Questões de Concurso
Sobre funções morfossintáticas da palavra que em português
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Consumo/ Países como Austrália e EUA têm esse hábito. Brasileiros não abrem mão da mineral
Júlia Kacowicz
Enquanto o boicote às águas engarrafadas é discutido em países onde o hábito de tomá-la da torneira é comum, os brasileiros estão cada vez mais reféns das garrafinhas e garrafões. Dados divulgados, na semana passada, pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) indicam um crescimento de 15% na produção do recurso entre 2007 e 2008. Pernambuco, que por muitos anos teve o título de campeão em consumo, já divide o status com outros estados e, mesmo assim, tem um consumo acima da média. Em um ano, são 32,7 litros de água mineral por pernambucano contra 31 litros por brasileiro. Número que pode parecer baixo isoladamente, mas cresce quando se considera a minoria da população com acesso ao líquido potável. Uma realidade que esconde uma distorção de costumes e de realidade.
As campanhas de estímulo ao consumo de água da torneira surgiram em países como Austrália, Inglaterra e Estados Unidos depois do boom das mudanças climáticas, em que os governantes de nações desenvolvidas foram convocados a reduzir as emissões de poluentes. Nesse cenário, a poluição provocada pela produção e o transporte das garrafas tornou-se um gasto desnecessário, valorizando o consumo das torneiras. Um costume que não existe apenas no exterior, mas que vem sendo reduzido até no Sul do país, onde já foi comum. Recém-chegada de Porto Alegre, a gaúcha Carolina Barzotti levou um susto quando o marido a alertou de que não devia tomar o líquido direto da torneira na nova casa, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
Carolina Barzotti contou que alguns gaúchos estão trocando a água da torneira pelas garrafas por receio da qualidade. "Eu ainda mantinha o hábito, achava que era mais coisa de estímulo ao consumo. Mas aqui disseram que não dá, até porque a água do nosso prédio é de poço", disse Carolina. O pesquisador e sanitarista do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/Fiocruz André Monteiro ressaltou que Pernambuco possui uma conjectura favorável ao crescimento de consumo da mineral. O primeiro ponto, destacou, é o rodízio de abastecimento que existe há mais de 25 anos. Na situação de escassez, surgiu a proliferação de poços artesianos e o abastecimento por caminhões pipa. “Se não chega água continuamente, é necessário armazenar em algum local que pode permitir a contaminação. Ou optar pelo caminhão pipa que não tem a garantia da qualidade do líquido", justificou Monteiro. A gerente de qualidade de água da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Maria Julita Mendes, informou que a companhia garante os padrões exigidos pelo Ministério da Saúde até a chegada nas instalações (hidrômetros) dos imóveis. Mas não após o armazenamento nos reservatórios. Quando o hábito de tomar água das torneiras era mais comum, destacou, alguns consumidores reclamavam do sabor metálico por conta das tubulações antigas. Agora, garante, muitas tubulações já são de PVC, o que exclui o sabor.
O pesquisador do Aggeu Magalhães destacou que uma mudança de cultura em Pernambuco é possível desde que haja uma regularização no abastecimento e uma forte campanha educativa. "Seria preciso ganhar a confiança, o que é um processo difícil e lento", pontuou. Entre os riscos à saúde pela contaminação estão as diarreias e hepatite.
Disponível em www.diariodepernambuco.com.br/2009/09/20/ urbana12_0.asp Acesso em 21 set. 2009. Adaptado.
Observe o trecho: “Uma realidade que esconde uma distorção de costumes e de realidade”.
Assinale a alternativa na qual a palavra que destacada substitui um termo antecedente como no trecho acima.
No fragmento acima, extraído do texto, há três ocorrências do vocábulo que. Classificam-se respectivamente como:
I. O vocábulo que (l. 01, segunda ocorrência) é um pronome relativo e tem como referente o termo jovens (l. 01). II. O vocábulo que (l. 06) é uma conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva predicativa do sujeito. III. O vocábulo que (l. 13) é uma conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva subjetiva.
Quais estão INCORRETAS?
Tem o Correio da Manhã um repórter que faz, todo domingo, uma página inteira de tristezas. Vive montado em um velho carro a que chama de "Gerico". A palavra, hoje, parece que se escreve com "J". De qualquer jeito (que sempre achei mais jeitoso quando se escrevia com "9") é um carro paciente e rústico, duro e invencível como um velho jumento. E tinha de sê-lo, pois sua missão é ir ver ruas esburacadas e outras misérias assim.
Pois esse colega foi convidado, outro dia, a ver uma coisa bela. Que estivesse pela manhã bem cedo junto ao edifício Brasília (o último da Avenida Rio Branco, perto do Obelisco) para assistir à coleta de lixo. Foi. Viu chegar o caminhão 8-100 da Limpeza Urbana, e saltarem os ajudantes, que se puseram a carregar e despejar as latas de lixo. Enquanto isso, que fazia o motorista? O mesmo de toda manhã. Pegava um espanador e um pedaço de flanela, e fazia o seu carro ficar rebrilhando de limpeza. Esse motorista é “um senhor já, estatura mediana, cheio de corpo, claudicando da perna direita; não ficamos sabendo seu nome".
Não poupa o bom repórter elogios a esse humilde servidor municipal. E sua nota feita com certa emoção e muita justeza mostra que ele não apenas sabe reportar as coisas da rua como também as coisas da alma.
Cada um de nós tem, na memória da vida que vai sobrando, seu caminhão de lixo que só um dia despejaremos na escuridão da morte. Grande parte do que vamos coletando pelas ruas tão desiguais da existência é apenas lixo; dentro dele é que levamos a jóia de uma palavra preciosa, o diamante de um gesto puro.
É boa a lição que nos dá o velho motorista manco, e há, nessa lição, um alto e silencioso protesto. Não conheço este homem, nem sei que infância teve, que sonhos lhe encheram a cabeça de rapaz. Talvez na adolescência ele sucumbisse a uma tristeza sem remédio se uma cigana cruel lhe mostrasse um retrato de sua velhice: gordo, manco, a parar de porta em porta um caminhão de lixo. Talvez ele estremecesse da mais alegre esperança se uma cigana generosa e imprecisa lhe contasse: "Vejo-o guiando um grande carro na Avenida Rio Branco; para diante de um edifício de luxo; o carro é novo, muito polido, reluzente...".
É costume dizer que a esperança é a última que morre. Nisto está uma das crueldades da vida: a esperança sobrevive à custa de mutilações. Vai minguando e secando devagar, se despedindo dos pedaços de si mesma, se apequenando e empobrecendo, e no fim é tão mesquinha e despojada que se reduz ao mais elementar instinto de sobrevivência. O homem se revolta jogando sua esperança para além da barreira escura da morte, no reino luminoso que uma crença lhe promete, ou enfrenta, calado e só, a ruína de si mesmo, até o minuto em que deixa de esperar mais um instante de vida e espera como o bem supremo o sossego da morte. Depois de certas agonias a feição do morto parece dizer: "enfim veio; enfim, desta vez não me enganaram".
Esse motorista, que limpa seu caminhão, não é um conformado, é o herói silencioso que lança um protesto superior. A vida o obrigou a catar lixo e imundície; ele aceita a sua missão, mas a supera com esse protesto de beleza e de dignidade. Muitos recebem com a mão suja os bens mais excitantes e tentadores da vida, e as flores que vão colhendo no jardim de uma existência fácil logo têm, presas em seus dedos frios, uma sutil tristeza e corrupção, que as desmerece e avilta. O motorista do caminhão 8-100 parece dizer aos homens da cidade: "O lixo é vosso: meus são estes metais que brilham, meus são estes vidros que esplendem, minha é esta consciência limpa".
(Rubem Braga. O homem rouco. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1963. p. 143-146.)
No período “É costume dizer QUE a esperança é a última QUE morre" (6o parágrafo), as palavras em caixa alta classificam-se, respectivamente, como:
O termo "que" NÃO é um pronome em:
Nestas últimas décadas, surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões.
Separação e responsabilidade
Nos tempos de hoje, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de “pais órfãos de filhos”. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança, mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão – talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo – da crença de que seus pais se bastam. Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a “presença a troco de nada, só para ficar junto”, dificulta ou, mesmo, impede o compartilhamento de valores e de interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. O desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que ““não querem incomodar ninguém”, uma falsa racionalidade – e é para isso que se prestam as racionalizações – que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco que seus filhos lhes concedem em termos de atenção e presença afetuosa. O primado da “falta de tempo” torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar.
A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz
Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora. Para o conforto, segurança e bem-estar: um número grande de filhos não mais é bem-vindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando. Sobrevieram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não se compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas, as gerações em conflito se infringem. [...]. Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversar, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrirse para o outro. É experiência delicada e profunda de autorrevelação. Dialogar requer tempo, ambiente e clima, para que se realizem escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? Cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade.
FRAIMAN, A. “Idosos órfãos de filhos vivos são os novos desvalidos do século XXI”. Disponível em <http://www.revistapazes.com/54402/>. Acesso em 30 out. 2017. (Adaptado)
A respeito dos usos dos vocábulos “que” e “se”, assinale a alternativa correta.
Na origem, nada tinha forma no universo. Tudo se confundia, e não era possível distinguir a terra do céu nem do mar. Esse abismo nebuloso se chamava Caos. Quanto tempo durou? Até hoje não se sabe.
Uma força misteriosa, talvez um deus, resolveu pôr ordem nisso. Começou reunindo o material para moldar o disco terrestre, depois o pendurou no vazio. Em cima, cavou a abóbada celeste, que encheu de ar e de luz. Planícies verdejantes se estenderam então na superfície da Terra, e montanhas rochosas se ergueram acima dos vales. A água dos mares veio rodear as terras. Obedecendo à ordem divina, as águas penetraram nas bacias para formar lagos, torrentes desceram das encostas, e rios serpearam entre os barrancos.
Assim, foram criadas as partes essenciais de nosso mundo. Elas só esperavam seus habitantes. Os astros e os deuses logo iriam ocupar o céu, depois, no fundo do mar, os peixes de escamas luzidias estabeleceriam domicílio, o ar seria reservado aos pássaros e a terra a todos os outros animais, ainda selvagens.
Era necessário um casal de divindades para gerar novos deuses. Foram Urano, o céu, e Gaia, a Terra, que puseram no mundo uma porção de seres estranhos.
POUZADOUX, Claude. Contos e lendas da mitologia grega. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 12.
Em:
“Foram Urano, o céu, e Gaia, a Terra, que puseram no mundo uma porção de seres estranhos”
Como se classifica, morfologicamente, a palavra que destacada na frase acima?
FEMINICÍDIO
O feminicídio é o homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher (misoginia e menosprezo pela condição feminina ou discriminação de gênero, fatores que também podem envolver violência sexual) ou em decorrência de violência doméstica. A lei 13.104/15, mais conhecida como Lei do Feminicídio, alterou o Código Penal brasileiro, incluindo como qualificador do crime de homicídio o feminicídio.
Tipos de feminicídio
A Lei do Feminicídio não enquadra, indiscriminadamente, qualquer assassinato de mulheres como um ato de feminicídio. O desconhecimento do conteúdo da lei levou diversos setores, principalmente os mais conservadores, a questionarem a necessidade de sua implementação. Devemos ter em mente que a lei somente aplica-se nos casos descritos a seguir:
- • Violência doméstica ou familiar: quando o crime resulta da violência doméstica ou é praticado junto a ela, ou seja, quando o homicida é um familiar da vítima ou já manteve algum tipo de laço afetivo com ela. Esse tipo de feminicídio é o mais comum no Brasil, ao contrário de outros países da América Latina, em que a violência contra a mulher é praticada, comumente, por desconhecidos, geralmente com a presença de violência sexual.
- • Menosprezo ou discriminação contra a condição da mulher: quando o crime resulta da discriminação de gênero, manifestada pela misoginia e pela objetificação da mulher.
Objetivo e a importância da Lei do Feminicídio
Em razão dos altíssimos índices de crimes cometidos contra as mulheres que fazem o Brasil assumir o quinto lugar no ranking mundial da violência contra a mulher, há a necessidade urgente de leis que tratem com rigidez tal tipo de crime. Dados do Mapa da Violência revelam que, somente em 2017, ocorreram mais de 60 mil estupros no Brasil. Além disso, a nossa cultura ainda se conforma com a discriminação da mulher por meio da prática, expressa ou velada, da misoginia e do patriarcalismo. Isso causa a objetificação da mulher, o que resulta, em casos mais graves, no feminicídio.
A imensa quantidade de crimes cometidos contra as mulheres e os altos índices de feminicídio apresentam justificativas suficientes para a implantação da lei 13.104/15. Além disso, são necessárias políticas públicas que promovam a igualdade de gênero por meio da educação, da valorização da mulher e da fiscalização das leis vigentes.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/feminicidio.htm, acesso em fevereiro de 2020).
Considerando as diferentes funções dos elementos “que” nos excertos apresentados, é correto afirmar que eles são, respectivamente:
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/14/cultura/1560533971_274766.html - Texto adaptado para esta prova.
Leia com atenção o texto abaixo, de modo a responder à questão.
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/13/politica/15
57776028_131882.html Acesso em 11/07/2019.
Texto adaptado.
(Adaptado de justificando.com?2019/09/18/quando-prisioneiros-olharam-para-um- juiz-sem-esbocar-emoção/, em 18 de setembro de 2019)
(Luciana Allan – Revista Exame – 29/04/2019 – Disponível em:
https://exame.abril.com.br/blog/crescer-em-rede/uma-geracao-distraida-ou-desmotivada/)
Por que a educação moderna criou adultos
que se comportam como bebês
Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino médio dos Estados Unidos, a Wellesley High School, em Massachusetts, estavam reunidos, numa tarde ensolarada no mês passado, para o momento mais especial de sua vida escolar, a formatura. Com seus chapéus e becas coloridos e pais orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o discurso do professor de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como sempre nessas ocasiões, uma ode a seus feitos acadêmicos, esportivos e sociais. O que ouviram do professor, porém, pode ser resumido em quatro palavras: vocês não são especiais. (...) “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough logo no começo. “Adultos ocupados mimam vocês, os beijam, os confortam, os ensinam, os treinam, os ouvem, os aconselham, os encorajam, os consolam e os encorajam de novo. (...) Mas não tenham a ideia errada de que vocês são especiais. Porque vocês não são.”
O que aconteceu nos dias seguintes deixou McCullough atônito. Ao chegar para trabalhar na segunda-feira, notou que havia o dobro da quantidade de e-mails que costumava receber em sua caixa postal. Paravam na rua para cumprimentálo. Seu telefone não parava de tocar. Dezenas de repórteres de jornais, revistas, TV e rádio queriam entrevistá-lo. Todos queriam saber mais sobre o professor que teve a coragem de esclarecer que seus alunos não eram o centro do universo. Sem querer, ele tocara num tema que a sociedade estava louca para discutir – mas não tinha coragem. Menos de uma semana depois, McCullough fez a primeira aparição na TV. Teve de explicar que não menosprezava seus jovens alunos, mas julgava necessário alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes, pude ver como eles crescem cercados por adultos que os tratam como preciosidades”, disse ele a ÉPOCA. “Mas, para se dar bem daqui para a frente, eles precisam saber que agora estão todos na mesma linha, que nenhum é mais importante que o outro.”
A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer apenas mais um desses fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele tocou numa questão que incomoda pais, educadores e empresas no mundo inteiro – a existência de adolescentes e jovens adultos que têm uma percepção totalmente irrealista de si mesmos e de seus talentos. Esses jovens cresceram ouvindo de seus pais e professores que tudo o que faziam era especial e desenvolveram uma autoestima tão exagerada que não conseguem lidar com as frustrações do mundo real. (...)
Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço formam a turma do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os melhores alunos (se tiram uma nota ruim, é o professor que não os entende). Eles se acham os mais competentes no trabalho (se recebem críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). (...)
Você conhece alguém assim em seu trabalho ou em sua turma de amigos? Boa parte deles, no Brasil e no resto do mundo, foi bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala outras línguas e, claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato. Mas se acham mais do que ótimos.
Camila Guimarães e Luiza Karam in Revista Época 13/07/2012