No trecho “Quem ama o tédio, divertido lhe parece. Apesar d...
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Ano: 2018
Banca:
INSTITUTO AOCP
Órgão:
CBM-ES
Prova:
INSTITUTO AOCP - 2018 - CBM-ES - Aspirante do Corpo de Bombeiros |
Q1676810
Português
Texto associado
Eu não diria que o prazer é “a” chave para a inteligência, mas sim que é um elemento subestimado de inteligência. Em outras palavras, tendemos a supor que pessoas inteligentes usam suas habilidades mentais em busca de problemas sérios que tenham clara utilidade ou recompensa econômica por trás deles. Mas o pensamento inteligente é muitas vezes desencadeado por experiências mais lúdicas, como os nossos ancestrais do Paleolítico que, esculpindo as primeiras flautas de ossos de animais, descobriram como posicionar os buracos para produzir os sons mais interessantes. Essas inovações exigiram uma grande dose de inteligência – dado o estado do conhecimento humano sobre a música e o design de instrumentos há 50 mil anos – mas esse tipo de coisa não era “útil” em nenhum sentido tradicional.
TEXTO I
Por que a diversão é tão útil para a humanidade
Por Pâmela Carbonari
Quem ama o tédio, divertido lhe parece. Apesar da diversão ser um conceito tão relativo quanto a
beleza, a paródia do ditado é tão verdadeira quanto a de que a necessidade é a mãe da invenção.
[…]
O escritor de ciência americano Steven Johnson acredita que o prazer é o motor da inovação. Em
seu décimo livro, O poder inovador da diversão: como o prazer e o entretenimento mudaram o mundo,
lançado no Brasil pela editora Zahar, ele mostra a importância da música, dos jogos, da mágica, da
comida e de outras formas de diversão para chegarmos onde estamos e para que tipo de futuro esses
passatempos nos levarão.
[…]
Do jogo de dardos veio a estatística. A flauta de osso pode ser a ancestral do computador que você
lê este artigo. As caixas de música serviram de inspiração para os teares. Com uma prosa leve e bemhumorada (à prova de hipocrisias), Johnson explica como tecnologias fundamentais para o nosso tempo
nasceram e evoluíram de objetos e engrenagens que não tinham outro objetivo senão entreter. [...]
Somos naturalmente hedonistas. E, como você diz, a diversão ajudou a moldar a humanidade.
Você acha que o prazer é a chave para a inteligência?
Eu não diria que o prazer é “a” chave para a inteligência, mas sim que é um elemento subestimado de inteligência. Em outras palavras, tendemos a supor que pessoas inteligentes usam suas habilidades mentais em busca de problemas sérios que tenham clara utilidade ou recompensa econômica por trás deles. Mas o pensamento inteligente é muitas vezes desencadeado por experiências mais lúdicas, como os nossos ancestrais do Paleolítico que, esculpindo as primeiras flautas de ossos de animais, descobriram como posicionar os buracos para produzir os sons mais interessantes. Essas inovações exigiram uma grande dose de inteligência – dado o estado do conhecimento humano sobre a música e o design de instrumentos há 50 mil anos – mas esse tipo de coisa não era “útil” em nenhum sentido tradicional.
A história da diversão sempre esteve à margem dos registros históricos mais sérios e práticos,
como guerras, poder e igualdade, por exemplo. Você acha que a diversão estava implícita nesses
eventos ou foi ignorada pelos historiadores?
Acho que tem sido amplamente ignorada pelos historiadores. E quando foi observada e narrada, os
relatos históricos foram muito limitados: há histórias sobre moda, jogos ou temperos, mas como narrativas
separadas. Olhamos para a longa história da civilização de maneira diferente se contarmos a história do
comportamento “lúdico” como uma categoria mais abrangente – esse era meu objetivo ao escrever O
poder inovador da diversão. Essa história é muito mais importante que a maioria das pessoas imagina.
Nesse seu último livro, você diz que os prazeres inúteis da vida geralmente nos dão uma pista
sobre futuras mudanças na sociedade. O que podemos prever para o futuro a partir dos nossos
prazeres mais comuns agora?
Provavelmente o melhor exemplo recente foi a mania de Pokémon Go. Eu posso imaginar-nos
olhando para trás em 2025, quando muitos de nós estarão usando regularmente dispositivos de realidade
aumentada para resolver “problemas sérios” no trabalho, e vamos perceber que a primeira adoção
dominante dessa tecnologia veio de pessoas correndo pelas cidades capturando monstros japoneses
imaginários em seus telefones.
Por que a humanidade precisa se divertir?
Esta é uma questão verdadeiramente profunda. Algumas coisas que consideramos divertidas (sexo,
comida, por exemplo) têm claras explicações evolutivas sobre por que nossos cérebros devem achá-las
prazerosas. Mas o tipo de diversão que descrevo em O Poder Inovador da Diversão – o prazer de ver uma
boneca robô imitar um humano, ou a diversão de jogar um jogo de tabuleiro – é mais difícil de explicar.
Eu acho que tem a ver com a experiência de novidade e surpresa; uma parte significativa de nossa
inteligência vem do nosso interesse em coisas que nos surpreendem desafiando nossas expectativas.
Quando experimentamos essas coisas, temos um pequeno estímulo que diz: “Preste atenção nisso, isso
é novo”. E assim, ao longo do tempo, os sistemas culturais se desenvolveram para criar experiências
cada vez mais elaboradas para surpreender outros seres humanos: desde as primeiras flautas de osso,
até os novos e brilhantes padrões de tecido de chita, todas as formas de Pokémon Go. É uma história
antiga; temos muito mais oportunidades e tecnologias para nos surpreender do que nossos ancestrais.
Adaptado de: <https://super.abril.com.br/blog/literal/por-que-a-diversao-e-tao-util-para-a-humanidade/>. Acesso em: 22 jun. 2018.
No trecho “Quem ama o tédio, divertido
lhe parece. Apesar da diversão ser um
conceito tão relativo quanto a beleza,
a paródia do ditado é tão verdadeira
quanto a de que a necessidade é a mãe
da invenção.”, a linguagem é trabalhada
de modo a realçar qual função da
linguagem?