Questões de Concurso
Sobre morfologia em português
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Se a gente for pensar, a quantidade de cafeína em uma latinha de energético, embora alta, nem é tão assustadora assim: a maioria das marcas contém de 80 a 300 miligramas da substância, ou seja, algo entre uma a três xícaras de um cafezinho coado. Tudo bem que a experiência pode ser como engolir essas xícaras uma atrás de outra.
Mas a questão é que a cafeína não está sozinha nesses goles. "A composição de um energético inclui taurina, guaraná e outros ingredientes estimulantes. E parece haver uma boa sinergia entre eles, em que um poderia potencializar a ação de outro", desconfia o doutor Michael Ackerman, cardiologista geneticista da Mayo Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos. Ele é o líder de um estudo recém-publicado na revista da Heart Rhythm Society, que reúne os especialistas em arritmias cardíacas americanos.
De acordo com o trabalho, cuidado! Em pessoas geneticamente mais sensíveis, abrir uma dessas latinhas pode desencadear uma arritmia potencialmente grave e até mesmo uma parada cardíaca pouco tempo depois do consumo da bebida. (...)
Não é preciso ter idade. Até mesmo jovens em uma balada ou pessoas na faixa dos 30 anos que buscam uns goles de energia para terminar um trabalho na madrugada - quem nunca? - podem desenvolver uma extrassístole depois de sorver uma dose de energético. Ou seja, na hora de se contrair para bombear o sangue para o corpo, é como se, antes de relaxar, o coração desse mais uma pequena contraída. E, daí, festa que segue, tarefa que continua. Nada demais para a maioria de nós.
Porém, em pessoas que por algum motivo genético são mais vulneráveis, o coração pode apressar demais o seu passo. Ou melhor, é capaz de perder o compasso batendo umas 400 vezes por minuto. Aliás, nesse ritmo acelerado, já nem bate - tremelica. Ou fibrila, como preferem dizer os médicos. E, às vezes, de tanto tremer em vez de bater, ele chega a parar. (...)
Foi justamente para um grupo de 144 pessoas que sofreram uma parada cardíaca do nada que Ackerman e seus colegas de Mayo Clinic resolveram olhar. É claro que eles investigaram outros fatores que poderiam ter colaborado para o piripaque repentino, como o uso de determinados medicamentos, a prática de exercício extenuante, a exposição a substâncias tóxicas, a vivência de uma situação de extremo estresse ou a privação de sono - cá entre nós, difícil separar o consumo de energéticos desta última.
No entanto, o que chamou a atenção do cardiologista foi que sete dessas pessoas, ou 5% do grupo, tinham consumido energéticos pouco tempo antes de passarem mal. Seis precisaram tomar um choque de desfibrilador para o coração voltar a bater e uma delas foi ressuscitada por socorristas com massagem cardíaca manual. A maioria era mulher - seis das vítimas. E a idade média, impressionantemente baixa: 29 anos.
(...)
Lúcia Helena,
Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2024/06/27/cuidado-bebidas-energeticas-podem-desencadear-arritmias-cardiacas-graves.htm
Se a gente for pensar, a quantidade de cafeína em uma latinha de energético, embora alta, nem é tão assustadora assim: a maioria das marcas contém de 80 a 300 miligramas da substância, ou seja, algo entre uma a três xícaras de um cafezinho coado. Tudo bem que a experiência pode ser como engolir essas xícaras uma atrás de outra.
Mas a questão é que a cafeína não está sozinha nesses goles. "A composição de um energético inclui taurina, guaraná e outros ingredientes estimulantes. E parece haver uma boa sinergia entre eles, em que um poderia potencializar a ação de outro", desconfia o doutor Michael Ackerman, cardiologista geneticista da Mayo Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos. Ele é o líder de um estudo recém-publicado na revista da Heart Rhythm Society, que reúne os especialistas em arritmias cardíacas americanos.
De acordo com o trabalho, cuidado! Em pessoas geneticamente mais sensíveis, abrir uma dessas latinhas pode desencadear uma arritmia potencialmente grave e até mesmo uma parada cardíaca pouco tempo depois do consumo da bebida. (...)
Não é preciso ter idade. Até mesmo jovens em uma balada ou pessoas na faixa dos 30 anos que buscam uns goles de energia para terminar um trabalho na madrugada - quem nunca? - podem desenvolver uma extrassístole depois de sorver uma dose de energético. Ou seja, na hora de se contrair para bombear o sangue para o corpo, é como se, antes de relaxar, o coração desse mais uma pequena contraída. E, daí, festa que segue, tarefa que continua. Nada demais para a maioria de nós.
Porém, em pessoas que por algum motivo genético são mais vulneráveis, o coração pode apressar demais o seu passo. Ou melhor, é capaz de perder o compasso batendo umas 400 vezes por minuto. Aliás, nesse ritmo acelerado, já nem bate - tremelica. Ou fibrila, como preferem dizer os médicos. E, às vezes, de tanto tremer em vez de bater, ele chega a parar. (...)
Foi justamente para um grupo de 144 pessoas que sofreram uma parada cardíaca do nada que Ackerman e seus colegas de Mayo Clinic resolveram olhar. É claro que eles investigaram outros fatores que poderiam ter colaborado para o piripaque repentino, como o uso de determinados medicamentos, a prática de exercício extenuante, a exposição a substâncias tóxicas, a vivência de uma situação de extremo estresse ou a privação de sono - cá entre nós, difícil separar o consumo de energéticos desta última.
No entanto, o que chamou a atenção do cardiologista foi que sete dessas pessoas, ou 5% do grupo, tinham consumido energéticos pouco tempo antes de passarem mal. Seis precisaram tomar um choque de desfibrilador para o coração voltar a bater e uma delas foi ressuscitada por socorristas com massagem cardíaca manual. A maioria era mulher - seis das vítimas. E a idade média, impressionantemente baixa: 29 anos.
(...)
Lúcia Helena,
Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2024/06/27/cuidado-bebidas-energeticas-podem-desencadear-arritmias-cardiacas-graves.htm
Se a gente for pensar, a quantidade de cafeína em uma latinha de energético, embora alta, nem é tão assustadora assim: a maioria das marcas contém de 80 a 300 miligramas da substância, ou seja, algo entre uma a três xícaras de um cafezinho coado. Tudo bem que a experiência pode ser como engolir essas xícaras uma atrás de outra.
Mas a questão é que a cafeína não está sozinha nesses goles. "A composição de um energético inclui taurina, guaraná e outros ingredientes estimulantes. E parece haver uma boa sinergia entre eles, em que um poderia potencializar a ação de outro", desconfia o doutor Michael Ackerman, cardiologista geneticista da Mayo Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos. Ele é o líder de um estudo recém-publicado na revista da Heart Rhythm Society, que reúne os especialistas em arritmias cardíacas americanos.
De acordo com o trabalho, cuidado! Em pessoas geneticamente mais sensíveis, abrir uma dessas latinhas pode desencadear uma arritmia potencialmente grave e até mesmo uma parada cardíaca pouco tempo depois do consumo da bebida. (...)
Não é preciso ter idade. Até mesmo jovens em uma balada ou pessoas na faixa dos 30 anos que buscam uns goles de energia para terminar um trabalho na madrugada - quem nunca? - podem desenvolver uma extrassístole depois de sorver uma dose de energético. Ou seja, na hora de se contrair para bombear o sangue para o corpo, é como se, antes de relaxar, o coração desse mais uma pequena contraída. E, daí, festa que segue, tarefa que continua. Nada demais para a maioria de nós.
Porém, em pessoas que por algum motivo genético são mais vulneráveis, o coração pode apressar demais o seu passo. Ou melhor, é capaz de perder o compasso batendo umas 400 vezes por minuto. Aliás, nesse ritmo acelerado, já nem bate - tremelica. Ou fibrila, como preferem dizer os médicos. E, às vezes, de tanto tremer em vez de bater, ele chega a parar. (...)
Foi justamente para um grupo de 144 pessoas que sofreram uma parada cardíaca do nada que Ackerman e seus colegas de Mayo Clinic resolveram olhar. É claro que eles investigaram outros fatores que poderiam ter colaborado para o piripaque repentino, como o uso de determinados medicamentos, a prática de exercício extenuante, a exposição a substâncias tóxicas, a vivência de uma situação de extremo estresse ou a privação de sono - cá entre nós, difícil separar o consumo de energéticos desta última.
No entanto, o que chamou a atenção do cardiologista foi que sete dessas pessoas, ou 5% do grupo, tinham consumido energéticos pouco tempo antes de passarem mal. Seis precisaram tomar um choque de desfibrilador para o coração voltar a bater e uma delas foi ressuscitada por socorristas com massagem cardíaca manual. A maioria era mulher - seis das vítimas. E a idade média, impressionantemente baixa: 29 anos.
(...)
Lúcia Helena,
Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2024/06/27/cuidado-bebidas-energeticas-podem-desencadear-arritmias-cardiacas-graves.htm
Leia o texto para responder à questão.
Extraordinário
Extraordinário é um livro tocante e profundo que aborda questões como bullying, aceitação,
amor e superação e nos ensina que, acima de tudo, devemos amar a nós mesmos e lutar para
construir um mundo melhor.
Conforme avançamos na trama, visualizamos o seguinte panorama: de um lado temos
Auggie, que com todas as suas complicações e empecilhos, luta para viver como um garoto normal
da sua idade, e do outro, crianças e adultos, que de modo preconceituoso, o excluem do meio social
apenas por ser diferente. Acompanhamos gradativamente a família e os únicos amigos que o
menino possui, nos impressionamos com a bondade, pureza de seu coração que abraça e acolhe
aqueles que querem fazer o bem.
[...]
Extraordinário é ao mesmo um tempo uma obra bela e triste, pois consegue nos passar de
modo extremamente delicado e bonito uma realidade que muitas vezes é negligenciada, aquela que
fundamenta o preconceito; mas que ensina diversos valores como respeito, compaixão e
humanidade.
A jornada do menino começa propriamente quando os pais decidem colocá-lo na escola,
pois agora com 10 anos, não podem mais ficar ensinando lições apenas dentro de casa. Num
primeiro momento Auggie se torna relutante e argumenta que os alunos não gostariam dele, mas
com a insistência dos pais, ele logo se dá uma chance.
Infelizmente os piores medos de Auggie se tornam realidade. Não que ele já não esperasse tudo
aquilo, mas os olhares tortos e a ignorância machucam mais de que podemos imaginar.
Diversos acontecimentos permeiam a história, porém o que torna este livro realmente
brilhante é o fato de que é trazido pra realidade do leitor, a valorização da vida, que muitos se
queixam por razões egocêntricas e que são tão “pequenas” perante as reais dificuldades passadas
por outros trazendo assim, uma espécie de autorreflexão para aquele que o está lendo.
Extraordinário é uma obra que mescla crítica e humor de uma forma fluida e gentil, que vai
te conquistar logo no primeiro parágrafo!
https://deolhonaestante.wordpress.com/2015/08/11/resenha-do-livro-extraordinario-de-r-j-palacio/adaptado
O numeral destacado é classificado MORFOLOGICAMENTE, em:
PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES DE UM CEMITÉRIO MUNICIPAL (adaptado)
Marieli Galvan Bocchese, Luciana Pellizzaro, Janaína Kaliski Bocchese
Somente nas últimas décadas é que os cemitérios passaram a ser vistos como fontes causadoras de impactos ambientais e não mais como apenas um local onde os vivos prestavam homenagem aos mortos, alojando corpos e objetos pessoais numa tumba. Recentemente a legislação passou a exigir reformas para que os mesmos não sejam fontes de problemas. A maior preocupação é com a contaminação de solo e do lençol freático pelo necrochorume, substância originária dos cadáveres em decomposição que pode conter microrganismos patogênicos sob determinadas condições. O manuseio dos resíduos produzidos pela rotina do cemitério e dos funerais, o odor e o estado de manutenção dos túmulos podem também ser preocupantes. Este trabalho investigou os problemas ambientais decorrentes de um cemitério municipal. Para tanto, foram realizadas observações, conversas informais com moradores vizinhos e funcionários. Por ter sido construído em época que não havia as exigências atuais em relação ao meio ambiente, verificou-se que além de estar totalmente fora dos padrões legais, há produção diária média de aproximadamente 1,5 Kg de resíduos que tem destinação mais organizada, o restante tem destino incorreto. Praticamente metade das sepulturas estão abandonadas ou em ruínas, cujo estado pode facilitar a infiltração de água e consequentemente o transporte de necrochorume para o solo e água subterrânea. Poços existentes na redondeza, há anos foram desativados e já não são usados para consumo d’água.
A opção abaixo que é formada por substantivo + adjetivo é:
PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES DE UM CEMITÉRIO MUNICIPAL (adaptado)
Marieli Galvan Bocchese, Luciana Pellizzaro, Janaína Kaliski Bocchese
Somente nas últimas décadas é que os cemitérios passaram a ser vistos como fontes causadoras de impactos ambientais e não mais como apenas um local onde os vivos prestavam homenagem aos mortos, alojando corpos e objetos pessoais numa tumba. Recentemente a legislação passou a exigir reformas para que os mesmos não sejam fontes de problemas. A maior preocupação é com a contaminação de solo e do lençol freático pelo necrochorume, substância originária dos cadáveres em decomposição que pode conter microrganismos patogênicos sob determinadas condições. O manuseio dos resíduos produzidos pela rotina do cemitério e dos funerais, o odor e o estado de manutenção dos túmulos podem também ser preocupantes. Este trabalho investigou os problemas ambientais decorrentes de um cemitério municipal. Para tanto, foram realizadas observações, conversas informais com moradores vizinhos e funcionários. Por ter sido construído em época que não havia as exigências atuais em relação ao meio ambiente, verificou-se que além de estar totalmente fora dos padrões legais, há produção diária média de aproximadamente 1,5 Kg de resíduos que tem destinação mais organizada, o restante tem destino incorreto. Praticamente metade das sepulturas estão abandonadas ou em ruínas, cujo estado pode facilitar a infiltração de água e consequentemente o transporte de necrochorume para o solo e água subterrânea. Poços existentes na redondeza, há anos foram desativados e já não são usados para consumo d’água.
No texto aparecem alguns numerais que, como sabemos, podem ser cardinais, ordinais, fracionários, multiplicativos e coletivos. Assinale a opção em que a classificação do elemento sublinhado está feita de forma correta:
Assinale a alternativa que indica a circunstância correta, entre parênteses, expressa pelo advérbio em destaque.
Questões de 01 a 05
Texto para as questões de 01 a 05
O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU
Ignácio de Loyola Brandão
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"
Disponível em < http://www.casadobruxo.com.br>. Acesso em 12 Out. 2016.
A solução apresentada pelo menino no trecho "Por que o senhor não mata o dono da orelha?", tem a intenção de reforçar a ideia
Questões de 01 a 05
Texto para as questões de 01 a 05
O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU
Ignácio de Loyola Brandão
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.
Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.
Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.
E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.
E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"
Disponível em < http://www.casadobruxo.com.br>. Acesso em 12 Out. 2016.
A interpretação do texto ‘O homem cuja orelha cresceu’ evidencia a intenção do autor de sobretudo
Com base no texto a seguir, responda às questões de 01 a 07
Texto 1
Seu próximo trabalho
Com tantas tendências redefinindo as relações de trabalho, surgem também conceitos de carreira. Identificada ainda nos anos 1970, a "carreira proteana" derruba as tradicionais barreiras para a prestação de serviços, sem limite de lugar físico nem de exclusividade com o cliente. O profissional é remunerado pelo conhecimento transmitido e pelo resultado gerado.
Já a "carreira inteligente" valoriza a forma de atuar de cada indivíduo. Como o conhecimento técnico todo mundo tem, passam a contar mais a experiência de vida de cada um e as competências que desenvolveu em prol da sua carreira. O profissional se torna uma espécie de mentor e é remunerado por isso.
Na "carreira sem fronteiras", por sua vez, os profissionais são completamente independentes e trabalham para diferentes países: os pagamentos são feitos por cartão de crédito. Se a concorrência é globalizada, as oportunidades laborais também são.
[...] a legislação brasileira, ainda muito engessada, não está preparada para esses novos formatos. O que a atual reforma trabalhista propõe aponta nesse sentido, mas ainda deixa questões sem resposta e assusta a concepção mais tradicional de emprego. Além disso, é preciso pensar em um plano de migração para pessoas que estão sendo substituídas por robôs.
[...]
Revista Planeta, out. 2016, p.33-34
No texto, encontra-se uma série de palavras formadas pelo processo de derivação.
Assinale a alternativa em se que evidenciam duas dessas palavras: uma formada por prefixação e outra por parassíntese, respectivamente.
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Estou deitado na margem. Dois barcos, presos a um tronco de salgueiro cortado em remotos tempos, oscilam ao jeito do vento, não da corrente, que é macia, vagarosa, quase invisível. A paisagem em frente, conheço-a. Por uma aberta entre as árvores, vejo as terras lisas da lezíria, ao fundo uma franja de vegetação verde-escura, e depois, inevitavelmente, o céu onde boiam nuvens que só não são brancas porque a tarde chega ao fim e há o tom de pérola que é o dia que se extingue. Entretanto, o rio corre. Mais propriamente se diria: anda, arrasta-se- mas não é costume.
Três metros acima da minha cabeça estão presos nos ramos rolos de palha, canalhas de milho, aglomerados de lodo seco. São os vestígios da cheia. À esquerda, na outra margem, alinham-se os freixos que, a esta distância, por obra do vento que lhes estremece as folhas numa vibração interminável, me fazem lembrar o interior de uma colmeia. É o mesmo fervilhar, numa espécie de zumbido vegetal, uma palpitação (é o que penso agora), como se dez mil aves tivessem brotado dos ramos numa ansiedade de asas que não podem erguer voo.
Entretanto, enquanto vou pensando, o rio continua a passar, em silêncio. Vem agora no vento, da aldeia que não está longe, um lamentoso toque de sinos: alguém morreu, sei quem foi, mas de que serve dizê-lo? Muito alto, duas garças brancas (ou talvez não sejam garças, não importa) desenham um bailado sem princípio nem fim: vieram inscrever-se no meu tempo, irão depois continuar o seu, sem mim.
Olho agora o rio que conheço tão bem. A cor das águas, a maneira como escorregam ao longo das margens, as espadanas verdes, as plataformas de limas onde encontram chão as rãs, onde as libélulas (também chamadas tira-olhos) pousam a extremidade das pequenas garras - este rio é qualquer coisa que me corre no sangue, a que estou preso desde sempre e para sempre. Naveguei nele, aprendi nele a nadar, conheço-lhe os fundões e as locas onde os barbos pairam imóveis. É mais do que um rio, é talvez um segredo.
E, contudo, estas águas já não são as minhas águas. O tempo flui nelas, arrasta-as e vai arrastando na corrente líquida, devagar, à velocidade (aqui, na terra) de sessenta segundos por minuto. Quantos minutos passaram já desde que me deitei na margem, sobre o feno seco e doirado? Quantos metros andou aquele tronco apodrecido que flutua? O sino ainda toca, a tarde teve agora um arrepio, as garças onde estão? Devagar, levanto-me, sacudo as palhas agarradas à roupa, calço-me. Apanho uma pedra, um seixo redondo e denso, lanço-o pelo ar, num gesto do passado. Cai no meio do rio, mergulha (não vejo, mas sei), atravessa as águas opacas, assenta no lodo do fundo, enterra-se um pouco.[ ... ]
Desço até a água, mergulho nela as mãos, e não as reconheço. Vêm-me da memória outras mãos mergulhadas noutro rio. As minhas mãos de há trinta anos, o rio antigo de águas que já se perderam no mar. Vejo passar o tempo. Tem a cor da água e vai carregado de detritos, de pétalas arrancadas de flores, de um toque vagaroso de sinos. Então uma ave cor de fogo passa como um relâmpago. O sino cala-se. E eu sacudo as mãos molhadas de tempo, levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a verdade desta hora.
(SARAMAGO, José. Deste mundo e do outro. Lisboa: Editorial Caminho, 1985. p. 35-37)
Vocabulário:
lezíria - zona agrícola muito fértil, situada na região do Ribatejo, em Portugal.
freixo - árvore das florestas dos climas temperados, de madeira clara, macia e resistente.
espadana - planta herbácea, aquática ou palustre, com folhas agudas.
loca - toca; furna; gruta pequena; esconderijo do peixe, debaixo da água, sob uma laje ou tronco submersos.
barbo-peixe vulgar de água doce.
Apalavra destacada no período "ENTRETANTO, o rio corre."(§ 1) exprime ideia de:
Leia o texto para responder às questões de números 01 a 04.
As escolas do futuro
Um grupo de alunos está reunido na sala de aula no meio de um debate caloroso – estão tentando adaptar um carro convencional em um modelo ecológico e econômico. Essa é apenas uma das lições desta escola, chamada Minddrive, no Kansas, EUA. Esta não é uma escola normal, claro. O Minddrive, na verdade, é um reforço escolar para adolescentes que não vão bem no ensino regular. Mas seu método educativo não é tão exótico assim. Ele é todo baseado em jogos epistêmicos, em que os alunos simulam situações cotidianas e pensam em soluções para os problemas que vão surgindo. “Os desafios que as nossas escolas enfrentam hoje são importantes demais para ficarmos isolados. Precisamos preparar os alunos para o mundo real”, diz David Shaffer, professor de pedagogia da Universidade de Wisconsin e chefe do projeto de jogos epistêmicos para uso na educação.
Green School é uma escola em Bali, na Indonésia, onde tudo é natural: as estruturas são de bambu e as salas de aula, abertas, para que o calor e o vento balineses possam entrar. Criada pelo americano John Hardy, ela se baseia na metodologia do educador britânico Alan Wagstaff, que defende uma maneira de ensinar que conecta aspectos racionais, emocionais, físicos e espirituais. Na prática, isso quer dizer que o conhecimento está dividido em temas, e não em matérias. Por exemplo, no ensino fundamental, crianças de sete anos aprendem “padrões de contagem” pulando corda. Um dos objetivos da Green School é que seus alunos saiam de lá prontos para abrir seus próprios negócios – sustentáveis, de preferência. Ainda durante o ensino médio, eles simulam a criação de uma empresa. E muitas acabam saindo do papel.
(André Gravatá, Marcos Ricardo dos Santos. Editado por Karin Hueck. http://super.abril.com.br/comportamento/as-escolas-do-futuro. Adaptado)
O termo para expressa ideia de finalidade/propósito em:
LEIA O TEXTO 02 PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 4 e 5.
Em todas as alternativas, a circunstância expressa pelo termo ou expressão destacada foi corretamente identificada, EXCETO em:
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase abaixo:
“Da mesma forma que os italianos e japoneses ___________ no Brasil no século passado, hoje os brasileiros ___________ para a Europa e para o Japão à busca de uma vida melhor; internamente os brasileiros ___________ para o Sul, pelo mesmo motivo.”
Assinale a alternativa correspondente à frase cujas palavras sublinhadas sejam substantivo e pronome, respectivamente:
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Palavras e Ideias
01---------Há alguns anos, o Dr. Johnson Oconor, do Laboratório de Engenharia Humana, de Boston,
02---e do Instituto de Tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey, submeteu ____ um teste de vocabulário
03---100 alunos de um curso de formação de dirigentes de empresas industriais. Cinco anos mais
04---tarde, verificou que os 10% que haviam revelado maior conhecimento ocupavam cargos de
05---direção, ao passo que dos 25% mais “fracos” nenhum alcançara igual posição.
06---------Isso não prova, entretanto, que, para vencer na vida, basta ter um bom vocabulário;
07---outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias.
08---------Mas parece não haver dúvidas de que, dispondo ____ palavras suficientes e adequadas
09---___ expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições
10---de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo acervo léxico seja
11---insuficiente ou medíocre para a tarefa vital da comunicação.
12---------Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são o
13---revestimento das ideias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar. Como pensar que
14---“amanhã tenho uma aula ____ 8 horas”, se não figuro mentalmente essa atividade por meio
15---dessas ou de outras palavras equivalentes? Do mesmo modo que um vocabulário escasso e
16---inadequado, incapaz de veicular impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento
17---mental, tolhe a imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender
18---e até mesmo de sentir.
19---------Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais claro, tanto
20---mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão. Reciprocamente, quanto mais escasso
21---e impreciso, tanto mais dependentes estamos do grunido, do grito ou do gesto, formas
22---rudimentares de comunicação capazes de traduzir apenas as expansões instintivas dos primitivos,
23---dos infantes e dos irracionais.
(Texto adaptado: Garcia, Othon Moacir. Comunicação em Prosa Moderna. 27ª edição, FGV editora, 2011)
Na linha 08, a conjunção ‘Mas’ pode ser substituída pelas seguintes conjunções, sem mudança no sentido da oração:
Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.
A TRISTEZA PERMITIDA
Se eu disser pra você que acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora, e o céu convidava para a farra de viver. Mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço, sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões — se eu disser que foi assim, o que você me diz”? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários Ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente — as razões têm essa mania de serem discretas.
“Eu não sei o que meu corpo abriga
nestas noites quentes de verão
e não importa que mil raios partam
qualquer sentido vago de razão
eu ando tão down...”
Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor — até que venha a próxima, normais que somos.
Martha Medeiros
Em "... é um registro da nossa sensibilidade, que ORA gargalha em grupo, ORA busca o silêncio e a solidão.”, os conectivos destacados têm o valor de:
Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.
A TRISTEZA PERMITIDA
Se eu disser pra você que acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora, e o céu convidava para a farra de viver. Mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço, sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair para compras e reuniões — se eu disser que foi assim, o que você me diz”? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários Ou com si mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente — as razões têm essa mania de serem discretas.
“Eu não sei o que meu corpo abriga
nestas noites quentes de verão
e não importa que mil raios partam
qualquer sentido vago de razão
eu ando tão down...”
Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor — até que venha a próxima, normais que somos.
Martha Medeiros
Em "...e me recomenda um ANTIDEPRESSIVO...", a palavra em destaque foi formada pelo mesmo processo que:
Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais o Titanic. (Luís Fernando Veríssimo)
A respeito da palavra Arca, no texto de Luís Fernando Veríssimo: