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“SOBRE ÉTICA E IMPRENSA”

Texto incita jornalistas à saudável autocrítica 

       As acusações de espionagem contra o físico Wen Ho Lee, divulgadas este ano pelo mais respeitado jornal dos EUA, "The New York Times", depois comprovadas como falsas, provocaram recentemente intenso debate público sobre ética e imprensa nesse país e resultaram num editorial de "mea culpa" do diário.

       Outros episódios (os equívocos das redes de TV na boca de urna da eleição presidencial, por exemplo) têm colocado a prática do jornalismo no centro das atenções da sociedade americana.

       Erros comparáveis ou até mais graves no Brasil dificilmente motivam discussões similares entre jornalistas, "interna corporis" ou - muito menos - diante dos consumidores de informação.

      A ausência desse tipo de autoexame pelos jornalistas brasileiros só empobrece seu ofício e fornece munição aos que tentam desacreditá-lo diante da sociedade.

       Essa é uma das razões por que o lançamento de "Sobre Ética e Imprensa", de Eugênio Bucci, é um sinal de alento. O fato de um dirigente de primeiro escalão de uma das mais importantes empresas jornalísticas do país se dispor a gastar parte de seu tempo na reflexão sobre questões éticas da profissão e, mais ainda, a reparti-las com o público (com todos os riscos naturais da empreitada) só merece elogios.

      Ainda mais quando o produto final é um texto bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido e, muitas vezes, corajoso.

     Para fazer justiça completa ao autor e aceitar os desafios que ele mesmo propõe, uma resenha de seu trabalho deve, no entanto, dar mais destaque às divergências que ele suscite do que aos elogios. Por isso, seguem-se alguns pontos defendidos por Bucci no livro a respeito dos quais discordo, ao menos do modo como os expôs.

    O primeiro é que Bucci parece fazer uma distinção entre as exigências da separação entre opinião e informação feitas a veículos de comunicação diversos. Ele demonstra ter muito mais tolerância com as revistas do que com a TV; condena com grande vigor o comportamento do telejornalismo da Rede Globo na eleição presidencial de 89, mas quase justifica o da revista "Exame" na de 94.

       As justificativas para esse tratamento diferenciado vão desde o que Bucci classifica de "traço de nascença" das revistas, que a seu ver lhes permite editorializar a notícia, até o fato de a TV atingir muito maior número de pessoas, muitas das quais analfabetas e sem outras fontes de informação.

       São argumentos duvidosos, ainda que dignos de consideração. Ninguém está à mercê da televisão. Mesmo os mais pobres e ignorantes dispõem de meios de apreensão da realidade que se confrontam com o mundo apresentado nas telas.

     A Rede Globo, por mais poderosa que fosse, não impediu que Leonel Brizola se elegesse duas vezes governador do Rio. Quanto às revistas, elas podem ser consumidas por menos pessoas, mas elas são líderes de opinião; portanto o seu efeito social pode ser até mais poderoso do que o da TV.

     Em relação a outros assuntos que deveriam receber tratamento igual, Bucci adota graus de flexibilidade bastante variados, sem apresentar muitos argumentos que expliquem seu procedimento diferenciado. Por exemplo, é muito mais compreensivo com os conflitos de convicção e consciência dos jornalistas do que com suas necessidades econômicas.

      É possível depreender de seu raciocínio, por exemplo, que um repórter ou editor só pode ser eticamente condenado se tiver um cargo remunerado num partido político e trabalhar num jornal ou revista; mas, se ele agir na imprensa em favor de uma causa ideológica em que acredita sem ser pago por uma organização que a represente, sua falta é mais leve.

     Bucci afirma que o jornalista "não tem autorização ética para perseguir outros fins que não (o de bem informar o público)". Pode ser assim no mundo ideal. Mas há muitas situações no Brasil em que essa exigência é cruel. Por exemplo, em muitas cidades do Nordeste, em que o salário do jornalista não garante sobrevivência digna, exigir dele que não tenha "duplo emprego" (muitas vezes no governo e num jornal) só é justificável como sonho.

      Aqui e ali, Bucci revela alguma ingenuidade. Como ao achar que o fim da condescendência com a aceitação de viagens e favores para a produção de reportagens de turismo é uma "questão de (pouco) tempo", em aparente demonstração de fé numa espécie de teoria evolucionista da imprensa. Ele mesmo argumenta, com razão, ao longo do livro, que o processo de aperfeiçoamento ético depende de muito esforço e encontra sérias resistências não apenas no interior das empresas jornalísticas, mas também (e talvez mais) na própria corporação profissional.

       Outras mostras de boa-fé excessiva aparecem nas frequentes referências ao sistema de comunicação dos EUA como exemplo de preservação da "diversidade".

        Embora haja legislação (contestada seriamente nesta década e já em estado de caduquice) para impedir a concentração excessiva de meios de comunicação nas mãos de um mesmo proprietário em uma só cidade, a uniformidade do jornalismo americano é dramática. Para o consumidor, importa pouco que suas emissoras de TV pertençam a donos diferentes se os telejornais que tem disponíveis são idênticos em todos os canais.

     Se o livro se referisse mais a exemplos concretos (apesar de fictícios, se fosse necessário não atiçar suscetibilidades), talvez muitas das posições do autor tivessem ficado mais claras.

     A primeira metade do trabalho é especialmente abstrata e, por isso, ainda que útil para provocar o pensamento, pouco prática para o debate do procedimento ético. Com frequência, quando cita exemplos, o autor mostra dois possíveis comportamentos antagônicos e não diz qual deles é o mais recomendável na sua opinião, o que, de novo, ajuda a refletir, mas não a discutir.

        Louve-se, no entanto, a coragem de algumas opiniões, como as que cobram, com absoluta clareza, que as empresas jornalísticas adotem práticas compatíveis com a ética que exigem de seus jornalistas no dia a dia.

       Mais do que isso, como já dito antes, "Sobre Ética e Imprensa" merece aplausos por incitar os jornalistas brasileiros ao saudável exercício da autocrítica, tão desprezada entre eles pela posição de arrogância e de anti-intelectualismo arraigado que ainda é hegemônica na corporação.


SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3012200017.htm 
Sobre as vírgulas presentes na passagem “Ainda mais quando o produto final é um texto bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido (...)” (6º parágrafo), assinale o comentário correto: 
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é a D - Foram empregados consoante regras gramaticais idênticas.

Tema Central da Questão: A questão aborda o uso das vírgulas em um trecho de texto. Para resolver essa questão, é necessário compreender as regras de pontuação na língua portuguesa, especialmente no que se refere ao uso de vírgulas para separar elementos de uma lista.

Justificativa da Alternativa Correta: A alternativa D é correta porque as vírgulas no trecho citado são empregadas de acordo com as mesmas regras gramaticais. Elas estão separando elementos coordenados de uma enumeração. No trecho "um texto bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido", as vírgulas separam adjetivos que qualificam o "texto". Assim, cada uma dessas vírgulas segue a mesma regra de pontuação.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - Foram empregadas de forma inadequada, de acordo com as regras gramaticais: Incorreta. As vírgulas estão usadas corretamente conforme explicado acima.

B - Atendem a regras distintas de uso sintático: Incorreta. As vírgulas seguem a mesma regra, que é a separação de elementos de uma enumeração.

C - Justificam-se, por separarem termos deslocados com valor adverbial: Incorreta. As vírgulas não estão separando termos com valor adverbial, mas sim adjetivos.

E - Separam orações adjetivas explicativas: Incorreta. Não se trata de orações adjetivas, mas sim de uma lista de adjetivos qualificando um substantivo.

Compreender essas distinções ajuda a identificar o uso correto da pontuação, que é um elemento crucial em provas de língua portuguesa.

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Comentários

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D

Foram empregados consoante regras gramaticais idênticas. 

Resposta letra D!

Foram empregados consoante regras gramaticais idênticas. 

Percebam que os elementos separados pela vírgula “... um texto bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido" nada mais são do que elementos com a mesma função sintática.

O ruim quando você está começando do zero é que você apanha muito no início. Tem que ter muita perseverança para não desistir. Eu não vou desistir.

bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido... Quem ?

o texto!

todos caracterizando qualidades ao texto.

   Ainda mais quando o produto final é um texto bem escrito, embasado em sólida pesquisa, comedido e, muitas vezes, corajoso.

produto final - sujeito

é - verbo de ligação

um texto bem escrito - predicativo do sujeito

embasado - predicativo do sujeito

comedido - predicativo do sujeito

corajoso - predicativo do sujeito

As vírgulas Foram empregados consoante regras gramaticais idênticas -

para separar regras gram. idênticas (pred. do sujeito). 

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