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Q510036
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Invólucros
Telefones celulares, agendas eletrônicas e computadores portáteis cada vez mais compactos, e portanto com teclas cada vez menores, pressupõem usuários com dedos finos. Se vale a teoria da evolução da espécie de Darwin, as pessoas com dedos grossos se tornarão obsoletas, não se adaptarão ao mundo da microtecnologia e logo desaparecerão. E os dedos finos dominarão a Terra. Há quem diga que, como os miniteclados impossibilitam a datilografia tradicional e, com o advento das calculadoras, os cinco dedos em cada mão perderam a sua outra utilidade prática, que era ajudar a contar até dez, os humanos do futuro nascerão só com três dedos em cada mão: o indicador para digitar, (e para indicar, claro), o dedão opositor para poder segurar as coisas e o mindinho para limpar o ouvido.
Outra inevitável evolução humana será a pessoa já nascer com um dispositivo - talvez um dente adicional, cuneiforme, na frente - para desembrulhar CDs e outras coisas envoltas em celofane, como quase tudo hoje em dia. E fiquei pensando no enorme aperfeiçoamento que seria se as próprias pessoas viessem envoltas numa espécie de celofane em vez de pele. Imagine as vantagens que isto traria. No lugar de derme e epiderme, uma pele transparente que permitisse enxergar todos os nossos órgãos internos, tornando dispensáveis os raios X e outras formas de nos ver por dentro. [...]
Está certo, seríamos horrorosos. Em compensação, a pele transparente seria um grande equalizador social. “Beleza interior” adquiriria um novo sentido e ninguém seria muito mais bonito, embora alguns pudessem ostentar um baço mais bem acabado ou um intestino delgado mais estético, e o corpo de mulheres continuasse a receber elogios (“Que vesícula!”). [...] E como todas as peles teriam a mesma cor - cor nenhuma -, estaria provado que somos todos iguais sob os nossos invólucros, e não existiria racismo. Fica a sugestão para nos redesenharmos.
(VERÍSSIMO, L. F. Mais comédia pra ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.)
Telefones celulares, agendas eletrônicas e computadores portáteis cada vez mais compactos, e portanto com teclas cada vez menores, pressupõem usuários com dedos finos. Se vale a teoria da evolução da espécie de Darwin, as pessoas com dedos grossos se tornarão obsoletas, não se adaptarão ao mundo da microtecnologia e logo desaparecerão. E os dedos finos dominarão a Terra. Há quem diga que, como os miniteclados impossibilitam a datilografia tradicional e, com o advento das calculadoras, os cinco dedos em cada mão perderam a sua outra utilidade prática, que era ajudar a contar até dez, os humanos do futuro nascerão só com três dedos em cada mão: o indicador para digitar, (e para indicar, claro), o dedão opositor para poder segurar as coisas e o mindinho para limpar o ouvido.
Outra inevitável evolução humana será a pessoa já nascer com um dispositivo - talvez um dente adicional, cuneiforme, na frente - para desembrulhar CDs e outras coisas envoltas em celofane, como quase tudo hoje em dia. E fiquei pensando no enorme aperfeiçoamento que seria se as próprias pessoas viessem envoltas numa espécie de celofane em vez de pele. Imagine as vantagens que isto traria. No lugar de derme e epiderme, uma pele transparente que permitisse enxergar todos os nossos órgãos internos, tornando dispensáveis os raios X e outras formas de nos ver por dentro. [...]
Está certo, seríamos horrorosos. Em compensação, a pele transparente seria um grande equalizador social. “Beleza interior” adquiriria um novo sentido e ninguém seria muito mais bonito, embora alguns pudessem ostentar um baço mais bem acabado ou um intestino delgado mais estético, e o corpo de mulheres continuasse a receber elogios (“Que vesícula!”). [...] E como todas as peles teriam a mesma cor - cor nenhuma -, estaria provado que somos todos iguais sob os nossos invólucros, e não existiria racismo. Fica a sugestão para nos redesenharmos.
(VERÍSSIMO, L. F. Mais comédia pra ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.)
Sobre os elementos responsáveis pela articulação entre as partes do texto, assinale a afirmativa INCORRETA.