Ao se modificar a pontuação do texto, a frase que permanece...
1. Sinto inveja dos contistas. Para mim, é mais fácil escrever um romance de 200 páginas que um conto de duas.
2. Já se tentou explicar em fórmulas narrativas a diferença entre um conto, uma novela e um romance, mas o leitor, que não precisa de teoria, sabe exatamente o que é uma coisa ou outra assim que começa a ler; quando termina logo, é um conto. O critério do tamanho prossegue invencível.
3. Para entender o gênero, criei arbitrariamente um ponto mínimo de partida, que considero o menor conto do mundo, uma síntese mortal de Dalton Trevisan: "Nunca me senti tão só, querida, como na tua companhia".
4. Temos aí dois personagens, um diálogo implícito e uma intriga tensa que parece vir de longe e não acabar com o conto. Bem, por ser um gênero curto, o conto é também, por parecer fácil, uma perigosa porta aberta em que cabe tudo de cambulhada.
5. Desde Machado de Assis, que colocou o gênero entre nós num patamar muito alto já no seu primeiro instante, a aparente facilidade do conto vem destroçando vocações.
6. Além disso, há a maldição dos editores, refletindo uma suposta indiferença dos leitores: "conto não vende". Essa é uma questão comercial, não literária. Porque acabo de ler dois ótimos livros de contos que quebram qualquer preconceito eventual que se tenha contra o gênero.
7. Os contos de A Cidade Dorme, de Luiz Ruffato, que já havia demonstrado ser um mestre da história curta no excelente Flores Artificiais, formam uma espécie de painel do "Brasil profundo", a gigantesca classe média pobre que luta para sobreviver, espremida em todo canto do país entre os sonhos e a violência.
8. Em toda frase, sente-se o ouvido afinado da linguagem coloquial que transborda nossa cultura pelo arcaísmo de signos singelos: "Mas eu não queria ser torneiro-mecânico, queria mesmo era ser bancário, que nem o marido da minha professora, dona Aurora".
9. O atávico país rural, com o seu inesgotável atraso, explode em todos os poros da cidade moderna.
10. Já nos dez contos de Reserva Natural, de Rodrigo Lacerda, que se estruturam classicamente como "intrigas", na melhor herança machadiana, o mesmo Brasil se desdobra em planos individuais; e o signo forte de "reserva natural" perde seu limite geográfico para ganhar a tensão da condição humana.
11. Como diz o narrador do conto "Sempre assim", "é tudo uma engrenagem muito maior".
(Adaptado de: TEZZA, Cristovão Disponível em: www1.folha.uol.com.br)
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Comentários
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Gabarito para os não assinantes: D
A) Não há vírgula entre sujeito e predicado: "pobre que, luta para sobreviver".
B) O "também" deveria vir entre vírgulas.
C) "já no seu primeiro instante" deveria vir entre vírgula, pois é adj. adv. intercalado e "a aparente facilidade do conto, vem destroçando vocações" está errado, pois não há vírgula entre sujeito e predicado.
D) ADJUNTO ADVERBIAL INTERCALADO / ENUMERAÇÃO (CORRETA)
E) Não pode haver vírgula entre adjunto adnominal e o seu sujeito: "O atávico, país rural, " / há necessidade de vírgulas entre "com o seu inesgotável atraso", pois é um adj. adv. intercalado / não há vírgula entre o núcleo do adjunto adverbial e o seu complemento (adj. adnominal).
Já vi questões dizendo que se isolasse por virgulas adjunto adverbial iria mudar o sentido original.
ENTENDER O QUE A QUESTAO REALMENTE ESTA QUERENDO.....
Gabarito D.
Sobre as outras alternativas, há erro aparente em pontuação.
Uma ressalva na alternativa D: para as outras bancas, restringir um adjunto adverbial entre vírgulas causaria alteração do sentido original do texto (de explicativa para restritiva).
Mas, levando em consideração que as outras estão com erros de pontuação bem definidos, a gente é induzido a marcar a letra D mesmo...
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