Questões de Concurso
Sobre fundamentos da história : tempo, memória e cultura em história
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Che Guevara (1968), serigrafia de Andy Warhol.
O exercício proposto pelo docente descreve um instrumento de caráter avaliativo classificado como
I. “No outro dia falou pros manos que ia pescar peixões no igarapé Tietê. Maanape avisou: – Não vá, herói, que você topa com a velha Ceiuci mulher do gigante. Te come, heim! – Não tem inferno pra quem já navegou no Cachoeira! que Macunaíma exclamou. E partiu. Nem bem lançou a linha de cima dum mutá que veio vindo a velha Ceiuci pescando de tarrafa. A caapora viu a sombra de Macunaíma refletida n’água jogou depressa a tarrafa e só pescou sombra. O herói nem não achou graça porque estava tremendo de mêdo, vai, pra agradecer falou assim: – Bom-dia, minha vó.”
ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. [1928]. São Paulo: Livraria Martins Fontes, 1979, p. 131-2.
II. Fotografia de regata no rio Tietê, década de 1970.
As afirmativas a seguir, a respeito do uso de diferentes fontes de informação para uma aula de história sobre a relação da cidade de São Paulo com o rio Tietê, estão corretas, à exceção de uma. Assinale-a.
“O Bom Retiro acabaria ficando marcado para toda a cidade de São Paulo devido à sua grande diversidade cultural. E isso só ocorreu devido às ondas de imigrantes que foram chegando e se instalando na região. No fim do século XIX começaram a chegar diversos imigrantes europeus, com destaque para os portugueses e, na sequência, para os italianos. A partir do começo do século XX, muitas famílias israelitas chegam ao bairro, assim como sírios, libaneses, turcos, russos e povos de outras nacionalidades em menor escala. A partir dos anos 1990, o bairro recebe ainda mais imigrantes: os coreanos passam a ocupar os espaços comerciais. Além disso, bolivianos começam a trabalhar por ali, bem como os nordestinos, que também se encontram em grande número”. Adaptado de www.saopauloinfoco.com.br/o-bom-retiro/
As afirmativas a seguir caracterizam corretamente as possibilidades de uso do trecho citado em sala de aula para abordar o tema das imigrações em São Paulo, à exceção de uma. Assinale-a.
Com base na interpretação da autora a respeito das múltiplas facetas do livro didático de história, assinale V para a afirmativa verdadeira e F para a falsa.
( ) É um suporte de conhecimentos escolares e de métodos de ensino das disciplinas e matérias escolares. ( ) É um produto cultural, uma mercadoria ligada ao mundo editorial, inserido em uma lógica capitalista de mercado. ( ) É um veículo de sistema de valores, ideológicos e culturais, referidos a um determinado contexto histórico-social.
As afirmativas são, respectivamente,
A imagem é utilizada em sala de aula para apresentar o tema da peste negra e da Dança Macabra em uma atividade interdisciplinar sobre pandemias e epidemias ao longo da História.
Assinale a afirmativa que caracteriza corretamente o uso desse documento histórico para compreender o imaginário medieval a respeito da morte.
A respeito das etapas de organização didática necessárias para estruturar a visita e valorizar o potencial educativo do acervo museológico, analise as afirmativas a seguir.
I. Antes da visita, na fase de planejamento, o docente visita antecipadamente o museu, elabora o roteiro de observação para seus alunos e propõe estudos prévios em sala de aula sobre o acervo que será observado no museu.
II. Durante a visita, na fase da observação e coleta de dados, o docente privilegia os objetos que ilustram os conhecimentos prévios e confirmam o conteúdo do livro didático adotado, auxiliando na memorização das informações sobre a pré-história.
III. No retorno para a escola, na fase de avaliação e socialização dos dados coletados na visita, o docente organiza rodas de conversa para que os alunos apresentem aos colegas suas observações e lembranças da visita, aproveitando a oportunidade para sanar eventuais dúvidas.
Está correto o que se afirma em
“20 de julho de 1955. Preparei a refeição matinal. Cada filho prefere uma coisa. Já que não posso dar aos meus filhos uma casa decente para residir, procuro lhe dar uma refeição condigna. Terminaram a refeição. Lavei os utensílios. Depois fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. É só eu e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu sonho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço, residir numa casa confortável, mas não é possível. Eu não estou descontente com a profissão que exerço. Já habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel. O desgosto que tenho é residir em favela.”
Adaptado de JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2019.
Sobre o uso de testemunhos literários em sala de aula, estão corretas as afirmativas a seguir, à exceção de uma. Assinale-a.
Se “a interatividade é o pão cada vez mais cotidiano” das sociedades, nas palavras de Edmond Couchot (1997, p. 143), um dos caminhos em sala de aula é tentar “matar essa fome” reconhecendo as inúmeras possibilidades que a linguagem da internet nos propicia. (...) Nas palavras de Juliana Xavier de Araújo, os memes não são somente reproduzidos, mas sim reelaborados de acordo com a situação e o contexto social vivido pelo sujeito. É um processo criativo de receber e dar sentido a essas formas, contextualizando-as, ou seja, cada indivíduo utiliza o sentido do meme e o ressignifica continuamente em cada replicação, a fim de compartilhar novos enunciados e adquirir um determinado capital social.
LAMARÃO Luisa Quarti. O uso de memes nas aulas de história, p. 182-184. Disponível em https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/periferia/article/view/36442/28114
Se o professor, usando dos memes para o ensino crítico sobre a escravidão, estabelecesse conexão do conteúdo ministrado com a atualidade vivida pelos seus alunos, a alternativa CORRETA seria
I. Fonte histórica, documento, registro, vestígio são todos termos correlatos para definir tudo aquilo produzido pela humanidade no tempo e no espaço.
II. Fontes podem corresponder à herança material e imaterial deixada pelos antepassados que servem de base para a construção do conhecimento histórico.
III. O termo mais clássico para conceituar a fonte histórica é documento. Palavra, no entanto, que, devido às concepções da escola metódica, ou positivista, está atrelada a uma gama de ideias preconcebidas, significando não apenas o registro escrito, mas principalmente o registro oficial.
IV. Vestígio é a palavra atualmente preferida pelos historiadores que defendem que a fonte histórica é mais do que o documento oficial: que os mitos, a fala, o cinema, a literatura, tudo isso, como produtos humanos, torna-se fonte para o conhecimento da história.
V. No mundo ocidental, as primeiras ideias sistematizadas acerca da natureza das fontes históricas surgiram entre o século XVIII e o início do XIX, com os eruditos franceses que começaram a sistematizar a História escrita e, logo, a valorizar o documento.
PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
I. No início do século XXI, um dos campos de trabalho para os historiadores que mais crescem no Brasil é o de patrimônio histórico. Todavia, a maioria dos cursos de graduação em História não possui ainda em seu currículo disciplinas suficientes para contemplar tal crescimento. Em geral têm sido os cursos de especialização, assim como as graduações e os cursos técnicos de turismo, que respondem à demanda por profissionais que trabalhem com o patrimônio histórico e cultural brasileiro.
II. A noção de patrimônio histórico tradicionalmente se refere à herança composta por um complexo de bens históricos. Mas, apesar de ainda pouco conhecido mesmo pelos egressos dos cursos de História do Brasil, o fato é que os especialistas vêm continuamente substituindo o conceito de patrimônio histórico pela expressão patrimônio cultural.
III. Em última instância, define-se patrimônio cultural (incluindo nessa ideia a de patrimônio histórico) como o complexo de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques nacionais de determinado país ou região que possui valor histórico e artístico e compõem um determinado entorno ambiental de valor patrimonial. Em sua origem, todavia, o patrimônio tem sentido jurídico bastante restrito, sendo entendido como um conjunto de bens suscetíveis de apreciação econômica.
IV. A definição atual de patrimônio cultural se originou no documento elaborado pela Convenção sobre Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, realizada em 1972 e promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
V. Na Constituição Brasileira de 1988, os termos de regulamentação do serviço do patrimônio cultural, atualmente centralizados no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), determinam que tal serviço objetiva a promoção do tombamento e da conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.
BO, João Batista Lanari. Proteção do patrimônio na UNESCO: ações e significados / João Batista Lanari Bo. – Brasília: UNESCO, 2003.186p BRASIL. [Constituição de 1988]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
I. Conforme Eni Orlandi, uma das principais estudiosas da Análise do Discurso no Brasil, o discurso é a prática da linguagem, isto é, uma narrativa construída a partir de condições históricas e sociais específicas. Para ela, todo discurso materializa determinada ideologia na fala a partir de um idioma específico. Desse modo, todo discurso possui uma ideologia, e é a língua que permite aos indivíduos compreenderem e assimilarem tal ideologia.
II. De acordo com Orlandi, um dos principais componentes do discurso como fala ou narrativa são os significados históricos presentes no imaginário de quem o elabora. Cada discurso é, assim, uma representação do imaginário no qual seu autor está inserido. Mas, embora todo discurso seja proferido por alguém – um indivíduo (ou vários) –, esse sujeito (que pode ser o autor de um texto, por exemplo) não é responsável pelos significados que existem em seu discurso, uma vez que nenhum discurso é de autoria exclusiva de seu autor, já que todos os indivíduos fazem parte da mesma memória coletiva.
III. Para a Análise do Discurso, o importante é saber o que um texto quer dizer, como ele diz o que diz, ou seja, como os elementos linguísticos, históricos e sociais que o compõem fazem sentido dissociadamente.
IV. Outros conceitos fundamentais para a compreensão do discurso são imaginário e memória. A memória coletiva guarda tudo o que já foi dito, tornando possível que possamos dizer tudo de novo, ou entender quando algo for dito por outros. Ou seja, como não somos responsáveis pelos sentidos do discurso, só o entendemos porque esses sentidos já existem antes de nós, em nossa sociedade, na memória coletiva e no imaginário.
V. A Análise do Discurso, em um sentido mais amplo, já é empregada por profissional de História, quando esse coloca a si as seguintes perguntas diante de um documento ou de uma obra histórica: Quem o produziu? Quando foi produzido? Por que foi produzido? Para quem foi produzido? Essas são perguntas simples, mas básicas para entendermos os sentidos que estão além do conteúdo do texto.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Terra à vista: discurso do
confronto – Velho e Novo Mundo. São Paulo/Campinas: Cortez/Ed. Unicamp, 1990. ORLANDI, Eni Pulcinelli. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes, 1996. ORLANDI, Eni Pulcinelli.. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999
I. Segundo Jacques Le Goff, a memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas. O estudo da memória passa da Psicologia à Neurofisiologia, com cada aspecto seu interessando a uma ciência diferente, sendo a memória social um dos meios fundamentais para se abordar os problemas do tempo e da História. II. A memória está nos próprios alicerces da História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade. Mas só muito recentemente se tornou objeto de reflexão da historiografia. III. Quando os historiadores começaram a se apossar da memória como objeto da História, o principal campo a trabalhá-la foi a História Oral. IV. Para teóricos como Maurice Halbawchs, há inclusive uma nítida distinção entre memória coletiva e memória histórica: pois enquanto existe, segundo ele, uma História, existem muitas memórias. E, enquanto a História representa fatos distantes, a memória age sobre o que foi vivido. Nesse sentido, não seria possível trabalharmos a memória como documento histórico. Essa posição hoje é inclusive aceita pela maior parte dos historiadores. V. Antônio Montenegro considera que apesar de haver uma distinção entre memória e História, essas são inseparáveis, pois se a História é uma construção que resgata o passado do ponto de vista social, é também um processo que encontra paralelos em cada indivíduo por meio da memória.
HALBWACHS, Maurice (1877-1945). A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990 LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Unicamp, 1994 MONTENEGRO, Antonio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo: Contexto, 2001.
A partir da questão apresentada pelo Historiador Pedro Paulo Funari, proceda à análise dos itens, julgue-os e assinale a alternativa correta:
I. O anacronismo constitui meio privilegiado dessa manipulação [fake news], na medida em que o passado, presente e futuro são misturados, tomando tempos diferentes como iguais (este é o sentido da palavra anacronismo, ana = contra, cronos = tempo). II. Um anacronismo evidente é a ideia de que os seres humanos vivem e sempre viveram para minimizar os custos e maximizar os lucros. Esse princípio do capitalismo, compreensível para os dias de hoje, seria algo universal, fora do tempo, da história e da cultura. III. A história acaba sendo alvo privilegiado de pessoas e grupos que procuram manipular seus relatos a favor ou contra isso ou aquilo, muitas vezes distorcendo informações, inventando ou mentindo, reduzindo a história a questões narrativas e esvaziando desta o teor científico. IV. Os grupos ou pessoas que disseminam fake news tendem a sustentar que os valores capitalistas não são uma constante na história, desde sempre e para sempre, como se fizessem parte da natureza das coisas. V. O ensino de História pode servir para mostrar um passado às vezes pouco conhecido, mas bem presente nas fontes escritas ou materiais, de forma a questionar diversas ”verdades” de invenção recente, simples fake news. Por meio da busca de um passado mais complexo, diferente e variado, descobrimos que é possível lutar por um futuro melhor.
PINSKY, Jaime, BASSANEZI, Carla. FICO Carlos (org) Novos combates pela História: desafios - ensino [et al]. - São Paulo: Contexto, 2021. 256p.:il.
Os itens de I a V tratam da Escola dos Annales (1929-1989) na perspectiva de Peter Burke.
Considerando esta visão proceda à análise, julgue e assinale a alternativa correta:
I. Na perspectiva de Peter Burke, a mais importante contribuição do grupo dos Annales, incluindo-se as três gerações, foi expandir o campo da história por diversas áreas. O grupo ampliou o território da história, abrangendo áreas inesperadas do comportamento humano e a grupos sociais negligenciados pelos historiadores tradicionais.
II. Olhando o movimento como um todo, percebemos uma grande quantidade de livros notáveis aos quais é difícil negar o título de obras primas: Les Rois Thaumaturges, Société Féodale, Le probléme de I’incroyance, Le Méditerrannée, Les Paysans de Languedoc, Civilisation et Capitalisme.
III. A tensão entre sociologia durkheimiana e a geografia humana de Vidal de la Blache é tão antiga que pode ser considerada como parte integrante da estrutura dos Annales. A tradição durkheimiana concentrou-se no que era único para uma região particular, enquanto a perspectiva vidaliana incentivou a generalização e a comparação. IV. Burke defende que o aparente conflito entre liberdade e determinismo, ou entre estruturas sociais e ação humana, embora tenham concepção paradoxais, não foi fator de divisão entre os historiadores do grupo.
V. Dentre os caminhos a serem utilizados para se avaliar o movimento dos Annales temos a análise de suas ideias predominantes. De acordo com um estereótipo comum ao grupo, eles estavam preocupados com a história das estruturas na longa duração, utilizavam métodos quantitativos, diziam-se científicos e negavam a liberdade humana.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): A
Revolução Francesa da historiografia/ Peter Burke; tradução
Nilo Odalia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2011.