Questões de Concurso
Sobre denotação e conotação em português
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Na construção de um texto, a substituição de um elemento por outro na continuidade do texto pode ocorrer por meio de diferentes processos.
Assinale a opção que indica a frase em que os termos sublinhados NÃO exemplificam o processo indicado.
Leia o texto para responder a questão.
A arte mostra-se presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida, ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo como fruto da relação homem/mundo. Por meio da arte a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos, sonhos. Todos têm uma história, que pode ser individual ou coletiva. As representações artísticas nos oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos povos em cada período.
(Rosane K. Biesdorf e Marli F. Wandscheer. Arte, uma necessidade humana:
função social e educativa. Itinerarius reflectionis.)
Texto: Zap
Não faz muito que temos esta nova TV com controle remoto, mas devo dizer que se trata agora de um instrumento sem o qual eu não saberia viver. Passo os dias sentado na velha poltrona, mudando de um canal para outro — uma tarefa que antes exigia certa movimentação, mas que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto — zap, mudo para outro. Não gosto de novo — zap, mudo de novo. Eu gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe. Trata-se de uma pretensão fantasiosa, mas pelo menos indica disposição para o humor, admirável nessa mulher.
Sofre, minha mãe. Sempre sofreu: infância carente, pai cruel etc. Mas o seu sofrimento aumentou muito quando meu pai a deixou. Já faz tempo; foi logo depois que nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em que se vê muita televisão, e em que se muda de canal constantemente, ainda que minha mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma moça sorridente pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. Não conheço nem quero conhecer, de modo que — zap — mudo de canal. “Não me abandone, Mariana, não me abandone!” Abandono, sim. Não tenho o menor remorso, em se tratando de novelas: zap, e agora é um desenho, que eu já vi duzentas vezes, e — zap — um homem falando. Um homem, abraçado à guitarra elétrica, fala a uma entrevistadora. É um roqueiro. Aliás, é o que está dizendo, que é um roqueiro, que sempre foi e sempre será um roqueiro. Tal veemência se justifica, porque ele não parece um roqueiro. É meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.
É sobre mim que fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e ele, meio constrangido — situação pouco admissível para um roqueiro de verdade —, diz que sim, que tem um filho, só que não o vê há muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você sabe, eu tinha de fazer uma opção, era a família ou o rock.
A entrevistadora, porém, insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock? Ele se mexe na cadeira; o microfone, preso à desbotada camisa, roça-lhe o peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência — e ainda tem de passar pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder. E então ele me olha. Vocês dirão que não, que é para a câmera que ele olha; aparentemente é isso, aparentemente ele está olhando para a câmera, como lhe disseram para fazer; mas na realidade é a mim que ele olha, sabe que em algum lugar, diante de uma tevê, estou a fitar seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura a resposta à pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim? Você me perdoa? — mas aí comete um erro, um engano mortal: insensivelmente, automaticamente, seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho roqueiro, do qual ele não pode se livrar nunca, nunca. Seu rosto se ilumina — refletores que se acendem? — e ele vai dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse momento zap — aciono o controle remoto e ele some.
Moacyr Scliar, “Zap”, in: Os cem melhores contos brasileiros do século. Sel. de Ítalo Moriconi. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, pág. 555. Adaptado.
Texto 1
Como ler os clássicos?
§ 1º Em recente artigo para o jornal The New York Times, o novelista Brian Morton compara a leitura dos grandes escritores do passado a uma viagem no tempo, na qual o aventureiro deve mover-se com cautela, sem jamais tentar impor os seus costumes aos nativos de um longínquo período da história, cujas práticas não correspondem às nossas.
§ 2º Segundo o autor, isso não quer dizer que escritores antigos estejam imunes à crítica contemporânea, como se a autoridade do cânone em relação à crítica seguisse um critério de mérito por antiguidade, a partir do qual um texto deva ser protegido a qualquer custo — pelo simples fato de ter sobrevivido às mais diversas provas de resistência ao tempo.
§ 3º Ora, por mais antigo que seja, nenhum texto está isento de reinterpretações e críticas. Exemplo disso é o que nos propõe o estudioso Harold Bloom em “O Livro de J”, em que discorre sobre a possibilidade de alguns trechos do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) terem sido compostos por uma mulher.
§ 4º Assim, Morton recomenda que a crítica não se antecipe ao bom exercício da leitura. Algo raro nos dias de hoje, em que muitas vezes se opta por boicotar certas obras antes mesmo de confrontá-las por méritos artísticos específicos e prováveis limitações de fundo ético. Exemplo disso são seus estudantes que evitam a leitura de Edith Wharton (autora de “A Casa da Alegria”) e Dostoiévski, sob o pretexto de que qualquer suspeita de antissemitismo deveria ser banida da literatura.
§ 5º Ao referir-se a esse problema, Morton argumenta que, embora a crescente oposição dos estudantes seja alimentada por uma genuína sede de justiça social, a sobrevivência dos clássicos em departamentos de literatura não seria motivada pela pulsão reacionária de velhos professores, mas pela necessidade de compreendermos o terreno em que a criatividade humana se manifesta em um dado contexto histórico e cultural.
§ 6º Não há dúvidas de que as grandes vozes literárias do passado tenham uma visão de mundo limitada por preconceitos de época. Dessa queixa nem mesmo o mais precavido dos nossos contemporâneos conseguiria se safar! Afinal, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche já declarava ser inevitável que todos os grandes espíritos estivessem ligados aos seus tempos por meio de algum preconceito.
§ 7º Mesmo assim, Morton ressalta que ainda temos muito a ganhar com a cuidadosa leitura desses textos que hoje são tidos por controversos. Segundo o autor, esse ganho se traduziria em um exercício de humildade a partir do qual o exame de um passado literário nos tornaria capazes de refletir sobre as limitações das práticas artísticas e dos costumes morais da nossa própria época.
§ 8º Em um diálogo de 2017 com o psicólogo Jordan Peterson, Camille Paglia faz uma observação complementar ao ressaltar que um texto não resiste ao tempo por imposição de uma elite cultural, mas por meio do seu constante uso pela tradição, enquanto referência à prática literária corrente. Ou seja, aquilo que nós consideramos grande arte é determinado pelas necessidades dos próprios artistas.
§ 9º Ao adotar-se o raciocínio de Paglia, chega-se à conclusão de que a permanência de autores como Homero e Shakespeare no cânone literário não seria consequência de uma conspiração do poder político e acadêmico para privilegiar determinados escritores em detrimento de outros. Isso decorre, portanto, da vitalidade das suas influências ao longo da história.
§ 10. Homero é um dos autores mais relevantes do cânone pelo fato de suas criações servirem de inspiração para escritores outros de épocas diversas. Desde os dramaturgos da antiga Grécia — como Ésquilo, que disse que suas peças não passavam de migalhas do banquete homérico — e Virgílio, o romano, até escritores modernos como o poeta e historiador britânico Robert Graves, autor de “A Filha de Homero”, e a escritora canadense Margaret Atwood com o seu “The Penelopiad”.
§ 11. Da mesma forma, Shakespeare teria influenciado outros escritores desde o seu advento, passando pelo teatro alemão do século 18 — por exemplo, tragédias históricas como “Götz von Berlichingen” e “Egmont” de Goethe — até o cinema japonês do século 20, em filmes do diretor Akira Kurosawa — tanto “Trono Manchado de Sangue” como “Ran”, cujos roteiros são adaptações dos dramas “Macbeth” e “Rei Lear”.
§ 12. Compreender essa teia de influências e associações é uma das tarefas mais difíceis do professor e crítico literário, cuja função mais ampla é a de oferecer ao público uma chave de leitura que seja simultaneamente plausível e criativa, sem que para isso tenha a necessidade de extrapolar os limites de uma obra — ora atribuindo ao texto características inexistentes, ora interpretações anacrônicas —, como se a própria obra e o seu contexto histórico não fossem capazes de despertar a fome literária do leitor.
§ 13. Desde o começo do meu doutorado, reflito sobre a melhor forma de ler e ensinar os clássicos da literatura alemã. Assim, durante o período em que me dedico aos alunos, como nas horas em que desenvolvo a minha tese, busco aplicar uma síntese das duas estratégias abordadas neste pequeno ensaio, quais sejam: a reconstrução de um contexto histórico específico na tentativa de emprestar uma ordem ao emaranhado de influências artísticas e filosóficas necessárias para o entendimento de autores como Goethe.
§ 14. Nesse afã, dedico a maior parte das minhas horas de estudo à versão de Goethe de “Ifigênia em Táuris”. Exercício em que procuro entender o contexto histórico de cada uma das versões dessa tragédia, ao mesmo tempo em que traço uma narrativa mais ampla sobre a recepção do texto original de Eurípides na Alemanha do século 18.
§ 15. Contudo, atento aos detalhes da versão de Goethe, que se distancia tanto do texto euripidiano como de outras versões da época, buscando ressaltar as qualidades morais atribuídas à protagonista, cujas atitudes revelam um importante questionamento sobre a relação entre gênero e autonomia na obra do escritor alemão.
§ 16. Goethe é um dos muitos autores clássicos arbitrariamente criticados pelas suas representações do feminino. No entanto, quanto mais tempo dedico ao estudo da sua obra, mais noto que determinadas críticas não fazem o menor sentido.
§ 17. Isso prova que, muitas vezes, a reputação de um escritor canônico entre os nossos contemporâneos apenas revela a inabilidade de nossa época em reconhecer os raros, porém eficientes, esforços do passado na promoção das liberdades que hoje consagramos.
§ 18. Não se trata de uma simples coincidência que Goethe tenha sido uma importante referência literária para a escritora George Eliot, autora de “Middlemarch”, ou que Elena Ferrante, na atualidade, tome uma citação de “Fausto” como a epígrafe de “A Amiga Genial”, o primeiro dos quatro volumes da ilustre série napolitana — uma espécie de “bildungsroman” (romance de formação ou amadurecimento) para os nossos tempos, sobre a busca de duas amigas por autoconhecimento e liberdade!
ALBURQUEQUE, Juliana de. Folha de S. Paulo, 26 mar. 2019.
Considerando os aspectos linguísticos do texto, julgue as afirmativas a seguir:
I. No § 8º, a expressão “Ou seja” introduz uma paráfrase.
II. No trecho “capazes de despertar a fome literária do leitor” (§ 12), a autora vale-se de linguagem conotativa.
III. No § 3º, a palavra “Ora” tem sentido diferente daquele empregado no excerto “ora atribuindo ao texto características inexistentes, ora interpretações anacrônicas” (§ 12).
IV. O excerto “Isso decorre, portanto, da vitalidade das suas influências ao longo da história” (§ 9º) poderia ser assim redigido, mantidos o sentido original e a norma-padrão: “Isso decorre, pois, da vitalidade das suas influências ao longo da história”.
V. Estariam preservados o sentido original e a norma-padrão da língua, caso a autora, no § 1º, substituísse a forma verbal “correspondem” pela forma verbal “correspondam”, conforme o seguinte registro: “cujas práticas correspondam às nossas”.
Assinale a opção correta:

Consciência do consumo no ambiente digital
Hora dedicada à navegação é hora que deixou de ser aproveitada com algo que nos alimenta
Hélio Mattar
Recente pesquisa da HootSuite, em parceira com a We Are Social, aponta o Brasil como o terceiro país que mais usa a internet ao longo do dia. Em média, cada brasileiro chega a ficar, diariamente, mais de 9 horas online. Considerando apenas o uso de celulares, passa, por dia, mais de quatro horas conectado e, desse total, cerca de 3 horas e meia são gastas nas redes sociais. Ficamos atrás apenas dos tailandeses e dos filipinos.
A internet empodera as pessoas de várias formas, seja pelo mar de informações que oferece, permitindo que estejamos sempre antenados, em contato com as tendências mundiais e nos conectando a pessoas em qualquer lugar do mundo, seja pela praticidade e facilidade com que permite a busca de soluções rápidas para necessidades específicas.
Ao mesmo tempo, também nos permite retomar contato com pessoas que fizeram parte de nossas vidas no passado ou ter a chance de encontrar novos amigos com interesses em comum. Além disso, facilita o desenvolvimento de novas habilidades ou a busca de emprego, partes de uma lista de benefícios bastante extensa.
Essa dedicação enorme de tempo, recurso tão precioso quanto incerto em sua disponibilidade pela vida, deve nos levar a uma autoavaliação: será que estamos usufruindo desse bem de forma consciente? E esse consumo em ambientes digitais nos leva a um consumo de produtos impensado e excessivo?
Muitas vezes, ao acessar a internet em busca de um assunto específico, somos rapidamente direcionados para outros que nos distanciam de nosso foco inicial em questão de segundos. Perder o foco pode ser uma armadilha que, sem percebermos, nos leva a dedicar horas e horas de nosso tempo, deixando de valorizar ou priorizar outras atividades importantes em nossa rotina.
Basta fazer a conta: tomando as 24 horas de um dia, supondo que dormimos por 8, trabalhamos ou estudamos por mais 8, e considerando o tempo gasto nas refeições, no banho e no deslocamento de casa ao trabalho, restam de 4 a 6 horas para nossas relações pessoais, com amigos ou familiares. Nesse sentido, é essencial levar em conta o que é realmente importante em nossas vidas quando pensamos no tempo dedicado ao ambiente digital.
Assim, enquanto as pessoas gastam seu tempo em feeds de redes sociais ou em portais de notícias e informação, são simultaneamente provocadas, em uma frequência crescente, pelo aparecimento de anúncios de diversas marcas e produtos. Se nos meios de comunicação tradicional já éramos provocados de tempos em tempos pela publicidade, agora esse “de tempos em tempos” tornou-se ainda mais frequente, dependendo da política incorporada pela rede social ou pelo portal específico.
Em recente pesquisa (https://iabbrasil.com.br/pesquisa-bcg-a-jornada-rumo-a-maturidade-digital-no-brasil/) do Boston Consulting Group (BCG), foi observado que os consumidores brasileiros são muito receptivos ao marketing digital, principalmente quanto a temas de seu interesse. A pesquisa afirma que: “Diferente do que muitos podem imaginar, o consumidor brasileiro tende a clicar em anúncios pagos, principalmente se forem temas que o interessam (…) 56% deles se declaram inclinados a clicar em algum anúncio digital quando o veem, número que pode chegar a mais de 75% quando os anúncios são de seu interesse. Inclusive, 84% desses consumidores não utiliza ad blockers de forma sistemática. Além disso, cerca de 65% dos consumidores indicaram que comprariam mais se recebessem abordagem mais personalizada, e mais de 60% disseram que mudariam a opção de compra por outra marca, em troca de experiência mais personalizada”.
Esse comportamento vem sendo, com razão, amplamente utilizado pelas empresas em suas estratégias de publicidade. Segundo dados divulgados em 2017 pela Social Media Trends, 92,1% das empresas estão presentes nas redes sociais e, de acordo com estudo da Ironpaper, 93% das decisões de compra são influenciadas pelas mídias sociais. Adicionalmente, a pesquisa E-commerce Trends de 2017 aponta que as lojas virtuais que publicam em blogs alcançam 3 vezes mais visitas e 2,5 vezes mais clientes do que as que não investem nas estratégias de conteúdo.
Além disso, é sabido que as estratégias de publicidade consideram cuidadosamente as informações fornecidas pelas pessoas sobre assuntos que as interessam, permitindo um direcionamento da comunicação que chega até elas. O consumo digital, portanto, nos torna mais passíveis de receber ofertas direcionadas especificamente aos nossos interesses e implica em uma maior probabilidade de incentivar comportamentos típicos de compras excessivas, que nos levam, como o Akatu gosta de apontar, a “comprar produtos ou serviços que não precisamos, muitas vezes com o dinheiro que não temos e, em muitos casos, para impressionar quem nem conhecemos direito”.
Nesse sentido, o tempo gasto no ambiente digital contribui para todos os impactos negativos dos comportamentos de compras excessivas sobre as pessoas, a sociedade e o meio ambiente. Sobre as pessoas, pela tensão derivada da pressão para consumir. Sobre a sociedade, pela inadimplência provocada pelas compras impensadas e pelo crédito tomado sem o cuidado necessário. E sobre o meio ambiente, pelos impactos das cadeias de produção que intensificam os impactos em várias áreas, entre elas sobre o aquecimento global em função do volume crescente de transporte de produtos.
Na compra de produtos em excesso, não nos damos conta de que, além do possível endividamento, estamos dedicando nosso tempo à leitura de anúncios, às compras em si – com todas as consequências em termos de tempo dedicado ao pagamento e acompanhamento do envio –, à conferência do débito e ao pagamento, tempo este que poderia ser dedicado ao nosso próprio desenvolvimento, à nossa própria satisfação e alegria, por meio do contato com familiares e amigos, da leitura de livros, da apreciação da arte e do aperfeiçoamento do espírito.
Isso não implica em dizer que o e-commerce, é algo ruim. Em muitas ocasiões, as compras virtuais podem ser uma boa alternativa por viabilizar o acesso a uma maior gama de produtos e serviços, possibilitar uma compra mais adequada, poupando tempo e até mesmo dinheiro por facilitar também a comparação de preços. Porém, o que não se pode deixar de lado é a reflexão a respeito do porquê comprar, compreendendo a real necessidade de determinado produto ou serviço, de qual a melhor forma de adquiri-lo e dos impactos de tal compra sobre nós mesmos, a sociedade e o meio ambiente.
O objetivo deste artigo, portanto, é trazer à consciência dos leitores o fenômeno relativamente recente do consumo de tempo no ambiente digital e dos seus possíveis impactos, ainda pouco percebidos, mas que devem ser ponderados frente à preciosidade desse recurso tão perecível e disponível em apenas um tanto de nossas vidas. A cada hora desperdiçada em algo que não tem importância, uma hora deixou de ser aproveitada com algo que nos alimenta e nos apoia como humanos. Vale refletir a respeito!
Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helio-mattar/2018/10/consciencia-do-consumo-no-ambiente-digital.shtml>
Texto: Eu e a enxaqueca, uma história de amor
1º Eu sou meio figurinha carimbada no circuito de triagem clínica de enxaqueca. Os pesquisadores me adoram, principalmente pelo número prodigioso de crises que tenho: de dez a 12 por mês, em média. “Que coisa fantástica. Uma fonte excelente de dados”, comemorou o coordenador da minha última análise de fármaco quando lhe mostrei o diário exclusivo para as dores de cabeça que mantenho há anos.
2º “Excelente para você”, retruquei. Para mim, representa quase um terço da vida sendo refém do horror da enxaqueca, incluindo os três dias por mês, pelo menos, que passo de cama, consumida pela dor paralisante e a náusea intensa.
3º Experimentei mais de uma dúzia de remédios preventivos e participei de uma série de triagens para medicamentos em teste. Nenhum ajudou; alguns, inclusive provocaram dores horríveis. O fato é que todos foram criados para tratar outros males, e só depois investidos na enxaqueca, depois que pacientes hipertensos, convulsivos e bipolares relataram uma melhora coincidente nas dores de cabeça de que sofriam.
4º Atualmente, participo de uma triagem para um remédio específico. Seu alvo é o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, substância neuroquímica que faz os vasos sanguíneos incharem – e que é o que as pessoas que sofrem desse mal aparentemente produzem em demasia.
5º Pela primeira vez na vida, pareço estar sentindo um certo alívio. E o pior efeito colateral até agora é um otimismo profundo, embora ele venha acompanhado de complicações inesperadas. Depois de anos experimentando todo tipo de medicamento, já não me p
reocupo mais com a ineficácia porque é o que sempre acontece. Percebi desta vez uma nova preocupação: e se desta vez funcionar?
6º Tive a primeira crise de enxaqueca aos 12 anos – e depois veio outra, e outra. A princípio, não sabia o que era. Meus pais achavam que eu era só hipersensível à gripe, problema que eles esperavam e eu dava como certo que ia superar. Adolescente motivada e dedicadíssima, acreditava que todas as portas estavam abertas para mim, em termos de carreira: astronauta, médica, a primeira presidente mulher.
7º Foi só no primeiro ano em Yale que tive minha enxaqueca
diagnosticada, quando também me toquei de que não ia superá-la.
As portas começaram a se fechar. O fato de ter que passar dias
seguidos sem poder me levantar parecia eliminar a possibilidade de
carreira em uma profissão da qual dependiam vidas – ou seja, a
medicina cirúrgica estava fora de questão. Também desconfiei que
as enxaquecas crônicas atrapalhariam uma candidata à presidência muito antes de as dores de cabeça de Michele Bachmann se
tornarem manchete. Optei então pelo jornalismo.
8º Já faz mais de 20 anos que a enxaqueca ocupa um espaço central, ainda que indesejável, na minha vida, meio como a irmã detestável que eu nunca tive. Ela também ajudou a moldar a pessoa em que me tornei. E não só me ajudou a desenvolver uma tolerância bem alta à dor, como a aperfeiçoar a técnica do vômito em jato. E, agora que me deparo com a perspectiva quase inimaginável de me livrar da dor para sempre, começo a perceber que nem consigo imaginar a vida sem ela.
9º A possibilidade do surgimento de um remédio “prodígio” gera emoções conflitantes por várias razões. Para começar que, se tivesse sido inventado antes, eu poderia ter me tornado astronauta. E se a solução é realmente tão simples – olha, seu organismo gera esse tal de peptídeo em demasia, está aqui o remédio para inibir a produção –, fica difícil entender por que demorou tanto para ser inventado.
10º A cura também representaria um novo fardo. Dizer que fiz o melhor que pude “apesar da enxaqueca” livra a minha cara por tudo aquilo que não fiz, tipo tornar-me a primeira mulher na presidência. Se esse medicamento funcionar, nada vai me impedir de fazer coisas excepcionais – e, ao mesmo tempo, acabará com a desculpa para não as realizar.
11º Por outro lado, e se foi a enxaqueca que me ajudou a conquistar tudo o que consegui até agora? Scott Sonenshein, professor da Faculdade de Administração Jones da Universidade Rice, afirma que conseguimos realizar mais quando nossos recursos (no meu caso, a saúde) são limitados do que quando são abundantes. “As restrições podem ser motivação para desenvoltura, para a criatividade, estímulo para uma solução melhor dos problemas”, escreve ele em seu livro, Stretch.
12º É fato que, graças à enxaqueca, aprendi muita coisa interessante e útil – como fazer todos os meus trabalhos antes do prazo, para o caso de a dor de cabeça atacar na última hora. Fazer as coisas apesar dela quando absolutamente necessário – e a pegar leve comigo mesma no resto do tempo. Aprendi a pedir ajuda quando precisava. Será que a ausência da enxaqueca me fará menos responsável, menos diligente? Ou fará com que eu me dedique em dobro, sabendo que não vou acabar tendo uma dor paralisante se me esforçar demais? Tenho muitas perguntas em relação a essa possível versão futura de mim mesma. (E uma para a Nasa: qual é o limite de idade para o treinamento dos astronautas?)
13º É claro que, se uma crise de identidade é o preço para acabar com a dor debilitante no meu cérebro, pagarei com muito prazer. Passei décadas sonhando com uma cura, geralmente deitada no quarto escuro, com um saco de ervilhas congeladas contra o rosto. A surpresa é eu sentir qualquer resquício de nostalgia em relação a esses tempos – mas percebo agora que uma parte de mim sentirá saudades.
LATSON, Jennifer
Texto adaptado. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/saber-viver/eu-a-enxaqueca-uma-historia-deamor-23178050 Acessado em 16/03/2019.
Estátua Falsa
Só de oiro falso meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como ontem para mim, hoje é distância.
Já não estremeço em face de segredo;
Nada me aloira, nada me aterra
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixa o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida no ar...
Mário de Sá Carneiro.
Numere a Coluna B pela Coluna A, considerando a classificação gramatical das palavras sublinhadas da Coluna B retiradas do texto.
COLUNA A
I. Pronome apassivador.
II. Conjunção comparativa.
III. Advérbio de tempo.
IV. Pronome relativo.
V. Locução adjetiva.
VI. Palavra denotativa.
COLUNA B
( ) ... se douram;
( ) ... sem mistério ...
( ) ... que não foram ...
( ) ... sequer um arrepio ...
( ) ... como ontem,
( ) ... ainda erguida no ar...
Marque a opção que apresenta a sequência CORRETA.
Considere as seguintes tiras e charges:
São exemplos de linguagem conotativa:
Texto: O futuro na balança
Se na década de 1970 o principal entrave ao desenvolvimento das crianças brasileiras era a desnutrição, hoje, quase 50 anos depois, a preocupação pende para o extremo oposto da balança. “A obesidade é a maior epidemia de todos os tempos e não deixou o Brasil de fora”, sentencia a pediatra Renata Machado, do Departamento de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). É um problema que afeta gente de todas as idades – a prevalência entre os adultos aumentou 60% no país de 2006 a 2016! – e começa cada vez mais cedo. Entre meninos e meninas de 5 a 9 anos, 33% já estão acima do peso e 15% são considerados obesos. Nesse ritmo, a estimativa é que a obesidade atinja 11,3 milhões de brasileirinhos em 2025.
E por que os especialistas se inquietam tanto com isso? “Uma criança obesa tem 80% de chance de se tornar um adulto obeso”, alerta Michele Lessa, coordenadora de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde. A condição está associada a nada menos que 26 doenças crônicas, como pressão alta e diabetes tipo 2 – problemas que deixaram de ser exclusividade de gente grande. Nesse cenário, vislumbra-se, pela primeira vez na história recente, uma geração que poderá viver menos e pior que seus pais.
Ironicamente, uma criança acima do peso pode até ser considerada desnutrida. Isso por causa da má qualidade da alimentação, que nas últimas décadas vem perdendo nutrientes bacanas e ganhando açúcar, gordura e sódio desde muito cedo. Imagine que 32,5% das crianças com menos de 2 anos consomem refrigerante ou bebidas adoçadas cinco ou mais vezes na semana. “O que vemos é uma geração de mães e pais que trabalham muito, que chegam em casa e não têm tempo de cozinhar e acabam oferecendo alimentos prontos, mais baratos e com alto teor calórico”, observa a pediatra Louise Cominato, coordenadora do Ambulatório de Obesidade do Instituto da Criança do hospital das Clínicas de São Paulo. É claro que não se trata de culpar os pais. Até porque hábitos alimentares se constroem também a partir de políticas públicas, informação adequada, melhoria do ambiente escolar, restrição de propaganda e redução da disponibilidade de produtos desequilibrados.
Na verdade, o desarranjo com a comida é só um dos pilares que sustentam o ganho de peso. “A obesidade é um problema complexo e multifatorial”, ressalta Odete Freitas, diretora de sustentabilidade da Amil, companhia de seguros que lançou em 2014 o movimento “Obesidade Infantil Não”, com o intuito de conscientizar escolas e toda a sociedade. O sedentarismo, ela lembra, tem papel decisivo nos quilos a mais. Estudos sugerem que, ao chegar aos 18 anos, um jovem de hoje poderá ter passado três anos em frente a uma tela de televisão, celular ou tablete. Não espanta, assim, que as brincadeiras e as atividades que botam o corpo em movimento fiquem em segundo plano.
Outro aspecto associado ao abuso das telas e ao próprio excesso de peso é a má qualidade do sono. Sem horários estabelecidos para dormir e acordar, muitas crianças descansam pouco ou mal, situação propícia a desregular hormônios que controlam a fome e a saciedade e o desenvolvimento do corpo. Tem mais: sono ruim gera cansaço, baixo rendimento escolar e problemas emocionais. E aí chegamos a outro ponto crítico: a obesidade não compromete só a saúde física, prejudica também o bem-estar mental e social.
“Algo que os pacientes trazem muito é a questão do preconceito. As crianças acima do peso são humilhadas e responsabilizadas por seu problema”, repara a médica Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Com a campanha “Obesidade, Eu Trato com Respeito”, a entidade procura esclarecer, por exemplo, que recriminar a criança funciona apenas como fonte de estresse. “Obesidade precisa de tratamento, não existe um botão de liga e desliga”, afirma Maria Edna.
Não é incomum, nesse contexto, que na convivência diária pais e cuidadores deixem de notar que o pequeno está ganhando peso demais. Daí a necessidade de prestar atenção e acompanhar de perto com o pediatra. Até porque, uma vez instalada a obesidade, mais difícil fica reverter o quadro. “Sem uma atuação em conjunto, que envolva uma equipe interdisciplinar, a família e a escola, não há como resolver”, avalia a educadora física Vera Lúcia Perino Barbosa, presidente do Instituto Movere, em São Paulo.
Paula Desgualdo
Revista Saúde é Vital. São Paulo: Editora Abril, setembro de
2018. (adaptado)
Texto: A epidemia da ansiedade
De repente, do nada, uma preocupação surge na sua cabeça. Você começa a pensar naquilo, imagina mil possibilidades, tenta prever o que pode ou não acontecer. Então a mente acelera e começa a dar voltas em torno de si mesma: repete muitas e muitas vezes os mesmos cenários, plausíveis ou absurdos, num ciclo impossível de interromper. Quando você percebe, ficou a noite inteira em claro.
Todo mundo já passou por algo assim. A ansiedade faz parte da vida moderna. Sua forma patológica, o transtorno de ansiedade, é a segunda doença mental mais comum no planeta: segundo dados da OMS, 264 milhões de pessoas sofrem desse mal – 14,9% a mais do que dez anos atrás. E o Brasil é o centro mundial do problema: 9,3% da população tem transtorno de ansiedade, quase o triplo da média internacional (3,5%). Na cidade de São Paulo, um estudo feito pela USP chegou a números ainda mais impressionantes: nada menos que 19,9% das pessoas têm a doença. Por ano, são vendidos 26,8 milhões de caixas do ansiolítico Rivotril (e demais remédios à base de clonazepan) no Brasil, segundo dados da empresa IQVIA, que audita o mercado farmacêutico. Seu consumo teve um crescimento de quase 300% na última década (em 2010, os brasileiros compraram aproximadamente 10 milhões de caixas desse remédio).
Nunca estivemos tão ansiosos – e, como você talvez já tenha percebido, isso não está nos fazendo bem. Mas a ansiedade pura e simples não é um transtorno. É uma estratégia bem-sucedida, que há centenas de milhares de anos tem garantido nossa sobrevivência.
A gênese da ansiedade
Na savana africana, com suas grandes planícies, poucas árvores e muita vida animal, os humanos viviam vulneráveis ao ataque dos leões, leopardos, cobras e hienas. Se não fossem comidos por predadores, nossos antepassados tinham que se preocupar com outra ameaça: fome. A comida era incerta, pois eles dependiam da sorte na coleta e na caça.
Uma das estratégias de sobrevivência foi viver em grupos. Mas a vida comunitária trouxe novos problemas. Era preciso fazer força para ser aceito pelo grupo, e não acabar marginalizado ou mesmo expulso dele. O convívio também levava a disputas, geralmente resolvidas por meio da violência: pesquisas arqueológicas revelaram que os primeiros grupos humanos tinham altíssimas taxas de homicídio: 15% das pessoas morriam assassinadas.
Em suma, a vida era dura. E as pessoas que tiveram mais êxito em sobreviver e gerar descendentes, passando seus genes adiante, foram as mais capazes de antecipar as ameaças de predadores, fome, rejeição do grupo e violência. Ou seja, os mais ansiosos.
Hoje, é rara a pessoa que precise proteger-se de cobras e leões. Graças a seu intelecto, o ser humano transformou o mundo. Dominamos predadores, vencemos doenças, produzimos até mais comida do que o necessário e criamos leis para controlar e conter a violência (hoje, os homicídios são responsáveis por 0,005% das mortes no mundo). A vida nunca foi tão confortável, pacífica e próspera. Mas a ansiedade não desapareceu. Temos novas preocupações – o assaltante no trânsito, as contas de casa, a manutenção do emprego, a solidão, a quantidade de curtidas nas redes sociais etc. O mundo mudou, mas os medos não desapareceram; se transformaram.
Ansiedade e medo são intimamente ligados – ambos são estados aversivos engatilhados por uma ameaça. Mas o medo é provocado por um estímulo imediato, aqui e agora, como um assaltante
armado. Já a ansiedade emerge diante de uma ameaça futura, que
poderá ou não se concretizar – como aqueles pensamentos que
vêm à cabeça ao andar numa rua escura de madrugada. Se o
medo prepara o corpo para agir imediatamente, a ansiedade nos
motiva a evitar a ameaça futura, fazer preparações para ela ou agir
para que não ocorra. O que pode acontecer se eu andar numa rua
vazia e mal iluminada, de madrugada? Há algum canto de onde
pode aparecer um assaltante? Se surgir alguém devo sair correndo? Essa antecipação de consequências envolve o córtex pré-frontal – a região mais desenvolvida do cérebro humano.
“É provavelmente impossível sentir medo sem também sentir-se ansioso”, afirma o neurocientista americano Joseph LeDoux, autor do livro Anxious (não lançado no Brasil). Afinal, basta ter medo de uma coisa para começar a se preocupar com as consequências dela. “Ver uma pessoa com uma arma induz ao sentimento de medo. Mas a preocupação ou ansiedade rapidamente toma a dianteira, quando você passa a imaginar o que aquela pessoa vai fazer”, diz LeDoux. Da mesma forma, quando você está ansioso e vai caminhar em uma rua escura, pode sentir medo com algo que passaria batido – como uma sombra ou o barulho de um galho quebrando.
Nossas mentes são propensas à ansiedade. Ela nos trouxe até aqui porque, no grau certo, é benéfica. Mas certas características da vida nas cidades parecem ter dado um curto-circuito nesse mecanismo.
Reportagem de Maurício Horta Revista Superinteressante. São Paulo: Abril, edição 399, fevereiro de 2019. (adaptado)
Leia:
O homem começou a transmitir suas mensagens pela linguagem figurada, representada primeiramente nas rochas, com a escrita chamada de pictográfica (com facas de pedras, pontas de lanças, ossos e chifres, riscavam-se as rochas para deixar grafadas suas proezas). Surgem, depois, os ideogramas, em que se procurava, por meio de desenhos, representar ideias. Mais tarde sobreveio o uso de alfabetos, reduzindo o número de sinais a cerca de duas dúzias, com as vantagens da precisão. Com o sábio Gutenberg, chega-se à imprensa com tipos móveis. Este foi um passo decisivo para acelerar e revolucionar todo o universo cultural que nos cerca. (Manoel P. Ribeiro. Gramática aplicada da língua portuguesa)
Em relação ao texto, é correto afirmar que: