Questões de Português - Uso dos dois-pontos para Concurso
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Leia o fragmento abaixo.
ZOO Dez animais para a ilha deserta: o gato, o cão, o papagaio, o peru, o sabiá, o burrinho, o vaga-lume, o esquilo e a borboleta. (Guimarães Rosa)
Sobre ele, assinale a alternativa que explica a utilização dos dois–pontos.
Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
POR POUCO
Eu estava a ponto de escrever alguma coisa sobre as pessoas que estão a ponto de tomar uma atitude definitiva e recuam – e recuei. Ia escrever sobre os que um dia, por pouco, quase, ali-ali, estiveram prestes a mudar sua vida mas não deram o passo crucial, mas não vou. Pena e comiseração para os que não deram o passo crucial.
Pena e comiseração para os que preferiram o pássaro na mão. Para os que não foram ser os legionários dos seus primeiros sonhos. Para os que hesitaram na hora de pular. Para os que pensaram duas vezes. Pena e comiseração para os que envelheceram tentando decidir o que iam ser quando crescessem. E para os que decidiram, mas na hora não foram.
Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido. Por fantasmas do irrealizado. Um cortejo de ressentimentos. Este aqui sou eu se tivesse decidido fazer aquele curso em Paris. Este outro sou eu se tivesse chegado um minuto antes no vestibular...
Olha que bom aspecto eu teria se tivesse aceito aquela nomeação. Veja o bigode. O corte decidido do cabelo. O olhar de quem é firme, mas justo com subalternos. A cintura ajustada. As mãos que não tremem. Elas me seguem por toda a parte, as minhas alternativas.
Você conhece muitos assim. Gente que cultiva suas oportunidades perdidas como outros guardam o próprio apêndice num vidrinho. E não perdem oportunidade de contar como foi a oportunidade perdida.
– Foi num jogo de pôquer. Tinha dois pares e não joguei. Quem ganhou tinha só um. A melhor mesa da noite. Milhões. Eu, hoje, seria outro.
– Fiz uma ponta naquele filme do Tarzã, mas cortaram a minha parte. Se tivessem me visto em Hollywood...
– Se eu tivesse dito sim...
– Se eu tivesse dito não...
– Se mamãe não tivesse interferido...
Uma vez fui fazer um teste no Fluminense. Abafei. Mas a família foi contra. Insistiu com a contabilidade. Eu, hoje, seria outro.
– Já tive a minha época de escritor, tá sabendo? Uns contos até razoáveis. Mas nunca me mexi. Hoje eles estão numa gaveta, sei lá.
– Você sabe que só não me elegi deputado, porque não quis?
– Eu, hoje, podia ser até primeiro-violino.
– Tudo porque eu não saí daqui quando devia.
Pena e comiseração para os que não saíram daqui quando deviam. Há quem diga que o passo crucial só pode ser dado uma vez e nunca mais. Tem a sua hora certa, e ela não volta. Bobagem, claro. Mas não para os que tiveram a sua hora e não aproveitaram. Os mártires do por pouco.
– Sei exatamente quando foi que eu tomei a decisão errada. Foi numa noite de Ano-Bom.
Você já ouviu a história várias vezes. Mas não pode impedi-lo de falar. O único divertimento que lhe resta é o que ele poderia ter sido. Os que não deram o passo crucial quando deviam estão condenados ao condicional. E tem a volúpia da própria frustração.
– Se eu tivesse aproveitado... Ela estava gamada. Gamadona. Filha da segunda fortuna do Brasil.
Da última vez que você ouviu a história, era a terceira fortuna do Brasil, mas tudo bem.
– Bobeei e babaus. Hoje, quando eu penso...
Você tenta ajudar
– Podia não ter dado certo. O pai dela não ia deixar. Um morto-de-fome como você...
– Morto-de-fome, porque eu não dei o passo crucial na hora que me ofereceram aquele negócio no Mato Grosso. Ia dar um dinheirão.
– Mas se você fosse para o Mato Grosso, não teria conhecido a menina na noite de Ano-Bom.
– Pois é. Agora é tarde. Sei lá.
Agora é tarde. As decisões erradas são irrecorríveis. Você o imagina cercado das suas alternativas. De um lado, casado com a, vá lá, primeira fortuna do Brasil. O último homem do Rio a usar echarpe de seda. Grisalho, mas ainda em forma com aquele tom de pele que só se consegue passando o dia na piscina do Copa, mas na sombra. Do outro lado, o próspero fazendeiro do Mato Grosso que pilota o seu próprio avião e tem rugas em torno dos olhos de tanto procurar o fim das suas terras no horizonte, ou de tanto rir dos pobres. E no meio, ele, a ponto de lhe pedir dinheiro emprestado outra vez. Triste, triste. Eu ia escrever uma boa crônica sobre tudo isso. Mas o assunto me fugiu, perdi a hora certa. Agora é tarde.
(VERÍSSIMO, L. Fernando. Ed Morte e outras histórias. Círculo do Livro.)
As três frases do trecho “Alguns passam a vida acompanhados pelo que podiam ter sido. Por fantasmas do irrealizado. Um cortejo de ressentimentos.” (3º parágrafo) poderiam ser redigidas num único período. Caso fosse feita essa opção, a redação com a pontuação adequada seria:
Atenção: As questões de números 1 a 10 baseiam-se no texto abaixo.
"Nenhum homem é uma ilha", escreveu o inglês John Donne em 1624, frase que atravessaria os séculos como um dos lugares-comuns mais citados de todos os tempos. Todo lugar- comum, porém, tem um alicerce na realidade ou nos sentimentos humanos – e esse não é exceção. Durante toda a história da espécie, a biologia e a cultura conspiraram juntas para que a vida humana adquirisse exatamente esse contorno, o de um continente, um relevo que se espraia, abraça e se interliga.
A vida moderna, porém, alterou-o de maneira drástica. Em certos aspectos partiu o continente humano em um arquipélago tão fragmentado que uma pessoa pode se sentir totalmente separada das demais. Vencer tal distância e se reunir aos outros, entretanto, é um dos nossos instintos básicos. E é a ele que atende um setor do mercado editorial que cresce a passos largos: o da autoajuda e, em particular, de uma autoajuda que se pode descrever como espiritual. Não porque tenha necessariamente tonalidades religiosas (embora elas, às vezes, sejam nítidas), mas porque se dirige àquelas questões de alma que sempre atormentam os homens. Como a perda de uma pessoa querida, a rejeição ou o abandono, a dificuldade de conviver com os próprios defeitos e os alheios, o medo da velhice e da morte, conflitos com os pais e os filhos, a frustração com as aspirações que não se realizaram, a perplexidade diante do fim e a dúvida sobre o propósito da existência. Questões que, como séculos de filosofia já explicitaram, nem sempre têm solução clara – mas que são suportáveis quando se tem com quem dividir seu peso, e esmagadoras quando se está só.
As mudanças que conduziram a isso não são poucas nem sutis: na sua segunda metade, em particular, o século XX foi pródigo em abalos de natureza social que reconfiguraram o modo como vivemos. O campo, com suas relações próximas, foi trocado em massa pelas cidades, onde vigora o anonimato. As mulheres saíram de casa para o trabalho, e a instituição da "comadre" virtualmente desapareceu. Desmanchou-se também a ligação quase compulsória que se tinha com a religião, as famílias encolheram drasticamente não só em número de filhos mas também em sua extensão. A vida profissional se tornou terrivelmente competitiva, o que acrescenta ansiedade e reduz as chances de fazer amizades verdadeiras no local de trabalho. Também o celular e o computador fazem sua parte, aumentando o número de contatos de que se desfruta, mas reduzindo sua profundidade e qualidade.
Perdeu-se aquela vasta rede de segurança que, é certo, originava fofoca e intromissão, mas também implicava conselhos e experiência, valores sólidos e afeição desprendida, que não aumenta nem diminui em função do sucesso ou da beleza. Essa é a lacuna da vida moderna que a autoajuda vem se propondo a preencher: esse sentido de desconexão que faz com que em certas ocasiões cada um se sinta como uma ilha desgarrada do continente e sem meios de se reunir novamente a ele.
(Isabela Boscov e Silvia Rogar. Veja, 2 de dezembro de 2009, pp. 141–143, com adaptações)
Considere as seguintes afirmativas, a respeito do emprego de sinais de pontuação no texto:
I. O emprego das aspas que isolam a 1a frase e a palavra "comadre" no 3o parágrafo tem o mesmo sentido em ambos os casos.
II. Os travessões que se encontram no 1o e no final do 2o parágrafo podem ser corretamente substituídos por vírgulas, sem alteração do sentido original.
III. O emprego dos dois-pontos no 2o e no final do último parágrafo sinaliza a introdução de segmentos que especificam a afirmativa imediatamente anterior a eles.
IV. O segmento isolado por parênteses no 2o parágrafo apresenta sentido contraditório no contexto, podendo ser inteiramente descartado, sem prejuízo do sentido textual.
Está correto o que se afirma APENAS em
O texto abaixo servirá de base para as questões de 01 a 20.
O pior cego
AO DELEGADO, o assaltante contou que estava apenas começando na carreira do
crime. E começando mal, tinha de reconhecer. Fracassara em sua primeira tentativa de
3 assalto e agora estava ali, na delegacia, prestes a curtir uma temporada na prisão. Mas
alguma coisa aprendera com o insucesso. Na verdade, duas coisas.
A primeira delas: facilidades são enganosas. Vendo o cego, achara que ali estava a
6 vítima ideal: um homem que caminhava com dificuldade, tateando o chão com sua
bengala. E que levava um celular preso à cintura, pedindo para ser arrebatado. Agora:
como poderia ele imaginar que um cego, e ainda por cima franzino, teria tamanha força
9 nos braços? E fora exatamente isso que acontecera: o cego o prendera num abraço
poderoso, que nada tinha de afetivo: queria apenas imobilizá-lo até que chegasse a
polícia.
12 Segunda coisa: fora um erro colocar o celular na cueca. Aliás, isso ele já deveria
saber, depois daquela experiência dos caras presos com um monte de dólares nas
cuecas. Um incidente que divertira todo o país e que poderia lhe ter servido de
15 advertência.
Esses erros ele não mais cometeria. Daí por diante, na senda do crime, manteria os
olhos bem abertos. Como dizia um vizinho seu, o pior cego é aquele que não quer ver. E o
18 vizinho seguramente sabia do que estava falando. Porque era cego e nunca fora
assaltado.
SCLIAR, Moacyr. Folha de São Paulo. Cotidiano. São Paulo, 07 de abril de 2008. Disponível em: <www.folhadesaopaulo.com.br>. Acesso em: 02 maio 2008.
Na linha 6, o uso dos dois-pontos serve para
Leia o seguinte trecho.
O planeta está mudando mais rapidamente do que esperavam até mesmo os indivíduos mais pessimistas: as calotas de gelo estão encolhendo e a área das zonas áridas está aumentando, em um ritmo aterrador.
A função dos dois pontos nesse trecho é