Questões de Concurso
Comentadas sobre uso da vírgula em português
Foram encontradas 4.410 questões
No que se refere ao texto e a seus aspectos linguísticos, julgue o item subsequente.
Na linha 3, o emprego das vírgulas após
“contemporânea” e “pós-modernidade” justifica-se por
separar termos de uma enumeração.
Leia o excerto e assinale a alternativa que indica como corrigir os erros de pontuação e ortografia:
TRECHO DO(A) ______ DA 346ª REUNIÃO, DA COMISSÃO DE GRADUAÇÃO
3. Recuperação de aprendizado para alunos de intercâmbio:
Em sessão extraordinária, a comissão de graduação reuniu-se aos quatorze dias do mês de janeiro de dois mil e quatorze e tomou a seguinte decisão.
Decisão da 346ª reunião da comissão de graduação, de 14 de janeiro de 2014: o
aluno que estiver participando de qualquer programa de intercâmbio ou mobilidade terá
direito a recuperação do aprendizado, desde que o período da ausência não ultrapasse 40
dias corridos a partir do início (ou término) do semestre letivo.
Genéricos são 54% mais baratos na capital paulista, aponta pesquisa do Procon-SP
Os preços médios dos medicamentos genéricos são 54,58%
menores do que os de referência, de acordo com pesquisa feita
pela Fundação Procon-SP em drogarias e farmácias da capital
paulista. Entre os genéricos, foi observada diferença de até
1.129,21%.
A pesquisa foi feita em abril em 15 drogarias nas cinco regiões do município de São Paulo. Foram pesquisados 58 medicamentos, sendo 29 de referência e 29 genéricos.
No interior do estado, a maior variação de preços entre os medicamentos genéricos chegou a 1.143% entre farmácias da cidade de Bauru.
“A média dos preços dos genéricos em comparação aos de referência nos municípios paulistas teve a maior diferença, 57,03%, detectada em São José dos Campos. A menor diferença foi encontrada em Presidente Prudente, 44,46%”, diz o Procon.
O Procon-SP recomenda que o consumidor pesquise antes de comprar. Além disso, deve evitar comprar medicamentos sem bula e sem embalagem. Outras orientações são verificar o prazo de validade, os números do lote e data de fabricação que constam na caixa, nas cartelas ou frascos.
(Disponível em: http://www.idec.org.br/em-acao/noticia-consumidor/
genericos-so-54-mais-baratos-na-capital-paulista-aponta-pesquisa-doprocon-sp.
Adaptado)
Releia o 4.º parágrafo do texto.
“A média dos preços dos genéricos em comparação aos de referência nos municípios paulistas teve a maior diferença, 57,03%, detectada em São José dos Campos. A menor diferença foi encontrada em Presidente Prudente, 44,46%”, diz o Procon.
Assinale a alternativa em que, ao reescrever o trecho, a pontuação
está correta e o sentido inalterado.
Assinale a sequência correta dos sinais de pontuação necessários nas lacunas para dar sentido e correção ao período a seguir. Não sendo necessários qualquer sinal, 0 indicará essa inexistência
Com o passar do tempo __ os jovens perceberam que precisavam de apoio ___ e não de aprovação ___ para dar continuidade ao seu projeto ___ modificar a realidade ___ e assim toda a sociedade saiu ganhando.
Vou Te Encontrar
Paulo Miklos
Compositor: Nando Reis
Olha, ainda estou aqui
Perto, nunca te esqueci
Forte, com a cabeça no lugar
Livre, livre para amar
Sofro, como qualquer um
Rio, quando estou feliz
Homem, dessa mulher
Vivo, como você quer
Nas ondas do mar
Nas pedras do rio
Nos raios de sol
Nas noites de frio
No céu, no horizonte
No inverno, verão
Nas estrelas que formam
Uma constelação
Vou te encontrar...
Vou te encontrar
Olha, eu fiquei aqui
Perto, está você em mim
Forte, pra continuar
Livre, livre para amar
Sofro, como qualquer um
Rio, porque sou feliz
Homem, de uma mulher
Vivo, como você quer
No beijo da moça
No alto e no chão
Nos dentes da boca
Nos dedos da mão
No brilho dos olhos
Na luz da visão
No peito dos homens
No meu coração
Vou te encontrar...
Vou te encontrar
Quem escreve deve trabalhar com o máximo possível de atenção, adotando todos os cuidados necessários à eficácia da boa redação tanto em relação à forma, como em relação à clareza do que se afirma. Neste sentido, atente aos enunciados abaixo:
I- Os filhos de seu Francisco, que estudaram, tiveram sucesso na vida.
II- Os filhos de seu Francisco que estudaram tiveram sucesso na vida.
III- Vi uma foto sua no ônibus.
IV- O motorista infligiu a lei, ao estacionar em fila dupla, e foi multado. O guarda lhe infringiu uma multa de 270,00 reais.
V- As questões ligadas à assessoria parlamentar devem ser meticulosamente avaliadas afim de que não se cometam injustiças.
VI- Desculpem-me, mas não dá para fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. (CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002) (fragmento).
Com base nas sentenças acima assinale a alternativa que julgar VERDADEIRA:
Texto 4
Guignard na parede
– Este seu Guignard é falso ou verdadeiro? - perguntou-lhe o visitante, coçando o queixo, de um modo ainda mais suspeitoso do que a pergunta.
– Ora essa, por que duvida?
– Eu não duvido nada, só que existem por aí uns cinquenta quadros falsos de Guignard, e então...
– Então o quê?
– Esse também podia ser. Só isso.
– Pois não é, não senhor. Qualquer um vê logo que se trata de Guignard autêntico, Guignard da melhor época.
– Não ponho em dúvida sua palavra, Deus me livre. Mas nunca se sabe se um quadro é autêntico ou não. Nunca. Não há prova irrefutável.
– Mesmo que se tenha visto o pintor trabalhando nele?
– Em geral, o pintor não trabalha à vista dos outros. No máximo dá uma pincelada, um toque. Até os retratos, não sabia? São feitos em grande parte na ausência dos retratados. Todo artista tem um auxiliar, espécie de primo pobre, que imita à perfeição a maneira do mestre...
– Guignard tinha alunos; e daí? Vai me dizer que os alunos pintavam e ele assinava?
– O senhor é que parece estar insinuando isso. Eu digo apenas que assinatura pode ser autêntica num quadro falso. Veja Picasso. Picasso assina falsos Picassos por blague ou para ajudar pobres-diabos. Pode parecer maluquice, mas para mim o pintor é o primeiro falsificador de sua obra, ele se copia e manda os outros copiarem .
– Não diga uma besteira dessas.
[...]
– Fiquei com medo do senhor ter um falso Guignard, e preveni. Não há razão para se queimar.
– Está bem.
– Talvez tenha feito mal em alertá-lo. O senhor vai ficar preocupado, cismado. Não desejo isso. Vamos fazer uma coisa? Para o senhor não se chatear, eu compro o seu quadro, mesmo tendo as maiores dúvidas sobre a autenticidade. Repare bem: a fluidez da pintura é demasiado fluida para ser original. Um mestre nunca vai ao extremo de sua potencialidade; deixa que os outros exacerbem sua maneira. Este Guignard é tão leve, tão aéreo, que só mesmo de alguém muito habilidoso, que procurasse ser mais Guignard do que o próprio Guignard. Não há dúvida, para mim não é Guignard. Quanto quer por isto?
– Quero que o senhor vá para o inferno, sim?
ANDRADE, C. D. de. 70 historinhas. 13 ed. Rio de Janeiro: Record,2009. p.195-197.
Coluna 1 Regra
1. Separa adjunto adverbial anteposto. 2. Separa oração coordenada adversativa. 3. Isola um aposto. 4. Separa elementos que exercem a mesma função sintática na oração.
Coluna 2 Frase
( ) Pode parecer maluquice, mas para mim o pintor é o primeiro falsificador de sua obra. ( ) O senhor vai ficar preocupado, cismado. ( ) Em geral, o pintor não trabalha à vista dos outros. ( ) Todo artista tem um auxiliar, espécie de primo pobre, que imita à perfeição a maneira do mestre. ( ) Este Guignard é tão leve, tão aéreo...
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo
TEXTO 4
Adiante, o célebre conto Um Apólogo, de Machado de Assis. Leia-o, com atenção, e responda às questões propostas a seguir.
“UM APÓLOGO
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu? — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita
linha ordinária!”
O texto adiante é um fragmento do artigo Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. Sua autora, Sueli Carneiro, é filósofa, escritora, ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro, fundadora e coordenadora executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra São Paulo SP.
Leia-o, atentamente, e responda à questão.
“Insisto em contar a forma pela qual foi assegurada, no registro de nascimento de minha filha Luanda, a sua identidade negra. O pai, branco, vai ao cartório, o escrivão preenche o registro e, no campo destinado à cor, escreve: branca. O pai diz ao escrivão que a cor está errada, porque a mãe da criança é negra. O escrivão, resistente, corrige o erro e planta a nova cor: parda. O pai novamente reage e diz que sua filha não é parda. O escrivão irritado pergunta, ‘Então qual a cor de sua filha?’. O pai responde, ‘Negra’. O escrivão retruca, ‘Mas ela não puxou nem um pouquinho ao senhor?’ É assim que se vão clareando as pessoas no Brasil e o Brasil.
Esse pai, brasileiro naturalizado e de fenótipo
ariano, não tem, como branco que de fato é, as dúvidas metafísicas que assombram a racialidade no
Brasil, um país percebido por ele e pela maioria de
estrangeiros brancos como de maioria negra. Não
fosse a providência e insistência paternas, minha filha
pagaria eternamente o mico de, com sua vasta
carapinha, ter o registro de branca, como ocorre com
filhos de um famoso jogador de futebol negro.”
O trecho adiante é um fragmento do romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto (1881-1922). Leia-o e responda às questões propostas a seguir:
“(...) De manhã, pus-me a recapitular todos esses
episódios; e sobre todos pairava a figura inflada,
mescla de suíno e de símio, do célebre jornalista
Raul Gusmão. O próprio Oliveira, tão parvo e tão
besta, tinha alguma coisa dele, do seu fingimento
de superioridade, dos seus gestos fabricados, da
sua procura de frases de efeito, de seu galope para
o espanto e para a surpresa. Era já o genial, com
quem viria travar conhecimento mais tarde, que me
assombrava com o seu maquinismo de pose e me
colhia nos alçapões de apanhar os simples. E senti
também que o espantoso Gusmão e o bobo Oliveira
me tinham desviado da observação meticulosa a que
vinha submetendo o padeiro de Itaporanga. Achava
extraordinário que um varejista de um vilarejo longínquo
cultivasse e mantivesse amizades tão fora do
seu círculo; não se explicava bem aquele seu norteio
para os jornalistas, a especial admiração com que os
cercava, o carinho com que tratava todos. (...)”
Texto 4A4AAA
Considerando as relações sintático-semânticas do texto 4A4AAA, julgue o próximo item.
Sem prejuízo para a correção gramatical do texto, a vírgula inserida logo após “semelhantes” (l.5) poderia ser suprimida.Texto 4A4AAA
Considerando as relações sintático-semânticas do texto 4A4AAA, julgue o próximo item.
Na linha 21, o termo “palavra”, entre vírgulas, foi empregado para deixar claro o referente do vocábulo “nela”, evitando-se, assim, uma interpretação ambígua do período.Texto 4A2AAA
A respeito dos aspectos linguísticos do texto 4A2AAA, julgue o item que se segue.
É facultativo o emprego de vírgulas para isolar a expressão ‘ao contrário’ (l.26).
A respeito dos aspectos linguísticos do texto 7A3CCC, julgue o item a seguir.
Não haveria prejuízo gramatical para o texto se, em seu último
parágrafo, os travessões fossem substituídos por vírgulas.
Julgue o item subsequente, a respeito das ideias e dos aspectos linguísticos do texto 7A3BBB.
A supressão das vírgulas que isolam o trecho “por intermédio dos seus representantes” (ℓ. 15 e 16) manteria a correção gramatical do texto.
No que se refere às ideias e aos aspectos linguísticos do texto 7A3AAA, julgue o item a seguir.
A correção gramatical e os sentidos originais do texto seriam mantidos caso fossem retiradas as vírgulas que isolam o trecho “dizia ele convicto” (ℓ. 8 e 9).
O filósofo Theodor Adorno (1903-1969) afirma que, no capitalismo tardio, “a tradicional dicotomia entre trabalho e lazer tende a se tornar cada vez mais reduzida e as ‘atividades de lazer’ tomam cada vez mais do tempo livre do indivíduo”. Paradoxalmente, a revolução cibernética de hoje diminuiu ainda mais o tempo livre.
Nossa época dispõe de uma tecnologia que, além de acelerar a comunicação entre as pessoas e os processos de aquisição, processamento e produção de informação, permite automatizar grande parte das tarefas. Contudo, quase todo mundo se queixa de não ter tempo. O tempo livre parece ter encolhido. Se não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia.
T.S. Eliot, um dos grandes poetas do século XX, afirma que “um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça”. E Paul Valéry fala sobre uma ausência sem preço durante a qual os elementos mais delicados da vida se renovam e, de algum modo, o ser se lava das obrigações pendentes, das expectativas à espreita… Uma espécie de vacuidade benéfica que devolve ao espírito sua liberdade própria.
Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. Bandeira conta, por exemplo, que demorou anos para terminar o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”.
Evidentemente, isso não significa que o poeta não faça coisa nenhuma. Mas o trabalho do poeta é muitas vezes invisível para quem o observa de fora. E tanto pode resultar num poema quanto em nada.
Assim, numa época em que “tempo é dinheiro”, a poesia se compraz em esbanjar o tempo do poeta, que navega ao sabor do poema. Mas o poema em que a poesia esbanjou o tempo do poeta é aquele que também dissipará o tempo do leitor, que se deleita ao flanar por linhas que mereçam uma leitura por um lado vagarosa, por outro, ligeira; por um lado reflexiva, por outro, intuitiva. É por essa temporalidade concreta, que se manifesta como uma preguiça fecunda, que se mede a grandeza de um poema.
(Adaptado de: CÍCERO, Antonio. A poesia e a crítica: Ensaios. Companhia das Letras, 2017, edição digital)
[Em torno da memória]
Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho. Se assim é, deve-se duvidar da sobrevivência do passado “tal como foi", e que se daria no inconsciente de cada sujeito. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um fato antigo, ela não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se.
O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre as imagens de um e de outro, e propõe a sua diferença em termos de ponto de vista.
(Adaptado de Ecléa Bosi. Lembranças de velhos. S. Paulo: T. A. Queiroz, 1979, p. 17)