A rota dos falsários
O primeiro derrame de dinheiro falso no Brasil, em grande
escala, teve como ponto central de distribuição o Rio Grande
do Sul. Isso aconteceu em meados do século XIX. No dia 10
de agosto de 1843, o Ministro da Fazenda Joaquim Francisco
Viana determinou, em ofício reservado, ao presidente do Rio
Grande do Sul, Barão de Caxias, que estabelecesse séria
vigilância sobre as cargas e os passageiros dos navios procedentes de Portugal.
Segundo informações seguras, lá estavam fabricando
dinheiro falso brasileiro em volumes assustadores. E esse
dinheiro estava sendo trazido para o Brasil pelos navios que
atracavam no porto de Rio Grande, evitando assim os rigores da alfândega do Rio de Janeiro.
Diante da delicada situação, as autoridades rio-grandenses trataram de montar um rigoroso esquema de vigilância.
Apesar dos esforços e da dedicação dos agentes fiscais,
nada se descobria nas cargas nem nos passageiros. Por
ordem oficial, os volumes eram abertos a bordo dos navios,
antes mesmo de serem descarregados. E os passageiros,
por sua vez, eram também revistados a bordo, minuciosamente.
Enquanto isso, o dinheiro falso continuava chegando ao
Rio Grande do Sul e daí se espalhando para o resto do Brasil.
Até então os fiscais concentravam as revistas somente nas
cargas sólidas, mas quando resolveram revistar também as
cargas líquidas tiveram uma tremenda surpresa. O dinheiro
falso estava chegando ao porto de Rio Grande dentro de
barris de vinho, acondicionado em latas vedadas com resina
e bem fixadas no fundo dos barris, para evitar que fossem
percebidas quando os barris eram sacudidos.
Apesar de ter sido descoberta a trapaça, os nomes dos
trapaceiros foram mantidos em sigilo, possivelmente para
preservar a imagem de alguns figurões da época. Aliás, um
procedimento ainda em voga nos dias de hoje.
(Eloy Terra, 550 anos: crônicas pitorescas da história do Brasil. Adaptado)