Questões de Português - Uso do ponto, do ponto de exclamação e do ponto de interrogação para Concurso
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Hoje, aos 88 anos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman é considerado um dos pensadores mais eminentes do declínio da civilização. Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta explicar a Luís A. Giron as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da informação.
L.A.G. − De acordo com sua análise, as pessoas vivem um senso de desorientação. Perdemos a fé em nós mesmos?
Zygmunt Bauman − Ainda que a proclamação do “fim da história” de Francis Fukuyama não faça sentido, podemos falar legitimamente do “fim do futuro”. Durante toda a era moderna, nossos ancestrais avaliaram a virtude de suas realizações pela crescente (genuína ou suposta) proximidade de uma linha final, o modelo da sociedade que queriam estabelecer. A visão do futuro guiava o presente. Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro, de modo que estamos mais descuidados, ignorantes e negligentes quanto ao que virá. Fomos repelidos pelos atalhos do dia de hoje.
L.A.G. − As redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede?
Bauman − As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que experimentamos quando estamos no mundo on-line da internet.
L.A.G. − Como o senhor vê a nova onda de protestos no Oriente Médio, nos Estados Unidos e na América Latina, que aumentou nos últimos anos?
Bauman − Se Marx e Engels escrevessem o Manifesto Comunista hoje, teriam de substituir a célebre frase inicial – “Um espectro ronda a Europa − o espectro do comunismo” − pela seguinte: “Um espectro ronda o planeta − o espectro da indignação”. Esse novo espectro comprova a novidade de nossa situação em relação ao ano de 1848, quando Marx e Engels publicaram o Manifesto. Faltam-nos precedentes históricos para aprender com os protestos de massa e seguir adiante. Ainda estamos tateando no escuro.
L.A.G. − O senhor afirma que as elites adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude?
Bauman − Em relação ao domínio das escolhas culturais, a resposta é que não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites renunciaram às ambições passadas de empreender uma missão iluminadora da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar tudo.
L.A.G. − Como diz o crítico George Steiner, os produtos culturais hoje visam ao máximo impacto e à obsolescência instantânea. Há uma saída para salvar a arte como uma experiência humana importante?
Bauman − Esses produtos se comportam como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas na sociedade dos consumidores. Uma vez que a busca pelo lucro continua a ser o motor mais importante da economia, há pouca oportunidade para que os objetos de arte cessem de obedecer à sentença de Steiner.
L.A.G. − Seus livros parecem pessimistas, talvez porque abram demais os olhos dos leitores. O senhor é pessimista?
Bauman − A meu ver, os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos... Mas acredito que essa classificação binária de atitudes não é exaustiva. Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria.
(Adaptado da entrevista de: GIRON, Luís Antônio, publicada na
revista Época. 19/02/2014. Disponível em http://epoca.globo.com)
Sondagem
O carteiro, conversador amável, não gosta de livros. Tornam pesada a carga matinal, que, na sua opinião, devia constituir-se apenas de cartas. – No máximo algum jornalzinho leve, mas esses pacotes e mais pacotes que o senhor recebe, ler tudo isso deve ser de morte!
Explico-lhe que não é preciso ler tudo isso, e ele muito se admira:
– Então o senhor guarda sem ler? E como é que sabe o que tem no miolo?
Esclareço que não leio de ponta a ponta, mas sempre leio algumas páginas.
– Com o devido respeito, mas quem lhe mandou o livro desejava que o senhor lesse tudinho.
– Bem, Teodorico, faz-se o possível, mas...
– Eu sei, eu sei. O senhor não tem tempo.
– É.
– Mas quem escreveu, coitado! Esse perdeu o seu latim, como se diz.
– Será que perdeu? Teve satisfação em escrever, esvaziou a alma.
A ideia de que escrever é esvaziar a alma perturbou meu carteiro, tanto quanto percebo em seu rosto magro e sulcado.
– Não leva a mal?
– Não levo a mal o quê?
– Eu lhe dizer que nesse caso carece prestar mais atenção ainda nos livros, muito mais! Se um cidadão vem à sua casa e pede licença para contar um desgosto de família, uma dor forte, dor-de-cotovelo, vamos dizer assim, será que o senhor não escutava o lacrimal dele?
– Teodorico, nem todo livro representa uma confissão do autor. E depois, no caso de ter uma dor moral, escrevendo o livro o camarada desabafa, entende? Pouco importa que seja lido ou
não, isso é outra coisa.
Ficou pensativo; à procura de argumento? Enquanto isso, eu meditava a curiosidade de um carteiro que se queixa de carregar muitos livros e ao mesmo tempo reprova que outros não os leiam integralmente.
– Tem razão. Não adianta mesmo escrever.
– Como não adianta? Lava o espírito.
– No meu fraco raciocínio, uma coisa nunca acontece sozinha nem acaba sozinha. Se a pessoa, vamos dizer, eu, só para armar um exemplo, se eu escrevo um livro, deve existir um outro
– o senhor, numa hipótese – para receber e ler esse livro. Mas se o senhor não liga a mínima, foi besteira eu fazer esse esforço.
– Teodorico! você... escreveu um livro?
Virou o rosto.
– De poesia, mas agora não adianta eu lhe oferecer um exemplar. Até segunda, bom domingo para o senhor.
– Escute aqui, Teodorico...
– Bem, já que o senhor insiste, aqui está o seu volume, não repare os defeitos, ouviu? Esvaziei bastante a alma, tudo não era possível!
(Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. 1959. Adaptado)
– Teodorico! você... escreveu um livro?
É correto afirmar que, no contexto, os sinais de exclamação
(!), reticências (...) e interrogação (?) contribuem para expressar uma reação de
I. As vírgulas da linha 21 isolam oração adverbial deslocada.
II. Na linha 23, o ponto poderia ser substituído por travessão, com a consequente troca de letra maiúscula por minúscula na palavra seguinte, sem causar problema para o sentido ou para a estrutura do período.
III. O ponto da linha 26 poderia ser substituído por dois-pontos sem causar problema para o sentido ou para a estrutura do período.
Quais estão corretas?
Adaptado de Alexís de Tocqueville. Um comicío em Londres - 19 de agosto de 1933. In:
TOCQUEVILLE. A. Igualdade Social e Liberdade Política. São Paulo: Nerman. 1988. p. 27-29.
1. Substituição do ponto e vírgula da linha 13 por vírgula.
II. Eliminação da vírgula da linha 13.
III. Substituição dos dois empregos de ponto e vírgula da linha 15 por vírgulas, e do ponto final da mesma linha por ponto e vírgula.
Quais delas conservam a correção e o sentido básico do trecho original?