Ao final do texto, quando caracteriza a máquina de escrever...
Um pé de milho
Os americanos, através do radar, entraram em contato com a lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com meu pé de milho.
Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro – e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido, junto do portão, numa esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas – mas na glória de seu crescimento, tal como o vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, as crinas ao vento – e em outra madrugada parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas fores belas no mundo, e a for de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão frme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. É alguma coisa de vivo que se afrma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
(BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 27. Ed. Rio de Janeiro:
Record, 2007. p.77)
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A questão apresentada envolve interpretação de texto, especificamente a habilidade de inferir informações a partir de uma descrição feita pelo autor. Nesse contexto, a questão nos pede para identificar a quem ou a quê o autor se refere ao descrever a máquina de escrever como "chata".
Para resolver essa questão, vamos analisar o trecho final do texto. O autor fala sobre a transformação em sua percepção pessoal através da experiência com o pé de milho, contrastando sua vida cotidiana e monótona com a nova sensação de realização e conexão com a natureza.
Quando o autor menciona a "chata" máquina de escrever, ele faz isso para destacar o tédio e a insatisfação associados à sua rotina anterior. Assim, a máquina de escrever simboliza sua própria vida antes do surgimento do pé de milho, tornando a alternativa correta:
C - à sua própria vida.
Agora, vamos analisar por que as outras alternativas estão incorretas:
- A - ao leitor: Não há no texto uma relação direta ou indireta que sugira que a máquina de escrever represente o leitor. O foco está na experiência pessoal do autor.
- B - às plantações de milho: A máquina de escrever não tem nenhuma associação com as plantações de milho. O autor, na verdade, glorifica o pé de milho, contrastando-o com a "chata" máquina de escrever.
- D - à história contada: A história contada é sobre a transformação positiva e o encanto proporcionado pelo pé de milho. A máquina de escrever não se relaciona com a narrativa em si, mas com a vida do autor antes dessa experiência.
Ao interpretar textos, é importante prestar atenção nas metáforas e comparações que os autores utilizam para transmitir sentimentos e experiências. Neste caso, a "chata" máquina de escrever é uma metáfora para a rotina insatisfatória do autor antes de vivenciar a transformação proporcionada pelo cultivo do milho.
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Gabarito D
"Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. [...] Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos."
A máquina de escrever não é chata, o autor refere-se à vida, a rotina sua rotina.
GABARITO: LETRA C
? É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
? O autor transmite a ideia de algo relacionado à sua vida, transmite a ideia que ele é um escritor e devido a um pé de milho passou a ser um lavrador, a máquina de escrever chata é o seu instrumento de trabalho.
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FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
Passagens que confirmam que o autor não é do campo e sim da cidade (numa vida chata) :
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade.
veio enriquecer nosso canteirinho vulgar
um monte de terra trazido pelo jardineiro
sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
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