Antigamente, o silêncio era dos imbecis;
hoje, são os melhores que emudecem
A atitude intolerante extrapola a
individualidade e liberdade de expressão das
pessoas. A intolerância reflete o preconceito
cultural em que somente um ponto de vista é
aceito. No meio digital, torna-se muitas vezes
revestida de diferentes formas, bastante
perigosas e até criminosas. Principalmente nas
redes sociais o sentimento de intransigência
encontrou um campo fértil sem concorrente
nas quatro estações do ano.
No Brasil, a política é o tipo de intolerância
de maior audiência na internet. A conclusão é
de uma pesquisa da agência de propaganda
Nova/SB, realizada no ano passado, que
mapeou os dez tipos mais recorrentes de
extremismos nas redes sociais. Uma rápida
navegação comprova esse resultado, que se
agrava de forma cruel e pessimista, uma vez
que são raras as vezes em que há um debate
inteligente ou preocupado sobre questões
sociais e coletivas. A discussão é feroz, infantil
e cega, e não há vencedores ao final.
A intolerância das pessoas chega a ser
mesquinha, pequena e imoral. Agem como
se não houvesse impunidade, pois existe
a ilusão de que o mundo digital é uma terra
de ninguém, quando muitos casos poderiam
ser enquadrados em crimes cibernéticos. De
insultos a notícias falsas, as infrações no
mundo digital também devem ser julgadas e
punidas sem exceção.
Uma pesquisa da Quartz divulgada em
janeiro deste ano constatou que 55% dos
brasileiros consideram que não há nada na
internet além do Facebook. Para boa parte dos
entrevistados, o Facebook e a internet são a
mesma coisa. Nos EUA, o índice foi de apenas
5%.
Isso reflete o conhecimento limitado e
a falta de visão em relação ao mundo de
possibilidades, oportunidades e alcance que
a internet traz, e que poucos enxergam e se
arriscam a viver e conhecer. Precisamos acordar e buscar o nosso lugar ao sol, pois a
concorrência cresce todo dia. Antigamente, o
silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores
que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o
punho cerrado estão com os idiotas de ambos
os sexos, dizia Nelson Rodrigues.
Eliane Dias. Texto adaptado de e disponível em: https://revistacult.uol.
com.br/home/internet-nao-e-o-facebook/