Questões de Concurso
Sobre variação linguística em português
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Leia atentamente o poema Lundu do escritor difícil, de Mário de Andrade, escritor brasileiro, para responder à questão.
Lundu¹ do escritor difícil
Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila²,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.
Cortina de brim caipora,
Com teia caranguejeira
E enfeite ruim de caipira,
Fale fala brasileira
Que você enxerga bonito
Tanta luz nesta capoeira
Tal-e-qual numa gupiara³.
Misturo tudo num saco,
Mas gaúcho maranhense
Que para no Mato Grosso,
Bate este angu de caroço
Ver sopa de caruru4 ;
A vida é mesmo um buraco,
Bobo é quem não é tatu!
Eu sou um escritor difícil,
Porém culpa de quem é!…
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber.
Bajé, pixé5 , chué6 , ôh “xavié”
De tão fácil virou fóssil,
O difícil é aprender!
Virtude de urubutinga7
De enxergar tudo de longe!
Não carece vestir tanga
Pra penetrar meu caçanje8 !
Você sabe o francês “singe”9
Mas não sabe o que é guariba?
— Pois é macaco, seu mano,
Que só sabe o que é da estranja10 .
ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Edição crítica de Diléa Zanotto Manfio. Belo Horizonte:Ed) Itatiaia, 2005.
1. Lundu: “Peça popular apenas cantada, de caráter brejeiro, derivada da dança do mesmo nome, muito em voga nos salões da sociedade colonial, a partir do século XIX, influindo em algumas formas do folclore brasileiro atual”. (Dicionário Michaelis Online)
2. Enquizila: Aquilo que provoca quizila, ou seja, “Sentimento de repulsa ou aversão por alguém ou algo, sem uma explicação racional; antipatia, ojeriza”. (Dicionário Michaelis Online)
3. Gupiara: “Depósito de cascalho em lugar elevado, acima do nível das águas”. (Dicionário Michaelis Online)
4. Sopa de caruru: Prato afro-brasileiro; entre os ingredientes, está o caruru, vegetal comestível.
5. Pixé: “Diz-se de comida queimada ou em que entrou fumaça”. (Dicionário Michaelis Online)
6. Chué: “Ordinário ou de pouco valor; apoucado, reles”. (Dicionário Michaelis Online)
7. Urubutinga: Espécie de urubu.
8. Caçanje: “Português malfalado ou mal escrito”. (Dicionário Michaelis Online)
9. Singe: Do francês, macaco.
10. Estranja: Relativo ao estrangeiro.
Leia atentamente as afirmações a seguir:
I – No próprio poema, Mário de Andrade identifica a solução para que os leitores não o considerem um escritor difícil: que falem e aprendam a “fala brasileira”.
II – No décimo verso, Mário de Andrade dá um conselho ao seu leitor, por meio do emprego do modo verbal imperativo.
III – Nos dois últimos versos, o escritor utiliza-se do discurso indireto para indicar o significado da palavra guariba
É (São) correta(s) a(s) afirmação (ões):
Quintanilha engendrou Gonçalves. Tal era a impressão que davam os dois juntos, não que se parecessem. Ao contrário, Quintanilha tinha o rosto redondo, Gonçalves comprido, o primeiro era baixo e moreno, o segundo alto e claro, e a expressão total divergia inteiramente. Acresce que eram quase da mesma idade. A ideia da paternidade nascia das maneiras com que o primeiro tratava o segundo; um pai não se desfaria mais em carinhos, cautelas e pensamentos.
(Machado de Assis. “Pílades e Orestes”. In: Os cem melhores contos brasileiros do século, p.63.)
I. Em “A ideia da paternidade nascia das maneiras com que o primeiro tratava o segundo”, considerando a totalidade do texto, tem-se um caso de coesão referencial. II. Os adjetivos empregados ao longo do texto evidenciam uma comparação entre os personagens. III. O texto é narrado em terceira pessoa e predomina a linguagem coloquial.
Pode-se afirmar que:
TEXTO 2
O garçom, o cão e os direitos humanos
A cena inusitada se deu em um restaurante. Eu acabara de pedir a conta e, enquanto esperava, fazia anotações em uma caderneta. O garçom, velho conhecido, me pergunta:
– E aí? Preparando uma reportagem?
– Não – eu disse, explicando que estava listando tópicos para um debate sobre direitos humanos para o qual fora convidado.
– Direitos humanos? Sou contra! – exclamou o garçom, com o cenho franzido.
Eu levei um susto. Perguntei a ele como alguém pode ser contra os direitos humanos. E só então percebi o tamanho do mal-entendido:
– Esse pessoal dos direitos humanos vive defendendo os bandidos sem se importar com as pessoas de bem!
A reação amarga e mal-humorada do garçom, sujeito boa-praça e brincalhão, é a prova de um tipo de corrupção que se tornou praga no Brasil: a da linguagem. A expressão "direitos humanos" foi destituída de seu sentido original para virar um aparato, um grupo, uma instituição – uma "coisa" talvez seja a palavra mais adequada – que existe "para ir lá e defender os bandidos".
[...] Eu trabalho com linguagem. Defendê-la contra sua distorção, portanto, é também uma tarefa minha como jornalista.
Imbuído dessa missão, e ciente de que precisava de mais e melhores argumentos para convencer meu amigo garçom de que ele estava sendo enganado pela corrupção da linguagem, peguei meu celular, dei uma busca no Google até achar uma conhecida charge do cartunista André Dahmer. Chamei meu camarada e mostrei o desenho: era um cachorrinho falando para outro simplesmente o seguinte: "sou contra os direitos dos animais!".
– Que cusco burro! – divertiu-se o garçom, de supetão, para depois cair em si e coçar a careca.
Paguei a conta e fui embora feliz de ter ao menos lhe deixado uma pulga atrás da orelha.
Marcelo Canellas. Disponível em: https://diariosm.com.br/cultura/cr%C3%B4nica-o-gar%C3%A7om-o-c%C3%A3o-e-os-direitos-humanos-1.2126493Acesso em: 10.08.19.
Observe os quadrinhos da tirinha abaixo para responder a questão.
Quintanilha engendrou Gonçalves. Tal era a impressão que davam os dois juntos, não que se parecessem. Ao contrário, Quintanilha tinha o rosto redondo, Gonçalves comprido, o primeiro era baixo e moreno, o segundo alto e claro, e a expressão total divergia inteiramente. Acresce que eram quase da mesma idade. A ideia da paternidade nascia das maneiras com que o primeiro tratava o segundo; um pai não se desfaria mais em carinhos, cautelas e pensamentos.
(Machado de Assis. “Pílades e Orestes”. In: Os cem melhores contos brasileiros do século, p.63.)
I. Em “A ideia da paternidade nascia das maneiras com que o primeiro tratava o segundo”, considerando a totalidade do texto, tem-se um caso de coesão referencial. II. Os adjetivos empregados ao longo do texto evidenciam uma comparação entre os personagens. III. O texto é narrado em terceira pessoa e predomina a linguagem coloquial.
Pode-se afirmar que:
Leia o texto abaixo para responder à questão.
A VEZ DA PRETINHA
Uma passista contra o preconceito
LUIZA MIGUEZ
“Ladies and gentlemen, it’s time!”, anunciou o mestre de cerimônias, num inglês tão fluente quanto espirituoso. Era a deixa para que dezenas de mãos ligassem as câmeras dos celulares e se erguessem na plateia. Gingando com delicadeza, moças bonitas e atléticas entraram em cena e, perfiladas, se deslocaram vagarosamente até o centro do palco. Algumas vestiam roupas curtas. Outras preferiam figurinos mais comportados. Todas se equilibravam em cima de saltos altíssimos.
Quando os percussionistas aceleraram o ritmo, as jovens rebolaram freneticamente. Naquela madrugada de domingo, cerca de 4 mil pessoas lotavam a quadra do Salgueiro, na Zona Norte carioca. A tradicional escola de samba ensaiava para o Carnaval de 2018. Às margens do palco, entusiasmado com as passistas, um rapaz mostrou os pelos do braço ao amigo do lado e disse: “Caraca! Arrepiei!”
O mestre de cerimônias, igualmente empolgado, disparou no microfone: “Que é isso, pretinha? Assim você mata o papai!” Não se referia a nenhuma dançarina em particular. Falava do grupo inteiro, como se admirasse uma única mulher. “Rafaela!”, gritou outro rapaz na plateia, enquanto apontava a câmera para a negra de 28 anos, que trajava um macacão salpicado de purpurina e ostentava longas tranças. Ela retribuiu o chamado com um requebro sensual e um olhar debochado.
Nascida no bairro do Andaraí, também na Zona Norte do Rio de Janeiro, Rafaela Dias é passista do Salgueiro há mais de duas décadas e já escutou muita gracinha dos espectadores masculinos. Aprendeu a rechaçá-las com desenvoltura, mas nem por isso as considera aceitáveis. Não bastasse, frequentemente enfrenta situações racistas. Quando tinha 17 anos, por exemplo, namorava um homem mais velho e branco. Certa noite, assim que chegou a um salão de festas, o casal ouviu alguém comentar: “Lá vai a mulata dar um golpe no gringo.” Depois do episódio, sempre que encontrava o namorado em lugares públicos, Dias evitava usar salto alto ou maquiagem. Temia que a confundissem com uma prostituta. Em outra ocasião, preparava-se para conceder entrevista numa rádio, junto de várias colegas, a maioria universitária. “Ué, passista agora estuda?”, perguntou uma funcionária da emissora, sem o menor constrangimento. De quebra, emendou: “E vocês são todas escurinhas, né?”
Justamente com a intenção de debater o racismo e o machismo é que Dias decidiu fundar o coletivo Samba Pretinha. Mais três dançarinas do Salgueiro participaram da iniciativa: a cientista social Sabrina Ginga, a estudante de pedagogia Larissa Reis e a graduanda em medicina Mirna Moreira. Desde 2016, as quatro organizam rodas de discussão no próprio Salgueiro e em outras escolas do Rio, como a Paraíso do Tuiuti. Falam principalmente para as mulheres, embora não rejeitem a presença de homens. A ideia é mostrar de que maneira os preconceitos de cor e gênero se manifestam no universo carnavalesco e quais os caminhos para combatê-los, inclusive em termos legais.
Logo no primeiro debate, o Samba Pretinha se viu diante de uma saia justa. Um dos dirigentes do Salgueiro louvou o grupo e se declarou “branco de alma negra”. Uma jovem que estava na roda de conversa protestou e assinalou a incorreção política da frase. Nenhum branco, afinal, pode saber o que um negro sente e vice-versa. Irritado, o dirigente cogitou suspender o evento, mas recuou.
Leia o Texto V para responder à questão.
Leia o Texto III para responder à questão.
Vantagens da unificação ortográfica
A passagem abaixo faz parte de uma entrevista do filósofo Mario Sergio Cortella à revista Crescer.
BARROS, Daniel. Gênero, brilhantismo e esforço. Galileu. São Paulo, Editora Globo, Nº 333, mar. 2019. p.71 [Adaptado]
Leia, com atenção, a tirinha a seguir.
https://www.google.com
Na tirinha acima, encontramos a seguinte variação linguística:
TEXTO III
Solidariedade no Frio
Costurei um agasalho, com tecido de amor,
a linha da caridade foi o fio condutor.
Agulhas de compaixão, estampas de gratidão.
Fiz um bolso aqui no peito e enchi ele de bondade,
pra vestir a humanidade que no fundo ainda tem jeito.
Tem jeito pra se ajeitar, basta ser mais solidário.
Pra fazer um mundo novo, transformando esse cenário
olhe além da sua porta, pra vê se você suporta
assistir indiferente quem dorme no meio da rua,
coberto só pela lua sem ter um teto decente.
[...]
Tem jeito pra se ajeitar, basta tu compreender
que quando se ajuda alguém, o ajudado é você,
é você quem ganha paz, é você quem ganha mais,
mais amor, mais gratidão.
Doando um cobertor, derretendo o frio da dor
E aquecendo um coração.
(In: Poesia com Rapadura de Bráulio Bessa, 1a ed., 2017)
O cordel acima, TEXTO III, faz uso de deslocamentos semânticos bem como de licença
poética, propriedades inerentes à arte literária, com o propósito, entre outros, de assegurar
o ritmo, característico do gênero. Para isso, encontramos junto ao texto usos linguísticos
que, em outros gêneros, de natureza mais formais, como cartas comerciais, resenhas
acadêmicas, não seriam apropriados. A questão versará sobre a adequação
desses usos.
TEXTO II
Fonte: http://www.ateliedasletras.com.br/2010/11/variacao-linguistica.html
Na tirinha acima, deparamo-nos com uma variedade linguística que faz uso do fonema [R]
em vez do fonema [l], o que, linguisticamente, é explicável frente à proximidade articulatória
de ambas as consoantes. O fenômeno da troca em contexto pós-vocálico já é descrito desde
há muito. Em 1919, no Compêndio de gramática histórica portuguesa, de Joaquim Nunes, o
autor destaca isso, ao dar os seguintes exemplos, verificados na língua popular: “azur”
(azul), “corchão” (colchão), “sordado” (soldado) etc. Tudo isso apoia a produtividade desse
uso em algumas variedades do português brasileiro.