Nas frases do 3° parágrafo – O que conta é ser “reconhecido”...
Leia o texto para responder a questão.
Recentemente, acabei me detendo num debate sobre o conceito de reputação. Antes a reputação era apenas boa ou ruim e, diante do risco de ter uma má reputação, muitos tentavam resgatá-la com o suicídio ou com crimes de honra. Naturalmente, todos desejavam ter uma boa reputação.
Mas há muito tempo o conceito de reputação deu lugar ao de notoriedade.
O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”. O valor predominante é aparecer e naturalmente o meio mais seguro é a TV. E não é necessário ser um renomado economista ou um médico agraciado com o prêmio Nobel, basta confessar num programa lacrimogêneo que foi traído pelo cônjuge.
Assim, gradualmente, foi aceita a ideia de que para aparecer de modo constante e evidente era preciso fazer coisas que antigamente só garantiam uma péssima reputação.
E não é que as pessoas não almejem uma boa reputação,
mas é muito difícil conquistá-la, é preciso protagonizar um ato
heroico, ganhar um Nobel, e estas não são coisas ao alcance
de qualquer um. Mais fácil atrair interesse, melhor ainda se
for mórbido, por ter ido para a cama por dinheiro com uma
pessoa famosa ou por ter sido acusado de peculato. Passaram-se décadas desde que alguém teve a vida destruída por
ter sido fotografado algemado.
O tema da perda da vergonha está presente em várias reflexões sobre os costumes contemporâneos.
Ora, este frenesi de aparecer (e a notoriedade a qualquer custo, embora o preço seja algo que antigamente seria a marca da vergonha) nasce da perda da vergonha ou perde-se o senso de vergonha porque o valor dominante é aparecer seja como for, ainda que o preço seja cobrir-se de vergonha? Sou mais inclinado para a última hipótese. Ser visto, ser objeto de discurso é um valor tão dominante que as pessoas estão prontas a renunciar àquilo que outrora se chamava pudor (ou sentimento zeloso da própria privacidade).
Também é sinal de falta de vergonha falar aos berros ao celular, obrigando todo mundo a tomar conhecimento das próprias questões particulares, que antigamente eram sussurradas ao ouvido. Não é que a pessoa não perceba que os outros estão ouvindo, é que inconscientemente ela quer que a ouçam, mesmo que suas histórias privadas sejam irrelevantes.
Li que não sei qual movimento eclesiástico quer retornar à confissão pública. Claro, que graça pode ter contar as próprias vergonhas apenas para o confessor?
(Umberto Eco. Por que só a Virgem Maria? Pape satàn aleppe: Crônicas de uma sociedade líquida. Editora Record, Rio de Janeiro: 2017. Adaptado)
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Vamos analisar a questão sobre o uso das aspas no terceiro parágrafo do texto. As aspas podem ter diferentes funções em um texto, como destacar uma palavra, indicar ironia, ou atribuir uma fala a outra pessoa. Para resolver essa questão, é importante compreender essas funções e aplicá-las ao contexto dado.
A alternativa correta é a C: relativizar o sentido da palavra / indicar uma fala atribuída a outra pessoa.
No primeiro uso das aspas em "ser 'reconhecido'", as aspas relativizam o sentido da palavra "reconhecido". Aqui, elas indicam que o reconhecimento não é no sentido tradicional de respeito ou admiração, mas um reconhecimento superficial. Isso destaca que a palavra está sendo usada de uma forma específica, não convencional.
No segundo uso das aspas em "'Olhe, é ele mesmo!'", as aspas são usadas para indicar uma fala atribuída a outra pessoa. Isso nos mostra que essa expressão é algo que alguém poderia dizer ao reconhecer uma pessoa nas ruas, trazendo a ideia de citação direta.
Agora, vamos entender por que as outras alternativas estão incorretas:
A - intensificar o sentido da palavra / destacar a ironia presente na expressão: As aspas não são usadas para intensificar o sentido no primeiro caso, mas sim para relativizá-lo. Além disso, a expressão reconhecida não é claramente irônica.
B - questionar o sentido da palavra / acentuar o valor significativo da expressão: Embora as aspas relativizem o sentido da palavra, elas não necessariamente questionam isso. E no segundo caso, elas não acentuam o valor significativo, mas sim introduzem uma fala.
D - acentuar o significado da palavra no texto / indicar que a expressão introduz um diálogo: As aspas não acentuam o significado no primeiro caso; elas relativizam. No segundo caso, embora haja uma citação, o termo "diálogo" pode confundir, pois não há interação real entre falantes.
E - realçar a ironia presente na palavra / destacar o efeito de sentido da expressão no texto: A primeira parte está incorreta, pois o uso das aspas não visa realçar ironia, mas relativizar o sentido. A segunda parte também não se aplica corretamente, já que o foco está na atribuição da fala.
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Comentários
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RELATIVIZAR
verbo
Gab.: C
Gabarito C.
Algumas das funções das aspas é citar uma citação direta, e dar enfase em palavras ou expressões "irônicas".
O que conta é ser “reconhecido” pelos próprios semelhantes, mas não no sentido do reconhecimento como estima ou prêmio, mas naquele mais banal que faz com que alguém possa dizer ao vê-lo na rua: “Olhe, é ele mesmo!”
Aspas podem ser utilizadas para:
1º Citações e transcrições
Como dizia Machado de Assis: "......."
2º Nomes de livros ou legendas
Camões escreveu " Os lusíadas" No século XVI.
3º Palavras estrangeiras/ Ironias.
"Carinha" inconveniente.
Sucesso,Bons estudos, Nãodesista!
Gab: C
As primeiras aspas ironizam, relativizam a palavra empregada no período e a segunda apresenta um discurso direto.
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