Inacessibilidade como expressão de luxo
Uma crescente minoria adere a um contramovimento comportamental que prega o monotasking como a solução para uma vida mais linear
Capacidade de foco e contemplação é uma característica
pouco presente nesta geração, que cresceu em um
contexto multitasking e tem como comportamento
vigente a ausência de linearidade. Isso é um reflexo da
internet: navegar entre abas, abertas às dezenas, é tão
natural quanto monitorar o cotidiano através de fotos,
check-ins e updates.
É um constante esforço coletivo em marcar presença
e sentir-se presente. O abuso dessas ferramentas
de registro gera dependência e promove o desfoque,
mesmo que não intencionalmente.
Todos sabemos disso. Mas todos seguimos fazendo
isso.
Porém essas interrupções têm sido evitadas por uma
crescente minoria, convencida de que criatividade
e atenção são irmãs siamesas. Hoje observa-se
um contramovimento comportamental que prega o
monotasking como a solução para uma vida com mais
memórias, saúde e dedicação. O presente passa a ser
revalorizado pelo agora, e não pelo registro que deixou.
Nessa lógica, filmar sua música favorita durante um show
faz tão pouco sentido quanto fotografar sua comida.
O não registro, a contemplação, o detox digital e
o monotasking entram em cena para propor uma
revalorização do momento.
Mas como conseguir focar vivendo em um mundo onde
janelas têm abas? Singelas soluções têm surgido.
Tabless thursday é uma proposta da revista The Atlantic
que sugere a quinta-feira como o dia em que você só
poderá abrir uma aba do seu navegador
Na internet, serviços do tipo “leia depois” têm se
popularizado. Eles contribuem com o monotasking ao
permitir que se deixe para mais tarde aquilo que tira a
atenção do agora.
[...]
Quando só a urgência é capaz de captar a atenção,
é hora de rever se o FOMO (sigla para Fear Of Missing
Out, que é o medo de estar por fora, de não aproveitar
o que você poderia estar aproveitando, o que gera
ansiedade) ainda é capaz de assustar. Estamos em
todos os lugares parcialmente e em nenhum lugar
totalmente. Em um tempo de realidades infinitas e
possíveis, a onipresença cede espaço para o foco. As
melhores coisas acontecem apenas uma vez.
BIZ, Eduardo. Inacessibilidade como expressão de luxo. Ponto
Eletrônico. Disponível em: .
Acesso em: 15 fev. 2016 (Adaptação).