Leia o texto para responder à questão.
Meu vizinho das quintas-feiras, Sérgio Rodrigues, já
abordou o tema com muito mais propriedade do que eu seria
capaz, mas ele tem me irritado tanto (o tema, não o Sérgio)
que vou invadir o quintal alheio e bater na mesma tecla. De
um ano pra cá, comecei a ouvir frases do tipo “não é sobre
opinião, é sobre respeito” ou “não é sobre alimentação, é sobre saúde”, “não é sobre direitos, é sobre deveres”.
A primeira vez que me deparei com este novo uso do “sobre”, pensei que estavam falando “sobre” algum filme, livro
ou peça de teatro. A respeito de “Superman I”, por exemplo,
poderíamos dizer que “não é sobre superpoderes, é sobre
amor”. Assim como “Casa de Bonecas”, do Ibsen, “não é
sobre um casamento, é sobre a liberdade”. Prestando mais
atenção, porém, percebi que o sentido era outro. Era o “sobre” como “ter a ver com”. Trata-se de uma tradução troncha
de “it’s not about”, que os anglófonos usam a torto e a direito.
Ou melhor, nós usamos torto, eles usam direito.
(Antônio Prata, Sobre o “sobre”. Em: Folha de S.Paulo, 29.10.2017)