Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise c...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Q699222 Português
DOIS COLUNISTAS E A NORMA CULTA
Sírio Possenti
Publicado em 17 de março de 2016 

Não me lembro de ter ouvido ou lido alguma coisa de Tostão sobre língua, gramática. Esses troços de que os que não são do ramo falam tanto. Mas, salvo engano, andou emitindo juízo bem precário sobre a expressão “correr atrás do prejuízo”, que considerou errada (“ninguém corre atrás do prejuízo” sentenciou, se bem que, como psicanalista, deve ter visto muito disso por aí) e que Cipro Neto comemorou (achei no Google). 
Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise crítica de clichês do futebol”. Um deles (“Vamos correr atrás do prejuízo”) recebeu a seguinte observação: “Se o time está perdendo, tem de correr atrás do lucro”. Já vi muita gente boa defender a legitimidade dessa construção (“correr atrás do prejuízo”), com o argumento de que o uso lhe dá razão. O estranho é que ninguém diz que corre atrás do fracasso, do insucesso, da tristeza. O que se diz é que o time corre atrás da medalha, da vitória, da classificação. Por que diabos, então, correr atrás do prejuízo?”.
Idiomatismos, Pasquale! Os idiomatismos e expressões feitas não têm sentido literal. São como os provérbios ou outras expressões do tipo “enfiar o pé na jaca” ou a “a vaca vai pro brejo”. E “risco de vida”, que muita gente corrigiu para “de morte”, sob empurrões da Globo. 
Tostão quis corrigir a cultura. Comentou outras expressões (como “marcar sob pressão”), que podem cansar, mas não veiculam doutrinas erradas. Aliás, por que todos deveriam correr atrás do lucro? Nem Tostão faz isso, que se saiba. Tais expressões exigem boa interpretação: corre-se atrás do prejuízo não para ficar com ele, para aumentá-lo, mas para acabar com ele, para caçá-lo, para anulá-lo.
Mas, em outro domínio, Tostão fornece bons dados para os analistas. No dia 13/03/2016, escreveu: “O amigo e médico Ciro Filogeno sugere, o que concordo…” e, logo depois, “… que nos empates por 0 a 0 os dois times não deveriam ganhar pontos, o que discordo…”. 
Um professor meio cego e pouco lido diria que Tostão errou. O argumento é sempre o mesmo: se é “concordo com”, então é “com o que (ou “com quem”) concordo”; e se é “discordo de”, então é “de que discordo”. Mas isso não é verdade. Tostão apenas escreveu segundo outra regra (uma hora dessas vou ficar de caderninho na mão e anotar todos os casos de novas adjetivas que ouço em rádio e TV, já que ninguém mais usa as antigas, especialmente com “cujo”). 
As frases de Tostão atestam uma tendência poderosa do português, que é a de fazer orações adjetivas sem a preposição (tem sido chamada de cortadora): num dos casos aqui mencionados saiu “com”, no outro, saiu “de”. 
Tostão é obviamente uma pessoa culta, representante no português culto falado e escrito no Brasil, que, entre outras instituições, a escola deveria encampar. (Isso não significa que não se pode ou não se deve empregar a forma tradicional, ou mesmo que ela não seja ensinada. Sem emprego pode ser um bom índice de escrita mais consciente, ou monitorada, o que é bom. É bom, mas não é a única alternativa correta). 
Já Ferreira Gullar, ferrenho defensor da gramática (mas eu duvido que a estude!) que a professorinha lhe ensinou (devia ser bem fraquinha), como repetidamente insiste em dizer, escreveu no mesmo dia em sua coluna “que preferem abrir o jogo do que pagar a culpa…” (está avaliando as delações premiadas como o faria um taxista ouvinte da CBN). 
Não quero dizer que a escrita de Ferreira Gullar tem problemas (pelo contrário: este é seu lado bom), como provavelmente diriam os que repetem “se é concordo com, então é com o que concordo”. Quando eu estava no então quinto ano, antes do então ginásio, já estudava uma lista de palavras que incluíam “preferir a” em vez de “preferir (mais) do que”. Pois a construção dita “errada” está cada vez mais viva e é cada vez mais empregada por pessoas cultas (vou tentar ouvir o Merval Pereira, por mais difícil que isso seja). Portanto, é cada vez mais “normal”. 
As relativas de Tostão (que são de todos, aliás) e a regência de Ferreira Gullar não deveriam mais implicar perda de pontos nas redações, nem serem objeto de provas “objetivas”.
PS 1 – a famosa coluna de Tostão que Pasquale comentou está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0201200009.htm. Tostão questiona, de fato, uma lista grande de clichês. Vejam o segundo da lista: “Empatar fora de casa é bom.” Em um campeonato que a vitória vale três pontos, empatar é sempre ruim. Repararam em “Em um campeonato que a vitória…”? Também aqui “falta” uma preposição. É sempre a mesma regra! Claro que ninguém critica a gramática de Tostão (nem o fez Pasquale, que vivia disso). Um indício de que (“que”, diria o colunista) pertence à “elite intelectual”, cuja gramática é, portanto, culta. Ele diria “cuja”? Duvido.
PS 2 – Da tira Júlio & Gina de segunda, dia 14/03 (Folha de S. Paulo): – Você não odiava TV? – Achei uma coisa que eu gosto. Lá se foi mais uma preposição numa relativa. Minha aposta é que ninguém percebe.
Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/page/2/ [adaptado]
Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosaanálise crítica de clichês do futebol”. As aspas nesse trecho têm a mesma função no trecho:
Alternativas

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

Das últimas provas que fiz, essa de português está, sem dúvida, entre as mais difíceis.

 

Eu achei de uma maldade muito grande o que o examinador fez nessa questão, caberia inclusive recurso. 

 

Primeiro, para você acertar essa questão seria necessário você conhecer o outro texto ao qual se faz menção. Só pude ter a certeza que o gabarito da questão era a letra D pois fui pesquisar o tal texto de Tostão, cujo o titulo é A perfeição não existe.

 

Na assertiva fica impossível saber se "análise crítica de clichês do futebol" é o título ou uma frase dita por Tostão....

Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise crítica de clichês do futebol”

O "Está lá:" deixa claro qué é uma citação. 

Olá Amigos... Concordo que é uma questão mal formulada... Mas por eliminação poderíamos acertar essa questão:

 

Está lá: “No último domingo, Tostão fez deliciosa “análise crítica de clichês do futebol” . ( se voltar ao texto você verificará que o autor achou essa passagem transcrita no google)

 

ERRADA  (a) Meu filho é um verdadeiro “cibernauta”, vive na Internet. = MARCA ESTRANGEIRISMO 

 

ERRADA  (b) No artigo “Patrulhas sexuais”, Nelson Motta critica o moralismo norteamericano. = REFERE-SE AO TÍTULO DE UM ARTIGO.

 

ERRADA (c) Que “belo” trabalho! Você conseguiu o que queria! - UTILIZADA COMO REALCE DE UMA PALAVRA.

 

CERTO (d) “Uma vida não questionada, não merece ser vivida.” Platão =  MARCA CITAÇÃO OU TRASNCRIÇÕES TEXTUAIS (nesse caso é uma transcrição textual semelhante ao contexto da frase descrita no enunciado).

 

 

Espero ter ajudado.

 

OBS: agradeço ao amigo Gianfrancesco Rizzi Siqueira pela correção de meu comentário...

 

Abraço

me pareceu uma ironia...

Errei por acreditar que "análise crítica dos clicês do futebol" seria o título do artigo de tostão

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo