Questões de Literatura para Concurso
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O Cântico da Terra
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Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.
Cora Coralina
O eu-lírico do texto O Cântico da Terra, de Cora Coralina, é:
Na fortuna literária de Jorge Amado, escritor pertencente ao Romance de 30 da Literatura Brasileira, pode-se distinguir “depoimentos líricos, isto é, sentimentais, espraiados em torno de rixas e amores marinheiros”. Qual das seguintes obras justifica tal caracterização formulada por Alfredo Bosi, em História concisa da Literatura Brasileira?
Assinale a alternativa na qual a estrofe do poema abaixo apresente versos brancos.
Instrução: A questão de número 28 refere-se ao poema abaixo.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…
E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…
Sobre o poema apresentado anteriormente, do poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica simbolista presente no texto.
Instrução: A questão de número 27 refere-se ao texto abaixo.
O Vergalho
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras:
— «Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão! » Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada suplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediume a benção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— E, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma cousa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, em quanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjecturas. Segui caminho, a cavar cá dentro uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capitulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episodio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, — transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; elle gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia, trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as subtilezas do maroto!
Considerando-se a temática e os aspectos formais da escrita, assinale a alternativa que indica à qual movimento literário seu autor é considerado como pertencente.
Qual das seguintes afirmações é verdadeira em relação à diferença entre textos literários e não-literários?
Leia a seguir a afirmação de Gilberto Freyre em um fragmento do Manifesto Regionalista (1926).
Essa desorganização constante parece resultar principalmente do fato de que as regiões vêm sendo esquecidas pelos estadistas e legisladores brasileiros, uns preocupados com “os direitos dos Estados”, outros com “as necessidades de união nacional”, quando a preocupação máxima de todos deveria ser a de articulação inter-regional.”
(FREYRE, Gilberto. In: COSTA, Liduina F. A. da. O sertão não virou mar.
São Paulo: Annablume, 2005.)
O fragmento do Manifesto relaciona-se a uma das principais temáticas do(a):
Maxixe
O chocalho dos sapos coaxa
como um caracaxá rachado. Tudo mexe.
Um vento frouxo enlaga uma nuvem baixa
fofa. E desce com ela, desce.
E não a deixa e puxa-a como uma faixa
e espicha-se e enrolam-se. E o feixe rola
e rebola como uma bola
na luz roxa
da tarde oca
boba
chocha.
(ALMEIDA, Guilherme de. Maxixe. Disponível em:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/gu1.html.)
O sistema literário da primeira fase modernista no Brasil apresentava uma estética que rompia com os padrões clássicos, tradicionais da Literatura. O poema anterior demonstra algumas características que refletem tal ruptura. Sobre o poema, pode-se afirmar que:
(Caspar David Friedrich. Árvore dos Corvos, 1822, óleo sobre tela, 54 x
71 cm. Museu do Louvre – França: http://www.louvre.fr.)
A partir dos elementos que compõem o quadro e estabelecendo uma relação com a estética literária do Romantismo pode-se afirmar que:
Leia O “Soneto de Separação”, de Vinicius de Moraes, e responda as questões:
“De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.”
(https://www.pensador.com/sonetos_de_vinicius_de_moraes/)
O “Soneto de Separação” é formado por:
Leia o poema a seguir para responder às próximas três questões.
A um passarinho: (Vinícius de Moraes).
Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.
Deixa-te de histórias
Some-te daqui!
O dualismo, o bifrontismo: arte do conflito, do contraste, do dilema, da contradição, da dúvida; emprego intensivo das antíteses, dos paradoxos e dos oxímoros. O fusionismo: tentativa de conciliação dos contrários: Claro x Escuro, Deus x Homem, Fé x Razão, Céu x Terra, Teocentrismo x Antropocentrismo, Alma x Corpo, Virtude x Pecado, Espírito x Carne, Ascetismo x Mundanismo, Cristianismo x Paganismo, Dor x Prazer, Mocidade x Velhice, Vida x Morte, Humanização do sobrenatural.
Referimo-nos ao:
Regina Zilberman sintetiza as ideias de Hans Robert Jauss, que, a partir dos anos 1960, orientam a teoria da literatura na direção da estética da recepção, conferindo à atuação do leitor papel distintivo no processo de conhecimento e descrição da obra de arte literária. Para o crítico alemão, na síntese de Zilberman, a natureza eminentemente libertadora da arte se explicita pela experiência estética, composta por três atividades simultâneas e complementares – a poiesis, a aisthesis e a katharsis – cuja concretização depende da principal reação de que é capaz o leitor: a identificação. Enquanto culminância do exercício de leitura, a identificação, suscitada pelo herói, é categorizada em cinco modalidades, sobre as quais afirma-se que a
I. catártica é aquela tem um fundo liberador, própria à tragédia, conforme esperava Aristóteles.
II. associativa é desencadeada pelas personagens que se aproximam ao “homem comum”.
III. admirativa é produzida pela figura que corporifica um ideal e converte-se num exemplo a ser seguido.
IV. simpatética é aquela em que a representação se torna uma espécie de jogo, fazendo com que o espectador se integre à ficção.
V. irônica é aquela que leva o destinatário ao distanciamento e à reflexão, estando presente, com frequência, na ficção contemporânea.
Estão corretas apenas as afirmativas
Leila Perrone-Moisés sintetiza alguns argumentos sobre o porquê de se estudar literatura: ensinar literatura é ensinar a ler e, nas sociedades letradas, sem leitura não há cultura; os textos literários podem incluir todos os outros tipos de texto que o aluno deve conhecer; a significação, no texto literário, não se reduz ao significado, operando a interação de vários níveis semânticos e produzindo interpretações teoricamente infinitas; a literatura de ficção, ao mesmo tempo em que ilumina a realidade, mostra que outras realidades são possíveis, desenvolvendo a capacidade imaginativa e inspirando transformações históricas; e, por último, a poesia capta níveis de percepção e de fruição da realidade que outros tipos de texto não alcançam.
Considerando as virtudes arroladas pela autora, o ensino de literatura deve pressupor que o professor
A Semana de Arte Moderna, em 1922, representou um ponto de encontro de várias tendências artísticas que vinham se formando desde os anos da I Guerra Mundial. Seus desdobramentos resultaram, em boa medida, na publicação de obras literárias fundamentais desse primeiro modernismo, bem como de um extenso aparato crítico, por meio de revistas e manifestos, que iam delimitando subgrupos e consolidando matizes estéticos e ideológicos.
De uma destas revistas, extraiu-se o seguinte excerto da “Carta aberta a Alberto de Oliveira”, de Mario de Andrade, datada de 20 de abril de 1925:
“Estamos fazendo isso: Tentando. Tentando dar caráter nacional prás nossas artes. Nacional e não regional. Uns pregando. Outros agindo. Agindo e se sacrificando conscientemente pelo que vier depois. Estamos reagindo contra o preconceito da fórma. Estamos matando a literatice. Estamos acabando com o dominio espiritual da França sobre nós. Estamos acabando com o dominio gramatical de Portugal. Estamos esquecendo a pátria-amada-salve-salve em favor duma terra de verdade que vá enriquecer com o seu contingente característico a imagem multiface da humanidade. O nosso primitivismo está sobretudo nisso: Arte de intenções práticas [...]”
(Manteve-se a escrita original do texto)
Pela análise do excerto acima, conjugada às reflexões de Alfredo Bosi acerca dos desdobramentos da Semana de Arte Moderna, é correto afirmar que o trecho, extraído da carta publicada originalmente na Revista
A aproximação entre literatura e artes visuais, cujas origens remontam à filosofia clássica, foi amplamente abordada pelos estudos comparatistas ao longo do século XX. Além disso, tem demostrado fôlego em perspectiva analítica ao adentrar o recente século XXI, sobretudo pela potência de seus criadores, cujas obras, tanto artísticas quanto críticas, renovam não apenas a secular interseccionalidade entre os códigos na construção dos objetos em si, mas também (re)ativam leituras desses e de outros objetos do passado, num esforço de compreensão do contemporâneo.
Adriana Varejão, ao se apropriar da arte da azulejaria portuguesa com suas figuras ornamentais, bem como de representações pictóricas dos sujeitos do Novo Mundo elaboradas a partir do imaginário colonial/patriarcal dos expedicionários europeus, produz uma espécie de narrativa não discursiva, verificada em trabalhos como “Figura de convite II”, “Figura de convite III” e “Filho bastardo”, estabelecendo, de acordo com Silviano Santiago, um “jogo da encenação”, no qual a artista é a “dobradiça cosmopolita” dessa “porta de vaivém” dos sentidos.
Para o ensaísta, em termos de uma teoria da literatura transponível à leitura da obra de Varejão,
Marcos Bagno chama de “dramática da língua portuguesa” a oposição, instaurada no ensino, entre a norma-padrão e as variedades cultas da língua. Ela escancara o conflito entre os usos reais da língua e a obrigação, sentida pelos professores, de fazer cumprir um conjunto de regras que praticamente nenhum falante respeita em sua integralidade – nem mesmo os que tentam impô-las.
Diante desta constatação, o linguista propõe que a escola deva ensinar a
Não corresponde ao título de uma obra de Guimarães Rosa:
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. 8. ed. São Paulo: Editora da Unesp, 2007.
Considerando o texto como referência inicial, julgue (C ou E) item a seguir.
O indianismo romântico, desenvolvido durante o Segundo Reinado, pautou-se pelo nacionalismo exacerbado de inspiração local. Sua originalidade consistia em propor temas para a literatura, dissociados da sociedade brasileira, porém inspirados na literatura europeia que os literatos constituíram em referências políticas. Intérpretes do Brasil em tal perspectiva foram José de Alencar, autor da consagrada obra O Guarani, e Gonçalves de Magalhães, escritor que produziu a obra A confederação dos tamoios.
Firmo, o vaqueiro
No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viajeiro:
— Raimundinho, como vai ele?...
De longe apontou a palhoça.
— Sim.
O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro horas da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso no chão... Fui ver, coitado!... estava morto”. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.
NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.). O conto regionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
A passagem registra um momento em que a expressividade lírica é reforçada pela
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — de ascite consecutiva à alimentação tóxica — com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.
ALMEIDA, J. A. A bagaceira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978.
Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado “Romance de 30” da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)