Questões de Concurso Público SESC-DF 2018 para Professor - Português
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Iracema inquieta veio pela várzea seguindo o rastro do esposo até o tabuleiro. As sombras doces vestiam os campos quando ela chegou à beira do lago. Seus olhos viram a seta do esposo fincada no chão, o goiamum trespassado, o ramo partido, e encheram‐se de pranto.
— Ele manda que Iracema ande para trás, como o goiamum, e guarde sua lembrança, como o maracujá guarda sua flor todo o tempo, até morrer.
A filha dos tabajaras retraiu os passos lentamente, sem volver o corpo, nem tirar os olhos da seta de seu esposo, e tornou à cabana.
José de Alencar. Iracema. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1975, p. 162‐163.
José Maria de Medeiros. Iracema (1884 óleo s/tela – 167,5 x 250,2 cm Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes). In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Internet: . Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978‐85‐7979‐060‐7.
Aristóteles (tradução de Eudoro de Sousa). Poética. Porto: Casa da Moeda, 1986, p. 50.
O texto acima apresenta uma das primeiras iniciativas no sentido de formular um conceito de literatura a partir de uma das especificidades da linguagem literária que a difere das demais expressões culturais. Sendo assim, assinale a alternativa que apresenta o conceito de literatura com base em uma especificidade da linguagem literária que dialoga com a anunciada no texto de Aristóteles.
Quando nasci veio um anjo safado O chato dum querubim E decretou que eu tava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim
Francisco Buarque de Holanda. Até o fim. In: Chico Buarque. Rio de Janeiro: Marola Edições Musicais, 1978. Internet: <www.chicobuarque.com.br>.
Assinale a alternativa correta quanto às relações existentes entre o trecho do poema de Drummond e o da letra da canção de Chico Buarque de Holanda.
Essa coisa da realidade, essa dificuldade, esse suposto confronto entre poesia e realidade, talvez ele não exista verdadeiramente, ou será que existe? Manuel Bandeira tem razão quando diz que estamos imersos em poesia e isso é uma grande verdade. Ao mesmo tempo, João Cabral também está certo quando diz, nos versos finais de Uma faca só lâmina, que a realidade arrebenta com toda palavra; isso também é uma verdade. São contradições? São. Mas o que importa é que ambos dizem verdades. É que a realidade é uma coisa muito difícil, imensamente difícil de saber. As palavras, quer dizer, essa coisa da fala, como se fosse um canto geral, uma música, uma verdadeira música que o homem diz nas circunstâncias mais banais, têm um sentido de uma intensidade admirável; não há no mundo palavra que seja uma palavra perdida, ao contrário das balas. As palavras acertam fundo; todo o discurso humano é um canto realmente extraordinário. Isso ultrapassa o país, isso ultrapassa as fronteiras. Agora, o ouvido é pequeno, o ouvido é insuficiente, o ouvido realmente não dá, não tem a medida do diapasão desse canto, que é o canto da realidade, do qual, no entanto, não desistimos, não desanimamos de escutar onde quer que estejamos.
Francisco Alvim. In: Flora Süssekind e Tânia Dias (org.).
Cultura brasileira hoje: diálogos. Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018. p. 236.
Internet:<http://www.casaruibarbosa.gov.br/>
(com adaptações).
Com base no texto acima, assinale a alternativa correta acerca de literatura, cultura e realidade.
De fato, antes procurava‐se mostrar que o valor e o significado de uma obra dependiam de ela exprimir ou não certo aspecto da realidade, e que este aspecto constituía o que ela tinha de essencial. Depois, chegou‐se à posição oposta, procurando‐se mostrar que a matéria de uma obra é secundária, e que a sua importância deriva das operações formais postas em jogo, conferindo‐lhe uma peculiaridade que a torna de fato independente de quaisquer condicionamentos, sobretudo social, considerado inoperante como elemento de compreensão. Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando‐se, portanto, interno.
Antonio Candido. Crítica e sociologia. In: Literatura e sociedade.
Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010, p. 13 e 14.
A respeito das duas correntes teóricas de interpretação da obra literária apresentadas no texto acima, assinale a alternativa correta.