Questões de Concurso
Comentadas sobre flexão verbal de número (singular, plural) em português
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Olhador de anúncio
Eis que se aproxima o inverno, pelo menos nas revistas, cheias de anúncios de cobertores, lãs e malhas. O que é o desenvolvimento! Em outros tempos, se o indivíduo sentia frio, passava na loja e adquiria os seus agasalhos. Hoje são os agasalhos que lhe batem à porta, em belas mensagens coloridas.
E nunca vêm sós. O cobertor traz consigo uma linda mulher, que se apresenta para se recolher debaixo de sua “nova textura antialérgica”, e a legenda: “Nosso cobertor aquece os corpos de quem já tem o coração quente”. A mulher parece convidar-nos: “Venha também”. Ficamos perturbados. (...)
Não, a mulher absolutamente não faz parte do cobertor, que é que o senhor estava pensando? Nem adianta telefonar para a loja ou agência de publicidade, pedindo o endereço da moça do cobertor antialérgico. Modelo fotográfico é categoria profissional respeitável, como qualquer outra. Tome juízo, amigo. E leve só o cobertor.
São decepções do olhador de anúncios. Em cada anúncio uma sugestão erótica. Identificam-se o produto e o ser humano. A tônica do interesse recai sobre este último? É logo desviada para aquele. Operada a transferência, fecha-se o negócio. O erotismo fica sendo agente de vendas. Pobre Eros! Fizeram-te auxiliar de Mercúrio (*).
(*) Eros e Mercúrio são, respectivamente, o deus do amor e o deus dos negócios na mitologia clássica.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond. O poder ultrajovem. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 167)
A respeito dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto CG1A1AAA, julgue o item a seguir.
Depreende-se do emprego da forma verbal “jogávamos” (l.6)
que o narrador, ao retornar do pediatra para casa, juntou-se
a colegas para jogar futebol.
No que se refere ao texto e a seus aspectos linguísticos, julgue o item.
No último parágrafo do texto, o emprego da forma
verbal “evitemos” (linha 32), no modo subjuntivo e na
primeira pessoa do plural, expressa um desejo em forma
de apelo à sociedade brasileira.
TEXTO 4
Por que é necessário ensinar estratégias de compreensão? Em síntese, porque queremos formar leitores autônomos, capazes de enfrentar de forma inteligente textos de índole muito diversa, na maioria das vezes diferentes das utilizadas durante a instrução. Esses textos podem ser difíceis, por serem muito criativos ou por estarem mal escritos. De qualquer forma, como correspondem a uma grande variedade de objetivos, cabe esperar que sua estrutura também seja variada, assim como sua possibilidade de compreensão.
Formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender a partir de textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalização que permita transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes...
(SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998, p.72)
“Em síntese, porque queremos formar leitores autônomos”
Nesse segmento do texto 4, o uso da 1ª pessoa
do plural tem o papel de:
Considere o seguinte texto:
Você já ouviu falar que usamos apenas 10% do cérebro? Se isso __________ verdade, imagine se um dia alguém __________ usar o cérebro todo, quão desenvolvido não __________? Mas não é bem assim: todas as partes do cérebro estão trabalhando para nos fazer movimentar, sentir, emocionar, raciocinar.
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas acima, na ordem em que aparecem no texto.
O Verbo empregado no primeiro balão está na:
![Imagem associada para resolução da questão](https://qcon-assets-production.s3.amazonaws.com/images/provas/57482/imagem_19.png)
Na gravura, alterando-se o sujeito dos verbos do período para “nós” (1ª pessoa do plural), tem-se a seguinte modificação das formas verbais:
Texto CB2A1-I
A respeito dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto CB2A1-I, julgue o item que se segue.
A coerência e a correção gramatical do texto seriam
preservadas se a forma verbal “mudaram” (l.2) fosse
substituída por mudam.
Adultos estacionados na infância - Dênis Athanázio
“Quando meu filho nascer, eu terei que tomar vergonha na cara e mudar o rumo da minha vida. Não serei mais infiel, vou ser mais tolerante com meus familiares, protestarei incansavelmente por um país melhor onde meu herdeiro será o mais novo morador”.
Muitas dessas promessas “éticas” permanecem no discurso e não se realizam na prática e partem do pressuposto de que a Terra toda gira em torno do meu umbigo (e agora do umbigo do meu filho também), com o único objetivo de nos satisfazer o tempo todo.
Freud se preocupou com essa questão. Ele desenvolveu um conceito chamado narcisismo primário para explicar aquela fase da criança onde ela investe toda a sua energia libidinal para si mesma, isto é, só pensa nela e em sua satisfação imediata, como instinto de preservação, proteção. E mesmo sem ter total consciência desse complexo processo, o outro é para ela apenas um meio para se chegar a um fim que, no caso, é servi-la e cuidá-la de todas as formas que contribua para sua satisfação e gozo próprio. Se essa fase for “superada”, a criança vai, aos poucos, percebendo que nem todos os seus desejos serão atendidos e nem no exato momento que elas desejarem.
O problema é que encontramos algumas pessoas no decorrer dos anos que ficaram estacionadas no narcisismo primário e dali nunca mais saíram. São “adultos-crianças” birrentos, de difícil convivência, pois não aguentam nem eles mesmos e não conseguem enxergar o outro.
Freud escreveu que a chegada do filho traz toda aquela carga psíquica do que já fomos um dia na infância, mas a deslocamos para nosso filho, pois não podemos voltar a ser criança. Talvez seja por isso que muitos pais idolatram seus filhos nas redes sociais. Na verdade, sem perceber, os pais estão falando do amor por eles mesmos e não do amor pelos filhos.
Se quisermos ter filhos éticos, talvez devamos praticar a ética antes mesmo de eles existirem. Só quem tenta ser ético sabe a dificuldade e investimento diário que é para sê-lo. Se colocarmos a nossa transformação toda como ser humano nas costas da criança que virá, ela já nascerá com dor nas costas e na alma. É como dar uma feijoada para um recém-nascido digerir. As crianças não deveriam vir com a missão de consertar casamento, de suprir carências ou de juntar pessoas que não querem estar próximas. Elas podem vir para somar e dividir e não para consertar os problemas que cabem aos adultos.
Retirado e adaptado de:<http://obviousmag.org/denis_athanazio/2018/adultos-estacionados-na-infancia.html>
[Cartas sem resposta]
Deixamos na terra natal, além de recordações plantadas no ar, pessoas de saúde frágil e idade avançada, às quais prometemos que nossa visita não vai demorar. Mesquinhas preocupações, cansaço, displicência, tédio de viajar por lugares muito sabidos, cisma de avião, tudo isso e pequenos motivos nos afastam da nossa promessa. Acabamos escrevendo apenas cartas. Cartas, cartas! Repetem mecanicamente um carinho que devia ser cálido e físico, carregam abstrações, sombra de beijos, não beijos. E chega um dia em que já não recebemos cartas em resposta às que continuamos a mandar.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond. Fala, amendoeira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 167/168)
TEXTO 1
Os camelos do Islã
Por Reinaldo José Lopes
Quando a gente pensa em eventos históricos, precisa sempre levar em conta um termo meio técnico, meio filosófico, sem o qual é muito fácil cometer escorregadas feias. O termo é contingência. Em outras palavras, o papel do que poderíamos chamar de coincidência ou acaso em mover as engrenagens da história, e o fato de que os eventos históricos são caóticos, quase que no sentido físico do termo: alterações minúsculas podem conduzir a efeitos gigantes.
Por que estou me saindo com essa conversa mole? Bem, porque escrevi não faz muito tempo uma reportagem para esta Folha contando como uma série de alterações climáticas ligadas a erupções de vulcões a partir do século 6º d.C. parecem ter contribuído para acabar com o mundo antigo e “criar” a Idade Média.
No texto original, acabou não cabendo um detalhe absolutamente fascinante: segundo os modelos computacionais climáticos usados pelos pesquisadores suíços que assinam o estudo, um dos efeitos do frio intenso trazido pela erupção vulcânica pode ter sido um considerável aumento da umidade — chuva, portanto — na Arábia. E daí, perguntará você?
Bom, mais chuva = mais grama para os camelos e cavalos comerem. Mais camelos e cavalos = mais poderio militar para as tribos árabes. As quais, no período de que estamos falando, tinham acabado de adotar uma nova e empolgante ideologia religiosa trazida por um certo profeta chamado Maomé — uma ideologia que estava “pronta para exportação”, digamos assim.
Aí a gente cai de novo na tal da contingência. A expansão árabe certamente não teria acontecido sem o surgimento do Islã — mas talvez não fosse viável sem aquele monte de camelos e cavalos que só nasceram graças a algumas erupções vulcânicas. Fatores assim interagem o tempo todo, e dificilmente a gente tem clareza suficiente para entendê-los na hora em que estão ocorrendo, ou mesmo muitos séculos depois.
In: http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/03/08/os-camelos-do-isla/ Acesso em: 30 set. 2016
[Para onde vão as palavras]
Como se sabe, a palavra durante algum tempo foi obrigada a recuar diante da imagem, e o mundo escrito e impresso diante do falado na tela. Tiras de quadrinhos e livros ilustrados com um mínimo de texto hoje não se destinam mais somente a iniciantes que estão aprendendo a soletrar. De muito mais peso, no entanto, é o recuo da notícia impressa em face da notícia falada e ilustrada. A imprensa, principal veículo da esfera pública no século X I X assim como em boa parte do século XX, dificilmente será capaz de manter sua posição no século X X I.
Mas nada disso pode deter a ascensão quantitativa da literatura. A rigor, eu quase diría que - apesar dos prognósticos pessimistas - o mais importante veículo tradicional da literatura, o livro impresso, sobreviverá sem grande dificuldade, com poucas exceções, como as das enciclopédias, dos dicionários, dos compêndios de informação etc., os queridinhos da internet.
(Adaptado de: HOBSBAWM, Eric. Tempos fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 29-30.)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A família dos porquês
Atenção: Para responder à questão, considere o texto abaixo.
Não temos ideia de como será o mercado de trabalho em 2050. Podemos afirmar que a robótica vai mudar quase todas as modalidades de trabalho. Contudo, há visões inconciliáveis a respeito das consequências dessa mudança e sua iminência. Alguns creem que dentro de uma ou duas décadas bilhões de pessoas serão economicamente redundantes. Outros sustentam que mesmo no longo prazo a automação continuará a gerar novos empregos e maior prosperidade.
Os temores de que a automação causará desemprego massivo remontam ao século XIX, e até agora nunca se materializaram. Desde o início da Revolução Industrial, para cada emprego perdido para uma máquina pelo menos um novo emprego foi criado, e o padrão de vida médio subiu consideravelmente. Mas há boas razões para pensar que desta vez é diferente.
Seres humanos possuem dois tipos de habilidades - física e cognitiva. No passado, as máquinas competiram com humanos principalmente em habilidades físicas, enquanto eles ficaram à frente das máquinas em capacidade cognitiva. Por isso, quando trabalhos manuais na agricultura e na indústria foram automatizados, surgiram novos trabalhos no setor de serviços que requeriam o tipo de habilidade cognitiva que só humanos possuíam: aprender, analisar, comunicar e compreender emoções. No entanto, acredita-se que a Inteligência Artificial será capaz de apreender um número cada vez maior dessas habilidades.
Evitando-se o uso da primeira pessoa do plural, as duas frases acima articulam-se com correção e lógica em um único período em:
Leituras e adolescência
No meu tempo de ensino médio, entrada da adolescência, os livros de Português ou as “seletas” adotadas eram implacáveis: não se buscava o gosto já formado do estudante, ofereciam-se a eles sobretudo textos consagrados do século XIX. Modernismo? Quase nada (certamente uma pena, diga-se). Se algumas dessas leituras nos chateavam bastante, outras, por diversas razões, prendiam nosso interesse.
Intrigava-nos uma palavra nova, uma expressão curiosa, uma construção sintática desconhecida, e nossa imaginação era chamada a frequentar linguagens incomuns. Não se passava a mão na cabecinha dos adolescentes, entregando-lhes o que podiam mastigar sem esforço: chamavam-nos para as diferenças e desafios da literatura adulta, para o impacto que ela promovia em nós. Certamente havia aberrações nessa didática conservadora, mas havia também o estímulo para a dificuldade e para o desconhecido, para o inabitual e o “novo” que pode haver no “velho”.
Mas a recomendação que se pode fazer, sem querer recuar para programas obsoletos ou rígidas opções, é esta: tirar o estudante do trono em que a sociedade de consumo e a pedagogia da facilitação o colocaram e lhe oferecer um espelho no qual, em vez de ver apenas seu próprio rosto refletido, veja também tudo o que está ao seu lado, e logo atrás dele, e muito atrás dele, alimentando ainda sua mais acesa expectativa quanto ao que estará por vir.
(Tibúrcio Calógeras, inédito)