Questões de Concurso
Sobre pontuação em português
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Leia o Texto 3 para responder a questão.
Texto 3
Disponível em: <https://www.tumblr.com/tirasarmandinho/tagged/tr%C3%A2nsito>.Acesso em: 19 ago. 2024.
Leia o Texto 4 para responder a questão.
Texto 4
Cantiga
Acho que me deu Deus tudo
para mais meu padecer:
os olhos — para vos ver,
coração — para sofrer,
e língua — para ser mudo.
Olhos com que vos olhasse, coração que consentisse, língua que me condenasse: mas não já que me salvasse de quantos males sentisse.
SOUSA, Francisco de. In: SPINA, Segismundo. Presença da literatura portuguesa – Era Medieval. 4. ed. São Paulo: Difel, 1971, p. 136.
Leia o Texto 4 para responder a questão.
Texto 4
Rebeca Andrade compartilha suas motivações para superar os desafios
Por Luna D’Alama
Início
Comecei por meio de um projeto social, então entendo como isso é importante. No [Ginásio] Bonifácio Cardoso [em Guarulhos], foi a minha primeira oportunidade da vida e eu soube aproveitá-la. A ginástica veio como uma surpresa. Minha tia trabalhava no ginásio, onde fariam os testes. Fiz o meu primeiro e passei.
Estou com o Chico [o treinador Francisco Porath] desde os meus 7, 8 anos. E foi muito importante ter tido bons profissionais que me ajudaram a conquistar tudo o que eu gostaria dentro do esporte, para me tornar uma atleta de alto rendimento.
Inspiração
Eu me inspirei demais na Dai [Daiane dos Santos, ex-ginasta gaúcha, nove vezes medalha de ouro em campeonatos mundiais] para continuar na ginástica. Foi com quem me identifiquei, sendo mulher preta, explosiva, tendo aquela energia e alegria. Me sentia muito parecida com ela. É muito bom quando você tem referências. E eu, como mulher e mulher preta, poder ser referência para meninas e meninos, adolescentes, pretos e não pretos é algo muito grandioso. Quando faço eventos e as crianças contam que começaram a fazer ginástica depois que me viram, é muito legal. As pessoas veem aquela luz no fim do túnel.
Investimentos
A gente vê como a ginástica está crescendo no Brasil. Incentivo e investimento nunca são demais. A gente ainda precisa, sim, ter mais esportes – não só a ginástica – em lugares públicos. Eu comecei a ginástica através de um projeto social. Se tivesse que pagar para estar no ginásio, não teria conseguido me manter. Então, quanto mais opções públicas houver, mais possibilidades a gente vai encontrar, porque muitas vezes a gente perde talentos no Brasil porque o pai ou a mãe não tem condições de manter o filho naquele esporte, por ser caro demais. E não é só pagar o lugar, mas a condução, ou não tem quem leve [e busque]. É tudo muito difícil, começa a acumular muita coisa. Então, quanto mais acessível for, mais fácil será. A gente teria muitos talentos.
Otimismo
Sempre falo sobre acreditar [apesar das dificuldades], saber que é possível, que a gente vai escutar muitos “nãos” na vida. Muita gente quis me aposentar depois das lesões [no joelho]. Se eu tivesse parado de treinar, não teria conquistado minhas medalhas, não teria tido esse orgulho de ter pódios olímpicos e mundiais. Então é [preciso] acreditar no processo, nos profissionais que estão com você. Tento mostrar o que vivi da melhor maneira possível, [porque] tudo depende de como você enxerga as coisas. Com as minhas lesões, eu poderia ter desistido, ficado lá embaixo, mas preferi me levantar, me reerguer e ser positiva. O esporte é difícil, a vida é difícil, mas os resultados, quando acontecem, valem muito a pena. Sou grata por tudo que passei, por todas as cirurgias e dificuldades, porque as minhas alegrias são imensuráveis. Me mantenho otimista porque sei que tenho objetivos a alcançar. Tenho todo um planejamento e acredito em ir um dia de cada vez. Sei que as coisas não acontecem de uma hora para outra, então a gente precisa ir com calma para chegar ao resultado final.
Disponível em: <https://www.sescsp.org.br/editorial/salto-de-ouro-depoimento-da-ginasta-e-medalhista-olimpica-rebeca-andrade/>. Acesso em: 20 ago. 2024. [Adaptado].
Ao longo do texto, há o uso do sinal gráfico denominado de colchete. Nesse texto relativo ao depoimento de Rebeca Andrade, a utilização dos colchetes indica
Internet: <https://www.bbc.com>
Leia o texto abaixo e responda à questão:
Bruno M. T. Walter; Anderson C. Sevilha. A agonia de um bioma. In:
Revista Darcy, nº 21, jan.-mar./2019 (com adaptações).
"O livro foi um sucesso, o autor, que já havia publicado outras obras, recebeu prêmios importantes por seu trabalho. Além disso, ele foi convidado para palestrar em universidades de renome."
Fonte: Revista Carta Capital, 15/08/2023.
Assinale a alternativa que corrige o uso da pontuação:
"São Paulo, a maior cidade do Brasil, enfrenta diariamente problemas de trânsito. A frota de veículos aumenta a cada ano, e a infraestrutura das vias nem sempre acompanha esse crescimento. Com isso, os congestionamentos se tornam cada vez mais frequentes."
Fonte: Revista Veja, 12/08/2023.
Assinale a alternativa que corrige o uso da vírgula no texto.
Como queimadas em terras indígenas aumentaram 76% e deixaram crianças e anciãos “sufocados”
Por Leandro Prazeres
(Disponível em: www.bbc.com/portuguese/articles/c9819351gq4o – texto adaptado especialmente para esta prova).
"A pesquisa revelou que 80% dos consumidores preferem realizar compras online. Esse aumento nas vendas pela internet foi impulsionado pela pandemia, que obrigou muitos a adaptarem seus hábitos de consumo."
Fonte: Jornal Valor Econômico, 25/04/2023.
Assinale a alternativa que corrige o uso da pontuação no texto.
“Onde queres prazer, sou o que dói E onde queres tortura, mansidão Onde queres um lar, revolução”
As vírgulas empregadas no segundo e no terceiro verso da estrofe indicam:
A questão diz respeito ao texto. Leia-o atentamente antes de respondê-la.
I.Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.
II.Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.
III.Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.
A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em:
O texto seguinte servirá de base para responder a questão.
Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior
Julián Fuks
Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.
Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."
Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.
Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?
Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."
Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.
Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as -emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso em 18 out. 2024.
Leia as proposições que seguem:
I. Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.
II. Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.
III. Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.
A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em:
O texto a seguir servirá de base para responder à questão.
Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior
Julián Fuks
Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.
Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."
Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.
Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?
Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."
Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.
Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as-emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso em 18 out. 2024.
I. Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.
II. Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.
III. Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.
A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em:
O texto seguinte servirá de base para responder à questão de 1 a 10.
Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior
Julián Fuks
Às vezes sinto que minha filha tem escrito mais do que eu, ou tem sido mais verdadeira no que escreve. Mais imediata, talvez, no desembaraço de seus sete anos de idade. Criou agora seu caderno de sentimentos, algo como um diário ilustrado onde ela registra cada emoção forte que a acomete. Eu olho a urgência com que ela corre para o caderno, o vigor com que empunha o lápis, a concentração com que passa a ignorar tudo o que a cerca. Nada mais lhe importa nesse momento, a escrita toma toda a sua existência, e assim cada emoção turbulenta de origem se faz satisfação e leveza. Escreveu algo de essencial, traçou em linhas exatas seu sentimento, deu a uma vaga abstração sua forma concreta. Quisera eu escrever dessa maneira.
Seu caderno se inicia com a mais simples e expressiva das páginas. Tutu triste, vê-se em letras pequenas, e embaixo seu autorretrato de olhos pesados e duas lágrimas gordas sobre as bochechas. Segue ainda por afetos límpidos: Tutu animada, raivosa, impaciente, sonolenta, Tutu sem acreditar no que está acontecendo, neste caso um desenho de si boquiaberta e de olhos vidrados. Depois disso ela parece ter percebido a necessidade de explorar as causas subjacentes aos sentimentos, como Balzac alguma vez decidiu dar as raízes ocultas de cada fato. Passou a anotar coisas como "Tutu empolgada com o acampamento", e "Tutu aliviada porque um homem horrível não ganhou as eleições".
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador". Leio essa frase em Clarice Lispector e acredito entender algo sobre minha filha, e algo sobre mim. Clarice emenda que talvez por isso tome tantos anos entre um verdadeiro escrever e outro, ainda que se empunhe o lápis todos os dias por uma vida inteira. Para mim dá-se o mesmo, alinhavo palavras sempre que me visita o caderno de sentimentos. Ali, se o tivesse, talvez me fosse mais sincero dizer: "Julián embevecido de admiração por sua filha."
Não posso, no entanto, encerrar meu comentário sobre o caso nesse ponto, porque há um acontecimento recente muito mais digno de nota do que tudo isso que contei. Lê-se numa das páginas do caderno: "Tutu infeliz porque a Peps não está sendo uma boa pessoa". Não sei qual conflito a levou a registrar palavras tão acerbas contra a irmã, decerto alguma dessas pequenezas que diariamente trovejam na relação entre as duas, precedidas e sucedidas de risos desabridos e abraços enérgicos.
Penélope não deixou passar sem vingança a acusação insolente. Enquanto folheava o caderno da irmã e tentava decifrar as palavras escritas com que já começa a se familiarizar — começa a se irmanar, eu poderia dizer — acabou calhando de rasgar uma folha, digamos sem querer. Foi tal a indignação da irmã com o gesto destrutivo que me pareceu razoável mostrar a ela a página em que Tulipa descrevera sua decepção primeira e indagar com veemência: é isso o que você deseja? Essa é a emoção que você quer provocar na sua irmã, a infelicidade? Não seria preferível criar nela uma impressão mais positiva, e constar numa página que falasse de entusiasmo, carinho, alegria?
Penélope então me encarou com olhos indecifráveis, ainda um tanto severos, e respondeu com segurança e presteza: claro que sim, dou um jeito nisso. Correu até seu quarto, fechou-se ali por alguns minutos, criou entre os que a esperávamos um momento palpável de apreensão e suspense. Retornou com o semblante desanuviado, plena de satisfação e leveza. Numa folha avulsa ela desenhara a irmã com seu inseparável caderninho nas mãos, com um largo sorriso a lhe cruzar o rosto inteiro, e delineara na ortografia atrevida de seus quatro anos: "Tutu feliz porque a Peps se comportou bem."
Não pude senão me espantar com sua intrepidez, com sua decisão de se fazer autora da página que gostaria de ver. Sua sagacidade buscara um atalho: não era preciso suscitar na irmã o devido sentimento, a ficção poderia suprir bem esse seu desejo, e ainda expor o ridículo da bronca que o pai lhe dera. Ela é uma escritora diferente de nós, foi o que pensei, talvez mais inventiva, mais livre, menos submissa às insignificâncias da realidade e às suas emoções correspondentes. E ao pensá-lo entendi que, se tivesse afinal meu próprio caderno de sentimentos, também anotaria em página nova minha profunda admiração por ela.
Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros. Tulipa viu a página que a irmã depositara sobre a mesa, e sentiu que um sorriso largo lhe cruzava o rosto inteiro, sentiu uma comoção que lhe dominava o peito. Correu nesse mesmo instante para registrar o sentimento novo em seu caderno, para criar com suas mãos a exata correspondência com o desenho da irmã. Deu assim testemunho de uma ficção que se fez emoção tão verdadeira que foi capaz de coincidir com a vida. Também assim eu desejaria a minha escrita.
Disponível em:
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks/2024/10/12/escrever-as-emocoes-o-sentido-de-dar-palavras-a-ebulicao-interior.htm. Acesso em 18 out. 2024.
Leia as proposições que seguem:
I. Em "Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador", Julián Fuks usa as aspas duplas para pontuar uma citação direta.
II. Em "Um último ato encerra a história, mostrando as intrincadas relações entre ficção e realidade, ou o modo como a escrita das emoções pode alterar nossa existência no mundo, cuidando estranhamente de nos aproximar dos outros", a vírgula após realidade é facultativa, uma vez que a oração seguinte trata-se de uma oração coordenada sindética alternativa.
III. Em "Escrever as emoções: o sentido de dar palavras à ebulição interior", os dois-pontos têm a função de indicar, na sequência, uma explicação, esclarecimento ou síntese do que foi enunciado.
A respeito da pontuação, é correto o que se afirma em: