Questões de Concurso Público Prefeitura de Miracema - RJ 2024 para Motorista

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Q2368886 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Podemos afirmar que o texto é uma narrativa por que: 
Alternativas
Q2368887 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Em relação às ideias do texto, assinale a alegação inadequada.
Alternativas
Q2368888 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Dentre os trechos literais citados, é possível identificar o registro de opinião do autor em:
Alternativas
Q2368889 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Assinale a alternativa em que a palavra sublinhada tem seu significado incorretamente indicado.
Alternativas
Q2368890 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Considere o trecho a seguir: “No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.” (6º§) É possível inferir que, a respeito da morte do avô, o autor demonstra:
Alternativas
Q2368891 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
A personificação é um recurso estilístico em que se dá características humanas a entes não humanos, como animais ou objetos inanimados. É usada quando se humaniza (personifica) objetos inanimados ou animais não pertencentes à espécie humana, atribuindo-lhes características e ações tipicamente humanas. Tendo em vista o exposto, assinale a transcrição textual que especifica tal característica.
Alternativas
Q2368892 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Em Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim.” (5º§), é possível afirmar que a expressão “nunca” exprime ideia de: 
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Q2368893 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
No trecho “Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara.” (4º§), a ação verbal “abandonara” expressa: 
Alternativas
Q2368894 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Celso Cunha (2007), na sua gramática, sintetiza a definição do adjetivo, dizendo ser ele “essencialmente um modificador do substantivo”. Para consolidar a sua teoria, acrescenta que o adjetivo “serve para caracterizar os seres, os objetos, ou as noções nomeadas pelo substantivo”. São considerados adjetivos as expressões destacadas, EXCETO:
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Q2368895 Português
Lembrança


      Lembro-me de que ele só usava camisas brancas. Era um velho limpo e eu gostava dele por isso. Eu conhecia outros velhos e eles não eram limpos. Além disso eram chatos. Meu avô não era chato. Ele não incomodava ninguém. Nem os de casa ele incomodava. Ele quase não falava. Não pedia as coisas a ninguém. Nem uma travessa de comida na mesa ele gostava de pedir. Seus gestos eram firmes e suaves e quando ele andava não fazia barulho.
       Ficava no quartinho dos fundos e havia sempre tanta gente e tanto movimento na casa que às vezes até se esqueciam da existência dele. De tarde costumava sair para dar uma volta. Ia só até a praça da matriz que era perto. Estava com setenta anos e dizia que suas pernas estavam ficando fracas. Levava-me sempre com ele. Conversávamos, mas não me lembro sobre o que conversávamos. Não era sobre muita coisa. Não era muita coisa a conversa. Mas isso não tinha importância. O que gostávamos era de estar juntos.
        Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. Eu olhei. Era um bando de pombos e nós ficamos muito tempo olhando. Depois ele voltou-se para mim e sorriu. Mas não disse nada. Outra vez eu corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás. Nessa hora uma faísca riscou o céu. O dia estava escuro e uma ventania agitava as palmeiras. Ele estava sozinho no meio da praça com os braços atrás e a cabeça branca erguida contra o céu. Então pensei que meu avô era maior que a tempestade.
       Eu era pequeno mas sabia que ele tinha vivido e sofrido muita coisa. Sabia que cedo ainda a mulher o abandonara. Sabia que ele tinha visto mais de um filho morrer. Que tinha sido pobre e depois rico e depois pobre de novo. Que durante sua vida uma porção de gente o havia traído e ofendido e logrado. Mas ele nunca falava disso. Nenhuma vez o vi falar disso. Nunca o vi queixar-se de qualquer coisa. Também nunca o vi falar mal de alguém. As pessoas diziam que ele era um velho muito distinto.
        Nunca pude esquecer sua morte. Eu o vi mas na hora não entendi tudo. Eu só vi o sangue. Tinha sangue por toda a parte. O lençol estava vermelho. Tinha uma poça no chão. Tinha sangue até na parede. Nunca tinha visto tanto sangue. Nunca pensara que uma pessoa se cortando pudesse sair tanto sangue assim. Ele estava na cama e tinha uma faca enterrada no peito. Seu rosto eu não vi. Depois soube que ele tinha cortado os pulsos e aí cortado o pescoço e então enterrado a faca. Não sei como deu tempo dele fazer isso tudo mas o fato é que ele fez. Tudo isso. Como eu não sei. Nem por quê.
      No dia seguinte ainda tornei a ver sua camisa perto da lavanderia e pensei que mesmo que ela fosse lavada milhares de vezes nunca mais poderia ficar branca. Foi o único dia em que não o vi limpo. Se bem que sangue não fosse sujeira. Não era. Era diferente.


(VILELA, Luiz. Tarde da noite. 6. ed. São Paulo: Ática, 2000.)
Lembro-me de que uma vez ele apontou para o céu e disse: “olha”. (3º§) Podemos afirmar que as aspas foram empregadas no fragmento anterior para:
Alternativas
Q2368896 Matemática
Em certa quadra de esportes de uma escola em que há um circuito oval, os alunos fazem caminhada na hora da educação física para aquecimento. Sabe-se que eles irão aquecer durante 16 minutos e percorrer por volta de 960 metros. Assinale, a seguir, a alternativa que apresenta o tempo e a distância fornecidos no texto, convertidos em outra unidade. 
Alternativas
Q2368897 Matemática
Um casal de namorados viu no shopping de determinada cidade que há uma loja de presentes que cria bonecos de pessoas em uma impressora 3D, usando escalas de 1:3 e 1:6. Sabe-se que as medidas do casal são 1,80 e 1,50 metros. Qual será o tamanho dos bonecos do casal, respectivamente, se eles escolherem a escala 1:6?
Alternativas
Q2368898 Matemática
No último censo do IBGE em 2022, a cidade de Miracema, apresentou uma população de 26.881 habitantes, possuindo uma extensão de 303,270 Km². Considerando as informações apresentadas, informe, a seguir, a densidade demográfica da cidade. 
Alternativas
Q2368899 Matemática
Joana quer mudar a cor da parede de sua sala; sabe-se que a parede tem formato retangular com medidas de 5,3 m x 2,7 m. A tinta que Joana irá usar cobre 4,5 m² para cada litro usado. Quantos litros de tinta Joana precisa comprar para cobrir toda a parede? 
Alternativas
Q2368900 Matemática
Fernando e Tiago querem enfeitar as rodas de suas bicicletas com uma fita colorida adesiva, que será colada em todos os aros das rodas. Sabe-se que as bicicletas são iguais no tamanho de raio – 30 cm. Qual a quantidade de fita será gasta para enfeitar as rodas? (Considere π = 3,14.) 
Alternativas
Q2368901 Raciocínio Lógico
Uma equipe de jornalismo de esportes a motor buscou saber da preferência de sua audiência, dos campeonatos de Fórmula 1 que cobriam. Fizeram uma pesquisa com um 1.000 pessoas e obtiveram os seguintes dados: 
• 35 não acompanham nenhum tipo; • 740 acompanham as corridas de Fórmula 1; • 250 acompanham as corridas de Fórmula 1 e Fórmula E.
Quantas pessoas da pesquisa assistem, exclusivamente, as corridas de Fórmula E?
Alternativas
Q2368902 Raciocínio Lógico
Dados os conjuntos A = {1, 3, 4, 6, 7, 9, 11, 12, 14}, B = {0, 3, 5, 7, 9, 11, 15} e C = {2, 4, 6, 8, 10,12}. Assinale, a seguir, a operação correta.
Alternativas
Q2368903 Matemática
O mágico em uma determinada festa infantil chama uma das crianças para fazer um truque de mágica. Ele pede para ela retirar uma carta do baralho. Sabe-se que o baralho é novo e possui 52 cartas. Qual a probabilidade da criança retirar uma carta de dama ou valete para o truque?
Alternativas
Q2368904 Matemática
Em certa partida de RPG, o mestre do jogo indica que para continuar a aventura por certo caminho um dos participantes deve rolar dois dados não viciados e os dados contendo 20 lados devem ficar para cima o mesmo valor. Caso contrário, deverá ir por outro caminho. Qual a probabilidade da jogada dar certo e conseguirem o mesmo número para cima? 
Alternativas
Q2368905 Matemática
João está pagando parcelas de R$ 221,50, que correspondem a 8% do valor de uma TV. Considerando tal informação, qual o valor total da TV? 
Alternativas
Respostas
1: A
2: D
3: B
4: C
5: C
6: A
7: A
8: D
9: A
10: C
11: D
12: B
13: C
14: C
15: C
16: B
17: D
18: D
19: B
20: C