CHUVA
Agosto chegou ao fim. Setembro entrou feio, seco de
águas; o Sol peneirando chispas num céu cor de cinza; a
luminosidade tão intensa que trespassava as montanhas,
descoloria-as, fundia-as na atmosfera espessa e vibrante.
Os homens espiavam, de cabeça erguida, interrogavam-se
em silêncio. Com ansiedade, jogavam os seus
pensamentos, como pedras das fundas, para o alto. Nem
um fiapo de nuvem pairava nos espaços. Não se enxergava
um único sinal, desses indícios que os velhos sabem ver
apontando o dedo indicador, o braço estendido para o céu,
e se revelavam aos homens como palavras escritas.”
In: LOPES, Manuel. Flagelados do Vento Leste. Portugal, Vega,
1991.