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Ano: 2017
Banca:
INSTITUTO AOCP
Órgão:
Câmara de Maringá- PR
Prova:
INSTITUTO AOCP - 2017 - Câmara de Maringá- PR - Advogado |
Q1345729
Português
Texto associado
Texto 2
Lições de pesquisa
Para Bourdieu, no social tudo é relacional.
As implicações desse postulado teórico da
sociologia bourdiana têm sido valiosas, na
medida em que coloca o pesquisador em
condições de perceber com maior rigor as
características específicas dos objetos de
estudo. Nessa lógica, o enquadramento
do objeto é produzido de forma a permitir
perceber a sua posição relativa no conjunto de
objetos semelhantes, o que possibilita avaliar,
de forma mais acurada, o seu sentido (valor,
significado, pertinência) em uma determinada
configuração do social.
A proposta bourdiana de pôr em jogo
as coisas teóricas, por sua vez, obriga o
pesquisador a operar com os conceitos, ou
seja, usá-los como ferramentas de construção
dos fenômenos empíricos que constituem o
foco da investigação. É, portanto, o avesso de uma prática acadêmica ainda frequente,
em que discursos teóricos antecedem e se
articulam a objetos de estudo pré-construídos.
O resultado mais comum da sobrevaloração
das referências teóricas é o “efeito teoria”
(Bourdieu, 1989, p. 47) que leva o pesquisador
a enxergar o que já se predispunha a encontrar,
ou seja, torna-se a antítese da atividade de
pesquisa que se propõe problemas e questões
a serem verdadeiramente pesquisados.
A recorrência dos quadros teóricos que
antecediam as pesquisas — tão comum
no início da pós-graduação no Brasil — e
impunham-se sobre os objetos de pesquisa
foi uma expressão bastante comum desse
equívoco. No texto “Teoria como hipótese”
(Brandão, 2002), a autora desenvolve essa
reflexão referindo-se à pesquisa, entre nós,
e explicita o significado operacional das
teorias numa perspectiva bastante próxima da
proposta por Bourdieu.
A recusa dos monismos metodológicos
é, a meu ver, uma proposta profundamente
adequada ao caráter sempre provisório das
pesquisas em decorrência da complexidade
dos objetos sociais. As oposições quantitativo
x qualitativo, estrutura x história, questionários
x entrevistas, micro x macro são falsas e
respondem muito mais pela “arrogância da
ignorância” (Bourdieu, 1989, p. 25) do que pela
adequação teórico-metodológica ao problema
sob investigação [...].
BRANDÃO, Zaia. Operando com conceitos: com e para além de
Bourdieu. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.36, n.1, p. 227-241,
jan./abr. 2010. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/ep/v36n1/
a03v36n1.pdf>.Acesso em: 16 jul. 2017. Fragmento.
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