No período “Quando finalmente escrever um romance de ficção...
Todos nós temos grandes expectativas sobre nossa passagem pelo mundo. E não me parece que devemos deixar de tê-las. A sabedoria consiste em compreender que é preciso medir a grandeza com nossa própria fita métrica. Se nos tornamos refens de algo que hoje é determinante na nossa época, por exemplo, que é o reconhecimento da importância de alguém pela quantidade de aparições na mídia, estamos perdidos. Render-se a uma determinação ditada pelo mercado é tão destrutivo como passar a vida tentando agradar a um pai opressor e para sempre insatisfeito, como vejo tanta gente. Em ambos os casos, estaremos sempre aquem, sempre em falta. E, mesmo quem vive sob os holofotes, vive em pânico porque não sabe por quanto tempo conseguirá manter as luzes sobre si.
Mas de que luzes precisamos para viver? E a quem queremos agradar? Quem e o que importam de verdade? Essa reconciliação é o que nos leva, de fato, à vida adulta, no que ela tem de melhor. Acredito que crescemos quando conseguimos nos apropriar da medida com que avaliamos nossa existência, nosso estar no mundo. Ninguém tem de ser isso ou aquilo, ninguém “tem de” nada. Quem disse que tem? É preciso duvidar sempre das determinações externas a nós – tanto quanto das internas. “Por que mesmo eu quero isso?” é sempre uma boa pergunta.
Tenho uma amiga que só se transformou em uma chefe capaz de ajudar a transformar para melhor a vida de quem trabalhava com ela quando se reconciliou com suas próprias expectativas, quando descobriu em si uma grandeza que era de outra ordem. Só se tornou uma mãe capaz de libertar os filhos para que estes vivessem seus próprios tropeços e acertos quando se apaziguou consigo mesma. Ela, de quebra, descobriu que era talentosa numa área, a cozinha, na qual até então não via nenhum valor. Ao descobrir-se cozinheira, não pensou em empreender uma nova maratona, desta vez na tentativa de virar uma chef e fazer um programa de TV. Já estava sábia o suficiente para exultar de alegria ao acabar com a boa forma de suas amigas mais queridas.
Como minha amiga e como todo mundo, eu também acalentei grandes esperanças sobre minha própria existência. Depois do fracasso da minha carreira de astronauta, desejei ser escritora. Acho que ser escritora é o que quis desde que peguei o primeiro livro na mão e consegui decifrálo. É claro que eu não queria apenas escrever um livro de entretenimento. Eu escreveria, obviamente, a maior obraprima da humanidade. Meu primeiro livro já nasceria um clássico. Eu reinventaria a linguagem e ditaria novos parâmetros para a literatura. Depois de mim, Proust e Joyce estariam reduzidos ao rodapé do cânone.
Não é divertido? Acreditem, eu rio muito. E até me enterneço. No meu quarto amarelo, lá em Ijuí, eu fiz o seguinte plano. Emily Brontë escreveu ‘O Morro dos Ventos Uivantes’ aos 19 anos. Logo, eu deveria escrever minha obra-prima aos 17, no máximo 18. Pois não é que os 18 anos passaram e eu estava mais ocupada com fraldas e com beijos na boca? Bem, eu já não seria tão precoce assim, mas me conformei. Afinal, minha obra seria tão acachapante, tão revolucionária, que mesmo aos 20 e poucos eu seria considerada um prodígio. E os 20 passaram, assim como os 30, e lá vou eu aumentando cada vez mais os “e tantos” dos 40.
Não desisti de um dia escrever um romance, não. Acho mesmo que ele está mais perto, agora que eu me absolvi de escrever a grande obra da literatura mundial. Mas foi só depois de me apropriar da medida da minha vida que me descobri estonteantemente feliz como contadora de histórias reais. Quando finalmente escrever um romance de ficção, ele só será possível porque vivi mais de duas décadas embriagada de histórias absurdamente reais e gente de carne, osso e nervos. E só será possível porque deverá estar à altura apenas de mim mesma. Só precisarei ser fiel à minha própria voz.
Porque é esta, afinal, a grande aventura da vida. Desvelar ___ nossa singularidade, o extraordinário de cada um de nós – descobrir ___ voz que é só nossa. Mesmo que essa descoberta não se torne jamais uma capa de revista. O importante é que seja um segredo nosso, um bem precioso e sem valor monetário, que guardamos entre uma dobra e outra da alma para viver com furiosa verdade esse milagre que é a vida humana.
(Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em:
http://desacontecimentos.com/?p=445. Acesso em: 25/10/2019.)
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Olá, aluno! Vamos discutir a questão apresentada e entender melhor a classificação dos advérbios, especificamente o termo "finalmente" no contexto dado.
A alternativa correta é a B - Tempo.
Vamos começar entendendo o que é um advérbio. Os advérbios são palavras que modificam verbos, adjetivos ou outros advérbios, indicando uma circunstância como modo, tempo, lugar, intensidade, causa, etc. Eles são fundamentais para trazer mais detalhes e especificidades às ações, estados ou qualidades descritas.
O termo "finalmente" é classificado como um advérbio de tempo porque indica o momento em que algo acontece. No trecho "Quando finalmente escrever um romance de ficção...", a palavra "finalmente" refere-se ao tempo em que a ação de escrever o romance ocorre, ou seja, após um longo período de espera ou expectativa.
Agora, vamos analisar as alternativas incorretas:
A - Modo: Advérbios de modo indicam a maneira como uma ação é realizada, como em "rapidamente", "cuidadosamente". "Finalmente" não expressa a maneira, mas sim o momento.
C - Afirmação: Advérbios de afirmação reforçam a certeza de uma ação ou estado, como "sim", "certamente". "Finalmente" não está afirmando nada, apenas localizando no tempo.
D - Intensidade: Advérbios de intensidade modificam a força ou grau de uma ação, adjetivo ou outro advérbio, como "muito", "bastante". "Finalmente" não está intensificando, mas situando temporalmente.
Portanto, a resposta correta é realmente B - Tempo porque o termo "finalmente" especifica quando a ação de escrever o romance vai acontecer, após um longo período de espera.
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Comentários
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GABARITO: LETRA D
→ “Quando finalmente escrever um romance de ficção, ele só será possível porque vivi mais de duas décadas embriagada de histórias absurdamente reais e gente de carne, osso e nervos.” (6º§)
→ Temos, em destaque, um advérbio de tempo (significa algo que ocorre a longo tempo; por fim).
☛ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
A questão trata do assunto advérbio e quer que o candidato faça análise da palavra FINALMENTE junto ao trecho para descobrir qual das alternativas classifica corretamente o advérbio.
"Quando finalmente escrever"
Iremos fazer substituições para facilitar a análise .
a) Incorreta.
Não poderia ser um advérbio de modo vejamos:
Quando cuidadosamente escrever( veja que foi dado sentido de maneira como será escrito).
b) Correta.
A palavra finalmente é realmente de tempo, pois indica um ponto de marcação temporal.
c) Incorreta.
Os advérbios de afirmação sustentam uma afirmativa.
Quando de fato escrever.
d) Incorreta.
Vejamos como agem os intensificadores.
Quanto mais escrever.
GABARITO: B
Finalmente, realmente, certamente são alguns dos advérbios teminados em "mente" que não expressam modo!
Gabarito letra B!
"Quando finalmente escrever um romance de ficção,..."
Troque por outra forma de valor semelhante, veja:
Quando o momento chegar escrever um romance...
Outra que já temos uma de valor temporal.
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