Assinale a afirmação correta a respeito das expressões dest...

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Q1912361 Português
Leia um trecho do livro de memórias Balão cativo, de Pedro Nava, para responder à questão. 

   Meu tio Modesto e seus amigos Briggs iam frequentemente ao cinema e sempre ao Velo. Eu, ainda adolescente, com eles. Íamos de segunda classe, quinhentos-réis por cabeça, porque só a gente besta do bairro ia de primeira e sentava-se espaçadamente em cadeiras tristonhas. Galegos apatacados*, proprietários, senhoras de chapéu de plumas, moças preciosas...
   Na segunda classe, os intervalos entre as partes do filme eram uma alegria de amendoins, pipocas, sorvete-iaiá e baleiro-balas. Todos se cumprimentavam, as senhoras davam adeusinho, os meninos falavam e corriam e subia aquele ruído de conversas misturado aos pios do flautim, aos gemidos do violino, às bolhas sonoras do saxofone regulados pela batida do pianista. Do lado de fora, a campainha batia sem parar chamando para entrar; só calando depois do início dos filmes cômicos e dos dramas.
   Sempre nos sentávamos com todo o cuidado: ponta esquerda o Briggs, depois sua mulher, depois minha tia e, na ponta direita, meu tio Modesto. Era a defesa contra os bolinas que infestavam os cinemas da cidade.
   Meu tio me instruía a ficar na fila de trás e vigiar os mal-criados que costumavam cutucar as senhoras ou soprar-lhes o pescoço. Os bolinas eram tratados pelas mais discretas a golpes de espetos de broche, alfinetes de cabeça e grampos de chapéu. Isto as discretas, porque as escandalosas davam o brado. Ao grito de bolina! bolina! respondia o lincha da plateia. As luzes se acendiam e o canalha era corrido a murros e pontapés, para enfim, moído e sangrando, cair nos braços da polícia na sala de espera. Essas execuções eram frequentes no Velo.
   Terminada a sessão, saíamos devagar para casa. Outro sorvete na beira da calçada. Os jardins despejavam lufadas cariocas de jasmim-do-cabo, magnólias e madressilvas. O céu baixinho, baixinho. A gente, se quisesse, podia segurar os galhos da treva, baixá-los e colher nas suas pontas as frutas de prata das estrelas.

(Pedro Nava. Balão cativo. Ateliê Editorial. São Paulo, 2000. Adaptado)

*apatacados: ricos
Assinale a afirmação correta a respeito das expressões destacadas nos trechos do texto.
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Comentários

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GABARITO: A.

Vou dividir o comentário em dois (há muitos detalhes nesta questão). Vamos lá:

a) e sentava-se espaçadamente em cadeiras tristonhas / Sempre nos sentávamos com todo o cuidado: apresentam circunstância adverbial de modo. → Correto.

  1. A gente se sentava COMO em cadeiras tristonhas? De que modo? Espaçadamente.
  2. Nós nos sentávamos COMO? De que modo? Com todo o cuidado. Cuidadosamente.

Ambas as expressões apresentam circunstância de modo, portanto este é o gabarito.

 

b) as senhoras davam adeusinho / O céu baixinho, baixinho: apresentam ideia relativa à dimensão dos elementos. → Errado. Pessoal, de fato, alguns substantivos, adjetivos etc. no diminutivo, a depender do sentido da frase, podem apresentar ideia relativa à dimensão dos elementos, observem:

  • Que casinha você comprou! (pode dar a ideia de casa pequena, de desprezo ou de admiração. Depende do sentido).
  • Que homem grande! (o adjetivo traz a noção de dimensão aqui também).

No entanto, não é o que acontece na alternativa. Quando ele diz: "as senhoras davam adeusinho" e "O céu [estava] baixinho", traz a noção de afeto, carinho aos termos. Veja que o texto nos traz reminiscências, lembranças do tempo do autor. É natural, portanto, que ele descreva este tempo empregando o diminutivo, para conferir a noção de afetividade a esta época.

➥ O Pestana diz: "os sufixos diminutivos (normalmente -(z)inho) podem apresentar outras ideias, além de grandeza e pequenez. Carinho, afeto, admiração, desprezo são valores que vêm embutidos em muitos substantivos, a depender do contexto.

  1. Amorzinho, que boquinha linda você tem (carinho)
  2. Não se misture com essa gentalha (desprezo)
  3. Eu te amo, meu paizão! (carinho)

 

c) tratados pelas mais discretas a golpes de espetos de broche / o ca.nalha era corrido a murros e pontapés: apresentam circunstância adverbial de intensidade. → Errado. Ambas as expressões apresentam circunstância de modo.

  • Os bolinas eram tratos pelas mais discretas de que forma? De que modo? Eram tratados a golpes de espetos.
  • O ca.nalha era botado para correr como? De que modo? A murros e pontapés. Esse era o modo pelo qual ele era botado para correr.

(continua...)

(parte 2)

d) Todos se cumprimentavam / As luzes se acendiam: os pronomes indicam reciprocidade. → Errado. A Vunesp gosta de perguntar se o pronome SE possui função reflexiva/recíproca. Veja só:

Para ser...

  • Reflexivo: você substituirá por "a mim mesmo, a si mesmo etc." → "a TV foi feita para que o telespectador consiga SE sentir em outra época" → "a TV foi feita para que o telespectador consiga sentir a si mesmo em outra época"
  • Recíproco: você substituirá por "um ao outro" → "Os namorados SE abraçaram" → "Os namorados abraçaram um ao outro".

➥ O macete para diferenciar um do outro é que, quando você olha seu reflexo na água, vê a si mesmo, logo o pronome se, quando substituído por "a mim mesmo, a si mesmo etc.", é reflexivo. O outro (quando substituímos por "um ao outro") é recíproco.

Na questão:

  1. Todos se cumprimentavam → Todos cumprimentavam um ao outro. Aqui, o pronome SE indica  recíprocidade.
  2. As luzes se acendiam → As luzes acendiam umas às outras? Não faz sentido. Aqui, o pronome SE é pronome apassivador. Temos uma voz passiva sintética. Observe:
  • Vendem-se casas (sintética) → casas são vendidas (analítica)
  • As luzes se acendiam (ou "acendiam-se as luzes") (sintética) → As luzes eram acessas (analítica).

 

e) a campainha batia sem parar chamando para entrar / para enfim, moído e sangrando, cair nos braços da polícia: as preposições indicam privação. → Errado.

  1. A preposição sem, normalmente, traz o sentido de privação à frase (ex.: ele consegue viver sem dinheiro, isto é, na ausência de dinheiro). Na questão, não é o que acontece. Ela traz a noção de modo: a campainha batia de que modo? Como? Sem parar. Batia ininterruptamente.
  2. A preposição para foi empregada com sentido de finalidade. Resumindo o período: "o cana.lha era corrido a murros e pontapés para cair nos braços da polícia" → "o cana.lha era corrido a murros e pontapés a fim de/com a finalidade de cair nos braços da polícia"

 

Espero ter ajudado.

Bons estudos! :)

O Lucas já deveria estar ganhando dinheiro do Qconcurso!

Um comentário melhor que o outro!

tinha ficado na dúvida entre a A e a D. Acabei acertando, mas o lucas tirou minha dúvida! obrigada!!!

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