Feliz dia, pai!
Meu pai não faz churrasco. Também
não cozinha um ovo. Não é força de
expressão, é real mesmo. Se ele tentar fazer
torrada, é capaz de esquecer que tem que
ligar a torradeira na tomada. É bem possível
que nem o café com leite ele acerte, deve errar
na proporção.
Ele sempre foi o cara da estrutura, que
faz as compras, prepara o ambiente para o
pessoal chegar, coloca música. Em bebidas,
meu pai é ótimo. Não tem quem faça caipira
melhor do que ele, mesmo que seus carroschefes sejam o Campari e a gin tônica.
Ele é a pessoa mais educada e sensível
que eu conheço, se existe uma unanimidade
nesse mundo, é o meu pai. Isso tudo torna
qualquer ambiente em que ele esteja um lugar
ainda mais agradável e inesquecível. Algumas
das minhas memórias mais legais, relativas a
grandes jantares e tudo mais, foram na minha
casa, utilizando-se de toda essa cancha do
velho. A imagem é sempre a mesma: ele atrás
do bar, fazendo drinks para os convidados,
enquanto observa como está o nível de
bebida nos copos, de forma que jamais
estejam vazios.
Ou seja, ele virou pai sem deixar de ser
o cara que sempre foi. E esse é um primeiro
grande aprendizado.
Lógico que hoje em dia o pique nem é
mais o mesmo, a agenda de encontros é cada
vez menor e o maior apetite atualmente é por
receber todos os netos em casa. Muda o
público, mas não o cacoete da hospitalidade.
Chegando lá, a lareira está sempre acesa, os
brinquedos das crianças à disposição, a mesa
de jantar lindíssima e uma outra de centro na
sala de estar com várias entradinhas para
todos os gostos.
Esse bastão já tá trocando de mão. É a
minha hora de pôr em prática todos os
ensinamentos e o exemplo para que,
finalmente, ele possa relaxar e curtir como
convidado, não mais como anfitrião.
Agora, o maior aprendizado de toda essa
relação é perceber que ser pai não é só cuidar
diretamente, mas dar atenção aos detalhes
que nós, os filhos, só vamos entender quando
chegar a nossa vez.
Fonte: Diogo Carvalho. In: Jornal Zero Hora,
Caderno Destemperados. 9/08/2019, página 2.