Questões de Concurso Público SEDU-ES 2016 para Professor - Língua Portuguesa
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E é justamente pelo lirismo reflexivo que Rubem Braga, capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, ocupa um lugar de destaque na história da literatura brasileira contemporânea: corajosamente ele só tem publicado crônicas, mesmo que em uma delas confesse ter escrito um soneto “para enfrentar o tédio dos espelhos”. Sua opção é ainda mais corajosa porque, vivendo num país de frases bombásticas, ele cumpre a principal característica do escritor: o despojamento verbal, que implica uma construção ágil, direta, sem adjetivações.
(SÁ, Jorge de. A crônica. São Paulo: Ática, 1987, p. 13. Fragmento)
O “despojamento verbal, que implica uma construção ágil, direta, sem adjetivações” também se observa no seguinte comentário sobre Braga:
As enchentes de minha infância
Rubem Braga
Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.
Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.
Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.
(BRAGA, Rubem. As enchentes de minha infância. In: Ai de ti, Copacabana. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962, p. 157)
As enchentes de minha infância
Rubem Braga
Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio.
Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo.
Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo – aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes.
(BRAGA, Rubem. As enchentes de minha infância. In: Ai de ti, Copacabana. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962, p. 157)
Segundo FIORIN, em Polifonia Textual e Discursiva (1999), “a intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo. Há de haver três processos de intertextualidade: a citação, a alusão e a estilização. [...] A estilização é a reprodução dos procedimentos do ‘discurso de outrem’, isto é, do estilo de outrem”, em geral, com “função polêmica”.
Considere o contexto de produção dos enunciados a seguir para identificar aquele em que ocorre o processo de estilização.
O locutor pode indicar diferentes pontos de vista em uma asserção, atribuindo sua responsabilidade a outro enunciador. Para isso, pode utilizar-se da negação, de marcadores de pressuposição, do emprego de verbos que indiquem mudança ou permanência de estado, de certos operadores argumentativos, do futuro do pretérito com valor de metáfora temporal.
Essa definição de KOCH, BENTES e CAVALCANTE (2008) corresponde ao conceito de