Questões de Português - Pronomes pessoais oblíquos para Concurso
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Revista E – Nós vivemos um momento difícil da história de São Paulo, em que, pensando na mobilidade e na violência do trânsito, as pessoas estão cansadas da cidade. É possível fazer uma mudança positiva para a metrópole voltar a ser agradável?
J. Wilheim – O momento difícil da cidade, hoje, é que, em vez de uma mobilidade, temos uma imobilidade. Não se sabe o que fazer com o automóvel, e a população está fazendo críticas. Se teremos uma vida mais pacata, menos violenta, mais humana, eu, como sou otimista, diria que sim. Existem medidas que podem ser tomadas e que levariam a uma vida de mais qualidade.
Revista E – O carro ainda confere um status muito grande para o brasileiro e para o paulistano. Assim como a maioria das cidades brasileiras, São Paulo foi planejada para o uso do automóvel. Você acha que o paulistano está preparado para deixar o carro em casa e usar o transporte público, a bicicleta ou andar a pé?
J.Wilhein - Não. Ninguém está preparado. O dramaturgo italiano Luigi Pirandello, na década de 1930, dizia que o automóvel é uma invenção do diabo. Se é uma invenção do diabo, o que ele pretende? Trazer o inferno para a superfície da terra. E de que maneira? Pela sedução. Ele nos seduz. O automóvel, além de ser um objeto bonito e sensual, é um instrumento que nos permite a liberdade de circular por onde quisermos, quando quisermos, com quem quisermos, ou até de ficarmos parados ouvindo música ou namorando dentro dele. Além disso, ele traz em si o significado do conforto e de certo status social.
A sociedade de São paulo se divide em duas: aqueles que usam ônibus e aqueles que não usam, deslocando-se a pé ou de automóvel. Eu mesmo não estou habituado a usar o ônibus, porque a distância entre minha casa e o trabalho é de 12 metros. Uso pouco o automóvel, mas não saberia usar ônibus, pois faz tempo que não tomo um.
As pessoas só vão abandonar o automóvel se ele não servir mais para circular. Se a pessoa circular a 14 quilômetros por hora e ainda tiver que pagar uma fortuna para estacionar ou não encontrar onde parar o carro, ele vai começar a ser um empecilho na vida, e não uma ajuda. Aí, as pessoas serão obrigados a abandonar o carro.
Revista E - O prefeito de Bogotá, na Colômbia, diante do caos da cidade, eliminou a maior parte das áreas para estacionar automóveis nas ruas da cidade. Aboliu, inclusive, as vagas exploradas pelo Estado (o equivalente da zona azul, em São Pulo). Você acha que uma medida como essa funcionaria em São Paulo?
J.Wilheim - Aquele estacionamento nos dois lados das vias de grande circulação, realmente, não vai poder continuar a existir. Essas vias foram feitas para circular, não se podem perder duas de quatro faixas, por exemplo. Elas devem ser utilizadas de maneira que não seja possível estacionar, apenas parar para embarque e desembarque. O problema de estacionamento vai causar uma crise daqui a pouquíssimo tempo, pois essas vagas, com zona azul ou sem, não vão existir. Os edifícios de estacionamento surgirão a partir dessa demanda que vai acontecer, mas vai ser um empecilho a mais, inclusive um encarecimento do uso do automóvel.
(www.mobilize.org.br/noticias/5746/arquiteto-jorge-wilheim-analisa--o planejamento-urbano-da-cidade-de-sao-paulo. Adaptado)
Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas erradas.
Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe.
Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito.
O vestuário da personagem - fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha - também se fixou pelo consenso do público.
Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito.
Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco.
Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humor que são O garoto, Em busca do ouro e O circo.
Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário discernimento psicológico. Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.
Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas.
(Adaptado de: Manuel Bandeira. “O heroísmo de Carlito”.Crônicas da província do Brasil. 2. ed. São Paulo, Cosac Naify, 2006, p. 219-20)
Sete milhões deixam a classe média
A classe média está menor. Entre 1980 e 2000, sete milhões
de pessoas que ocupavam essa faixa da sociedade perderam seus
empregos e não conseguiram ______. Em conseqüência, tiveram
seu poder de compra reduzido, o padrão de vida rebaixado e, as-
sim, saíram forçadamente da classe B para passar a tomar parte
na classe C. Segundo o IBGE, em 1980 os assalariados que parti-
cipavam do estrato social respondiam por 31,7% da População
Economicamente Ativa (PEA). Vinte anos depois, porém, essa
participação caiu para 27,1%. “A perspectiva é de que o número
de pessoas expulsas da classe média aumente nos próximos anos”,
diz o economista Márcio Pochman, professor do Instituto de Eco-
nomia da USP. “O ajuste do mercado de trabalho se deu princi-
palmente nas profissões tipicamente de classe média, e esse ajus-
te continua.”
(Istoé Online, 15.03.2006. Adaptado)
Sondagem
O carteiro, conversador amável, não gosta de livros. Tornam pesada a carga matinal, que, na sua opinião, devia constituir-se apenas de cartas. – No máximo algum jornalzinho leve, mas esses pacotes e mais pacotes que o senhor recebe, ler tudo isso deve ser de morte!
Explico-lhe que não é preciso ler tudo isso, e ele muito se admira:
– Então o senhor guarda sem ler? E como é que sabe o que tem no miolo?
Esclareço que não leio de ponta a ponta, mas sempre leio algumas páginas.
– Com o devido respeito, mas quem lhe mandou o livro desejava que o senhor lesse tudinho.
– Bem, Teodorico, faz-se o possível, mas...
– Eu sei, eu sei. O senhor não tem tempo.
– É.
– Mas quem escreveu, coitado! Esse perdeu o seu latim, como se diz.
– Será que perdeu? Teve satisfação em escrever, esvaziou a alma.
A ideia de que escrever é esvaziar a alma perturbou meu carteiro, tanto quanto percebo em seu rosto magro e sulcado.
– Não leva a mal?
– Não levo a mal o quê?
– Eu lhe dizer que nesse caso carece prestar mais atenção ainda nos livros, muito mais! Se um cidadão vem à sua casa e pede licença para contar um desgosto de família, uma dor forte, dor-de-cotovelo, vamos dizer assim, será que o senhor não escutava o lacrimal dele?
– Teodorico, nem todo livro representa uma confissão do autor. E depois, no caso de ter uma dor moral, escrevendo o livro o camarada desabafa, entende? Pouco importa que seja lido ou
não, isso é outra coisa.
Ficou pensativo; à procura de argumento? Enquanto isso, eu meditava a curiosidade de um carteiro que se queixa de carregar muitos livros e ao mesmo tempo reprova que outros não os leiam integralmente.
– Tem razão. Não adianta mesmo escrever.
– Como não adianta? Lava o espírito.
– No meu fraco raciocínio, uma coisa nunca acontece sozinha nem acaba sozinha. Se a pessoa, vamos dizer, eu, só para armar um exemplo, se eu escrevo um livro, deve existir um outro
– o senhor, numa hipótese – para receber e ler esse livro. Mas se o senhor não liga a mínima, foi besteira eu fazer esse esforço.
– Teodorico! você... escreveu um livro?
Virou o rosto.
– De poesia, mas agora não adianta eu lhe oferecer um exemplar. Até segunda, bom domingo para o senhor.
– Escute aqui, Teodorico...
– Bem, já que o senhor insiste, aqui está o seu volume, não repare os defeitos, ouviu? Esvaziei bastante a alma, tudo não era possível!
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. 1959. Adaptado)