FRAGMENTO DE CRÔNICA DE RUBEM BRAGA
Assim o amigo que volta de longe vem rico de muitas coisas e sua conversa é prodigiosa de riqueza; nós também
desejamos nosso saco de emoções e novidades; mas para
um sentir a mão do outro precisam se agarrar ambos a
qualquer velha besteira: você se lembra daquela tarde em
que tomamos cachaça num café que tinha naquela rua
e estava lá uma loura que dizia, etc., etc. Então já não se
trata mais de amizade, porém de necrológio. Sentimos
perfeitamente que estamos falando de dois outros sujeitos, que, por sinal, já faleceram -- e eram nós.
(Fonte: BRAGA, R. 200 crônicas escolhidas.
Rio de Janeiro: Record, 1992.)