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AS MULHERES E AS GUERRAS
Estados em que mulheres viviam oprimidas apresentavam índices mais altos de prisioneiros políticos, assassinatos,
desaparecimentos. Veja artigo sobre mulheres e guerras. A condição social das mulheres guarda relação direta com as
guerras. Esse é o tema de uma revisão científica publicada pela revista “Science”.
Desde os primórdios da humanidade, os homens se matam nas batalhas. Esqueletos desenterrados de cavernas pré-históricas
exibem mais fraturas na cabeça, quando pertencem ao sexo masculino. No entanto, identificar e separar fatores biológicos
daqueles culturais envolvidos na gênese da violência, é tarefa intelectual de alta complexidade. Até a década de 1990, os
estudos ressaltavam que o subdesenvolvimento, a falta de democracia, a existência de um grande número de jovens
desempregados e o nacionalismo estavam por trás dos conflitos armados. Em 2000, Mary Caprioli, da Universidade de
Minnesota, surpreendeu os especialistas ao publicar um trabalho, no qual relacionava a posição subalterna da mulher na
sociedade com as revoluções e as guerras entre os países.
A afirmação enfrentou reações acaloradas, porque contrariava o conceito clássico de que o sexo feminino estaria associado
à maternidade e à vida em paz por razões evolutivas e por imposições biológicas, como a baixa produção de testosterona.
Um dos principais críticos, Erik Melander, da Universidade de Upsala, decidiu testar essa hipótese a partir de uma avaliação
do status feminino em diversas sociedades, que levava em conta o sexo da maior liderança do país, a proporção de mulheres
no Legislativo e o número delas com acesso ao ensino superior.
Para sua surpresa, os resultados não foram diferentes. Estados em que as mulheres viviam oprimidas apresentavam índices
mais altos de prisioneiros políticos, assassinatos, desaparecimentos e maior risco de envolvimento em guerras civis e
internacionais. O problema metodológico com esses estudos é que não comprovam a relação de causa e efeito. A
desigualdade entre os sexos poderia ser simples consequência de outros fatores ligados ao comportamento violento:
pobreza, baixo nível educacional, fanatismo religioso e atraso cultural.
Sociedades em que as minorias são discriminadas têm maior probabilidade de envolver-se em guerras externas e internas.
No livro “War and Gender” (Guerra e Gênero) o professor americano Joshua Goldwin abordou o seguinte aspecto: embora
existam diferenças biológicas que mantêm a mulher afastada dos campos de batalha — como os cuidados com a prole –,
elas sempre interagem com os valores culturais. Segundo ele, os níveis de testosterona que aumentam quando um homem
ganha dinheiro, é promovido no trabalho ou ganha um jogo, não explicam as diferenças bélicas entre suecos e paquistaneses,
nem entre os suecos de hoje e seus antepassados vikings. Em seus estudos, a visão que mulheres e homens têm da guerra
são muito mais semelhantes do que se imagina.
Diante da pergunta: “O conflito árabe-israelense deve ser resolvido pela via militar ou diplomática?”, as escolhas de
mulheres e homens israelenses, egípcios, palestinos e kuvaitianos foram praticamente iguais. Quando os mesmos
participantes responderam se era mais importante mandar para a escola um menino ou uma menina, as preferências
machistas estavam tão associadas à beligerância, que o autor concluiu: “É possível prever quando uma pessoa optará pela
guerra ou pela paz entre árabes e judeus, com base apenas no que pensa sobre igualdade sexual”. Conclusões similares
foram tiradas nas pesquisas sobre preconceitos étnicos: sociedades em que as minorias são discriminadas têm maior
probabilidade de envolver-se em guerras externas e internas.
Disponível em https://drauziovarella.uol.com.br/mulher/as-mulheres-e-as-guerras-artigo/ Acesso em 13/10/2023. (Adaptado)