Questões de Concurso Público SEDU-ES 2016 para Professor - Língua Portuguesa

Foram encontradas 40 questões

Q635984 Português

              Documentos sobre Shakespeare 'vândalo' são abertos ao público

      Em 1596, William Shakespeare e seus atores tiveram de deixar o teatro isabelino The Theatre, localizado em Shoreditch, em Londres, até então o recanto da dramaturgia inglesa. O período de 21 anos de concessão do terreno ao ator e empresário James Burbage havia chegado ao fim, e o senhorio exigia as terras de volta. Desolados, Shakespeare e os homens de sua companhia, Lord Chamberlain's Men, se uniram para roubar o teatro − tábua por tábua, prego por prego − e reconstruí-lo em outro lugar.

      A história ocorrida em 28 de dezembro de 1598 não é inédita e consta em diversas biografias de Shakespeare. Agora, contudo, chegou o momento de ouvir o outro lado da ação: a justiça. De acordo com a transcrição do processo judicial de 1601, Shakespeare, seus atores e amigos (incluindo Burbage) foram "violentos" em uma ação "desenfreada" que destruiu o The Theatre. O documento diz que o dramaturgo e seus cúmplices estavam armados com punhais, espadas e machados, o que causou "grande distúrbio da paz" e deixou testemunhas "aterrorizadas".

      Até então guardado em segurança pelo National Archive, o arquivo do Reino Unido, o documento é uma das peças que serão exibidas ao público no centro cultural londrino Somerset House, a partir de fevereiro de 2016, ano em que se completam quatro séculos da morte do Bardo.

(VIANA, Rodolfo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/12/1718868-documentos-sobre-shakespeare-vandalo-saoabertos-ao-publico.shtml. Acesso em 16/12/2015) 

No gênero notícia, verifica-se que a principal função da linguagem, segundo JAKOBSON (1963), é a
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Q635985 Português

              Documentos sobre Shakespeare 'vândalo' são abertos ao público

      Em 1596, William Shakespeare e seus atores tiveram de deixar o teatro isabelino The Theatre, localizado em Shoreditch, em Londres, até então o recanto da dramaturgia inglesa. O período de 21 anos de concessão do terreno ao ator e empresário James Burbage havia chegado ao fim, e o senhorio exigia as terras de volta. Desolados, Shakespeare e os homens de sua companhia, Lord Chamberlain's Men, se uniram para roubar o teatro − tábua por tábua, prego por prego − e reconstruí-lo em outro lugar.

      A história ocorrida em 28 de dezembro de 1598 não é inédita e consta em diversas biografias de Shakespeare. Agora, contudo, chegou o momento de ouvir o outro lado da ação: a justiça. De acordo com a transcrição do processo judicial de 1601, Shakespeare, seus atores e amigos (incluindo Burbage) foram "violentos" em uma ação "desenfreada" que destruiu o The Theatre. O documento diz que o dramaturgo e seus cúmplices estavam armados com punhais, espadas e machados, o que causou "grande distúrbio da paz" e deixou testemunhas "aterrorizadas".

      Até então guardado em segurança pelo National Archive, o arquivo do Reino Unido, o documento é uma das peças que serão exibidas ao público no centro cultural londrino Somerset House, a partir de fevereiro de 2016, ano em que se completam quatro séculos da morte do Bardo.

(VIANA, Rodolfo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/12/1718868-documentos-sobre-shakespeare-vandalo-saoabertos-ao-publico.shtml. Acesso em 16/12/2015) 

Nesse texto, observa-se que os responsáveis pelo ato de vandalismo são renomeados: “William Shakespeare e seus atores”; “Shakespeare e os homens de sua companhia”; “Shakespeare, seus atores e amigos”; “o dramaturgo e seus cúmplices”.

Entende-se que, nesse caso, a progressão textual (KOCK, 1994) se dá por recorrência de

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Q635986 Português

              Documentos sobre Shakespeare 'vândalo' são abertos ao público

      Em 1596, William Shakespeare e seus atores tiveram de deixar o teatro isabelino The Theatre, localizado em Shoreditch, em Londres, até então o recanto da dramaturgia inglesa. O período de 21 anos de concessão do terreno ao ator e empresário James Burbage havia chegado ao fim, e o senhorio exigia as terras de volta. Desolados, Shakespeare e os homens de sua companhia, Lord Chamberlain's Men, se uniram para roubar o teatro − tábua por tábua, prego por prego − e reconstruí-lo em outro lugar.

      A história ocorrida em 28 de dezembro de 1598 não é inédita e consta em diversas biografias de Shakespeare. Agora, contudo, chegou o momento de ouvir o outro lado da ação: a justiça. De acordo com a transcrição do processo judicial de 1601, Shakespeare, seus atores e amigos (incluindo Burbage) foram "violentos" em uma ação "desenfreada" que destruiu o The Theatre. O documento diz que o dramaturgo e seus cúmplices estavam armados com punhais, espadas e machados, o que causou "grande distúrbio da paz" e deixou testemunhas "aterrorizadas".

      Até então guardado em segurança pelo National Archive, o arquivo do Reino Unido, o documento é uma das peças que serão exibidas ao público no centro cultural londrino Somerset House, a partir de fevereiro de 2016, ano em que se completam quatro séculos da morte do Bardo.

(VIANA, Rodolfo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/12/1718868-documentos-sobre-shakespeare-vandalo-saoabertos-ao-publico.shtml. Acesso em 16/12/2015) 

No texto, a função dos travessões em “− tábua por tábua, prego por prego −” é destacar
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Q635987 Português

Considere as seguintes proposições:

I. VARGAS, em Verbo e práticas discursivas (2011) explica que um fenômeno recente no português é o uso de “construções com o verbo ir no presente, acompanhado do verbo estar e de uma forma de gerúndio, dando origem ao que se convencionou chamar de ‘gerundismo’”. Para a autora “os usos das formas verbais e suas respectivas marcas de subjetividade, de temporalidade e de aspectualidade são verdadeiras operações de produção de sentido, que envolvem sujeitos situados nas mais variadas circunstâncias de interação social”.

II. ABREU (2003) alerta que construções denominadas “gerundismo” envolvendo futuro + gerúndio justificam-se “apenas quando a ação do verbo apresentar aspecto durativo”.

III. FIORIN (2011) explica que “quando uma forma linguística atende a uma necessidade de comunicação, ela se difunde. Eis o caso do gerundismo. Os operadores de telemarketing descobriram que era útil. Porque soa como uma forma polida de falar, tal como o futuro do pretérito é usado por quem quer ser gentil, e dá uma ideia de descompromisso e desobrigação: ‘vou estar enviando’ não é tão afirmativo quanto ‘vou enviar’”.

O enunciado em que o emprego das formas verbais com gerúndio está correto por ter aspecto durativo prolongado é

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Q635988 Português

Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal.

(SARAMAGO, José. Disponível em: http://josesaramago.blogs.sapo.pt/95061.html . Acesso em 23/03/2014)

No texto acima, verifica-se que o emprego da preposição em “a 18” é indicativo da variedade linguística

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Q635989 Português

Assim, a expressão norma culta deve ser entendida como designando a norma linguística praticada, em determinadas situações (aquelas que exigem certo grau de formalidade), por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura escrita, em especial por aquela legitimada historicamente pelos grupos que controlam o poder social. [...] A cultura escrita, associada ao poder social, desencadeou também, ao longo da história, um processo fortemente unificador, que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse processo, a essa norma estabilizada, costumamos dar o nome de norma-padrão ou língua padrão.

(FARACO, 2002, p.40)

Depreende-se da leitura do texto que a

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Q635990 Português

BAKHTIN, em Estética da Criação Verbal, explica que: “O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo de atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. [...] Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso”.

Depreende-se do texto que, na caracterização de um gênero discursivo, deve-se considerar, principalmente,

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Q635991 Português

AquiÁfrica

Treze artistas contemporâneos da chamada África Subsaariana − que compreende países ao sul do Deserto do Saara, como Nigéria, Camarões, Congo e Angola − abordam em suas obras questões sobre imigração, xenofobia, sistemas de poder e tradições culturais. A mostra faz parte do projeto Art for the World, da curadora suíça Adelina von Fürstenberg, que aborda os direitos humanos em exposições de arte.

Sesc Belenzinho. Rua padre Adelino, 1000, Belenzinho. Terça a sexta, 13h às 21h; sábado, domingo e feriados, 11h às 19h. Grátis. Até 28 de fevereiro de 2016.

(Exposições. Veja São Paulo. 30 dez. 2015, p. 62)

Esse texto é

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Q635992 Português

      A maioria dos países da América Latina, incluindo o Brasil, só começou a montar seu sistema escolar quando em muitas outras nações do mundo já existiam universidades bem estruturadas e de qualidade. Mesmo assim, era um privilégio para poucos. Apenas nos anos 1970 e 1980 começou na América Latina a discussão sobre a educação ser um direito de todos. Mas claramente ainda nos falta a percepção moderna de que esse é um fator estratégico para o avanço. Se buscamos uma sociedade ancorada no conhecimento, tudo, absolutamente tudo, deve se voltar para a escola.

                                                            (TORO, Bernardo. Veja, 18 nov. 2015, p.17) 

Em relação aos modos de organização textual, esse texto apresenta, em sequência, a
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Q635993 Português

      A maioria dos países da América Latina, incluindo o Brasil, só começou a montar seu sistema escolar quando em muitas outras nações do mundo já existiam universidades bem estruturadas e de qualidade. Mesmo assim, era um privilégio para poucos. Apenas nos anos 1970 e 1980 começou na América Latina a discussão sobre a educação ser um direito de todos. Mas claramente ainda nos falta a percepção moderna de que esse é um fator estratégico para o avanço. Se buscamos uma sociedade ancorada no conhecimento, tudo, absolutamente tudo, deve se voltar para a escola.

                                                            (TORO, Bernardo. Veja, 18 nov. 2015, p.17) 

Considere as seguintes proposições:

I. PERINI, em Gramática do Português Brasileiro (2010), explica que a “concessão é algo como uma consideração que diminui a força de um argumento dado”.

II. CASTILHO, em Nova Gramática do Português Brasileiro (2010) pondera que as orações concessivas, “discursivamente, alteram o eixo argumentativo”.

III. CUNHA e CINTRA, em Nova gramática do português contemporâneo (2008), explicam que a oração concessiva admite “um fato contrário à ação principal, mas incapaz de impedi-la”.

É exemplar dessas ponderações a oração do texto iniciada por:

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Q635994 Português

Estava à toa na vida meu amor me chamou

Pra ver a banda passar tocando coisas de amor.

(HOLANDA, Chico Buarque de. A Banda, 1966)

A ocorrência de crase na locução “à toa” no texto explica-se como

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Q635995 Português
Na língua portuguesa, a grafia de certas palavras pode ser justificada pela sua origem. Assim, o emprego de j em palavras, tais como as destacadas em − Não gosto de jiló. / A jiboia é uma enorme cobra brasileira. /O jerico empacou no meio da estrada. − é explicado pela origem
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Q635996 Português

O inventário dos prejuízos sociais e ambientais ainda está apenas começando, mas, de acordo com especialistas, os ecossistemas atingidos estão irreversivelmente comprometidos.

(CASTRO, Fábio de; RIBEIRO, Bruno; CARVALHO, Marco Antônio. Enxurrada de lama tira vida dos ecossistemas. O Estado de S. Paulo, 15 nov. 2015, p. A25)

A reescrita em que a alteração na ordem das palavras mantém o sentido do enunciado e em que está correta a pontuação é:

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Q635997 Português

De cima, a água laranja do Rio Doce parece estática. A lama de rejeitos se move a cerca de 1,2 quilômetro por hora desde o dia 5, quando aconteceu a tragédia, e vai percorrer toda a calha de 853 quilômetros entre o município de Rio Doce, em Minas, até Regência, vila do município de Linhares, no Espírito Santo, onde encontra o Oceano Atlântico. A expectativa é que a onda atinja o oceano neste fim de semana, levando mais problemas de abastecimento a cidades capixabas.

(CASTRO, Fábio de; RIBEIRO, Bruno; CARVALHO, Marco Antônio. Enxurrada de lama tira vida dos ecossistemas. O Estado de S. Paulo, 15 nov. 2015, p. A25)

Segundo a classificação de tópico frasal e de desenvolvimento de parágrafo proposta por GARCIA, em Comunicação em Prosa Moderna (2002), a construção desse parágrafo dá-se, respectivamente, por

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Q635998 Português

GARCIA (2003) aponta que o paralelismo sintático e semântico remete à lógica da correlação e associação de ideias, por isso sua ausência pode provocar incoerência. No entanto, autores de várias épocas usaram-na com propósito estilístico.

O enunciado que corresponde a essa asserção é:

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Q635999 Português
Segundo KOCH e TRAVAGLIA (1995), “a coerência não é apenas uma característica do texto, mas depende fundamentalmente da interação entre o texto, aquele que o produz e aquele que busca compreendê-lo”. Nesse sentido, para os autores, a coerência está relacionada
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Q636000 Português
No segundo quadrinho, o uso do futuro do pretérito, da pontuação interrogativa e dos processos sintáticos de coordenação e de subordinação resulta em um enunciado que expressa
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Q636001 Português
Em relação aos enunciados dos quadrinhos, a conjunção “ou” introduz, no quarto quadrinho,
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Q747822 Português

Medo da eternidade

    Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. 
    Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas. 
    Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: 
    − Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira. 
    − Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa. 
    − Não acaba nunca, e pronto. 
    Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual eu já começara a me dar conta. 
    Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca. 
    − E agora que é que eu faço? − perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver. 
    − Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. 
    Perder a eternidade? Nunca. 
    O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola. 
    − Acabou-se o docinho. E agora? 
    − Agora mastigue para sempre. 
    Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. 
    Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava era aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. 
    Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. 
    − Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! 
    − Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá. 
    Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

06 de junho de 1970

(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo – crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p.289-91)

Ainda que se saiba da liberdade com que Clarice Lispector lidava com esse gênero, pode-se assegurar que Medo da eternidade é uma crônica na medida em que se trata
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Q747825 Português

Medo da eternidade

    Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade. 
    Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas. 
    Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: 
    − Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira. 
    − Como não acaba? – Parei um instante na rua, perplexa. 
    − Não acaba nunca, e pronto. 
    Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual eu já começara a me dar conta. 
    Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca. 
    − E agora que é que eu faço? − perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver. 
    − Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. 
    Perder a eternidade? Nunca. 
    O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola. 
    − Acabou-se o docinho. E agora? 
    − Agora mastigue para sempre. 
    Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito. 
    Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava era aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar. 
    Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia. 
    − Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! 
    − Já lhe disse, repetiu minha irmã, que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá. 
    Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso. Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

06 de junho de 1970

(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo – crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p.289-91)

Atente para as afirmações abaixo.

I. Em Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade (1º parágrafo), os adjetivos empregados para qualificar esse contato visam estabelecer um contraste com os acontecimentos que serão efetivamente narrados, deixando entrever a sugestão da autora de que esses fatos, aparentemente importantes, seriam na verdade banais e corriqueiros. II. Em Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita (15º parágrafo), a repetição do verbo “mastigar”, cujo início ecoa ainda na conjunção Mas que inicia a frase seguinte, busca sugerir no campo da própria expressão o que havia de repetitivo nessa atividade e o aborrecimento que já advinha do mascar da goma insossa. III. Em – Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. Agora não posso mastigar mais! A bala acabou! (18º parágrafo), o reiterado emprego do sinal de exclamação sugere o exagero próprio do fingimento.

Está correto o que se afirma APENAS em

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Respostas
21: E
22: B
23: A
24: B
25: D
26: C
27: C
28: A
29: E
30: C
31: A
32: B
33: D
34: C
35: E
36: A
37: B
38: D
39: B
40: E