Questões de Concurso
Sobre figuras de linguagem em português
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Identifique a figura de linguagem que se sobressai no texto a seguir
Leia o texto e, a seguir, responda à questão.
A beleza total Carlos
Drummond de Andrade
A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços.
A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.
O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito.
Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete chaves.
Disponível em: <http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13274.pdf>. Acesso em: 12 set. 2024.
Leia atentamente o texto abaixo.
Moscas Brancas
Edward Lewis era um nerd com dois ........................ : flauta transversal e insetos mutantes. Esse geneticista americano pagou o primeiro ano de faculdade com uma bolsa para jovens músicos, mas logo largou Mozart para ser biólogo – e dedicou décadas de sua carreira no Instituto de Tecnologia da Califórnia ao estudo de moscas com quatro asas. Parece banal. Mas esse é o equivalente ............................. da deusa indiana Lakshmi, com seus quatro braços. Moscas comuns só ....................... duas asas. Atrás delas, há um par de órgãos minúsculos chamados halteres – que evoluíram como asinhas atrofiadas, responsáveis por estabilizar o .................................. em vez de sustentá-lo nas moscas Lakshimi.
Lewis descobriu que estas moscas em especial e outras aberrações – como insetos com patas no rosto ou antenas no traseiro – eram resultado de erros em um conjunto de genes conhecidos como Hox. Do mesmo jeito que um arquiteto desenha a planta de uma casa antes de erguê-la, os Hox dizem onde ficará cada pedaço do corpo da mosca quando ela ainda é um embrião. Alguns mostram a posição da cabeça, outros indicam a ordem de aparição de diferentes seções do.......................... , um aponta a localização do traseiro…
Um cromossomo é um fiozão de DNA enrolado, e os genes se distribuem ao longo desse fio como pérolas em um colar. O interessante é que os Hox aparecem na mesma sequência das partes do corpo que cada um deles constrói. Ao trocá-los de lugar, você decide de onde brota cada coisa. Ponha o Hox dos braços na cabeça e voilà: o bichinho nascerá com patinhas na testa.
Esses mesmos genes aparecem em todos os outros animais. Nas águas-vivas determinam qual será a ponta dos tentáculos e qual será a extremidade arredondada. Em nós, ditam a sequência das vértebras na coluna. Você, seu cão e a pulga do seu cão são todos organizados por Hox ao longo do eixo ântero-posterior (o jeito chique de dizer “da cabeça ao bumbum”).
Seguindo esta linha de pesquisa, foi investigado nosso grau de parentesco com outras espécies: humanos compartilham 11% do seu DNA com um grão de arroz, 60% com uma mosca e 98% de seus genes codificantes com um porco. Em decorrência do trabalho de Lewis, pesquisas estão focadas nos xeno-transplantes (transplante de órgãos ou tecidos de uma espécie em outra). Os transplantes de órgãos de porco para seres humanos foram realizados somente naqueles com morte cerebral comprovada ou pacientes terminais. O caminho é longo para o êxito destes em larga escala pois o índice de rejeição dos órgãos transplantados é muito grande e a sobrevida dos pacientes não ultrapassou os dois meses ainda.
SUPERinteressante.Editora Abril, São Paulo; Edição 465, julho 2024. Adaptado.
Coluna I.
A- Assíndeto. B- Pleonasmo. C- Anáfora. D- Hipérbato.
Coluna II.
1- É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da ordem direta dos termos da oração. 2- É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas assindéticas. 3- É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual. 4- Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as mesmas palavras ou não. A finalidade é realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim Como se fosse o sol desvirginando a madrugada Quero sentir a dor desta manhã
Qual figura de linguagem está sendo utilizada no último quadro da tirinha abaixo?
Os computadores são maravilhosos. Fazem os seus erros aparecerem muito mais depressa.
Sobre a estruturação dessa frase, assinale a afirmativa correta.
Da gramática às receitas da vovó
A coluna pede licença para falar... da coluna. Entre as reações de leitores, positivas ou negativas, que por aqui chegam há anos, nenhuma me deixa mais bolado do que a que me considera um destruidor da língua portuguesa.
A acusação é tola, claro. Caso existam, suponho que “destruidores da língua” comecem por destruir, bem, a língua em que se exprimem, não? Que sujeito do povo dos vândalos, ao saquear uma cidade romana, se deteria a acariciar uma Vênus de mármore com embevecimento, em vez de arrasá-la a marteladas?
No entanto, se a acusação carece de base, não lhe faltam adeptos em revezamento perpétuo – a menos que se trate de um único cara obsessivo, quem sabe algum desafeto esquecido dos tempos da faculdade, que fica trocando de nome.
Não, a dona Nilza, minha melhor professora de português, não criou um vândalo ao abrir meus olhos para as delícias da análise sintática naqueles idos dos 1970, no colégio estadual Souza Dantas, em Resende (RJ). Ela se ofenderia com a calúnia, o que talvez fosse divertido; era meio brava.
Ocorre que, depois de estudar a gramática normativa na escola, eu cresci. Como jornalista e escritor, comecei a desconfiar que língua é um troço muito maior do que qualquer compêndio de regrinhas.
Se pensarmos bem, nada é mais óbvio do que isso. Por mais que a gente valorize, digamos, o caderno de receitas herdado de uma avó que cozinhava divinamente, ninguém é maluco de dizer que naquelas páginas estão contidos todos os sabores e saberes sobre culinária, nutrição, agricultura, engenharia de alimentos e história social da comida.
Metaforicamente, é esse o papel dos estudos linguísticos: aplicar o método científico à expansão do nosso conhecimento sobre as línguas, organismos vivos que nascem orais e se renovam todos os dias – até que, não tendo mais falantes, morrem.
Enquanto isso, o caderno da vovó, que ensina a fazer determinados pratos de determinada forma, não perde a sua função. Vamos supor que, pelo contrário, a comida da velha senhora, aquela danadinha, seja do tipo mais valorizado pelas camadas poderosas e influentes da sociedade.
Composto por gramáticas tradicionais e suas versões diluídas – dos manuais voltados para concursos públicos às “páginas de português” que pululam na internet –, todo o aparato normativo é comparável a esse caderno.
Diz respeito a uma fatia única, embora importante, do universo linguístico: a norma padrão ou culta, que vem a ser esta em que escrevo e cujo domínio é socialmente recompensado. A culinária da vovó, que aliás era nascida em Lisboa – não sei se já mencionei isso.
Que a língua tem múltiplas camadas além da abarcada pelas receitas da velha é relativamente fácil de compreender. Encontra mais resistência a ideia, não menos verdadeira, de que tudo isso – inclusive o festejado caderno de delícias tradicionais – se submete ao fluxo da história.
Nada na língua está escrito na pedra. Em movimento lento, lentíssimo, mas constante, ela se refaz o tempo todo e vai encontrando novos caminhos por decisão irrecorrível de um soberano: o povo que a fala. Ou seja, todo mundo – e ninguém.
É aí que o reacionarismo gramatical se encrespa. Como assim, querem mexer nas receitas da vovó? Trocar banha de porco por azeite extravirgem? Não se respeita mais nada? Isso é vale-tudo! Destruição!
São histéricos, coitados. Se conseguissem relaxar só um pouquinho, se divertiriam muito mais.
(RODRIGUES, Sérgio. Da gramática às receitas da vovó. Jornal Folha de S. Paulo, 2024. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergiorodrigues/. Acesso em: junho de 2024.)