Graciliano Ramos foi o autor homenageado
da 11ª edição da Festa Literária Internacional de
Paraty (FLIP 2013).
Quando Prefeito, eleito, de Palmeira dos Índios,
Graciliano tornou-se nacionalmente conhecido pelos
dois relatórios encaminhados, em 1929 e 1930, ao
então Governador Álvaro Paes, com os quais presta
contas da administração do município. O texto adiante é trecho do relatório relativo ao ano de 1928:
“
(...)
CONCLUSÃO
“Procurei sempre os caminhos mais curtos.
Nas estradas que se abriram só há curvas onde as retas
foram inteiramente impossíveis. Evitei emaranhar-me
em teias de aranha. Certos indivíduos, não sei por que,
imaginam que devem ser consultados; outros se julgam
autoridade bastante para dizer aos contribuintes que
não paguem impostos. Não me entendi com esses.
Há quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e
escreva cartas anônimas, e adoeça, e se morda por não
ver a infalível maroteirazinha, a abençoada canalhice,
preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda
para os que dela se servem como assunto invariável;
há quem não compreenda que um ato administrativo
seja isento de lucro pessoal; há até quem pretenda
embaraçar-me em coisas tão simples como mandar
quebrar as pedras dos caminhos. Fechei os ouvidos,
deixei gritarem, arrecadei 1:325$500 de multas.
Não favoreci ninguém. Devo ter cometido numerosos
disparates. Todos os meus erros, porém, foram da
inteligência, que é fraca. Perdi vários amigos, ou
indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me
fizeram falta.
Há descontentamento. Se a minha estada na
Prefeitura por estes dois anos dependesse de
um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos.
Paz e prosperidade.
Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.”