Questões de Português - Crase para Concurso
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Mesmo como maioria no serviço público, mulheres ainda têm cargos inferiores.
A primeira servidora pública do país foi Joana França Stockmeyer, que trabalhou na Imprensa Nacional, de 1892 até sua aposentadoria, em 1944. Em 1934, a Assembleia Constituinte garantiu o princípio da igualdade entre os sexos, a regulamentação do trabalho feminino, a equiparação salarial e o direito ao voto. De lá para cá, muita coisa mudou para melhor. No serviço público, elas já representam 55% do funcionalismo (federal, estadual e municipal), enquanto na iniciativa privada são 50%, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O percentual de mulheres no serviço público é maior porque o sentimento geral é de que as condições no acesso são similares, por meio de seleção democrática e imparcial. O esforço delas pela estabilidade, segundo especialistas, aponta que o desejo do público feminino vai além de consolidação de uma carreira, passa pelo sucesso pessoal e pela segurança da família. Como servidoras da administração federal, desfrutam de algumas vantagens ainda não incorporadas pelo setor privado. As contratadas em órgãos regidos pelo Estatuto do Servidor __1__, por exemplo, 180 dias de licença-adotante, concedida __2__ que adotaram crianças.
Esses avanços, no entanto, não impedem que as funcionárias federais, na prática, padeçam da mesma situação que as trabalhadoras privadas no que diz respeito __3__ diferença de gênero: continuam com remuneração inferior a dos homens e em cargos menos relevantes, embora ostentem grau superior de escolarização. Dados de um estudo da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) mostram que elas ainda são minoria na elite do serviço público. No Poder Executivo, representam 46% do total. No Judiciário, 9%. E no Legislativo, 2%, apenas.
Um corte do estudo sobre escolaridade aponta que elas são tão ou mais preparadas do que os homens para o mercado de trabalho. No Executivo, 48% das servidoras têm nível superior completo, enquanto que o percentual masculino formado fica em 43%. As com pós-graduação chegam a 5% ante 4% dos servidores; as com mestrado, 8% contra 7%. Quando assunto é doutorado, os percentuais se assemelham: 11% das funcionárias possuem a extensão ante 12% dos homens. Nos níveis que exigem menor conhecimento, a participação do sexo feminino é menor do que a do masculino: 4% têm ensino fundamental contra 8% dos homens; e 24% concluíram o ensino médio ante 26%.
Em relação __4__ remuneração no setor público, o percentual de mulheres em cargos com salários menores é equivalente a dos homens, mas cai no topo de carreira. Ambos os sexos têm participação de 3% na faixa entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. 9% das mulheres ocupam vagas de R$ 2 mil a R$ 3 mil, contra 8% dos homens. Elas estão em maior número, 21% ante 17%, quando a remuneração fica entre R$ 3 mil e R$ 4,5 mil. Tem participação igual na faixa entre R$ 6,5 mil e R$ 8,5 mil, de 12%. Porém, na medida em que os ganhos mensais avançam, a situação vai se invertendo: de R$ 10,5 mil a R$ 12,5 mil, elas são 5% e eles, 6%. No topo, com R$ 12,5 mil ou mais, a participação delas é de 12% e a deles, de 17%.
Uma das explicações possíveis para essa realidade, segundo analistas, pode ser o fato de que __5__ mulheres, no serviço público, assumem menos cargos de chefia. No Executivo, do total de cargos de direção e assessoramento superior (DAS), 59% estão com os homens, e 41%, com as mulheres. Segundo Pedro Palotti, técnico da Enap, o recrutamento já aponta os limites. “A maioria das mulheres não escolhe formação em ciências exatas, por exemplo, onde estão as funções com salários maiores na administração federal”, salientou.
Fonte:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2016/10/28/internas_economia,555122/mesmo-como-maioria-noservico-publico-mulheres-ainda-tem-cargos-infer.shtml
Acesso em: 28/10/2016
Observe o trecho destacado de uma notícia publicada em um jornal eletrônico da capital sul-mato-grossense:
Estudantes secundaristas que ocuparam três escolas em Mato Grosso do Sul, pretendem novas ações a fim de sensibilizar a sociedade a respeito do movimento contra a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 241, que propõe congelar as despesas do Governo Federal, por até 20 anos, e a Medida Provisória, 746/2016, que reforma o Ensino Médio.
Fonte: Jornal Midiamax, 31/10/2016: http://www.midiamax.com.br/cotidiano/escolas-desocupadas-alunos-pretendem-novas-acoes-estado-320622
Assinale a alternativa que exemplifica o uso inadequado de elementos gramaticais que compõem a
estrutura do trecho citado.
Considerando que o trecho a seguir seja o início de um memorando escrito para o Reitor de uma universidade pública, solicitado pelo Diretor de um campus da mesma instituição, identifique a alternativa que apresenta o(s) problema(s) na redação do documento.
Ao Senhor Reitor
(...)
Venho, por meio deste, solicitar vosso comparecimento à reunião-geral que ocorrerá no próximo dia 23 de setembro, às 14 horas, neste campus. Abordarei questões referentes ao processo 34/2016, sobre o qual eu já havia lhe informado. Ficarei imensamente honrado se puder contar com vossa presença. Seguem os pontos principais de discussão, que abordarei juntamente com a equipe desta reitoria:
(...)
No emprego da expressão “a prazo” não foi utilizado acento indicativo de crase. A
alternativa em que o NÃO emprego do acento se deu pelo mesmo motivo é:
O que é ética hoje?
Sem uma discussão lúcida sobre a ética não é possível agir com ética
Marcia Tiburi
A palavra ética aparece em muitos contextos de nossas vidas. Falamos sobre ética em tom de clamor por salvação. Cheios de esperança, alguns com certa empáfia, exigimos ou reclamamos da falta de ética, mas não sabemos exatamente o que queremos dizer com isso. Há um desejo de ética, mas mesmo em relação a ele não conseguimos avançar com ética. Este é nosso primeiro grande problema.
O que falta na abordagem sobre ética é justamente o que nos levaria a sermos éticos. Falta reflexão, falta pensamento crítico, falta entender “o que é” agir e “como” se deve agir. Com tais perguntas é que a ética inicia. Para que ela inicie é preciso sair da mera indignação moral baseada em emoções passageiras, que tantos acham magnífico expor, e chegar à reflexão ética. Aqueles que expõem suas emoções se mostram como pessoas sensíveis, bondosas, creem-se como antecipadamente éticos porque emotivos. Porém, não basta. As emoções em relação à política, à miséria ou à violência, passam e tudo continua como antes. A passagem das emoções indignadas para a elaboração de uma sensibilidade elaborada que possa sustentar a ação boa e justa - o foco de qualquer ética desde sempre - é o que está em jogo.
Falta, para isso, entendimento. Ou seja, compreensão de um sentido comum na nossa reivindicação pela ética. Falta, para se chegar a isso, que haja diálogo, ou seja, capacidade de expor e de ouvir o que a ética pode ser. Clamamos pela ética, mas não sabemos conversar. E para que haja ética é preciso diálogo. E, por isso, permanecemos num círculo vicioso em que só a inação e a ignorância triunfam.
Na inanição intelectual em voga, esperamos que os cultos, os intelectuais, os professores, os jornalistas, todos os que constroem a opinião pública, tragam respostas. Nem estes podem ajudar muito, pois desconhecem ou evitam a profundidade da questão. Há, neste contexto, quem pense que ser corrupto não exclui a ética. E isso não é opinião de ignorantes que não frequentaram escola alguma, mas de muitos ditos “cultos” e “inteligentes”. Quem hoje se preocupa em entender do que se trata? Quem se preocupa em não cair na contradição entre teoria e prática? Em discutir ética para além dos códigos de ética das profissões pensando-a como princípio que deve reger nossas relações?
Exatamente pela falta de compreensão do seu fundamento, do que significa a ética como elemento estrutural para cada um como pessoa e para a sociedade como um todo, é que perdemos de vista a possibilidade de uma realização da ética. A ética não entra em nossas vidas porque nem bem sabemos o que deveria entrar. Nem sabemos como. Mas quando perguntamos pela ética, em geral, é pelo “como fazemos para sermos éticos” que tudo começa. Aí começa também o erro em relação à ética. Pois ético é o que ultrapassa o mero uso que podemos fazer da própria ética quando se trata de sobreviver. Ética é o que diz respeito ao modo de nos comportamos e decidirmos nosso convívio e o modo como partilhamos valores e a própria liberdade. Ela é o sentido da convivência, mais do que o já tão importante respeito do limite próprio e alheio. Portanto, desde que ela diz respeito à relação entre um “eu” e um “tu”, ela envolve pensar o outro, o seu lugar, sua vida, sua potencialidade, seus direitos, como eu o vejo e como posso defendê-lo.
A Ética permanece, porém, sendo uma palavra vã, que usamos a esmo, sem pensar no conteúdo que ela carrega. Ninguém é ético só porque quer parecer ético. Ninguém é ético porque discorda do que se faz contra a ética. Só é ético aquele que enfrenta o limite da própria ação, da racionalidade que a sustenta e luta pela construção de uma sensibilidade que possa dar sentido à felicidade. Mas esta é mais do que satisfação na vida privada. A felicidade de que se trata é a “felicidade política”, ou seja, a vida justa e boa no universo público. A ética quando surgiu na antiguidade tinha este ideal. A felicidade na vida privada – que hoje também se tornou debate em torno do qual cresce a ignorância - depende disso.
Por isso, antes de mais nada, a urgência que se tornou essencial hoje – e que por isso mesmo, por ser essencial, muitos não percebem – é tratar a ética como um trabalho da lucidez quanto ao que estamos fazendo com nosso presente, mas sobretudo, com o que nele se planta e define o rumo futuro. Para isso é preciso renovar nossa capacidade de diálogo e propor um novo projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista.
(http://www.marciatiburi.com.br/textos/somoslivre.htm)
Questões:
TEXTO 1
Não há mais tempo a perder
Não há mais tempo a perder. Estamos todos juntos no mesmo barco e inúmeros indicadores apontam na mesma direção: se não dermos a devida resposta à ameaça que nos espreita, ficaremos marcados na História como a civilização que teve a competência de diagnosticar a maior de todas as tragédias ambientais sem que isso tenha justificado uma ampla mobilização da sociedade. Esta é a razão pela qual muitos estudiosos classificam o aumento do aquecimento global como um problema ético: sabemos que ele existe, nos reconhecemos como agentes do processo e, ainda assim, pouco ou nada fazemos no sentido de enfrentar a situação com a seriedade e o senso de urgência que o assunto requer.
É chegado o momento de reconhecer o inimigo para enfrentá-lo com consciência e determinação. Ele é invisível, não tem cheiro nem faz mal à saúde, mas quando aglomerado aos bilhões de toneladas na atmosfera por conta da queima progressiva de petróleo, gás natural e carvão, tem o poder de mudar o clima, o ciclo das chuvas, o nível dos oceanos e a expectativa de vida de inúmeras espécies e ecossistemas. Jamais experimentamos algo parecido numa escala de tempo tão curta.
Tão importante quanto o comprometimento dos países em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, principalmente de CO2 , são as iniciativas individuais. O que cada um de nós está disposto a fazer nesse sentido? Que pequenas mudanças podemos aplicar em nossa rotina em favor desse objetivo maior? Mudança é uma palavra que assusta, e que muitos de nós associamos de imediato a sacrifício. Nem sempre é assim. Avalie o que lhe convém, considerando que cada tonelada a menos de carbono na atmosfera faz toda a diferença.
(André Trigueiro)
http://www.mundosustentavel.com.br
Com base no TEXTO 1, responda à questão.
Em “não tem cheiro nem faz mal à saúde”, o acento grave
é empregado para indicar a crase da preposição a com a
forma feminina do artigo definido. A crase é opcional em:
Leia a frase a seguir:
O garoto aconselhou _________ irmã __________ levar o lanche __________ escola numa lancheira.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas da frase.
Acerca das ideias e estruturas do texto acima, julgue o próximo item.
Ao se substituir o trecho “aos conservadores” (l. 15-16) por à
parcela conservadora da sociedade, o uso do acento
indicativo de crase será obrigatório.
Marque a alternativa correta quanto ao uso ou não da crase nos três enunciados abaixo, respectivamente.
As Coordenações do IFTO se propõem bastante ___ construir uma educação de qualidade.
Nós, alunos do IFTO, aspiramos ___ pesquisa voltada para melhoria da vida das pessoas.
As queimadas em Palmas ultrapassam ___ capacidade de se suportar as fumaças constantes.
Texto CB1A1AAA
Clarice Lispector. Amor. In: Laços de família.
Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 20-1
Acerca dos aspectos linguísticos e dos sentidos do texto CB1A1AAA, julgue o item que se segue.
A introdução do sinal grave indicativo de crase em “a noite”
(l.26) manteria a correção gramatical do texto, mas
prejudicaria seu sentido original.
De Gutenberg a Zuckerberg
Após cinco anos e meio dedicados apenas a funções executivas, volto a ter um espaço para troca de ideias e informações. Desta vez, sobre o mercado digital com suas histórias de bastidores, dados infindáveis, surpresas, o dia a dia de start ups aqui e lá no Vale (sim, o do Silício) e entrevistas com quem sacode este mercado ou é sacudido por ele.
O título do blog (seria blog, vlog, site, plataforma digital?) vem de From Gutenberg to Zuckerberg: Leveraging Technology to Get Your Message Heard, palestra de Michael Eisner que passa bem além do trocadilho engraçadinho.
O fato é que não são poucas as vezes em que ouço que nós, os caras de internet, os bichos de tecnologia criamos todos os problemas que a humanidade não tinha antes de inventarmos os nossos gadgets, softwares, redes e o que mais pudesse ser desenvolvido em nossas garagens (imaginárias, Wozniak?). Errado. Explico.
Não criamos nada. Desculpe, amigos, mas é a verdade. Ferramentamos, apenas. Como Gutenberg o fez pelos idos de 1450. No big deal. Repetimos a história. Se o poder saía das mãos de dedos manchados dos monges copistas e passava a um tipo que podia multiplicar exponencialmente os caracteres que formavam a informação, com Zuck e seus contemporâneos deu‐se o mesmo. O jornalista, até então dono absoluto do palco italiano, da bola e do campo, teve que deitar a régua. O que era vertical, top down, passou a ser horizontal, em uma distribuição de informações via iguais.
Nenhuma novidade aqui. O que as redes sociais fizeram foi repetir o fenômeno evolutivo. Is revolução digital the new revolução industrial? É provável sob muitos aspectos, mas uma revolução somente se conhece a posteriori, contentemo‐nos em evoluir por ora. Não é pouco.
E sobre criarmos plataformas‐problema, qual foi a primeira rede social que você conheceu? A fofoqueira de sua rua. Ficava na janela, ouvia no máximo 140 caracteres de qualquer conversa, tempo necessário para que o transeunte desavisado percorresse o espaço da fachada da casa da moça. Retuitava ao marido, à filha, compartilhava. De vez em quando, curtia. E quando ia ao salão de beleza, viralizava.
Não, esta criação não nos pertence. Ferramentamos, ajudamos e até atrapalhamos, ok. Mas como sempre fizeram estes seres humanos, gregários, que insistem em viver em uma sociedade em rede.
Mas agora resolveram chamar de rede social.
(Antonio Guerreiro. Disponível em: http://gutzuck.com/de‐gutenberg‐a‐zuckerberg‐20150105/)
Considere a oração abaixo e as afirmações que seguem.
São desnecessário as suas observações maldosas.
I. Há um erro de concordância nominal, pois o correto seria “desnecessárias”.
II. Falta o sinal indicativo de crase em “as”.
Está correto o que se afirma em:
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Há um comentário frequentemente encontrado nos meios de comunicação ou mesmo em conversas cotidianas: “O carnaval de hoje não é mais o mesmo. Transformou-se em um grande empreendimento turístico. Perdeu a autenticidade.” Em seu sentido amplo, esse comentário aplica-se a diversas modalidades de cultura popular: não só às festas, mas também ao artesanato, à música, à dança, à culinária. Pode ser expresso na forma de um lamento e de um incontido sentimento de nostalgia.
Em outras palavras, circula de modo amplo e difuso em nosso cotidiano uma perspectiva sobre as culturas populares na qual estas são apresentadas sob o signo da perda. Supõe-se que elas conheceram em sua longa história um momento no qual teriam florescido na sua forma mais autêntica e próxima às expectativas daqueles que as produzem. Mas desde então, como consequência das transformações históricas e em especial da chamada modernização, essas formas socioculturais teriam cada vez mais perdido seus atributos definidores.
Essa narrativa é seguramente poderosa e tem notável capacidade de convencimento. No entanto, um fantasma ronda os estudos sobre as culturas populares. Elas não desapareceram; continuam a existir e se reproduzir: festas regionais, como o bumba meu boi; as festas do Divino Espírito Santo; as festas de Reis; as inúmeras modalidades de música popular ou folclórica produzidas em diversas regiões do Brasil. Os exemplos podem se estender facilmente. O que importa assinalar, no entanto, é que essas formas de cultura popular continuam a ser produzidas no tempo presente e de modo criativo; e não parecem indicar, ao contrário do que se afirma obsessivamente, que estejam em processo de desaparecimento.
O problema evidentemente não está na cultura popular, mas nas perspectivas que postulam sua existência arcaica e seu inevitável desaparecimento. Trata-se de um fantasma produzido pelos que se recusam a reconhecer que elas expressam visões de mundo diferentes.
Muitas vezes, essas formas socioculturais estão associadas à oposição entre um mundo rural estável e harmônico e um mundo urbano industrializado e “inautêntico”. Contudo, pesquisas de antropologia social ou cultural já demonstraram que as culturas populares, estejam elas situadas no mundo rural ou nas grandes cidades, desempenham funções sociais e simbólicas fundamentais para sua persistência e reprodução. Desse modo, festas, artesanatos, lendas, formas musicais, dança, culinária articulam simbolicamente concepções coletivas de sociedade.
As culturas populares não se constituem em agregados de traços culturais passíveis de serem inventariados. Elas consistem efetivamente em sistemas de práticas sociais. Os comentários usuais sobre uma suposta perda de autenticidade das culturas populares na atualidade esquecem que elas não são o espelho de nossas categorias e classificações; o que elas oferecem de mais interessante não é nem o testemunho de um passado remoto, nem a catástrofe de seu desaparecimento, mas invenções alternativas e atuais dos modos de estar no mundo.
(Adaptado de: GONÇALVES, José Reginaldo Santos. “Culturas populares: patrimônio e autenticidade”. In: Agenda brasileira: temas de uma
sociedade em mudança. BOTELHO, André e SHWARCZ, Lilia Moritz (org.) São Paulo: Cia das Letras, 2011, p. 136-139)
INSTRUÇÕES -A questão é relacionada ao texto abaixo. Leia-o com atenção antes de responder a elas.
Demagogia eleitoreira
A questão dos médicos estrangeiros caiu na vala da irracionalidade. De um lado, as associações médicas cobrando a revalidação dos diplomas obtidos no exterior. De outro, o governo, que apresenta o programa como a salvação da pátria. No meio desse fogo cruzado, com estilhaços de corporativismo, demagogia, esperteza política e agressividade contra os recém-chegados, estão os usuários do SUS. Acompanhe meu raciocínio, prezado leitor.
Assistência médica sem médicos é possível, mas inevitavelmente precária. Localidades sem eles precisam tê-los, mesmo que não estejam bem preparados. É melhor um médico com formação medíocre, mas boa vontade, do que não ter nenhum ou contar com um daqueles que mal olha na cara dos pacientes.
Quando as associações que nos representam saem às ruas para exigir que os estrangeiros prestem exame de revalidação, cometem, a meu ver, um erro duplo. Primeiro: lógico que o ideal seria contratarmos apenas os melhores profissionais do mundo, como fazem americanos e europeus, mas quantos haveria dispostos a trabalhar isolados, sem infraestrutura técnica, nas comunidades mais excluídas do Brasil?
Segundo: quem disse que os brasileiros formados em tantas faculdades abertas por pressão política e interesses puramente comerciais são mais competentes? Até hoje não temos uma lei que os obrigue a prestar um exame que reprove os despreparados, como faz a OAB. O purismo de exigir para os estrangeiros uma prova que os nossos não fazem não tem sentido no caso de contratações para vagas que não interessam aos brasileiros.
Esse radicalismo ficou bem documentado nas manifestações de grupos hostis à chegada dos cubanos, no Ceará. Se dar emprego para médicos subcontratados por uma ditadura bizarra vai contra nossas leis, é problema da Justiça do Trabalho; armar corredor polonês para chamá-los de escravos é desrespeito ético e uma estupidez cavalar. O que ganhamos com essas reações equivocadas? A antipatia da população e a acusação de defendermos interesses corporativistas.
Agora, vejamos o lado do governo acuado pelas manifestações de rua que clamavam por transporte público, educação e saúde. Talvez por falta do que propor nas duas primeiras áreas, decidiu atacar a da saúde. A população se queixa da falta de assistência médica?
Vamos contratar médicos estrangeiros, foi o melhor que conseguiram arquitetar. Não é de hoje que os médicos se concentram nas cidades com mais recursos. É antipatriótico? Por acaso, não agem assim engenheiros, advogados, professores e milhões de outros profissionais?
Se o problema é antigo, por que não foi encaminhado há mais tempo? Por uma razão simples: a área da saúde nunca foi prioritária nos últimos governos. Você, leitor, se lembra de alguma medida com impacto na saúde pública adotada nos últimos anos? Uma só, que seja?
Insisto que sou a favor da contratação de médicos estrangeiros para as áreas desassistidas, intervenção que chega com anos de atraso. Mas devo reconhecer que a implementação apressada do programa Mais Médicos em resposta ao clamor popular, acompanhada da esperteza de jogar o povo contra a classe médica, é demagogia eleitoreira, em sua expressão mais rasa.
Apresentar-nos como mercenários que se recusam a atender os mais necessitados, enquanto impedem que outros o façam, é vilipendiar os que recebem salários aviltantes em hospitais públicos e centros de atendimentos em que tudo falta, sucateados por interesses políticos e minados pela corrupção mais deslavada.
A existência no serviço público de uma minoria de profissionais desinteressados e irresponsáveis não pode manchar a reputação de tanta gente dedicada. Não fosse o trabalho abnegado de médicos, enfermeiras, atendentes e outros profissionais da saúde que carregam nas costas a responsabilidade de atender os mais humildes, o SUS sequer teria saído do papel.
A saúde no Brasil é carente de financiamento e de métodos administrativos modernos que lhe assegurem eficiência e continuidade.
(Varela. D. , Folha de S. Paulo, 07/09/2013. Texto adaptado)