O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
Por que tantos adultos tomam remédio para tratar
TDAH?
Apesar do aumento da consciência em relação ao TDAH
nas últimas duas décadas, a realidade é que muitas
pessoas, especialmente mulheres e indivíduos de grupos
étnicos minoritários, não recebem diagnóstico de TDAH
durante a infância.
Ao contrário da depressão ou ansiedade, diagnosticar o
TDAH em fase adulta é uma tarefa complexa. O
processo de diagnóstico, seja em crianças ou não,
requer, em primeiro lugar, a identificação de traços que
se assemelham ao TDAH. Esses traços precisam ser
graves e persistentes o suficiente para impactar
negativamente a capacidade de a pessoa ter uma vida
saudável e funcional.
Um indivíduo comum pode apresentar alguns sintomas
que lembram o TDAH, o que torna desafiador distinguir
entre características semelhantes ao TDAH - como
esquecer chaves, manter uma mesa desorganizada ou
ter a mente vagando durante tarefas monótonas - e um
transtorno médico que requer diagnóstico.
Uma vez que não existe um teste objetivo para
diagnosticar o TDAH, os médicos frequentemente
realizam entrevistas estruturadas com os pacientes,
coletam informações de familiares por meio de escalas
de avaliação e analisam registros clínicos para chegar a
um diagnóstico preciso.
Os desafios no diagnóstico também são notados por
profissionais de saúde mental, incluindo psiquiatras,
devido às semelhanças do TDAH com outras condições.
Curiosamente, a dificuldade de concentração é o
segundo sintoma mais comum em todos os distúrbios
psiquiátricos.
A complexidade é ainda maior porque o TDAH é um fator
de risco para várias condições com as quais compartilha
características. Por exemplo, a constante exposição a
feedbacks negativos pode levar adultos com TDAH a
desenvolverem sintomas secundários de depressão e
ansiedade.
O diagnóstico preciso exige um profissional de saúde
habilidoso e bem treinado, disposto a investir o tempo
necessário para coletar minuciosamente o histórico do
paciente. Considerando as circunstâncias da pandemia,
embora haja alguns fatores evidentes, ainda não está
claro o quanto eles têm contribuído para o aumento nas
prescrições de estimulantes.
No ano de 2021, os EUA ainda estavam no ápice da
pandemia. As pessoas enfrentavam perdas de emprego,
desafios financeiros e as complexidades do trabalho
remoto, enquanto equilibravam responsabilidades como
a educação online de seus filhos. Insegurança e
incerteza eram sentimentos generalizados, com muitas
famílias lamentando a perda de entes queridos.
A pandemia impactou a todos, mas as evidências
sugerem que as mulheres foram afetadas de maneira
mais intensa. Isso possivelmente levou a um aumento
proporcional na busca por tratamentos estimulantes para
auxiliar na adaptação às exigências do cotidiano.
Adicionalmente, com restrições em espaços recreativos
presenciais, as pessoas passaram a investir mais tempo
nas plataformas digitais. Em 2021, o conceito de
"neurodiversidade" ganhou força nas discussões online
sobre justiça social. Esse termo, que não possui
conotação médica, aborda a vasta gama de processos
cerebrais que diferem do padrão convencional.
Na mesma época, a hashtag #ADHD se tornou uma
tendência relevante no TikTok, com relatos divertidos
sobre perdas de objetos, procrastinação e características
do TDAH. Entretanto, mesmo com a proliferação de
conteúdo online relacionado ao TDAH, uma pesquisa
conduzida no Canadá classificou os vídeos do TikTok
com a hashtag #ADHD em categorias baseadas em
precisão e utilidade. O achado foi notável: a maioria dos
vídeos era imprecisa. Somente 21% das postagens
ofereciam informações corretas e úteis.
Dessa forma, em meio à comunidade online em
crescimento, muitas pessoas recentemente
diagnosticadas com TDAH não estão, de fato, sofrendo
desta condição. Pesquisas mostram que outros
confundiram TDAH com transtornos surpreendentemente
comuns, como leves problemas de atenção que não
atingem o nível de gravidade para serem considerados
TDAH.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g8d5pj08go. Adaptado.