Questões de Concurso
Sobre flexão verbal de tempo (presente, pretérito, futuro) em português
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um tipo de conhecimento indispensável é aquele que
se caracteriza pela aptidão para entender o conjunto das coisas.
Esse tipo de conhecimento, associado à compreensão da relação
entre meios disponíveis e fins desejáveis, é o que confere
ao governante perícia estratégica para perceber o que está
aberto às possibilidades futuras. Tal conhecimento tem a feição
de uma "visão global". É uma espécie de "quadro mental", fruto
da experiência, da sensibilidade e do domínio de assuntos, que
permite a um governante, sem perder o sentido de direção, ir
contextualizando a informação fragmentada que provém do
mundo complexo e interdependente em que vivemos.
Entender o conjunto das coisas que estão ocorrendo no
mundo, com destaque para a crise econômico-financeira, que a
partir dos EUA se espraiou globalmente, é uma dificuldade compartilhada
em todos os lugares por governantes e governados.
Qual é o significado e o alcance dessa crise, que aprofunda
tensões difusas em todos os países, inclusive no Brasil?
Os economistas fazem uma distinção entre risco e
incerteza. O risco comporta cálculo, enseja alguma previsibilidade
e abre horizontes para cenários de possibilidades que o
imprevisto pode trazer. Os vários tipos de seguro, desde a sua
origem, como o seguro marítimo, os hedges, são uma expressão
de um cálculo probabilístico que permite a gestão de riscos.
A incerteza, ao contrário, não comporta cálculo e por isso tende
a propiciar o imobilismo, do qual são exemplos os bancos que
não emprestam, os investimentos empresariais que se suspendem
e o consumo dos particulares que se contém.
O risco é uma característica da sociedade moderna e o
capitalismo nela identifica um caminho de inovação e progresso.
Nesta nossa era de globalização, Anthony Giddens chama a
atenção para o novo risco do risco. Este provém de um maior
desconhecimento do nível de risco, manufaturado pela ação
humana. Disso são exemplos o risco ecológico, o nuclear e o da
direção do conhecimento científico-tecnológico que, com suas
constantes inovações, transpõe continuamente barreiras antes
tidas como naturais. A crise financeira, como crise de confiança,
é uma expressão do risco manufaturado pelo sistema financeiro
global que, por conta de suas falhas de avaliação, gestão
temerária, carência de supervisão e de normas, se transformou
num não debelado curto-circuito de incerteza.
A crise é global e os seus efeitos estão se internalizando
na vida dos países, em maior ou menor grau, à luz de suas
especificidades.
(Trecho do artigo de Celso Lafer. O Estado de S. Paulo, A2, 15
de fevereiro de 2009, com adaptações)
É CORRETO afirmar que, dentre as formas verbais destacadas no período acima
Com relação às estruturas do texto, julgue os itens subsequentes.
da Mata Atlântica e retomar as funções ecológicas que a
tornam tão importante. Mas é possível fazer com que uma floresta
secundária avance para a condição de floresta nativa?
Segundo a diretora de restauração florestal da SOS
Mata Atlântica, as florestas secundárias geralmente não conseguem
atingir as mesmas condições ecológicas que as primárias,
mas têm o seu valor. "Uma floresta estabelecida, ainda que
secundária, absorve água e forma um reservatório natural,
impede o assoreamento dos rios e gera emprego e renda para
quem atua na restauração."
A manutenção de funções ecológicas na floresta secundária
depende de seu desenvolvimento. "Se ela atingir determinado
tamanho, diversidade e microclima adequado, poderá
ter funções semelhantes às da mata nativa", diz ela. Também a
capacidade de absorver carbono é uma das diferenças entre as
duas florestas. A mata secundária sequestra muito mais carbono,
mas isso não a torna melhor do que a primária, ela explica.
O grau de biodiversidade é um dos principais fatores que
diferenciam florestas primárias e secundárias. Esse grau depende
de vários aspectos, especialmente a idade e a existência
de mata nativa nas proximidades. As florestas secundárias são
definitivamente mais vulneráveis do que a primária, principalmente
em relação ao fogo. Na Amazônia, a idade média de uma
floresta secundária é de seis ou sete anos, já que muitas delas
são queimadas mais de uma vez.
A diretora avalia ainda que a perda de espécies na mata
secundária está relacionada ao ambiente mais aberto. Intervenções
como corte de cipó e plantio de espécies que funcionem
como uma barreira podem contribuir para a restauração e a
conservação das florestas.
(Ana Bizzotto. O Estado de S. Paulo, Especial Sustentabilidade,
H6, 30 de janeiro de 2009, com adaptações)
Ilha Comprida, no litoral sul de São Paulo, pode perceber uma
paisagem peculiar. Em meio às dunas da restinga, onde deveria
existir apenas vegetação rasteira, grandes pinheiros brotam por
toda parte. A sombra das árvores é um bem-vindo refresco para
os moradores da região, mas a verdade ecológica é que elas
não deveriam estar ali - assim como os pombos não deveriam
estar nas praças das cidades, nem as tilápias nas águas dos
rios, nem o mosquito da dengue picando pessoas dentro de
casa ou as moscas varejeiras rondando raspas de frutas nas
feiras.
São todas espécies exóticas invasoras, originárias de
outros países e de outros ambientes, mas que chegaram ao
Brasil e aqui encontraram espaço para proliferar. Algumas são
exóticas também no sentido de "diferentes" ou "esquisitas", mas
muitas já se tornaram tão comuns que parecem fazer parte da
paisagem nacional tanto quanto um pau-brasil ou um tucano.
Outros exemplos, apontados pelo Programa Global de Espécies
Invasoras e por cientistas brasileiros, incluem o pinus, o dendezeiro,
as acácias, a mamona, a abelha-africana, o pardal, o
barbeiro, a carpa, o búfalo, o javali e várias espécies de
gramíneas usadas em pastos, além de bactérias e vírus
responsáveis por doenças importantes como leptospirose e
cólera.
Nenhuma delas é nativa do Brasil. Dependendo das
circunstâncias, podem ser meras "imigrantes" inofensivas ou
invasoras altamente nocivas. Dentro do sistema produtivo, por
exemplo, o búfalo e o pinus são apenas espécies exóticas.
Quando escapam para a natureza, entretanto, muitas vezes
tornam-se organismos nocivos aos ecossistemas "naturais".
Espécies invasoras não têm predadores naturais e se multiplicam
rapidamente. São fortes, tipicamente agressivas e
controlam o ambiente que ocupam, roubando espaço das
espécies silvestres e competindo com elas por alimento - ou se
alimentando delas diretamente.
Por sua capacidade de sobrepujar espécies nativas, as
espécies invasoras são consideradas a segunda maior ameaça
à biodiversidade no mundo - atrás apenas da destruição dos
hábitats. Ao assumirem o papel de pragas e vetores de doenças,
elas também causam impactos significativos na agricultura
e na saúde humana.
(Adaptado de Herton Escobar. O Estado de S. Paulo, Vida&,
23 de julho de 2006, A25)
A mesma seqüência de tempos e modos dos verbos grifados acima está reproduzida nos verbos, também grifados, da frase:
Não fique com medo de embarcar caso chegue à plataforma
de uma das estações do Metrô em São Paulo e veja um
trem sem condutor. Os novos vagões da linha amarela dispensam
o profissional a bordo. Esse é apenas um detalhe de
uma lista de recursos tecnológicos que estão sendo implementados
para transportar os paulistas com mais eficiência. Escadas
rolantes com sensores de presença, câmeras de vídeo que
enviam imagens para a central por Wi-Fi, comunicação com os
passageiros por VoIP e freios inteligentes são outras novidades.
O Metrô está passando por uma modernização que
não é só cosmética. Com ar condicionado, os novos trens não
precisam de muitas frestas para entrada de ar. Não é só uma
questão de conforto térmico, mas acústico. Nas novas escadas
rolantes, sensores infravermelho detectam a presença de pessoas;
não havendo ninguém, a rolagem é mais lenta, e economiza-
se energia elétrica.
(Adaptado de Kátia Arima, da INFO. http://info.abril.com.br/noticias)
postos de saúde da organização não governamental
Emergency. Não sou terrorista." O desabafo acaba de ser
pronunciado por um médico especializado em cirurgias
traumáticas emergenciais. Gino Stada trabalha nos cenários
de guerra e de insurgências em nome da Emergency,
que fundou com a esposa, Teresa Sarti, em 1994. Nas
zonas de conflito, Stada e sua organização declaram-se
neutros. A preocupação centra-se nas vítimas das violências
bélicas. Em outras palavras, a Emergency, com um
corpo composto de mais de mil profissionais, faz, sem
indagar sobre ideologias e partidarismos, cirurgias de
urgência e reabilita lesionados com próteses e terapias.
Humanista de 61 anos nascido em Milão, Stada
instalou e administra postos de saúde e hospitais no
Afeganistão, Serra Leoa, Camboja, Sri Lanka, República
Centro-Africana e Iraque. No mês de abril, uma "arapuca",
a caracterizar terrorismo de Estado, foi montada a fim de
desmoralizar o médico, que estava em Veneza. A meta
era provocar um escândalo internacional, de modo a levar
o governo afegão a cassar as licenças para funcionamento
da Emergency. Com efeito, agentes do serviço de
inteligência do Afeganistão prepararam uma falsa situação
de flagrante e prenderam nove funcionários da
Emergency. Dentre eles, o cirurgião Marco Garatti e os
paramédicos Matteo Pagani e Matteo Dell'Aira.
O flagrante preparado consistiu numa blitz em sala
da administração do hospital de Lashkar Gah. Os 007
de Karzai fingiram-se surpresos com o encontro de
duas pistolas, nove granadas e dois cinturões costurados
com explosivos. Durante oito dias, os funcionários da
Emergency ficaram incomunicáveis. Enquanto isso, Karzai
falava que os serviços de inteligência tinham abortado um
plano dos terroristas talebans para matar o governador da
província de Helmand. Nesse plano figuravam como suspeitos
o cirurgião Marco Garatti e os demais presos.
Após as prisões, o coronel Tood Vician, porta-voz da
Otan, informou que soldados da força internacional não tinham
participado das prisões. Não sabia o coronel Vician
que, imediatamente, Stada, ladeado de jornalistas, acionou
o celular do cirurgião Marco Garatti. A ligação completou-
se com um soldado britânico a responder que não podia
informar nada sem autorização dos seus superiores
hierárquicos. Numa segunda chamada, limitou-se a dizer
que todos os nove presos estavam bem. Sequestrados em
10 de abril, os integrantes da Emergency foram colocados
em liberdade às 18 horas do domingo, dia 18, depois de
forte mobilização de organizações humanitárias internacionais
e do Estado italiano. Para Karzai, ficou provada a
inocência deles.
O móvel dessa urdidura remonta a março de 2007,
quando da libertação do correspondente de guerra do jornal
italiano La Repubblica, Daniele Mastrogiacomo, sequestrado
pelos talebans. Stada aceitou procurar os
talebans com a condição de o governo afegão e as forças
de ocupação se afastarem das tratativas. Teve sucesso
pela sua força moral e isso ainda não foi digerido por
Karzai, pela Otan, pela CIA ou pelos 007 da rainha da
Inglaterra.
(Adaptado de Wálter Maierovitch. "Um humanista e o terror de
Estado", CartaCapital, 30/04/2010.
http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=6585)
A frase cujo verbo está flexionado nos mesmos tempo e modo que o grifado acima é:
Vimos aqui hoje para defender a liberdade de opinião
assegurada pela Constituição dos Estados Unidos e também
em defesa da liberdade de ensino. Por isso mesmo, queremos
chamar a atenção dos trabalhadores intelectuais para o grande
perigo que ameaça essa liberdade.
Como é possível uma coisa dessas? Por que o perigo é
mais ameaçador que em anos passados? A centralização da
produção acarretou uma concentração do capital produtivo nas
mãos de um número relativamente pequeno de cidadãos do
país. Esse pequeno grupo exerce um domínio esmagador sobre
as instituições dedicadas à educação de nossa juventude, bem
como sobre os grandes jornais dos Estados Unidos. Ao mesmo
tempo, goza de enorme influência sobre o governo. Por si só,
isso já é suficiente para constituir uma séria ameaça à liberdade
intelectual da nação. Mas ainda há o fato de que esse processo
de concentração econômica deu origem a um problema anteriormente
desconhecido - o desemprego de parte dos que estão
aptos a trabalhar. O governo federal está empenhado em
resolver esse problema, mediante o controle sistemático dos
processos econômicos - isto é, por uma limitação da chamada
livre interação das forças econômicas fundamentais da oferta e
da procura.
Mas as circunstâncias são mais fortes que o homem. A
minoria econômica dominante, até hoje autônoma e desobrigada
de prestar contas a quem quer que seja, colocou-se em
oposição a essa limitação de sua liberdade de agir, exigida para
o bem de todo o povo. Para se defender, essa minoria está
recorrendo a todos os métodos legais conhecidos a seu dispor.
Não deve nos surpreender, pois, que ela esteja usando sua
influência preponderante nas escolas e na imprensa para
impedir que a juventude seja esclarecida sobre esse problema,
tão vital para o desenvolvimento da vida neste país.
Não preciso insistir no argumento de que a liberdade de
ensino e de opinião, nos livros ou na imprensa, é a base do
desenvolvimento estável e natural de qualquer povo. Possamos
todos nós, portanto, somar as nossas forças. Vamos manternos
intelectualmente em guarda, para que um dia não se diga
da elite intelectual deste país: timidamente e sem nenhuma
resistência, eles abriram mão da herança que lhes fora
transmitida por seus antepassados - uma herança de que não
foram merecedores.
(Albert Einstein, Escritos da maturidade. Conferência pronunciada
em 1936)
Os mesmos tempos e modos verbais utilizados na frase acima representam-se em:
Os velhinhos de ontem costumavam, sobretudo nos fins
de tarde, abrir as janelas das casas e ficar ali, às vezes com os
cotovelos apoiados em almofadas, esperando que algo
acontecesse: a aproximação de um conhecido, uma correria de
crianças, um cumprimento, uma conversa, o pôr do sol, a
aparição da lua.
Eles se espantariam com as crianças e os jovens de hoje,
fechados nos quartos, que ligam o computador, abrem as
janelas da Internet e navegam por horas por um mundo de
imagens, palavras e formas quase infinitas.
O homem continua sendo um bicho muito curioso. O
mundo segue intrigando-o.
O que ninguém sabe é se o mundo está cada vez maior
ou menor. O que eu imagino é que, de suas janelas, os
velhinhos viam muito pouca coisa, mas pensavam muito sobre
cada uma delas. Tinham tempo para recolher as informações
mínimas da vida e matutar sobre elas. Já quem fica nas janelas
da Internet vê coisas demais, e passa de uma para outra quase
sem se inteirar plenamente do que está vendo. Mudou o tempo
interior do homem, mudou seu jeito de olhar. Mudaram as
janelas para o mundo - e nós seguimos olhando, olhando,
olhando sem parar, sempre com aquela sensação de que
somos parte desse espetáculo que não podemos parar de olhar,
seja o cachorro de verdade que se coça na esquina da padaria,
seja o passeio virtual por Marte, na tela colorida.
(Cristiano Calógeras)
Um editorial da respeitada revista britânica The Lancer
sobre o futuro de Cuba acendeu uma polêmica com
pesquisadores latino-americanos. O texto da revista sugeriu que
o país pode mergulhar num caos após a morte do ditador Fidel
Castro, que sofre de câncer, tal como ocorreu nos países do
Leste Europeu após a queda de seus regimes comunistas. E
conclamou os Estados Unidos a preparar ajuda humanitária
para os cubanos. De quebra, a publicação insinua que há
dúvidas sobre a capacidade do sistema de saúde cubano fazer
frente a esse quadro.
"O editorial é um desrespeito à soberania de Cuba", diz
Maurício Torres Tovar, coordenador-geral da Alames (Associação
Latino-Americana de Medicina Social). "A atenção do
Estado cubano para com a saúde de sua população é um
exemplo para todos. Cuba tem uma notável vocação solidária,
ajudando, com remédios e serviços de profissionais, diversos
países atingidos por catástrofes", afirmou. Sergio Pastrana, da
Academia de Ciências de Cuba, também protestou: "Temos
condição de decidir se precisamos de ajuda e direito de
escolher a quem pedi-la."
(Revista Pesquisa Fapesp. Outubro 2006, n. 128)