Marque a alternativa em que o termo destacado tem o mesmo v...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2015
Banca:
PR-4 UFRJ
Órgão:
UFRJ
Provas:
PR-4 UFRJ - 2015 - UFRJ - Auxiliar em Administração - Atividades Culturais de Divulgação Científica
|
PR-4 UFRJ - 2015 - UFRJ - Auxiliar em Administração - Biblioteca |
Q502200
Português
Texto associado
TEXTO 1
SERGIO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO
A gestão da água não construiu um sistema interligado que
equilibrasse demanda e estoque
O MITO DA ESTIAGEM DE SÃO PAULO
Luis Antonio Bittar Venturi
A água é um dos recursos naturais mais abundantes no planeta e as quantidades existentes sobram diante da necessidade humana. Mesmo considerando apenas as águas doces continentais, 3%do total da Terra, há muito mais água do que a capacidade humana de utilizá-la. Indo além, apenas a quantidade de água que precipita anualmente só na superfície dos continentes (cerca de 110 km3) já seria capaz, se fosse captada e armazenada, de suprir toda a humanidade. Considerando a água subterrânea, o Alter do Chão, maior aquífero do mundo sob a Bacia Amazônica, armazena água suficiente (86 mil km3) para abastecer a humanidade por pelo menos três séculos, já que ele é continuamente recarregado pela infiltração de água proveniente da atmosfera e da superfície.
Os estoques de água doce são inesgotáveis, na medida em que são alimentados principalmente
pelos oceanos, infinitos via evaporação e precipitação, ou seja, pelo ciclo hidrológico, que depende de forças físicas as quais o homem nunca poderá interromper. Enquanto existirem, o ciclo funcionará
e os estoques de água doce nos continentes serão repostos indefinidamente.
O alerta de que a água vai acabar, portanto, não tem fundamento. Obviamente que a água não se
distribui equitativamente pelo planeta. Há regiões com muita água, normalmente na zona tropical, na
qual a evaporação é maior, e regiões áridas, onde, por razões específicas da dinâmica climática, as taxas de evaporação são maiores do que a precipitação, gerando déficit de reposição de estoques de água doce. Esse não é o caso de São Paulo, cidade situada em uma região úmida, com elevados índices pluviométricos, em grande parte decorrente da umidade trazida do oceano pelas massas de ar.
Enquanto o Sol brilhar, a Terra girar e a Lei da Gravidade não for “revogada", as recargas de água
doce na Região Sudeste estarão garantidas, em volumes muito superiores à nossa necessidade.
POR QUE FALTA ÁGUA EM SÃO PAULO?
Considerando apenas a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), há mananciais na parte norte da região, a (Serra da Cantareira), e em toda a parte sul, na região da Bacia do Guarapiranga, do Alto Cotia etc., além de reservatórios (represamentos artificiais) que formam um sistema de abastecimento. Além disso, São Paulo importa água de outras bacias, como a do Rio Piracicaba, como também planeja fazer com a Bacia do Rio Ribeira de Iguape.
Ocorre que, embora haja diversas fontes de abastecimento para a região, elas não estão interligadas. Trata-se de um sistema desconexo, no qual, se falta água em um reservatório por um período – como tem ocorrido com a Cantareira –, não há como compensar esse déficit com a água dos outros. Os sistemas Alto Cotia e Guarapiranga, por exemplo, estiveram, em 2014, com níveis de água superiores ao da Cantareira, que sozinha abastece cerca de 8 milhões de pessoas.
Mas não puderam “socorrer" essa demanda por não estarem interligados. Havendo um período de
estiagem natural mais prolongado, como tem ocorrido na Cantareira, a retirada de água tornou-se mais
intensa do que a reposição natural dos estoques, daí o porquê de suas represas estarem secas. A gestão dos recursos hídricos não foi inteligente o suficiente para construir um sistema interligado que equilibrasse demandas e estoques. Se assim o tivessem feito, amais faltaria água em São Paulo, pois o total de água existente em torno da RMSP é mais do que suficiente para atender à demanda.
Outro fator auxiliar na compreensão da falta d'água em São Paulo refere-se às perdas, que estão entre 27% e 30% de toda a água tratada. Elas advêm, sobretudo, de vazamentos e de captações
clandestinas, embora, nesse último caso, apesar da ilegalidade, não haja o desperdício, não haja a perda de fato da água como há nos vazamentos. Alguém a está usando, só que sem pagar.
Texto adaptado. Publicado na edição 91, out. 2014
http://www.cartanaescola.com.br/single/show/445
TEXTO 2
RECADOS
José Miguel Wisnik
O Cerrado é o Matusalém dos biomas. Enquanto a Amazônia tem três mil anos de formada, e a Mata Atlântica, sete mil, o Cerrado tem quarenta milhões. É, ou chegou a ser, o maior viveiro de espécies florais do planeta. Ali, em sua lentidão ancestral, um buriti de vinte e cinco ou trinta metros de altura tem a idade do Brasil. Nas suas áreas planas, a água das chuvas é absorvida pela vegetação nativa, tendo esta a maior parte da sua estrutura dentro da terra, como uma verdadeira floresta invertida. Por suas raízes são alimentados os lençóis freáticos e os lençóis artesianos dos aquíferos, cuja carga interna afora, por sua vez, na forma das nascentes dos rios (ou, para dizer como Guimarães Rosa, “rebrotam desengolidos num bilo-bilo fácil").
Essa respiração hídrica veio sendo sufocada, no entanto, pela introdução de gramíneas para o pastoreio, pela expansão da fronteira agrícola com a soja e o algodão, cujas raízes são superficiais, pela ação dos fertilizantes, pela devastação dos insetos e animais polinizadores, impedindo a renovação da vegetação nativa, ditadas todas pela ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado desde os anos 1970. Aparentemente, teríamos aí apenas uma mudança de paisagem, e a substituição da flora anciã pelas inovações progressistas das monoculturas, junto com o império do eucalipto a ser convertido em carvão. Mas, [...] o processo envolve uma devastação invisível de grandes consequências estruturais: é a floresta subterrânea das raízes que desaparece junto com a vegetação nativa, com ela o bioma de milhões de anos e o sistema que alimenta e realimenta os aquíferos.
Assim, dezenas de pequenos rios vêm desaparecendo, enquanto as nascentes dos grandes rios estão secando ou migrando para áreas mais baixas, à medida que o lençol que as abastece vai sendo também rebaixado. O esvaziamento a olhos nus das represas que abastecem São Paulo teria seu correspondente literalmente mais profundo no esgotamento invisível dos reservatórios subterrâneos, que deu seu sinal emblemático, faz poucos dias, com o estancamento da nascente do São Francisco. As chuvas que sobrevierem, quando vierem, não têm a mesma capacidade de nutrir, na falta da vegetação mediadora, os enfraquecidos reservatórios ocultos. O Brasil não pode mais ser visto, senão irresponsavelmente, como o paraíso dos mananciais inesgotáveis.
O Globo, 25, out. 2014
SERGIO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO
A gestão da água não construiu um sistema interligado que
equilibrasse demanda e estoque
O MITO DA ESTIAGEM DE SÃO PAULO
Luis Antonio Bittar Venturi
A água é um dos recursos naturais mais abundantes no planeta e as quantidades existentes sobram diante da necessidade humana. Mesmo considerando apenas as águas doces continentais, 3%do total da Terra, há muito mais água do que a capacidade humana de utilizá-la. Indo além, apenas a quantidade de água que precipita anualmente só na superfície dos continentes (cerca de 110 km3) já seria capaz, se fosse captada e armazenada, de suprir toda a humanidade. Considerando a água subterrânea, o Alter do Chão, maior aquífero do mundo sob a Bacia Amazônica, armazena água suficiente (86 mil km3) para abastecer a humanidade por pelo menos três séculos, já que ele é continuamente recarregado pela infiltração de água proveniente da atmosfera e da superfície.
Os estoques de água doce são inesgotáveis, na medida em que são alimentados principalmente
pelos oceanos, infinitos via evaporação e precipitação, ou seja, pelo ciclo hidrológico, que depende de forças físicas as quais o homem nunca poderá interromper. Enquanto existirem, o ciclo funcionará
e os estoques de água doce nos continentes serão repostos indefinidamente.
O alerta de que a água vai acabar, portanto, não tem fundamento. Obviamente que a água não se
distribui equitativamente pelo planeta. Há regiões com muita água, normalmente na zona tropical, na
qual a evaporação é maior, e regiões áridas, onde, por razões específicas da dinâmica climática, as taxas de evaporação são maiores do que a precipitação, gerando déficit de reposição de estoques de água doce. Esse não é o caso de São Paulo, cidade situada em uma região úmida, com elevados índices pluviométricos, em grande parte decorrente da umidade trazida do oceano pelas massas de ar.
Enquanto o Sol brilhar, a Terra girar e a Lei da Gravidade não for “revogada", as recargas de água
doce na Região Sudeste estarão garantidas, em volumes muito superiores à nossa necessidade.
POR QUE FALTA ÁGUA EM SÃO PAULO?
Considerando apenas a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), há mananciais na parte norte da região, a (Serra da Cantareira), e em toda a parte sul, na região da Bacia do Guarapiranga, do Alto Cotia etc., além de reservatórios (represamentos artificiais) que formam um sistema de abastecimento. Além disso, São Paulo importa água de outras bacias, como a do Rio Piracicaba, como também planeja fazer com a Bacia do Rio Ribeira de Iguape.
Ocorre que, embora haja diversas fontes de abastecimento para a região, elas não estão interligadas. Trata-se de um sistema desconexo, no qual, se falta água em um reservatório por um período – como tem ocorrido com a Cantareira –, não há como compensar esse déficit com a água dos outros. Os sistemas Alto Cotia e Guarapiranga, por exemplo, estiveram, em 2014, com níveis de água superiores ao da Cantareira, que sozinha abastece cerca de 8 milhões de pessoas.
Mas não puderam “socorrer" essa demanda por não estarem interligados. Havendo um período de
estiagem natural mais prolongado, como tem ocorrido na Cantareira, a retirada de água tornou-se mais
intensa do que a reposição natural dos estoques, daí o porquê de suas represas estarem secas. A gestão dos recursos hídricos não foi inteligente o suficiente para construir um sistema interligado que equilibrasse demandas e estoques. Se assim o tivessem feito, amais faltaria água em São Paulo, pois o total de água existente em torno da RMSP é mais do que suficiente para atender à demanda.
Outro fator auxiliar na compreensão da falta d'água em São Paulo refere-se às perdas, que estão entre 27% e 30% de toda a água tratada. Elas advêm, sobretudo, de vazamentos e de captações
clandestinas, embora, nesse último caso, apesar da ilegalidade, não haja o desperdício, não haja a perda de fato da água como há nos vazamentos. Alguém a está usando, só que sem pagar.
Texto adaptado. Publicado na edição 91, out. 2014
http://www.cartanaescola.com.br/single/show/445
TEXTO 2
RECADOS
José Miguel Wisnik
O Cerrado é o Matusalém dos biomas. Enquanto a Amazônia tem três mil anos de formada, e a Mata Atlântica, sete mil, o Cerrado tem quarenta milhões. É, ou chegou a ser, o maior viveiro de espécies florais do planeta. Ali, em sua lentidão ancestral, um buriti de vinte e cinco ou trinta metros de altura tem a idade do Brasil. Nas suas áreas planas, a água das chuvas é absorvida pela vegetação nativa, tendo esta a maior parte da sua estrutura dentro da terra, como uma verdadeira floresta invertida. Por suas raízes são alimentados os lençóis freáticos e os lençóis artesianos dos aquíferos, cuja carga interna afora, por sua vez, na forma das nascentes dos rios (ou, para dizer como Guimarães Rosa, “rebrotam desengolidos num bilo-bilo fácil").
Essa respiração hídrica veio sendo sufocada, no entanto, pela introdução de gramíneas para o pastoreio, pela expansão da fronteira agrícola com a soja e o algodão, cujas raízes são superficiais, pela ação dos fertilizantes, pela devastação dos insetos e animais polinizadores, impedindo a renovação da vegetação nativa, ditadas todas pela ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado desde os anos 1970. Aparentemente, teríamos aí apenas uma mudança de paisagem, e a substituição da flora anciã pelas inovações progressistas das monoculturas, junto com o império do eucalipto a ser convertido em carvão. Mas, [...] o processo envolve uma devastação invisível de grandes consequências estruturais: é a floresta subterrânea das raízes que desaparece junto com a vegetação nativa, com ela o bioma de milhões de anos e o sistema que alimenta e realimenta os aquíferos.
Assim, dezenas de pequenos rios vêm desaparecendo, enquanto as nascentes dos grandes rios estão secando ou migrando para áreas mais baixas, à medida que o lençol que as abastece vai sendo também rebaixado. O esvaziamento a olhos nus das represas que abastecem São Paulo teria seu correspondente literalmente mais profundo no esgotamento invisível dos reservatórios subterrâneos, que deu seu sinal emblemático, faz poucos dias, com o estancamento da nascente do São Francisco. As chuvas que sobrevierem, quando vierem, não têm a mesma capacidade de nutrir, na falta da vegetação mediadora, os enfraquecidos reservatórios ocultos. O Brasil não pode mais ser visto, senão irresponsavelmente, como o paraíso dos mananciais inesgotáveis.
O Globo, 25, out. 2014
Marque a alternativa em que o termo destacado tem o mesmo valor semântico do termo em destaque no trecho a seguir:
“Considerando a água subterrânea, o Alter do Chão, maior aquífero do mundo sob a Bacia Amazônica, armazena água suficiente (86 mil km3 ) para abastecer a humanidade por pelo menos três séculos, já que ele é continuamente recarregado pela infiltração de água proveniente da atmosfera e da superfície." (texto 1)
“Considerando a água subterrânea, o Alter do Chão, maior aquífero do mundo sob a Bacia Amazônica, armazena água suficiente (86 mil km3 ) para abastecer a humanidade por pelo menos três séculos, já que ele é continuamente recarregado pela infiltração de água proveniente da atmosfera e da superfície." (texto 1)