Questões de Concurso
Comentadas sobre adjetivos em português
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Educação Infantil e Avaliação
(1§) Há muitos anos, a educação infantil era tida como um espaço aonde a criança ia para brincar, se divertir, passar o tempo, ter oportunidade de conviver com crianças da mesma idade. Porém, a educação infantil conquistou seu espaço de valorização e respeito, podendo ser vista como construtora das primeiras aprendizagens sociais e intelectuais do sujeito, através das experiências em que este vive no espaço escolar.
(2§) Mesmo tendo conquistado seu espaço, podemos ver até hoje que a avaliação nesse contexto escolar não é tida com a seriedade que deveria. Não podemos avaliar com tabelas prontas, que envolvem aspectos do cotidiano da criança, nem tampouco pelas produções e registros escritos, mas devemos avaliar continuamente, ou seja, numa avaliação que envolva o aluno como um todo e não fragmentado em partes.
(3§) Nessa perspectiva, os relatórios descritivos são a melhor forma de organizar dados referentes ao desenvolvimento das crianças nas creches e pré-escolas. O professor consciente, preparado, não vê o relatório como um formato trabalhoso de avaliar, mas como um instrumento de suporte para a especificidade do exercício de sua profissão. É uma forma de se auto avaliar, refletir sobre as estratégias utilizadas, identificando com responsabilidade o que funciona e o que pode ser modificado.
(4§) Para que o relatório seja eficiente, é necessário dispor de tempo para fazer pequenas anotações diárias sobre o comportamento, a participação, o envolvimento, o equilíbrio psicológico, dentre outros, de cada aluno durante as aulas.
(5§) Através do relatório, o professor demonstra o quão trabalhosa é a sua lida com as crianças, em razão dos detalhes que são citados no mesmo – no dia tal, a aluna ajudou o colega a vestir a blusa, já apresenta uma coordenação motora desenvolvida, pois conseguiu passar os fios do alinhavo corretamente.
(6§) Com isso, os pais vão tendo noção das atividades desenvolvidas, bem como percebendo a importância de cada uma delas para o desenvolvimento da criança, seja motor, cognitivo, afetivo ou social.
(http://educador.brasilescola.com/orientacoes/educacao-infantil-avaliacao.htm. Acesso: 13/10/2013.
Adaptado.)
Sobre o artigo, foram feitos alguns comentários. Classifique-os como (V) verdadeiros ou (F) falsos.
( ) A inserção da palavra “atrás” em “Há muitos anos [atrás], a educação infantil era tida como um espaço...” (1§) serve como recurso para exprimir a ideia de “tempo passado”.
( ) A preposição “até”, usada em: “...podemos ver até hoje que a avaliação nesse contexto escolar não é tida com a seriedade que deveria...” (2§), é um indicativo de que a avaliação na educação infantil é vista com preconceito há bastante tempo.
( ) No trecho: “...no dia tal, a aluna ajudou o colega a vestir a blusa...” (5§), o adjetivo “tal” possui o mesmo sentido de “qualquer”.
( ) No trecho: “...os pais vão tendo noção das atividades desenvolvidas, bem como percebendo a importância de cada uma delas...” (6§), o termo destacado tem o mesmo significado que a expressão “como também”.
A sequência correta de classificação, de cima para baixo, é:
por Karin Hueck
A ideia de que a beleza não é apenas aparência ilusória, mas deve servir aos bons propósitos, já era defendida pelo filósofo Platão, na Grécia antiga. Na Idade Média, artistas e eruditos também estavam convencidos de que o que era verdadeiro não poderia ser feio. Na língua portuguesa a proximidade (e a confusão) entre atributos como beleza, correção e bondade já se tornou corriqueira – afinal, quem nunca ouviu um adulto dizer a uma criança algo do tipo: “Que menino bonito, fez tudo certinho!”? Entre cientistas são comuns os relatos de que a “elegância” de uma teoria lhes fornece um primeiro indício sobre sua correção. Certa vez, o matemático alemão Hermann Weyl (1885-1955) chegou a ponto de sustentar uma hipótese refutada sobre a gravidade apenas porque sua fórmula lhe parecia muito bela. A intuição de Weyl provou-se correta – e seu conceito matemático fundamental teve seu valor reconhecido mais tarde por estudiosos da eletrodinâmica quântica.
Naturalmente, mesmo a mais elegante teoria pode se revelar falsa. A associação entre “belo” e “correto”, portanto, não pode ser tomada como óbvia. (...)
Fragmento de artigo da revista Mente & Cérebro, edição 207 - Abril 2010, intitulada “Simples + belo = correto. Será?”. Disponível em: http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/simples___belo_correto__sera_.html
Em “Que menino bonito, fez tudo certinho!”:
A tentativa de implantação da cultura europeia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências. Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra. Podemos construir obras excelentes, enriquecer nossa humanidade de aspectos novos e imprevistos, elevar à perfeição o tipo de civilização que representamos: o certo é que todo o fruto de nosso trabalho ou de nossa preguiça parece participar de um sistema de evolução próprio de outro clima e de outra paisagem.
Assim, antes de perguntar até que ponto poderá alcançar bom êxito a tentativa, caberia averiguar até onde temos podido representar aquelas formas de convívio, instituições e ideias de que somos herdeiros.
É relevante, em primeiro lugar, a circunstância de termos recebido a herança através de uma nação ibérica. A Espanha e Portugal são, com a Rússia e os países balcânicos (e em certo sentido também a Inglaterra), um dos territórios-ponte pelos quais a Europa se comunica com os outros mundos. Assim, eles constituem uma zona fronteiriça, de transição, menos carregada, em alguns casos, desse europeísmo que, não obstante, mantêm como um patrimônio necessário.
Foi a partir da época dos grandes descobrimentos marítimos que os dois países entraram mais decididamente no coro europeu. Esse ingresso tardio deveria repercutir intensamente em seus destinos, determinando muitos aspectos peculiares de sua história e de sua formação espiritual. Surgiu, assim, um tipo de sociedade que se desenvolveria, em alguns sentidos, quase à margem das congêneres europeias, e sem delas receber qualquer incitamento que já não trouxesse em germe.
HOLANDA, S.B. de. Raízes do Brasil. Texto com adaptação.
12ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.
Faz diferença beber aos 17 ou aos 18 anos?
A venda de bebida alcoólica para menores pode deixar de ser uma contravenção penal para se tornar crime. Mas, afinal de contas, faz tanta diferença assim deixar alguém beber antes ou depois dos 18 anos?
Em termos fisiológicos, as diferenças entre um garoto de 17 e um de 18 anos são sutis e podem variar bastante entre as populações. Mas está claro que, quanto mais jovem for o indivíduo, mais exposto ele estará aos riscos do consumo de álcool.
O cérebro só se forma completamente no fim da adolescência. E substâncias químicas como o álcool e as drogas podem afetar de forma mais acentuada as vias neurais em desenvolvimento.
Por outro lado, muitos jovens são mais imunes aos efeitos tóxicos da bebida – você já deve ter reparado que a ressaca parece piorar com a idade. Assim, existe uma tendência a consumir quantidades maiores, o que aumenta o risco da dependência.
É pouco provável que criminalizar a venda de álcool para menores faça com que os adolescentes deixem de beber. Apesar de provocar danos cognitivos, acidentes graves e causar vício, essa é a substância à qual eles ainda têm maior acesso.
A questão é que ainda prevalece, no país, uma cultura de que não tem nada de mais um garoto de 15 ou 16 anos tomar cerveja ou vinho no almoço de família. Para alguns pais, é até sinal de virilidade. Essa noção é que pode, sim, ser modificada com regras mais claras para a venda e consumo de bebida. Isso não se modifica da noite para o dia, mas pode fazer a diferença no futuro, da mesma forma que ninguém mais, hoje, ousa acender um cigarro na sala de aula.
(http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2015/02/25/faz-diferenca-beber-aos-17-ou-aos-18-anos. Acessado em 26.02.2015)
Na frase – E substâncias químicas como o álcool… – o termo em destaque é um adjetivo, cuja função é a de expressar qualidade, característica, modo de ser e aspecto.
Assinale a alternativa cuja palavra em destaque funciona como um adjetivo.
“Monet foi o principal pintor impressionista. Sua obra mais importante trata-se de uma paisagem moderna, pintada em estilo moderno, em pequena dimensão, sem nenhuma história para contar nem lição moral para comunicar. É uma fiel representação das impressões e sensações que os olhos experimentam."
Com relação às palavras destacadas e seu contexto, é correto afirmar que:
Andrea Estevam
Humanos percorrem 226 quilômetros em pouco mais de oito horas, utilizando somente a força do próprio corpo para nadar, pedalar e correr ao longo dessa distância. Um cara que teve as pernas amputadas quando ainda era bebê conquista, na marra, um lugar entre os melhores velocistas do mundo. Montanhistas russos se preparam para escalar o K2, a mais mortal das montanhas de mais de 8 mil metros, em pleno inverno, sob a ameaça de temperaturas que podem chegar a 50 graus negativos. Uma menina de 18 anos é campeã mundial de surf. Bikes que podem ser recarregadas na tomada são realidade. Os velhos de pensamento e alma têm razão: é o fim do mundo mesmo – pelo menos do mundo com as fronteiras físicas e mentais que conhecemos. É o fim do ser humano como animal perfeito, obra acabada. Ainda bem! Ao contrário do que nossa presunção e nosso egoísmo possam sugerir, seguimos em evolução, para sempre rascunhos de tudo o que ainda somos capazes de realizar. Que outros sonhos o ser humano pode concretizar nos próximos 2 mil anos? (Se conseguirmos, é claro, recriar a nossa civilização a tempo de não nos extinguirmos.) O mundo acaba e recomeça a cada dia, e da morte do velho nasce a vida e a transformação. Como diz aquela música do R.E.M., ―é o fim do mundo, e eu me sinto bem‖. Go Outside – Janeiro/2012 – Ed. 80 (Texto adaptado)
Andrea Estevam
Humanos percorrem 226 quilômetros em pouco mais de oito horas, utilizando somente a força do próprio corpo para nadar, pedalar e correr ao longo dessa distância. Um cara que teve as pernas amputadas quando ainda era bebê conquista, na marra, um lugar entre os melhores velocistas do mundo. Montanhistas russos se preparam para escalar o K2, a mais mortal das montanhas de mais de 8 mil metros, em pleno inverno, sob a ameaça de temperaturas que podem chegar a 50 graus negativos. Uma menina de 18 anos é campeã mundial de surf. Bikes que podem ser recarregadas na tomada são realidade. Os velhos de pensamento e alma têm razão: é o fim do mundo mesmo – pelo menos do mundo com as fronteiras físicas e mentais que conhecemos. É o fim do ser humano como animal perfeito, obra acabada. Ainda bem! Ao contrário do que nossa presunção e nosso egoísmo possam sugerir, seguimos em evolução, para sempre rascunhos de tudo o que ainda somos capazes de realizar. Que outros sonhos o ser humano pode concretizar nos próximos 2 mil anos? (Se conseguirmos, é claro, recriar a nossa civilização a tempo de não nos extinguirmos.) O mundo acaba e recomeça a cada dia, e da morte do velho nasce a vida e a transformação. Como diz aquela música do R.E.M., ―é o fim do mundo, e eu me sinto bem‖. Go Outside – Janeiro/2012 – Ed. 80 (Texto adaptado)
A palavra sublinhada, tal como se encontra nessa frase, exerce a função de um
O texto a seguir extraído do é um trecho do romance “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, relata um momento da longa viagem que os personagens empreenderam pelo sertão nordestino na tentativa de escapar da seca e da miséria. Leia e responda à questão.
“Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala”
Reconheço que a punição não é o único remédio para a violência cometida pelos jovens. Evidentemente, políticas sociais, educação, prevenção, assistência social são medidas que, se aplicadas no universo da população jovem, terão o condão, efetivamente, de reduzir a violência. Mas, em determinados casos, é preciso uma punição mais eficaz do que aquelas preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. (Aloysio Nunes Ferreira, Época).
O Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, é uma lei bem justa e generosa, ainda largamente ignorada em suas medidas de proteção e promoção. Mesmo quanto às sanções previstas no estatuto, antes de se chegar à internação, há uma série de outras menos severas, como a advertência, a prestação de serviços à comunidade e a liberdade assistida, que são frequentemente ignoradas, passando-se diretamente à privação de liberdade, mesmo em casos em que isso não se justifica”.
O adjetivo que, por sua tipologia, mostra um tipo diferente dos demais é:
Também tem de ser verde
(Jennifer ann Thomas)
A onda sustentável que tomou o planeta nas últimas décadas levantou considerações em torno da fabricação de baterias. A busca pelo aumento da eficiência passou a rivalizar com a batalha por tornar esses dispositivos mais verdes. O caminho seguro é a substituição gradual de fontes sujas de energia, a exemplo do petróleo, pelas renováveis. A energia solar, em especial, foi alavancada ao status de possível solução definitiva para os dois problemas que rondam as baterias: a eficiência e a sustentabilidade. Se toda a radiação que atinge a Terra em um dia, vinda do sol, virasse eletricidade, seria possível sustentara humanidade por 27 anos. Na prática, o que falta hoje para a adoção ampla da alternativa solar é apenas vontade, da indústria e de consumidores, para implantá-la. A startup alemã Changers achou uma boa forma de incentivo.
A Changers vende os modelos abastecidos por radiação solar. Seus carregadores, finos e maleáveis, podem ser acoplados a mochilas ou levados dentro de uma bolsa. Após quatro horas carregando no sol, uma dessas baterias absorve energia suficiente para produzir 16 watts-hora, o suficiente para recarregara bateria de um smartphone duas vezes no dia.
Um aplicativo, normalmente entregue junto com as baterias da Changers, motiva clientes a ser sustentáveis - e, no processo, mostra as vantagens de adotar essa postura (mesmo que para isso seja preciso pagar um pouco mais caro pelo produto alimentado pelo sol, em comparação com as baterias carregadas com fontes sujas). [...] A fundadora da Changers, Daniela Schiefer, afirma: “Todos adoram falar da necessidade de cuidar da Terra, mas poucos se mexem para isso. Queremos dar um empurrão, dizer ‘vamos começar de algum lugar’ e mostrar quanto é fácil adotar posturas mais conscientes”.
(Revista Veja, de 15/04/15 - adaptado)
“Se toda a radiação que atinge a Terra em um dia, vinda do sol, virasse eletricidade, seria possível sustentar a humanidade por 27 anos. ” (1°§)
Observe que, nas palavras “eletricidade” e “humanidade”, foi empregado um mesmo sufixo formador de substantivo. Assinale, dentre as palavras abaixo destacadas, aquela cujo sufixo NÃO forme um substantivo.
Os pobres homens ricos
Um amigo meu estava ofendido porque um jornal o chamou de boa‐vida. Vejam que país, que tempo, que situação! A vida deveria ser boa para toda gente, o que é insultuoso é que o seja apenas para alguns.
“Dinheiro é a coisa mais importante do mundo.” Quem escreveu isso não foi nenhum de nossos estimados agiotas. Foi um homem que a vida inteira viveu de seu trabalho, e se chamava Bernard Shaw. Não era um cínico, mas um homem de vigorosa fé social, que passou a vida lutando, a seu modo, para tornar melhor a sociedade em que vivia – e em certa medida o conseguiu. Ele nos fala de alguns homens ricos:
“Homens ricos e aristocratas com um desenvolvido senso de vida – homens como Ruskin, Willian Morris, Kropotkin – têm enormes apetites sociais… não se contentam com belas casas, querem belas cidades… não se contentam com esposas cheias de diamantes e filhas em flor; queixam‐se porque a operária está malvestida, a lavadeira cheira a gim, a costureira é anêmica, e porque todo homem que encontra não é um amigo e toda mulher não é um romance… sofrem com a arquitetura do vizinho…”
Esse “apetite social” é raríssimo entre os nossos homens ricos; a não ser que “social” seja tomado no sentido de “mundano”. E nossos homens de governo têm uma pasmosa desambição de governar. Vi, há tempo, um conhecido meu, que se tornou muito rico, sofreu horrorosamente na hora de comprar um quadro. Achava o quadro uma beleza, mas como o pintor pedia tantos contos ele se perguntava, e me perguntava, e perguntava a todo mundo se o quadro “valia” mesmo aquilo, se o artista não estaria pedindo aquele preço por sabê‐lo rico, se não seria “mais negócio” comprar um quadro de fulano.
Fiquei com pena dele, embora saiba que numa noite de jantar e boate ele gaste tranquilamente aquela importância, sem que isso lhe dê nenhum prazer especial. Fiquei com pena porque realmente ele gostava do quadro, queria tê‐lo, mas o prazer que poderia ter obtendo uma coisa ambicionada era estragado pela preocupação do negócio. Se não fosse pelo pintor, que precisava de dinheiro, eu o aconselharia a não comprar.
Homens públicos sem sentimento público, homens ricos que são, no fundo, pobres‐diabos – que não descobriram que a grande vantagem real de ter dinheiro é não ter que pensar a todo momento, em dinheiro…
(BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas. 31ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010.)
Os pobres homens ricos
Um amigo meu estava ofendido porque um jornal o chamou de boa‐vida. Vejam que país, que tempo, que situação! A vida deveria ser boa para toda gente, o que é insultuoso é que o seja apenas para alguns.
“Dinheiro é a coisa mais importante do mundo.” Quem escreveu isso não foi nenhum de nossos estimados agiotas. Foi um homem que a vida inteira viveu de seu trabalho, e se chamava Bernard Shaw. Não era um cínico, mas um homem de vigorosa fé social, que passou a vida lutando, a seu modo, para tornar melhor a sociedade em que vivia – e em certa medida o conseguiu. Ele nos fala de alguns homens ricos:
“Homens ricos e aristocratas com um desenvolvido senso de vida – homens como Ruskin, Willian Morris, Kropotkin – têm enormes apetites sociais… não se contentam com belas casas, querem belas cidades… não se contentam com esposas cheias de diamantes e filhas em flor; queixam‐se porque a operária está malvestida, a lavadeira cheira a gim, a costureira é anêmica, e porque todo homem que encontra não é um amigo e toda mulher não é um romance… sofrem com a arquitetura do vizinho…”
Esse “apetite social” é raríssimo entre os nossos homens ricos; a não ser que “social” seja tomado no sentido de “mundano”. E nossos homens de governo têm uma pasmosa desambição de governar. Vi, há tempo, um conhecido meu, que se tornou muito rico, sofreu horrorosamente na hora de comprar um quadro. Achava o quadro uma beleza, mas como o pintor pedia tantos contos ele se perguntava, e me perguntava, e perguntava a todo mundo se o quadro “valia” mesmo aquilo, se o artista não estaria pedindo aquele preço por sabê‐lo rico, se não seria “mais negócio” comprar um quadro de fulano.
Fiquei com pena dele, embora saiba que numa noite de jantar e boate ele gaste tranquilamente aquela importância, sem que isso lhe dê nenhum prazer especial. Fiquei com pena porque realmente ele gostava do quadro, queria tê‐lo, mas o prazer que poderia ter obtendo uma coisa ambicionada era estragado pela preocupação do negócio. Se não fosse pelo pintor, que precisava de dinheiro, eu o aconselharia a não comprar.
Homens públicos sem sentimento público, homens ricos que são, no fundo, pobres‐diabos – que não descobriram que a grande vantagem real de ter dinheiro é não ter que pensar a todo momento, em dinheiro…
(BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas. 31ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010.)
(1º§) A palavra sublinhada na frase anterior faz o plural da mesma forma que
Destruição e construção