Com a frase Trata-se de um mistério que a ciência ainda não ...
Atenção: Leia o texto abaixo para responder às questões de números 54 a 59.
O paulista Monteiro Lobato (1882-1948) não foi apenas um grande escritor, foi também um editor pioneiro no Brasil com a Cia. Editora Nacional, portanto, uma autoridade em matéria de livros, dominando desde a concepção do texto até o produto acabado na prateleira. Invoco sua figura para falar da coisa mais banal e nem por isso menos dramática quando se trata de escrever e publicar: o erro de revisão. Duas semanas atrás quase perdi o sono ao deixar sair aqui uma crônica com quatro sacis gritantes − quatro erros de digitação que o paginador Fábio Oliveira, assim que solicitado, me fez o imenso favor de eliminar. Falando certa vez a respeito dessa tragédia também conhecida como gralha ou pastel e que, no seu tempo, ainda se chamava erro tipográfico, Lobato assim se manifestou: “A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar”.
Se é assim com o livro, produto de elaboração demorada que comumente é lido e relido muitas vezes e por muitos olhos antes de ser impresso, o que dizer do texto jornalístico, que hoje se escreve e se publica quase simultaneamente no meio digital? Embora em geral curto, o texto de jornal nem por isso está menos sujeito ao acúmulo de gralhas. Algum tempo atrás, ao falar da obrigação de rever a própria escrita em sua coluna em O Globo, Elio Gaspari empregou o advérbio perfeito ao dizer que lera e relera aquele trabalho “piedosamente” antes de autorizar sua publicação. O termo supõe a ideia de penitência, daí sua exatidão, porque se o trabalho de escrever pode ser penoso ou gratificante, rever o próprio texto é sempre uma penitência. E uma penitência cada vez mais inevitável, já que a figura do revisor parece fadada a desaparecer das redações, se é que já não desapareceu.
E não é somente grande pena que esse animal indispensável esteja em risco de extinção, o seu fim seria também a consumação de uma eterna injustiça, porque injustiçado ele tem sido desde sempre. Falo com a autoridade de quem já reviu muito texto alheio durante muito tempo. O revisor é aquele profissional que acerta milhões de vezes, sem merecer um único elogio, mas no dia em que deixa passar um só erro ele é prontamente chamado de incompetente.
Deve ser por isso que José Saramago, certamente um bom conhecedor das agruras da profissão, criou a figura impagável daquele revisor chamado Raimundo Silva no romance História do Cerco de Lisboa. Tendo passado uma vida inteira num trabalho apagado e obscuro, um belo dia Raimundo Silva resolve acrescentar uma simples palavra − “não” − ao texto que está a revisar, e com isso muda completamente os rumos de toda uma história. Bem feito.
(MOREIRA, Eliezer. “Revisão de texto, uma penitência”, O Mirante, 13/06/2016)
Com a frase Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar, Monteiro Lobato,
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A alternativa correta é:
B - mediante o uso jocoso de um lugar-comum, encarece o problema, afirmando que nem mesmo a ciência conseguiu resolvê-lo.
Justificativa:
Monteiro Lobato utiliza a frase "Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar" de forma irônica e exagerada, reforçando a complexidade e o incômodo que os erros de revisão representam para os autores e revisores. O termo "mistério" aqui assume um tom de leveza, mas também de frustração, destacando que, por mais que revisores e escritores tentem, os erros sempre acabam aparecendo de maneira inesperada após a publicação. Ele usa uma expressão comum (“mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar”) de modo humorístico, mas ao mesmo tempo enfatizando a gravidade e a quase inevitabilidade do problema.
As outras alternativas são incorretas por apresentarem interpretações que distorcem o tom e a intenção do autor:
- A sugere que Lobato enxerga o problema como trágico e que ele tem sido estudado em vão por cientistas, o que exagera o contexto jocoso da afirmação.
- C afirma que Lobato vê o problema como de causa científica e de pouca importância, o que contradiz o tom irônico com que ele trata a questão.
- D sugere que Lobato busca uma convergência entre ciência e literatura, o que não é abordado no texto.
- E afirma que ele diminui a importância do problema com a menção a Homero e à ciência, o que não ocorre, pois Lobato na verdade reforça a dificuldade envolvida.
FONTE: CHATGPT
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