Questões de Concurso Sobre figuras de linguagem em português

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Q1699608 Português
Preconceito à velhice


        Hoje, custa assumir a velhice. A mercantilização da aparência humana descobriu o elixir da eterna juventude. Fortunas são movimentadas para prolongar a nossa juventude ou, pelo menos, a ilusão de que ela é perene: cirurgias plásticas, academias de malhação, pílulas energéticas, bebidas revitalizadoras, alimentos dietéticos etc.
        Assim, a velhice ganha, aos poucos, o estigma da vergonha, como se as rugas fossem cicatrizes socialmente inadmissíveis, os cabelos brancos, sinais de degradação, a aposentadoria, ociosidade vergonhosa, as limitações próprias da idade, incompetência.
        Fiquei chocado quando, em Estocolmo, uma amiga, assistente social, me contou que trabalhava num asilo, uma espécie de apart-hospital, onde as famílias depositavam seus idosos. Não há exagero no verbo. A função de minha amiga era visitar os aniversariantes, já que, em geral, suas famílias jamais apareciam e nem sequer telefonavam. [...]
        Algumas universidades facultam a eles o livre acesso a seus cursos, sem exigência de vestibular e frequência regular. Também empresas têm dado preferência a idosos na ocupação de certos cargos. No entanto, falta muito para que os nossos idosos sintam-se de fato valorizados, respeitados e, sobretudo, venerados, como ocorre nas aldeias indígenas. Ali, quando morre um velho, é toda uma biblioteca que desaparece. Pois é através da memória que a história é registrada e transmitida, embalada numa sabedoria que o nosso academicismo cartesiano custa a apreender. Bons tempos aqueles em que, em Minas, pedíamos a bênção dos mais velhos. E tínhamos todo o tempo do mundo para ouvir suas experiências e ensinamentos. Como a minha avó Zina que, aos 90 anos, narrava sua mocidade em Ouro Preto com um brilho adolescente nos olhos.


(SCLIAR, Moacyr. Do jeito que nós vivemos – Belo Horizonte: Frei Betto (fragmento). Disponível em: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp ?lang=PT&cod=6169.)
Ao citar o hábito de indígenas em relação aos idosos, é empregada uma metáfora que
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Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: SEE-PE Prova: FGV - 2016 - SEE-PE - Professor Braillista |
Q1699332 Português
O fragmento a seguir refere-se à questão.


Pois bem, é hora de ir: eu para morrer, e vós para viver. Quem de nós irá para o melhor é algo desconhecido por todos, menos por Deus”.
(Sócrates, no momento de sua morte)
No período inicial das palavras de Sócrates há a presença de dois exemplos de diferentes figuras de linguagem; tais figuras são, respectivamente,
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Q1698344 Português

Casamento


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

(Adélia Prado – Poesia Reunida, Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág. 252.)
“A silepse é um recurso de estilo cujo efeito de sentido está na concordância que se faz com a ideia, com o elemento que se tem em mente.”
(AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa.)

Como exemplo para o exposto anteriormente pode-se apresentar:
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Q1698343 Português

Casamento


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

(Adélia Prado – Poesia Reunida, Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág. 252.)
Em “O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo.” é possível identificar em relação ao “silêncio”, o uso de figuras de linguagem:
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Q1697796 Português

Sobre figuras de linguagem, marque (C) correto ou (I) incorreto e assinale a alternativa verdadeira.


( ) Conotação: sentido denotativo, literal, comum; também chamado sentido próprio, que exprime a significação mais usual da palavra, primeiro sentido no dicionário.

( ) Denotação: sentido conotativo, figurado; dependente de um contexto específico, particular.

( ) Metáfora: emprego de uma palavra ou expressão com um sentido diferente do usual, a partir de uma comparação subentendida entre dois elementos.

( ) Antítese: emprego de palavras (ou expressões) de sentidos opostos.

( ) Hipérbole: exagero intencional para impressionar o ouvinte (ou leitor).

( ) Eufemismo: suavização do sentido de ideias desagradáveis, chocantes (ou constrangedoras).

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Q1697788 Português

VELHO TEMA. (Vicente de Carvalho).


Só a leve esperança, em toda a vida,

Disfarça a pena de viver, mais nada;

Nem é mais a existência, resumida,

Que uma grande esperança malograda.


O eterno sonho da alma desterrada

Sonho que a traz ansiosa e embevecida,

É uma hora feliz, sempre adiada

E que não chega nunca em toda a vida.


Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos

Toda arreada de dourados pomos,


Existe, sim: mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos. 

De acordo com o poema, assinale a alternativa incorreta.
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Q1695121 Português

Instrução: A questão de números refere-se ao texto abaixo. 


(Disponível em: https://exame.com/blog/frederico-pompeu/ – texto adaptado especialmente para esta prova.)

Assinale a alternativa na qual NÃO haja o emprego de linguagem figurada.
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Q1694528 Português

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?


             Cecília Meireles 

Na frase “Ouvi Beethoven com emoção.”, a figura de linguagem empregada é a:
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Q1694268 Português

(Disponível em: https://revistaeducacao.com.br/2020/01/31/estagios-obrigatorios-professor/ - Texto especialmente adaptado para esta prova.)
Assinale a alternativa na qual haja o emprego de uma metáfora.
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Q1693932 Português
Privacidade das crianças na internet: quem deixou você postar isso? 



O bebê sentou sozinho. Click. Aprendeu a segurar o pé. Click. Se lambuzou inteiro de papinha. Click. Caiu um dente de leite. Click. Se antes os registros da infância eram guardados como preciosidades em empoeirados álbuns de família, no mundo frenético e digital da pósmodernidade eles encontraram uma nova plataforma: as redes sociais. E nem é preciso esperar por uma ocasião especial para publicar fotos e vídeos. O café da manhã, o caminho para a escola, a hora do almoço e até o banho... Tudo é pretexto para um novo post.

É fato que misturar a vida real com a digital é um caminho sem volta. “No passado, havia uma separação muito clara entre a vida presencial e a digital. Hoje, isso não existe mais”, explica a pesquisadora de tendências Clotilde Perez, pós-doutora em Design Thinking pela Stanford University (EUA). “Se as pessoas estão presentes nas redes sociais, é natural que as crianças também estejam. Afinal, elas são parte da sociedade”, completa.

Nem por isso é menos importante parar para refletir sobre o que a exposição precoce de crianças pode provocar. Elas ainda não têm discernimento para escolher como (e se) querem estar presentes no mundo virtual, mas sofrerão os efeitos do que está nas redes no futuro. Essa é uma situação à qual toda a sociedade está sujeita. “Tenho a impressão que virou um diário coletivo. O que fazíamos na intimidade, para guardar e mostrar aos filhos quando crescessem, agora é público”, explica a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo.

Mesmo que, hoje, as imagens que você posta do seu filho não reverberem de forma negativa, no futuro, dependendo do teor, elas podem se tornar fonte de mal-estar, embaraço ou matéria para bullying. Sim, aquela foto fofinha do seu filho com bumbum de fora na praia ou mostrando o sorriso banguela podem não ser interpretadas por estranhos do jeito que você gostaria. Por isso, para Rodrigo Nejim, diretor de educação da ONG SaferNet, os pais precisam ter em mente que a esfera pública da internet vai além do círculo de familiares e amigos. “Dizemos que expor na rede cenas comuns no contexto familiar, como um primeiro banho, acabam colocando seu filho na maior praça pública do planeta”, alerta.

Outro ponto fundamental é que a postagem dessas fotos pode ferir a autonomia das crianças. Muitas não são nem consultadas pelos pais. “É um equívoco menosprezar a opinião da criança. A partir dos 3 ou 4 anos, ela já pode dizer se gosta ou não de uma imagem e se quer que seja compartilhada”, completa Nejim.

Naíma Saleh. Disponibilizado em https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Com portamento/noticia/2018/06/quem-deixou-voce-postar-isso.html. Acesso em: 24/05/2020 (fragmento adaptado)
A organização do texto deve ser feita com nexos lógicos adequados, encadeando-se coerentemente as ideias e evitando-se frases e períodos desconexos. Assim, sobre o primeiro parágrafo do texto é incorreto afirmar:
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Q1693640 Português
TEXTO 

Você reconhece quando chega a felicidade?
Ana Paula Padrão

    Tenho uma forte antipatia pela obrigação de ser feliz que acompanha o Carnaval. Quem foge da folia ganha o rótulo de antissocial, depressivo ou chato. Nada contra o Carnaval. Apenas contra essa confusão de conceitos. Uma festa alegre não significa que você esteja plenamente feliz. E forçar uma situação de felicidade tem tudo para terminar em arrependimento e frustração. Aliás, você reconhece a felicidade quando ela chega? Sabe que está sendo feliz naquele momento? Espere um pouco antes de responder. Pense de novo.
     Estamos falando de felicidade! Não de uma alegria qualquer. E qual é a diferença? Bem, descrever a felicidade não é fácil. Ela é muito recatada. Não fica ali, posando para foto, sabe? Mas um Manual de Reconhecimento da Felicidade diria mais ou menos o seguinte: Ela é mansa. Não faz barulho. Ao mesmo tempo é farta. Quando chega, ocupa um espaço danado. Apesar disso, você quase não repara que ela está ali. Se chamar a atenção, não é ela. É euforia. Alegria. A licenciosidade de uma noite de Carnaval. Ou um reles frenesi qualquer, disfarçado de felicidade.
    A dita cuja é discreta. Discretíssima. E muito tranquila. Ela te faz dormir melhor. E olha, vou te contar uma coisa: a felicidade é inimiga da ansiedade. As duas não podem nem se ver. Essa é a melhor pista para o seu Manual de Reconhecimento da Felicidade. Se você se apaixonou e está naquela fase de pura ansiedade, mesmo que esteja superfeliz, não é felicidade. É excitação. Paixonite. Quando a ansiedade for embora, pode ser que a felicidade chegue. Mas ninguém garante.
    É temperamental, a felicidade. Não vem por qualquer coisa. E para ficar então… hi, não conheço nenhum caso de alguém que a tenha tido por perto a vida inteira. Por isso é tão importante reconhecê-la quando ela chega. Entendeu agora por que a minha pergunta? Será que você sabe mesmo quando está feliz? Ou será que você só consegue saber que foi feliz quando a felicidade já passou?
    Eu estudo muito a felicidade. Mas não consigo reconhecê-la. Talvez porque eu seja péssima fisionomista. Ou porque ela seja muito mais esperta do que eu. Mais sábia. Fato é que eu só sei que fui feliz depois. No futuro. Olho para o passado e reconheço: “Nossa, como eu fui feliz naquela época!” Mas no presente ela sempre me dá uma rasteira. Ando por aí, feliz da vida e nem sei que estou nesse estado. Por isso aproveito menos do que poderia a graça que é ter assim, tão pertinho, a tal da felicidade.
    Nos últimos tempos, dei para fazer uma lista de momentos felizes. E aqui é importante deixar claro que esses momentos devem durar um certo período de tempo. Um episódio isolado feliz – como quatro dias de Carnaval, por exemplo – não significa felicidade. A felicidade, quando vem, não vem de passagem. Não dura para sempre, mas dura um tempinho. Gosta de uma certa estabilidade, a danada! O problema é saber que ela está ali na hora em que ela está ali. Mas, voltando à lista, até que ela é longa.
    Já fui bastante feliz. Talvez não na maior parte do tempo. Mas acho que ninguém é. A lista é um grande exercício. Sabendo quando você foi feliz, é mais fácil descobrir por que você foi feliz. Para ser ainda mais funcional, é bom que a lista seja cronológica. Lendo a minha, constato que fico cada vez mais feliz e por mais tempo. Será que ela está aqui agora? Não sei dizer. Mas a paz de que desfruto agora é um sintoma dela.
     E isso não tem nada a ver com a tal obrigação de ser feliz desfilando no Sambódromo. Continuo meus estudos. Já tenho certeza de que hoje sou mais amiga da felicidade do que jamais fui em qualquer tempo. 

Disponível em: https://istoe.com.br/190975_VOCE+RECONHECE+Q UANDO+CHEGA+A+FELICIDADE+/
Na descrição que a autora se propõe a fazer da felicidade, há o emprego, na maioria das colocações, de uma linguagem figurada nas qualificações atribuídas a ela; assim, o recurso estilístico empregado pela autora nesse tipo de descrição é, principalmente, um(a):
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Q1693632 Português
Texto

Entrevista concedida ao jornalista Júlio Lerner, em 1 de fevereiro de 1977, para o programa “Panorama”, da TV Cultura, de São Paulo.

De minha sala até o saguão dos estúdios tenho que percorrer cerca de 150 metros. Estou tão aturdido com a possibilidade de entrevistá-la que mal consigo me organizar naquela curta caminhada. Talvez falar sobre “A Paixão Segundo G.H”… Ou quem sabe sobre “A Maçã no Escuro” e “Perto do Coração Selvagem”… Vou recordando o que Clarice escreveu. Será que li tudo? Em apenas cinco minutos consegui um estúdio para entrevistá-la.
São quatro e quinze da tarde e disponho de apenas meia hora. Às cinco entra ao vivo o programa infantil e quinze minutos antes terei de desocupar o estúdio. Estou correndo e antes mesmo de vê-la a pressão do tempo começa a me massacrar. Não terei condições de preparar nada antes, nem mesmo conversar um pouco. Não poderei sequer tentar criar um clima adequado para a entrevista. Eu odeio a TV brasileira! Só meia hora para ouvir Clarice. O pessoal da técnica foi novamente generoso e se empenhou para conseguir essa brecha. Olho o relógio, não consigo me organizar, estou correndo, olho novamente o relógio. Estou desconcertado, atinjo o saguão dos estúdios e a vejo ali, dez metros adiante, Clarice de pé ao lado de uma amiga, perdida no meio do vaivém dos cenários desmontados, de diversos equipamentos e de técnicos que falam alto, no meio de um grande alvoroço.
Paro diante dela, estou um pouco ofegante, estendo-lhe a mão e sou atravessado pelo olhar mais desprotegido que um ser humano pode lançar a semelhante. Ela é frágil, ela é tímida, e eu não tenho condições para explicar que o problema do tempo elevou meus níveis de ansiedade. Clarice me apresenta Olga Borelli, entramos e a conduzo ao centro do pequeno estúdio. Peço para que ela sente numa poltrona de couro de tonalidade café-com-leite. Clarice segura apenas um maço de Hollywood e uma caixa de fósforos, providencio um cinzeiro, os refletores malditos são ligados. Clarice me olha. O olhar de Clarice me interroga, só disponho de uma única câmera, o olhar de Clarice suplica, Olga se ajeita numa lateral escurecida, chega Miriam, a estagiária do programa e fica encolhida e calada, o calor está ficando insuportável e o ar-condicionado não está ajustado, são apenas quatro e vinte, Clarice tenta me dizer alguma coisa, mas não falo com ela, preocupado em ajustar uma questão de iluminação, o hálito da fornalha já nos atinge a todos, devemos ter agora no estúdio uns 50 ou 60 graus, maldita TV, bendita TV do terceiro mundo que me possibilita estar agora frente a frente com ela, Clarice me olha melindrosa, assustada e seu olhar me pede para que a tranquilize.
“OK, Júlio, tudo pronto”, a voz metálica vem da caixa dos alto-falantes. Peço a toda equipe para sair, cabo man, iluminador, assistente de estúdio, agradeço. Clarice percebe que caiu numa arapuca e já não há como voltar atrás. Peço silêncio e depois de uns dez segundos ecoa um “gravando”.
Não conversamos antes e disponho apenas de 23 minutos. Estou completamente desconcertado, fico um minuto em silêncio fitando Clarice. Estou oco, vazio, não sei o que dizer. Clarice me olha curiosa, mas vigilante, defendida. Sou o senhor do castelo e — prepotente — guardo comigo a chave desta prisão. Ninguém pode entrar ou sair sem meu expresso consentimento. Todos devem se submeter à minha autoritária vontade.
A fornalha arde, meu coração dispara, minha boca está seca e debaixo destes tirânicos mil sóis sou o maior dos tiranos. Começa a entrevista. A entrevista avança. Seus olhos azuis-oceânicos revelam solidão e tristeza. Clarice está nua, não há perdão, Clarice agora está encapotada, ela se deixa agarrar, mas logo escapa, e volta, e me pega, e me sugere o longe, o não dizível, depois se cala. E quando nada mais espero, ela volta a falar. Faço uma antientrevista, pausas, silêncios, Clarice agora está fugindo para uma galáxia inabitada e inatingível, mas volta em seguida e, tolerante, suporta toda a minha limitação.
Acho que ela vai se levantar a qualquer instante e me dizer: “Chega!”. Clarice pressente que por trás de meu sorriso aparentemente compreensivo e de minha fala suave esconde-se um ser diabólico autodenominado “repórter” e que quer possuir sua intimidade. Seu corpo exprime receios, ela me afasta, mas de novo me atrai, suas pernas se cruzam e se descruzam sem parar e telegrafam que de repente ela poderá se levantar e partir.

Fonte: https://www.revistabula.com/503-a-ultima-entrevista-de-claricelispector, acesso em fevereiro de 2020
Qual a figura de linguagem representada no trecho destacado em: “A fornalha arde, meu coração dispara, minha boca está seca e debaixo destes tirânicos mil sóis sou o maior dos tiranos.”?
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Q1693623 Português
Texto 

Licença poética

De acordo com o dicionário Houaiss, o termo “Licença Poética” é definido como a “liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão”. Está presente na literatura, música e também nas propagandas.
Por meio da licença poética, o artista ganha liberdade de expressão e se desprende da normatividade das regras gramaticais e/ou métricas, utilizando, entre outros recursos, versos irregulares, erros ortográficos e/ou gramaticais e rimas falsas. Assim, observa-se uma espécie de erro proposital, empregado para destacar determinado ponto da obra.
Entre os exemplos de uso de licença poética, podemos destacar o poema Indivisíveis, de Mário Quintana, que apresenta a seguinte frase: “Meu primeiro amor sentávamos…”.
Segundo a norma culta da língua portuguesa, observa-se um erro de concordância verbal, uma vez que o verbo (sentar) deve concordar com o sujeito (Meu primeiro amor). Assim, a forma correta da flexão do verbo deveria ser “sentava” em vez de “sentávamos”, no entanto, o poeta optou em utilizar a primeira pessoa do plural para demarcar simbolicamente a fusão entre o casal de amantes.
O poeta Manoel de Barros também utiliza o recurso no trecho: “Gostaria agora de escrever um livro. Usaria o idioma das larvas incendiadas […]”. Nesse caso, ele utiliza a licença poética para criticar a forma como as pessoas costumam usar a linguagem, comparando-a às larvas. 
Na letra da música Socorro, de Arnaldo Antunes, percebe-se a presença da licença poética no trecho a seguir: “Meu coração já não bate, só apanha…”. Sabe-se que o coração não é capaz de bater ou apanhar, no entanto, com a utilização do recurso, o autor reforça que em sua vida afetiva está mais acostumado a sofrer do que a ter alegrias.
Também encontramos a licença poética em romances, roteiros de novela, textos publicitários, jornalísticos, assim como em todas as outras áreas que envolvam um trabalho direto com a língua. 
Além de ser utilizada como recurso estético, a licença poética pode ser utilizada para objetivos mais práticos. Por exemplo, quando há uma novela ambientada ou com núcleo formado por personagens estrangeiros, como ocorreu em Caminho da Índias (Rede Globo, 2009), de Glória Perez, surpreendentemente, observa-se que os mesmos falam português perfeitamente. Isso ocorre devido ao pacto ficcional estabelecido entre o público e o autor da obra. Pelo fato dos telespectadores serem muito variados, seria difícil que todos conseguissem acompanhar o ritmo da trama, caso a mesma fosse legendada, o que resultaria, consequentemente, em uma perda de público. Uma vez que as telenovelas visam, em primeiro lugar, a obtenção da audiência, não seria um bom negócio em termos econômicos. Sem falar do tempo, esforço e investimento que devem ser aplicados para ensinar uma língua estrangeira aos atores, que, no momento da veiculação da obra, precisariam apresentar fluência na mesma.
Assim, pode-se considerar a licença poética como uma manobra linguística válida para diversos gêneros textuais, que permite aos autores expressarem o que desejam do modo que considerem mais adequado.

Fonte: https://www.infoescola.com/literatura/licenca-poetica, acesso em fevereiro de 2020

No verso citado em “Entre os exemplos de uso de licença poética, podemos destacar o poema Indivisíveis, de Mário Quintana, que apresenta a seguinte frase: ‘Meu primeiro amor sentávamos…”’, reconhece-se concordância tida como anormal, psicológica, porque se faz com um termo oculto, facilmente subentendido, essa é um exemplo de:
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Q1693617 Português
Texto 

Centenário de Clarice Lispector: obra ganha reedições em 2020

Obra da escritora chega com novo projeto gráfico pela Rocco, que em julho lança uma edição completa da sua correspondência

“Ler Clarice é se deixar levar pela companhia da escritora, dos narradores e personagens que ela cria, sabendo, de antemão, que dali não saíremos ilesos. Muita coisa acontecerá ao longo dessa leitura. Apertem os cintos, que pode vir tempestade brava, ventos fortes, ou uma doce brisa consoladora, mas nunca benevolente.”
O recado é de Nádia Battella Gotlib, uma das principais pesquisadoras da obra de Clarice Lispector (1920-1977), e fica como um convite para entrar nesse universo – ou revisitá-lo –, no momento em que se abrem as comemorações antecipadas pelo centenário de uma das maiores escritoras brasileiras – que nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk, na Ucrânia, e desembarcou no Brasil dois anos mais tarde.
Até dezembro do ano que vem, muito vai se falar sobre a autora de A Paixão Segundo G. H. e A Hora da Estrela. 
As primeiras ações para celebrar Clarice vêm da Rocco, sua editora. Ela vai reeditar toda a obra da autora com novo projeto gráfico e usando, inclusive, as telas que Clarice pintou como capa dessas novas edições, que trazem, ainda, novos posfácios para cada um dos volumes. Três títulos acabam de chegar às livrarias. De 1943, Perto do Coração Selvagem é o livro de estreia de Clarice e vem agora com posfácio de Nádia. O Lustre, de 1946, é tido como uma de suas obras mais difíceis. Já A Cidade Sitiada, de 1949, foi escrito em Berna, durante o período em que Clarice acompanhou o marido diplomata na Suíça. O posfácio é de Benjamin Moser, seu biógrafo.
Não foram anunciados, ainda, quais serão os próximos lançamentos. Mas duas certezas: A Hora da Estrela encerra o projeto, em 10 de dezembro de 2020; e antes, em julho, para a Flip, onde Clarice já foi homenageada, sai a coletânea Todas as Cartas nos moldes dos outros dois volumes, de contos e crônicas, publicados pela Rocco.
A organização é de Pedro Karp Vasquez, que assina também o posfácio. Teresa Montero, outra biógrafa de Clarice, fará as notas explicativas e o prefácio. Larissa Vaz é responsável pela pesquisa de campo e digitação das novas cartas encontradas. Há correspondência trocada com a família e personalidades – de Getúlio Vargas a Lygia Fagundes Telles.
“As cartas da correspondência ativa, as que Clarice enviou às irmãs, por exemplo, quando ela estava no exterior, têm o poder de nos mostrar uma história de vida e obra de Clarice num período em que se misturam alegrias e tristezas. Alegria pelo filho que ali nasceu. Tristeza por viver numa cidade pacata demais. A leitura dessas e de outras cartas nos revela seus projetos, preocupações, ansiedades, saudades das pessoas queridas. Pelas cartas podemos nos defrontar com belas paisagens suíças e com notícias de textos que no momento estava escrevendo; ficamos sabendo das suas leituras e das verdadeiras batalhas para publicar seus livros”, comenta Nádia. 

(Fonte: texto adaptado de https://www.metropoles.com/entretenimento/literatura/centenario-declarice-lispector-obra-ganha-reedicoes-em-2020, acesso em fevereiro de 2020). 
Analise as assertivas a seguir sobre texto informativo:
I. o texto informativo é escrito em prosa, sendo utilizada a 3ª pessoa do discurso; II. fornece informações inverdadeiras e subjetivas sobre um determinado tema; III. utiliza o sentido denotativo da linguagem a fim de informar ao receptor a mensagem de maneira clara e direta; IV. expressa opiniões pessoais e indagações do autor; V. não utiliza figuras de linguagem nem o sentido conotativo das palavras para evitar ambiguidade e diversidade de interpretações.
Quais estão corretas?
Alternativas
Q1692966 Português
Na frase: As árvores são imbecis: se despem justamente quando começa o inverno.” Temos como figura de linguagem:
Alternativas
Q1692078 Português

Pro Beleléu


André Sant’Anna 


Detesto São Paulo.


Antes eu gostava quando eu era do Rio e eu vinha pra São Paulo ver show da Vanguarda Paulista e eu saía de noite e eu era muito jovem e eu estava aprendendo a tocar contrabaixo e eu era mineiro e eu tenho uns tios que são mineiros e moram em São Paulo há muito tempo e eles são músicos e eu queria ser músico que nem eles, os meus tios, e eu saía de noite com o meu tio que tinha uns amigos que eram da Vanguarda Paulista e tinha o Gigante que era amigo do meu tio e tocava com o Itamar Assumpção e eu fui no ensaio do Itamar Assumpção com o meu tio no dia que a Elis Regina morreu e de noite fazia um frio que eu achava gostoso e eu botava uns casacos que eram muito bonitos e elegantes que só dava pra eu usar quando eu vinha pra São Paulo e eu achava que São Paulo era igual Nova York [...] Eu tinha um grupo de vanguarda no Rio de Janeiro e saiu uma matéria no Jornal do Brasil lançando a Vanguarda Carioca e eu era o Arrigo e namorava a cantora da banda que tinha uma voz aguda e era igual a Tetê Espíndola e a gente sempre tocava no Circo Voador e eu achava que o Rio ia melhorar e ficar igual a São Paulo.

Eu adorava São Paulo.

Eu vim morar em São Paulo no ano de 1992 quando eu voltei da Alemanha e o Collor era presidente e todo mundo estava sem dinheiro e o Rio estava muito pobre e eu trabalhava com publicidade e as agências de publicidade do Rio estavam fechando porque o Rio é mais pobre do que São Paulo porque São Paulo é uma cidade que foi inventada só pro pessoal fazer uma grana e eu vim fazer uma grana em São Paulo e eu achava que São Paulo era a cidade mais parecida com Berlim que é a cidade que eu mais gosto e que é muito mais bacana que Nova York e muito melhor do que o Rio mas aí eu reparei que não era bem assim, que o Arrigo tinha sumido, não tinha mais Vanguarda Paulista, só tinha gente tentando ganhar dinheiro e eu não tinha mais banda e eu não era mais de vanguarda e eu trabalhava numa firma deprimente e as paulistas da firma e da Faria Lima não tinham deselegância discreta [...] e a poluição fazia meus olhos ficarem ardendo e todo mundo ficava só trabalhando e ganhando dinheiro e bebendo chops depois do trabalho e aqueles paulistas eram todos muito caretas com aqueles cortes de cabelo caretas que os chefes das firmas gostam, e aquelas mulheres caretas com aqueles conjuntinhos caretas de andar na Avenida Paulista na hora do almoço, indo para aqueles restaurantes de quilo caretas e eu sofria tanto com tanta saudade do Rio e dos meus amigos cariocas de vanguarda e de São Paulo quando São Paulo era de vanguarda e eu andava tanto de ônibus e ficava tanto tempo no trânsito com aqueles paulistas e eu morei numa rua que só tinha ferro-velho e tinha uma favela sem charme atrás da casa do amigo onde eu morava e até a favela de São Paulo era careta e eu não via Nova York em lugar nenhum e dava vontade de chorar só de ver uma imagem do Pão de Açúcar na televisão e eu não conhecia ninguém em lugar nenhum e eu nunca mais vi um show do Itamar Assumpção e eu passei muitos anos assim sem nada de vanguarda, só firma, só restaurante de quilo, só Paulo Maluf que é uma das coisas mais paulistas que há e eu ficava com muita vontade de eu ir morar no Rio de novo e eu fui trabalhar no Rio e os meus amigos de vanguarda não eram mais de vanguarda e trabalhavam numas firmas e ganhavam muito mal e eu ganhava muito mais dinheiro em São Paulo do que no Rio e eu detesto dinheiro.

Adoro São Paulo. 

Antes eu detestava quando eu achava que o Rio era muito melhor até que eu percebi que as coisas não são bem assim, quando eu percebi que eu sempre preferia outra cidade do que aquela cidade na qual eu estava morando antes e quando deu tudo errado naquele emprego que me levou de volta para o Rio e eu voltei de novo pra São Paulo pra fazer uma grana e eu comecei a reparar num monte de coisa boa que eu acho bom em São Paulo, que nem a Rua Augusta e a Avenida Paulista iluminada de noite no inverno e o fato de São Paulo ser uma das maiores cidades do mundo e ser um mundo tão grande e tão impossível de conhecer inteiro e o centro da cidade que é muito louco e o provincianismo muito grande, tão grande que chega a ser até moderno e os paulistas que são meio provincianos, mas de um provincianismo simpático na fila pra ver filme do Godard que ninguém gosta mais só eu e uns paulistas provincianos modernos e as músicas do Beleléu, que é o Itamar Assumpção falando de São Paulo à meia-noite e o sol alaranjado morrendo atrás dos prédios que nunca acabam no horizonte sem oceano e o zeppelin que fica passando na minha janela e o silêncio dos feriados e a noite alaranjada e as avenidas marginais alaranjadas na madrugada e a solidão que dói tanto e eu fico sentindo que há poesia em toda parte e o Itamar Assumpção morreu e São Paulo ficou tão sozinha à meia-noite e eu e São Paulo somos tão sozinhos e o universo é tão sozinho e a poesia é uma coisa dos sozinhos e eu em São Paulo gostando de sentir essa dor do Beleléu que morreu e da vanguarda que acabou e daquele tempo que eu adorava São Paulo, aquele tempo que eu detestava São Paulo. Foi tudo pro Beleléu aqui no meu coração em São Paulo.

SANT’ANNA, André. Pro Beleléu. In: As cem melhores crônicas brasileiras. SANTOS: Joaquim Ferreira dos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

Qual figura de linguagem está presente no título da crônica:
Alternativas
Q1692045 Português
O apanhador de poemas
Um poema sempre me pareceu algo assim como um pássaro engaiolado... E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um cuidado infinito. Um poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito. Não, o grito é o que mais o espanta. Um poema, é preciso esperá-lo com paciência e silenciosamente como um gato. É preciso que lhe armemos ciladas: com rimas, que são o seu alpiste; há poemas que só se deixam apanhar com isto. Outros que só ficam presos atrás das catorze grades de um soneto. É preciso esperá-lo com assonâncias e aliterações para que ele cante. É preciso recebê-lo com ritmo, para que ele comece a dançar. E há os poemas livres, imprevisíveis. Para esses é preciso inventar, na hora, armadilhas imprevistas.
Mário Quintana. Da preguiça como método de trabalho. Rio de Janeiro: Globo, 1987, p. 102-3.
No período “É preciso esperá-lo com assonâncias e aliterações para que ele cante”, o autor cita duas figuras de linguagem, que consistem, respectivamente, na
Alternativas
Q1691745 Português

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.


De volta pra casa


Nos aeroportos, o cenário já me parecera realidade paralela de ficção científica. Estaria eu personagem de um filme ou de um livro? Todo mundo de máscara, alguns de luvas. Pessoas quietas, silenciosas, tentando manter espaço entre si. Cenário fantasmagórico. Estranhamento total.

Primeiro, paraliso-me concentrando apenas em estar ali, me dou uns momentos para sentir que estou em casa. Do ângulo em que me encontro observo a sala e a cozinha. Há algumas horas atrás saíra do hotel com o motorista da empresa, para o aeroporto. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão.

Segundo, observo mala, mochila e bolsa na porta, levo para a área de serviço, esvazio e coloco quase tudo na máquina de lavar. Passo álcool em gel, água sanitária. Papéis, computador, na bancada de pedra na cozinha; descalço os tênis também na área. Limpo as solas. Estão lá até hoje, abertas, higienizadas e não tenho coragem de guardá-las. Idem os tênis. Não toquei mais, até parece trauma.

Terceiro, olho a geladeira, o freezer, bem abastecido. Na véspera, meu filho cozinhara, levara mantimentos e me dissera ao telefone: “quando chegares, tu não sais mais!” Frango ao catupiry, carne assada ao molho, arroz, lentilha, lasanha, vários potes. Frutas, legumes, ovos, leite, massa, mel. Produtos de limpeza. Filho de ouro! Começo a me conscientizar sobre o que poderia significar uma quarentena. E vou descansar, que o primeiro voo saíra às 3 da manhã e estou insone.

Começo a trabalhar online, o que já costumo fazer. Revisões e orientações, álcool em gel, lavar as mãos com sabão, relato do trabalho que realizara em março, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Telefonemas e mensagens de Whatzapp. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão, noticiários na TV, séries e filmes na Netflix, sarau literário por google meet, como é bom rever o grupo! Mais disciplinado do que nunca por conta do encontro virtual, ninguém fala ao mesmo tempo. Que vírus danado!

Que mexida na ordem, que caos instalado! No 4º dia senti tontura, caminho meio torta pela casa, chequei se seria sintoma do corona, mas não. Qualquer arranhadinho na garganta lá ia eu para o termômetro. E vá gargarejo com água morna e sal. Litros de chá e água. Como tenho rinite alérgica e tosse de refluxo, às vezes pensava, “será o corona”? E dê-lhe desinfecção, álcool, água sanitária, desinfetante. E não deixar louça suja, meu pior pesadelo: o tempo de cozinha, de máquina de lavar, de limpar a casa, de lavar gêneros alimentícios. Essa higienização diária vai me deixar maluca!

Inicia uma reconstrução do dia a dia, novo cotidiano, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Enclausurada, sem liberdade de ir e vir, em contrapartida outras liberdades a serem exercidas. Não me abato. Mas reconheço que me sinto controlada, sem saber que novo mecanismo é esse. Gosto de estar em casa sozinha. Sempre tenho mil coisas para fazer: pensar, imaginar, arrumar, organizar, ler. Porém esse jeito compulsório e com esse vírus lá fora ameaçando, não é nada confortável.

O cara da fruteira se despediu após me entregar as sacolas no portão do edifício, e depois do ritual do pagamento com a maquininha envolta em papel filme (será que adianta?), ia saindo com meu cartão enfiado na máquina. Gritei, ei, meu cartão! Ele se voltou pedindo desculpas. Todo o mundo atrapalhado, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Uso máscara e luvas quando desço pra colocar o lixo e buscar a correspondência e o jornal. O novo mundo com Corona vírus. Álcool em gel, lavar as mãos com sabão. A vida em suspenso. A rua antes tão disputada para estacionamento, agora vazia, desfigurada.

Finalmente os 14 dias!! para ter certeza de que não retornei da viagem infectada. Mas não consigo me sentir aliviada. “O mundo, como o conhecemos, não existe mais”, ouço na TV. Frase forte. Meu sistema imunológico fraco.

Aglomerações, não uso de máscara, quebra do isolamento social. O ser humano se mostra mais onipotente, ignorante e alienado como nunca. Mecanismo maciço de negação. Mais do que medo! Um viruzinho que nem vivo é, uma proteína revestida, um microrganismo invisível, tão letal e perigoso, colocando o mundo de joelhos. Às vezes ainda perpassa uma sensação de irrealidade. Pandemia.

Zanzo pela casa durante o dia, passando por diversos estados de espírito: indignada, perplexa, compassiva, alarmada, vulnerável, repugnada, assustada, raivosa, envergonhada, fragilizada, impotente, raramente tranquila, álcool em gel, lavar as mãos com sabão. Respira a terra, gorjeiam as águas, limpa-se o ar. E morrem as pessoas.

Minhas mãos nunca estiveram tão cheirosas nas 24 horas do dia. Mesmo cortando cebola, elas rescendem a perfume. Mordo a cenoura crua, cansada de lavar panelas. Meus dentes hão de aguentar.


Berenice S. Lamas (Texto adaptado) 

A frase “Apesar dos esforços médicos, muitas pessoas bateram as botas depois de testarem positivo para a Covid-19.” apresenta a seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Q1691561 Português

Em se tratando de figuras de linguagem, marque (C) correto ou (I) incorreto e assinale a alternativa verdadeira.

( ) “Estava mais angustiado / Que um goleiro na hora do gol / Quando você entrou em mim / Como um sol no quintal.” (Comparação).

( ) No verão, esta praia será novamente um formigueiro.(Metáfora).

( ) “A velha maria-fumaça fungava e gemia, puxando os dois vagõezinhos com alguns turistas”. (Personificação, ou prosopopeia).

( ) “Aqui viajam doze pneus cheios e um coração vazio.” (Antítese).

( ) Expliquei um milhão de vezes e ela nada entendeu! (Hipérbole).

( ) Como dizia o pai de um filho burro: “Às vezes tenho que concordar em que meu filho não atingiu o índice normal de aproveitamento para meninos de sua idade”. (Disfemismo).

Alternativas
Q1690746 Português
Assinale a alternativa na qual NÃO haja o emprego de figuras de linguagem.
Alternativas
Respostas
1561: D
1562: A
1563: C
1564: D
1565: A
1566: A
1567: E
1568: A
1569: C
1570: D
1571: A
1572: E
1573: D
1574: D
1575: B
1576: B
1577: E
1578: A
1579: A
1580: C