda estivéssemos no século 19 – sem acesso a equipamentos públicos que a esta altura já deveriam ser universais.
Não se pode considerar aceitável que 100 milhões de
brasileiros não tenham acesso a esgoto tratado, como se
todas essas pessoas fossem cidadãs de segunda classe. Do
mesmo modo, devemos considerar vergonhoso viver em um
dos países mais desiguais do mundo, em múltiplos sentidos,
não só em renda, como em outros indicadores.
Assim, não se trata mais de uma crise social e sanitária. É uma crise vital. Para enfrentá-la, não basta ser solidário. Está na hora de lutar, para que a sociedade se transforme, de tal maneira que todos os que aqui vivem, sem exceção, sejam afinal tratados com um mínimo de dignidade.
Assim, não se trata mais de uma crise social e sanitária. É uma crise vital. Para enfrentá-la, não basta ser solidário. Está na hora de lutar, para que a sociedade se transforme, de tal maneira que todos os que aqui vivem, sem exceção, sejam afinal tratados com um mínimo de dignidade.
(O Estado de S.Paulo, 31.05.2020. Adaptado)
O trecho em destaque na frase – O problema é que,
passada a pandemia, a elite, hoje solidária, retomará
seus afazeres privados. – está corretamente substituído, sem alteração de sentido, em