O Curupira perdeu a força do mito
O Curupira é uma entidade mitológica do folclore
brasileiro, tão antiga que o Padre José de Anchieta já o
citava em 1560. Sua lenda alerta ao povo brasileiro sobre a
proteção das matas e dos animais. Dizem que ele emite
assovios horripilantes para assustar e confundir caçadores
que não respeitam o período de procriação dos animais e
caçam além do que necessitam para se alimentar, além de
proteger as florestas dos lenhadores que derrubam árvores
de forma predatória.
O Curupira tem os pés virados para trás para
confundir com suas pegadas os malfeitores que, ao segui-lo,
afastam-se cada vez mais para o centro da floresta e são
confundidos com ilusões que os deixam perdidos e
enlouquecidos.
No tempo de José de Anchieta, eram apenas os
caçadores e lenhadores. Hoje, além deles, são madeireiros,
barrageiros, mineradores, garimpeiros, agronegociadores e
principalmente legisladores.
O Curupira há muito não consegue mais confundir
os garimpeiros e mineradores que, com equipamentos mais
sofisticados, multiplicam por muitas vezes a velocidade de
exploração dos minerais da Amazônia a ponto de suplantar a
capacidade de degradação natural de seus rejeitos tóxicos,
transferindo como herança para as futuras gerações
verdadeiros “cemitérios” de metais pesados nas
proximidades da maior bacia hidrográfica do planeta.
Os mitos e lendas da Amazônia, tal como o
Curupira, vêm sendo triturados e liquefeitos pelas serras,
turbinas, fornos e engrenagens que nos últimos 50 anos
promovem o “desenvolvimento” da Amazônia. Quanto mais
se fala em sustentabilidade, a impressão que fica é a de que
menos se pratica. Espero que haja tempo para uma reflexão
da sociedade sobre o futuro que queremos, para que nossos
mitos e lendas tenham algum significado para as futuras
gerações.
(Fonte: EMBRAPA - adaptado.)