Questões de Português - Adjetivos para Concurso
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“Uma angústia inexplicável - afinal, era uma brincadeira - mas avassaladora.”
Sobre o trecho destacado é correto afirmar que:
Paciência de Jó
Nesses tempos modernos, andamos muito impacientes.
Durante os anos que passei fora do Brasil, comunicava-me por cartas. Toda noite, sentava na minha escrivaninha e colocava a correspondência em dia. Ia até altas horas respondendo uma a uma, aquelas cartas que chegavam em envelopes verde-amarelos.
Depois de colocada no correio, uma carta levava de sete a dez dias pra chegar ao Brasil. Se a pessoa respondesse na hora, eram mais sete a dez dias pra chegar até Paris. E eu esperava, pacientemente.
Todo dia, acordava de madrugada para ir trabalhar. Meu trabalho era preparar o café da manhã para um batalhão de estudantes num restaurante universitário. Quando voltava pra casa, a primeira coisa que fazia era bater os olhos na caixa de cartas que ficava na portaria do meu prédio. Ela tinha quatro furos na parte inferior e, de longe, já dava pra enxergar se haviam chegado envelopes verde-amarelos.
Era um tempo em que não havia internet, não havia Skype, não havia WhatsApp, e-mail e um telefonema DDD custava os olhos da cara.
Lembro-me bem que quando o meu primeiro filho nasceu, poucas horas depois dei a primeira clicada no seu rostinho com uma Pentax Trip 33. Levei o filme pra revelar numa loja que ficava na Rue Soufflot e esperei cinco dias úteis para que as fotos ficassem prontas.
Fotografias na mão, coloquei dentro de um envelope pardo e despachei, pelo correio, pros meus pais, em Belo Horizonte. Quando eles abriram e viram o Julião pela primeira vez, o menino já tinha mais de vinte dias. Eles esperaram pacientemente a hora de ver a carinha do neto francês, uma grande novidade na família.
O meu pai vivia dizendo que, para levar a vida, era preciso ter uma paciência de Jó. Um dia, fui lá na Bíblia da minha mãe saber quem era o tal Jó.
Fiquei sabendo que, além de ser o mais paciente da turma, Jó tinha sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de boi e quinhentas jumentas. Imagine que só pra contar essa bicharada, é preciso mesmo ter uma paciência de Jó.
Ninguém tem mais paciência pra nada nesses tempos modernos. Se nos anos 70 eu esperava vinte dias a resposta de uma carta, hoje, se alguém não me responde um e-mail em segundos, já começo a perder a paciência.
Aqui em casa, a nossa empregada coloca qualquer coisa 30 segundos no micro-ondas, e fica lá com a mão na porta, impaciente, contando nos dedos a hora de apitar. No elevador do meu prédio, os moradores apertam o botão, a luzinha acende mas, mesmo assim, eles voltam lá umas três vezes e apertam de novo, impacientes.
Sem contar o carro de trás que sempre buzina assim que o sinal fica verde, o motorista que começa a acelerar quando percebe que já passaram os minutos e que o sinal já vai sair do vermelho e aquele que passa na sua frente e enfia o carro na vaga do shopping porque não tem paciência de ficar procurando um lugar pra estacionar.
Isso, sem contar que, no restaurante, quando alguém pede uma coca ao garçom e ele demora mais de um minuto, a gente sempre ouve um... “acho que ele esqueceu!”
Sinto que muitas pessoas não têm mais paciência pra ler um texto com mais de cinco linhas. Se você chegou até aqui, considero uma vitória!
Já percebeu que ninguém tem mais paciência de sentar-se na poltrona para ouvir música, pra procurar as três Marias no céu, pra plantar um grão de feijão no algodão e esperar ele crescer. Ninguém tem saco nem mesmo pra jogar paciência.
Já se foi o tempo em que tínhamos paciência até para decorar latim. Quem não se lembra do famoso Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia mostra? Que, em bom português, quer dizer Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?
(Alberto Villas. Carta Capital, 24 de abril de 2016.)
“Imaginem que disparate: uma mulher esculpindo pedras!”
Em relação à palavra destacada, analise as afirmativas a seguir.
I. Considerando o contexto em que aparece, são sinônimos “desatino” e “absurdo”. II. É uma palavra que pode variar em número. III. Trata-se de um adjetivo.
Estão corretas as afirmativas:
Texto
No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”, ou seja, uma forma de conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário-autoridade e a lei universal. Geralmente, isso se dá quando as motivações profundas de ambas as partes são conhecidas; ou imediatamente, quando ambos descobrem um elo em comum banal (torcer pelo mesmo time) ou especial (um amigo comum, uma instituição pela qual ambos passaram ou o fato de se ter nascido na mesma cidade). A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta. Essa é a forma típica do “jeitinho”. Uma de suas primeiras regras é não usar o argumento igualmente autoritário, o que também pode ocorrer, mas que leva a um reforço da má vontade do funcionário. De fato, quando se deseja utilizar o argumento da autoridade contra o funcionário, o jeitinho é um ato de força que no Brasil é conhecido como o “Sabe com quem está falando?”, em que não se busca uma igualdade simpática ou uma relação contínua com o agente da lei atrás do balcão, mas uma hierarquização inapelável entre o usuário e o atendente. De modo que, diante do “não pode” do funcionário, encontra-se um “não pode do não pode” feito pela invocação do “Sabe com quem você está falando?”. De qualquer modo, um jeito foi dado. “Jeitinho” e “Você sabe com quem está falando?” são os dois polos de uma mesma situação. Um é um modo harmonioso de resolver a disputa; o outro, um modo conflituoso e direto de realizar a mesma coisa. O “jeitinho” tem muito de cantada, de harmonização de interesses opostos, tal como quando uma mulher encontra um homem e ambos, interessados num encontro romântico, devem discutir a forma que o encontro deverá assumir. O “Sabe com quem está falando?”, por seu lado, afirma um estilo em que a autoridade é reafirmada , mas com a indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade muito certa ou precisa. Há sempre outra autoridade, ainda mais alta, a quem se poderá recorrer. E assim as cartas são lançadas.
(DAMATTA, Roberto. O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1884. P79-89, (Adaptado) .
“A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta.”
Cumprem papel caracterizador, podendo ser
classificados como adjetivos, todos os vocábulos
abaixo, EXCETO:
Texto
Em um ponto qualquer da praia de Copacabana, o ônibus
para, saltam dois rapazes e uma moça, o senhor de idade
sobe e inadvertidamente pisa o pé de um sujeito de meia-idade, robusto, muito satisfeito com a sua pessoa. O senhor
vira-se e ia pedir desculpas, quando o tal sujeito lhe diz quase
gritando: - Não sabe onde pisa, seu calhorda? O senhor de
idade não contava com aquela brutalidade e fica surpreso.
O outro carrega na mão, acrescentando: - Imbecil! Reação
inesperada do senhor de idade que responde: - Imbecil é a sua
mãe! Enquanto isso, todos os passageiros do ônibus sentem
que vai ocorrer qualquer coisa, provavelmente só desaforo
grosso, mas quem sabe? Talvez umas boas taponas... Diante
do ultraje atirado à genitora, o sujeito suficiente, em vez de
taponas que a maioria dos passageiros esperava, ou de puxar
da faca ou revólver, pergunta indignado ao senhor de idade:
- Sabe com quem está falando? Mas o senhor de idade não
era sopa e retrucou: - Estou falando com um homem, parece...
– Está falando com um delegado! O senhor está preso! – Isso
é o que vamos ver! O sujeito seria mesmo um delegado? Era
a pergunta que todos os passageiros se faziam. Ai deles, era!
E resultado: o delegado voltou-se para o motorista e ordenou:
- Entre pela rua Siqueira Campos e vamos para o distrito! Os
passageiros ficaram aborrecidíssimos com aquela brusca
mudança de itinerário, mas não protestaram. O ônibus para à
porta da delegacia, salta o senhor de idade, salta o delegado,
e este fala ao sentinela: - Leve preso este sujeito por desacato
à autoridade! Nisto o senhor de idade puxa a caderneta de
identificação e diz ao soldado: - Eu sou o general. Prenda este
atrevido! O general volta ao ônibus, comanda ao motorista: -
Vamos embora! O motorista “pisa”. Os passageiros do ônibus
batem palmas.
(BANDEIRA, Manuel. Sabe com quem está falando? Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1990. P672-674 (Adaptado) .
“Os passageiros ficaram aborrecidíssimos com aquela brusca mudança de itinerário, mas não protestaram.”
O adjetivo destacado cumpre papel expressivo uma vez
que se encontra flexionado no grau:
( ) “Água fria e pão quente” é sujeito da frase.
( ) O verbo da frase está no passado.
( ) As palavras“fria”,“quente”e“nunca”têm nesse ditado popular função adjetival.
Assinale a sequência CORRETA
Brasil gasta mais de 20 bilhões de reais para tratar
doenças relacionadas ao tabaco
O Brasil gastou 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 para tratar doenças relacionadas ao tabaco, conforme levantamento feito pela organização não governamental Aliança do Controle do Tabagismo (ACT). Os gastos somaram quase 21 bilhões de reais no ano passado. O Dia Nacional de Combate ao Fumo é lembrado nesta quarta (29) em todo o país.
De acordo com os dados da ACT, 82% dos casos de câncer de pulmão no país são causados pelo fumo. Outros problemas de saúde também são provocados pelo cigarro: 83% dos casos de câncer de laringe estão relacionados ao tabagismo, 13% dos casos de câncer do colo do útero e 17% dos casos de leucemia mieloide.
No Distrito Federal (DF), por exemplo, a arrecadação, em média, é 6,2 milhões de reais mensais com a venda de cigarros (o valor corresponde a 25% do preço por maço). Por outro lado, o governo local gasta 18 milhões por mês com o tratamento de doenças vinculadas ao fumo, segundo o pneumologista e coordenador do Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Celso Rodrigues.
Para o médico, os números mostram o impacto do vício na saúde. De acordo com Rodrigues, o tabagismo cria dependência química, física e psicológica, o que influencia no tratamento. “É muito importante que a pessoa entenda a relação dela com o cigarro. Ela tem que entender por que fuma, por que deseja parar de fumar e onde está a dificuldade, por que não parou até agora”, explica.
A secretaria oferece terapia em grupo, durante um ano e três meses, em 62 unidades de saúde e em 47 empresas habilitadas a atender funcionários interessados em parar de fumar. Ações de prevenção e promoção de saúde também são promovidas em escolas.
Em média, 500 fumantes iniciam o tratamento nas unidades de saúde a cada mês. Cerca de 400 pacientes conseguem deixar o fumo, sendo que 200 têm recaídas durante a terapia – quando os pacientes são orientados a buscar a secretaria novamente caso voltem a fumar.
O cigarro vicia porque o principal componente – a nicotina – faz com que o cérebro libere dopamina, hormônio que dá uma sensação agradável. O organismo do fumante passa a pedir doses maiores de nicotina para que a sensação se repita e a pessoa sente necessidade de fumar cada vez mais.
Os males causados pelo fumo não são apenas relacionados ao sistema respiratório. Segundo Mônica Andreis, vice-diretora da ACT, as pessoas ligam o cigarro somente ao câncer de pulmão. “Ele também causa câncer de bexiga, boca, língua, faringe, problemas de fertilidade e derrame cerebral.”
(Disponível em http://www.cartacapital.com.br/sociedade/brasil-gasta-mais-de-20-bilhoes-de-reais-para-tratar-doencas-relacionadas-aotabaco/#todos-comentarios.)
A força dos temperos
Composto vegetal presente na salsa, no tomilho e na pimenta-malagueta estimula a produção de neurônios por parte das células-tronco humanas, aponta pesquisa brasileira. O tratamento com a substância também melhoraria a qualidade de conexões cerebrais.
Para reverter a perda de neurônios e de sinapses – transmissões de pulsos nervosos de uma célula para outra – decorrentes de doenças degenerativas e psiquiátricas, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Federal da Bahia e do Instituto D’Or estão apostando em um composto vegetal chamado apigenina. Presente em alimentos como salsa, tomilho, pimenta-malagueta e camomila, a substância mostrou benefícios semelhantes aos do estrogênio, mas sem o seu potencial cancerígeno.
A apigenina pertence ao grupo dos flavonoides, compostos fenólicos presentes em plantas e algas cujo consumo apresenta benefícios diversos. “Flavonoides vêm sendo usados por séculos para promover a saúde cardiovascular e também para prevenir câncer. Na medicina chinesa, por exemplo, o consumo de chá e a ingestão pela alimentação eram usados para prevenção de doenças”, nota a veterinária Cleide Souza, do Departamento de Ciências Biomédicas da UFRJ. Motivada pelo histórico da utilização dos flavonoides para promoção da saúde, a cientista testou o efeito da apigenina em células-tronco.
Em 2010, Souza constatou o efeito do flavonoide agathisflavona – um biflavonoide formado pela união de duas moléculas de apigenina – na potencialização da produção de neurônios em culturas de células de camundongos. Agora, demonstrou que a apigenina foi capaz de induzir a diferenciação neural de célulastronco pluripotentes humanas, mais especificamente as células-tronco embrionárias e de pluripotência induzida (iPS), capazes de se diferenciar em qualquer tipo de célula do organismo. “Este trabalho foi diferente do que vimos com a agathisflavona nas células de camundongo. Mostramos que a apigenina por si só foi capaz de induzir a diferenciação neural nestas células”, detalha a pesquisadora.
No experimento, as células tratadas com apigenina se transformaram especificamente em neurônios, o que não aconteceria sem a presença da substância. Além disso, foi observado que neurônios já diferenciados a partir de células-tronco embrionárias também se beneficiaram com a apigenina, uma vez que o tratamento desses neurônios com apigenina resultou no aumento do número de sinapses, quando comparadas aos neurônios não tratados. Os resultados foram publicados em dezembro de 2015 na revista Advances in Regenerative Biology.
PINHEIRO. Iara. A força dos temperos. Ciência Hoje.
Disponível em: <http://zip.net/bhsT3W>
Afinal, Direitos Humanos são direitos de bandidos?
A partir da ideia de universalidade dos direitos (todas as pessoas, independentemente de sua condição racial, econômica, social, ou mesmo criminal, são sujeitos aos direitos) trazida pela Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, mesmo os criminosos, por serem humanos, também têm direitos. Então, nesse sentido, Direitos Humanos são, também, direitos de bandidos.
Não haveria nenhuma crítica a essa afirmação, se usada no seu contexto adequado. O problema é quando ela é usada de forma falaciosa, quando busca forjar a ideia de que o movimento de Direitos Humanos apenas se preocupa com o direito dos presos e suspeitos, desprezando os direitos dos demais membros da comunidade.
Essa ideia, absolutamente equivocada, passou a ser difundida, ainda nos anos de chumbo da ditadura militar (1964-85), quando aqueles que defendiam as pessoas ameaçadas, perseguidas ou presas pelos aparelhos repressores do Estado, foram rotulados de ”defensores de bandidos”.
Mesmo com a redemocratização do país, a difusão da ideia continuou, não só para deslegitimar métodos democráticos no combate à criminalidade, como também para garantir uma certa impunidade (afinal as polícias tiveram um papel destacado na violenta repressão política, através de práticas antidemocráticas de investigação, que, em alguns locais, ainda hoje perduram).
Além disso, essa ideia tem amplo apoio da parte conservadora da sociedade, que jamais tolerou a possibilidade de direitos serem estendidos às classes populares ou que qualquer pessoa, independentemente de sua etnia, gênero, condição social ou mesmo condição de suspeito ou condenado, deva ser respeitada como sujeito de direitos.
É óbvio que a defesa da dignidade daqueles que se encontram em conflito com o sistema de justiça criminal não significa ser a favor do crime ou do bandido; aliás a luta contra a impunidade, em todos os níveis, tem sido uma das principais bandeiras históricas dos militantes de Direitos Humanos.
Para além disso, é importante que se diga que o movimento de Direitos Humanos tem uma agenda bem mais ampla, que inclui questões como o racismo, a exclusão social, o trabalho infantil, a educação, o acesso à terra ou à moradia, o direito à saúde, a questão da desigualdade de gênero, etc.
Muita gente não se dá conta, mas quando entende que os idosos e pessoas portadoras de necessidade especiais merecem respeito, está defendendo os Direitos Humanos; ser contra a violência doméstica é ser a favor dos Direitos Humanos; quem luta a favor dos Direitos Humanos defende também a dignidade humana, a cidadania, a paz e a tolerância; se você é contra o racismo e contra a homofobia, saiba que você é um(a) defensor(a) dos Direitos Humanos e propagador(a) de uma cultura transversal de Direitos Humanos, contribuindo de forma decisiva para que aquela ideia que reduz e confunde Direitos Humanos com direitos de bandidos seja cada vez mais uma concepção de um tempo que já passou.
BORBA, Mauro. Disputando (o) Direito. Disponível em:<https://goo.gl/PP54Lf>
Observe as locuções retiradas do texto a seguir.
I. Violência doméstica
II. Métodos democráticos
III. Direitos Humanos
Os adjetivos que são classificados como sendo de relação (relacionais) são:
Sobre a banalização do próprio corpo
Recentemente, num café da manhã entre confrades, ao sugerir – destaco “sugerir” – a uma amiga atriz que fechasse um dos botões de sua camisa, pois um de seus seios poderia ficar exposto ao movimentar-se, obtenho a resposta: “Mas é só um peito como todos os outros. Como aquele das mães que amamentam. É só mais um peito”.
Um pouco confuso com a reação, me calo e reflito… “É só mais um peito”? Mal da Filosofia: faço da afirmação um problema, uma questão.
A pergunta me remói por dias, até que assisto ao espetáculo Ziggy, homenagem prestada a David Bowie pela Cisne Negro Cia. de Dança, de Hulda Bittencourt. Ao mergulhar minha visão – e meu ser, portanto – nos corpos em gesto dos bailarinos e nas suas extensões, isto é, o belo e inspirado figurino de Fabio Namatame, uma pletora de pensamentos me invade, dentre eles, e sobretudo, a reflexão do filósofo francês Maurice Merleau-Ponty.
Merleau-Ponty teve um papel importantíssimo ao recuperar a importância da percepção para a Filosofia. Suas teses de doutorado – a complementar, A estrutura do comportamento, e a principal, Fenomenologia da percepção – são consagradas a permutar, no modo como concebemos a consciência, o ego cogito (“eu penso”), tal como o compreendemos até então, pelo ego percipio (“eu percebo”). Numa direção diversa daquela de Descartes, Merleau-Ponty não funda o modo de ser singular do homem em sua capacidade de pensar, mas em sua percepção.
A partir das reflexões de Edmund Husserl, MerleauPonty alerta que não há uma consciência pura, tal como o defendia Descartes, isto é, o homem não pode ser simplesmente uma “coisa pensante” (res cogitans). Ele é necessariamente uma consciência aberta para o mundo. Sua consciência é sempre consciência de alguma coisa. E aquilo que possibilita a ele estar no mundo em consciência é seu corpo. E aqui temos uma marca importantíssima.
Em diálogo com Husserl e com toda uma série de pensadores franceses – dentre eles Malecranche, Maine de Biran e Bergson –, Merleau-Ponty evoca a noção de corpo-próprio. Podemos compreendê-la melhor por meio de uma distinção que faz a língua alemã. Dentre as palavras usadas para se referir a “corpo”, destacam-se duas: Körper e Leib. Körper designa qualquer corpo posto no espaço. Leib designa um corpo animado, um corpo vivo, o corpo próprio a um dado sujeito ou, se se preferir, a uma dada subjetividade.
Mas por que desta distinção? Responder a esta pergunta nos auxilia a responder à questão que nos colocamos de início. Nosso próprio corpo, ou, se se preferir, nosso corpo-próprio – como se traduz usualmente em português a palavra Leib – não é como qualquer outro corpo posto no espaço. Ele é dotado de vida: vida única, singular e que nos constitui. Sem ele, não estaríamos presentes no mundo, não o perceberíamos e não faríamos a sua experiência (a do corpo e a do mundo).
Nosso corpo não se desloca no espaço, ele realiza gestos. Uma cadeira não realiza gestos, um automóvel ou uma máquina tampouco. Minha mão, seus olhos, os braços de um dançarino, o corpo de um ator se movimentam no espaço de uma maneira totalmente diversa daquela de qualquer outro corpo. O corpo próprio percebe tudo aquilo que o envolve no ato em que se move, percebendo a si próprio. Mais que isso, na e pela percepção ele cria, inventa e transforma o espaço que se abre para acolher seu gesto.
Como diria Merleau-Ponty em sua tese principal, “O corpo-próprio está no mundo como o coração no organismo: ele mantém continuamente com vida o espetáculo visível, ele o anima e o nutre interiormente, forma com ele um sistema”.
Regressemos ao espetáculo Ziggy. Nele, o figurino expunha partes dos corpos dos bailarinos sem qualquer excesso, sem qualquer possibilidade de banalização. Lá havia seios à mostra: em alguns casos um; noutros, eram vistos parcialmente. Mas tudo sem excesso. O figurino valorizava os movimentos de cada um dos corpos que se ofereciam ao espaço, que eram por ele acolhidos e que, simultaneamente, o faziam se abrir a seus gestos. Na dança, por exemplo, é possível captar esta bela dimensão em que se percebe a criação como o encontro entre o movimento e o espaço, e não somente como fruto do movimento de um sujeito num espaço inerte. Não é possível um sem o outro.
Fechando o círculo constituído por esta reflexão, retomo, então, a questão: “É só mais um peito”? Não se tratava, ali, de “só um peito”, mas de um seio único que não é simplesmente algo à parte, um conjunto de pontos localizáveis no espaço que o constituem como um corpo isolado. Ele é necessariamente parte de um corpo inteiro que, por sua vez, põe a pessoa em contato com o mundo e a faz, por esta situação, transformar o próprio mundo por seus gestos. Como o seio da dançarina, aquele dito “só mais um peito” se movimenta com o corpo todo. Dizia Merleau-Ponty que as partes do corpo “se reportam umas às outras de uma maneira original: não estão dispersas umas ao lado das outras, mas envolvidas umas nas outras”.
Ao tomar o seio, por exemplo, como “só mais um peito”, é desprezado o corpo inteiro da bailarina que se expressa no movimento, compondo um gesto singular que cria a cena, que abre um horizonte de percepção. Ao banalizar o corpo-próprio, seu gesto – a dança, o atuar, o canto, por exemplo – perde sentido. Os seios nus das combatentes do “Femens” deixariam de ter o mesmo impacto e de, em sua densidade, constituir ato político. E assim será se banalizarmos qualquer parte de nosso corpo ou mesmo quaisquer de seus gestos: punhos erguidos, palmas, vaias, o beijo.
Não se trata, aqui, de debater a ocasião em que a frase sugerida para discussão – “Mas é só um peito […]” – fora enunciada. Tampouco de renegar as lutas políticas pelas quais passamos nas últimas décadas, de que somos devedores, que possibilitaram liberações em dimensões diversas de nossa vida em sociedade, e de nos recolhermos na redoma conservadora que, nos anos recentes, se ergue em torno de nós e nos sufoca tal qual clausura. É preciso defender o espaço
Trata-se apenas de um convite a pôr em questão a frase proferida, de modo a manter-nos despertos e atentos a cada gesto realizado, não para perscrutar a própria consciência ou mesmo o inconsciente, como se ambos escondessem alguma verdade à espera da decifração, mas para, por meio desta atenção sobre nós mesmos, vivermos intensamente cada gesto realizado pelo próprio corpo, pelo corpo inteiro – pelo corpo-próprio –, em sua singular complexidade.conquistado.
Francisco Alessandro. Revista cult. Disponível em:
<https://bit.ly/2LHLa1P>. Acesso em: 6 ago. 2018 (Adaptação).
A marcha da insensatez: redes sociais estão
destruindo a sociedade civil
Professor de Stanford, Niall Ferguson afirma que a polarização nas redes sociais está levando a sociedade a um estado de declínio que só pode ser qualificado de “incivilidade”
Umberto Eco (1932–2016) disse que as redes sociais possibilitaram o surgimento – e quiçá uma hegemonia – de uma “legião de imbecis”. Antes, concentrados em bares, tomando vinho ou cerveja, “falavam sem prejudicar a coletividade. Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. O escritor e filósofo italiano sugere que os jornais filtrem de maneira rigorosa as informações divulgadas nas redes sociais, porque, no geral, não são confiáveis.
O historiador escocês Niall Ferguson – autor de livros seminais sobre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, além de obras sobre a decadência do Ocidente [...] – segue o mesmo caminho de Umberto Eco, acrescentando sua própria interpretação. O professor de Stanford afirma que a polarização excessiva nas redes sociais está levando a sociedade “a um estado de declínio que só pode ser qualificado de “incivilidade”.
Suas interpretações foram colhidas pelos repórteres Ana Paula Ribeiro e Gustavo Schimitt, de O Globo. “A minha preocupação hoje é que a sociedade civil foi tão erodida pelo advento das redes sociais que não podemos mais falar em sociedade civil. Os Estados Unidos se tornaram uma sociedade não civilizada. A polarização se tornou um veneno. Eu me pergunto se a civilização não está se tornando algo diferente, em uma não civilização ocidental”, critica Niall Ferguson. No livro “A Grande Degeneração – A Decadência do Mundo Ocidental” [...], o autor não arrola as redes sociais como um dos fundamentos da ruína do Ocidente.
Dirigentes do Facebooke do Twitter não estão, sugere Niall Ferguson, minimamente preocupados com a extensão do dano que está acontecendo no tecido social. Quanto mais barbárie, produzida ou não pela tensão ideológica, mais pessoas circulam pelas redes, aumentando seus ganhos financeiros. “Uma das consequências das redes sociais gigantes é a polarização. As pessoas se agrupam em grupos de esquerda ou de direita. O que notamos é um maior engajamento em tuítes de linguagem moral, emocional e até obscena. As redes estão polarizando a sociedade, produzindo visões extremistas e fake news”, frisa o historiador.
[...]
Insensatez
Eugênio Bucci, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, apresenta uma tese ligeiramente diversa da de Niall Ferguson. O professor diz que, mais do que incivilidade, a polarização está gerando insensatez nas redes sociais. “A tendência é que discursos exacerbados sejam favorecidos nas redes.
E isso vai produzindo o efeito bolha: as pessoas que fazem parte delas dentro das redes são governadas por algoritmos e não pelo discernimento racional. O que é um paradoxo, porque tudo o que o Brasil precisa neste momento é de sensatez. Mas parece que os ventos favorecem a insensatez”, afirma o mestre. Não é uma visão apocalíptica, mas também não é integrada. É moderada.
Ao contrário do que diz Niall Ferguson, mais apocalíptico, Eugênio Bucci sugere cautela, pois não aposta que as redes sociais vão corromper a democracia no Ocidente. “As redes não podem ser definidas como mal absoluto. É bom lembrar que também representam um arejamento das democracias. E foram responsáveis por imprimir nova dinâmica nas relações entre a sociedade e o Estado”, pontua.
O professor Fabio Malini, coordenador do Laboratório de estudos sobre Internet e Cultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), corrobora a tese de Niall Fergunson. A incivilidade já predomina no Brasil, sobretudo no comportamento político (o que vai além do comportamento dos políticos). “A polarização é corriqueira na política. Mas, nas redes sociais, tem um modelo específico de atenção das pessoas que influi nisso. A proximidade tem sido a tônica de como algoritmos são construídos fortalecendo bolhas ideológicas, onde há atitudes impulsivas, que redundam em decisões emocionais.”
As redes sociais são incontornáveis, quer dizer, vão continuar (goste-se ou não, são positivas). O mais provável é que, após uma primeira fase como terreno da barbárie, retome o caminho civilizatório, abrindo oportunidade ao debate entre indivíduos que pensam de maneiras diferentes a respeito de política, economia, cultura e comportamento. Isto, claro, numa perspectiva otimista. No momento, tornaram-se frigoríficos de ideias, de comportamentos e de pessoas. Talvez não seja possível piorar.
BELÉM, Euler de França. Revista Bula.
Disponível em:<https://goo.gl/uoVXcZ>
Releia o trecho a seguir.
“Umberto Eco (1932-2016) disse que as redes sociais possibilitaram o surgimento — e quiçá uma hegemonia — de uma ‘legião de imbecis’. Antes, concentrados em bares, tomando vinho ou cerveja, ‘falavam sem prejudicar a coletividade. Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade’.”
A palavra destacada no trecho anterior que qualifica outra nesse trecho é:
Leia as afirmativas a seguir:
I. Com relação à escrita dos numerais, usa-se a conjunção “e” entre as centenas e dezenas, exceto as unidades. Por exemplo: Trezentos e vinte e três.
II. O adjetivo se refere sempre a um substantivo, mesmo que subentendido.
Marque a alternativa CORRETA:
TEXTO I
Fim de ano
De boas intenções, o inferno e os fins de ano estão cheios.
De minha parte, costumo tomar decisões radicais que tornarão meus dias mais tranquilos e me permitirão conviver mais tempo com a família e os amigos, fazer as refeições na hora certa, dormir pelo menos seis horas por noite, atender menos doentes, passar menos horas em aeroportos e em viagens de ida e volta no mesmo dia para cidades a milhares de quilômetros de distância.
Houve um tempo em que colocava minha mulher a par desses bons propósitos. Anos atrás deixei de fazê-lo, menos pelo receio de faltar com a palavra empenhada, do que pela vergonha diante do descrédito visível no sorriso dela.
Nos anos 1960, assisti a uma mesa-redonda na faculdade de medicina, em que um grupo de professores da USP discutiu um tema candente naquela época: “O trabalho no ano 2000”.
Como os debatedores previam avanços tecnológicos e máquinas que fariam a maior parte do trabalho humano, a preocupação era o que fazer com o tempo ocioso dos trabalhadores do século 21, para combater a sensação de inutilidade que os levaria aos transtornos psiquiátricos e ao alcoolismo.
Não demorei para constatar o equívoco dessas e de outras previsões sobre o milênio que estamos vivendo. Aconteceu o oposto: a evolução da tecnologia só nos trouxe mais trabalho. Cada invenção incorporada tornou mais escassas nossas horas de lazer.
No fim dos anos 1980, durante um estágio hospitalar nos Estados Unidos, vi um aparelho de fax. Fiquei maravilhado. Um relatório médico enviado de Los Angeles chegava a Nova York num passe de mágica. Assim que pude, comprei um aparelho e instalei-o em casa.
Em poucas semanas, a sala foi invadida por rolos de papel que jorravam da máquina feito cachoeira, com os resultados de exames encaminhados pelos laboratórios de análises. Fui obrigado a acordar mais cedo para dar conta deles.
Depois, vieram o computador, a internet e o e-mail, invenções inacreditáveis que aposentaram as máquinas de escrever, revolucionaram o acesso às informações e condenaram o fax à obsolescência. Mas, quem poderia imaginar que o e-mail se tornaria o flagelo estressante da vida atual?
Então, Lúcifer, o anjo decaído que a tudo assiste em sua tarefa cotidiana de atazanar mulheres e homens, inventou o celular.
Era do tamanho de um sapato 45, mas fiquei maravilhado outra vez. Adeus ao Bip e ao bolso cheio de moedas para ir atrás dos telefones públicos quando ele tocava.
O sucesso da invenção animou a indústria a produzir modelos cada vez mais compactos, de modo a facilitar o transporte para todos os cantos, junto ao corpo do usuário.
Então, Satanás que a tudo continuava a assistir, criou uma armadilha mais maligna do que o próprio inferno: a tela do celular. Achei o máximo, agora tinha o mundo em minhas mãos: WhatsApp, Facebook, Youtube, Instagram e o diabo que o carregue.
Inadvertido, caí nas garras do Cão. A pessoa me manda um e-mail e transfere para mim o problema dela. Como não há necessidade de chegar até um computador para responder, em dez minutos ela me envia um WhatsApp: “Você não viu meu e-mail?”. Inútil fingir que não recebi a mensagem, ela verá os dois risquinhos na tela.
Aí, um desocupado me inclui num grupo. Para não magoar os demais participantes, fico sem graça de sair. Resultado: meus dias são povoados por gatinhos cafonas dando bom dia, paisagens idílicas musicadas, pensamentos dignos dos calendários seicho-no-iê, piadas cretinas, maledicências e boatos absurdos apregoados como verdade universal.
Essa balbúrdia cibernética acelera e estressa o dia a dia, mas aumenta a eficiência no trabalho. Por essa razão, é fácil prever que os próximos avanços tecnológicos servirão para nos fazer trabalhar mais, cada vez mais, numa espiral enlouquecida que nos roubará o resto do lazer que ainda desfrutamos.
Em compensação, dirá você, caríssimo leitor, hoje somos muito mais competentes. É verdade. Eu seria incapaz de cumprir a metade dos compromissos que assumi. Teria deixado de fazer trabalhos e de viver momentos que me trouxeram realização pessoal, alegria e felicidade. Apesar dos pesares, viva o futuro.
VARELLA, Drauzio. Drauzio Varella.
Disponível em:<https://goo.gl/QmDE86>
Releia o trecho a seguir.
“Em compensação, dirá você, caríssimo leitor, hoje somos muito mais competentes.”
Sobre esse trecho, analise as afirmativas a seguir.
I. “Caríssimo” é adjetivo superlativo.
II. “Caríssimo leitor” é um termo acessório da oração.
III. “Competentes” é um adjetivo que concorda com o sujeito “nós”.
De acordo com a norma-padrão, estão corretas as afirmativas