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Q2594857
Português Pontuação ,
Ano: 2024 Banca: Instituto Consulplan Órgão: Prefeitura de Pouso Alegre - MG Prova: Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Pouso Alegre - MG - Salva Vidas |
Q2594857 Português
Leia o texto a seguir para responder à questão.

Meu ideal seria escrever

     Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada!” E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa (que não sai de casa), enlutada (profundamente triste), doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”.
     Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada como o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.
    Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera, a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário (autoridade policial) do distrito (divisão territorial em que se exerce autoridade administrativa, judicial, fiscal ou policial), depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!” E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.
      E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa (habitante da antiga Pérsia, atual Irã), na Nigéria (país da África), a um australiano, em Dublin (capital da Irlanda), a um japonês, em Chicago – mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: “Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou (introduziu-se lentamente em) por acaso até nosso conhecimento; é divina.”
     E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito contar uma história...”
     E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

(BRAGA, Rubem. Meu ideal seria escrever. In.: A traição das elegantes, Rio de Janeiro, 1967.)
Ao longo do primeiro parágrafo foi empregado o sinal de pontuação das aspas para mencionar as falas de outras personagens. Tal sinal de pontuação pode também ser empregado nos seguintes contextos, EXCETO:
Alternativas

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O tema central desta questão é o uso das aspas como sinal de pontuação. Compreender onde e como aplicar as aspas corretamente é essencial para interpretar e responder à questão. O conhecimento necessário envolve a familiaridade com os diversos contextos em que as aspas são utilizadas na Língua Portuguesa.

A alternativa correta é a C. Vamos analisar o porquê:

C - Intercalar informações acessórias. É a alternativa correta porque as aspas não são utilizadas para inserir informações acessórias. Esse é o papel dos parênteses ou das vírgulas. Por exemplo, ao adicionar um comentário ou explicação extra no meio de uma frase, você usaria parênteses: "Ele, (que não gosta muito de sair), preferiu ficar em casa."

Agora, vejamos por que as outras alternativas estão incorretas:

A - Exprimir ironias ou sarcasmos. As aspas são, de fato, usadas para exprimir ironia ou sarcasmo. Elas destacam uma palavra ou expressão para que o leitor entenda que o significado não deve ser tomado literalmente. Por exemplo: "Ele é um 'gênio' em resolver problemas..." (aqui, as aspas indicam sarcasmo).

B - Destacar expressões ou palavras. As aspas são frequentemente usadas para destacar expressões ou palavras, especialmente quando se quer enfatizar um termo específico ou quando se está citando alguém. Por exemplo: "A palavra 'amor' tem muitos significados."

D - Alterar o interlocutor em diálogos. As aspas são utilizadas para indicar as falas dos personagens em diálogos. Elas ajudam a diferenciar o que é narrativa do que é fala direta. Por exemplo: "Ela disse: 'Estou muito feliz hoje!'

Portanto, ao identificar o uso das aspas e avaliar cada uma das alternativas, conclui-se que a opção C é a excetuada, pois não corresponde a um uso adequado das aspas.

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Comentários

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queria uma explicação a respeito da assertiva D: Alterar o interlocutor em diálogos, eu não entendi...

A alternativa que está incorreta é a C. Intercalar informações acessórias.

As aspas são usadas para:

Mencionar falas de personagens ou citações diretas (alterar o interlocutor em diálogos).

Expressar ironias ou sarcasmos (aspas irônicas).

Destacar expressões ou palavras específicas.

No entanto, elas não são utilizadas para intercalar informações acessórias, já que esse papel é geralmente desempenhado por outros sinais de pontuação, como parênteses ou travessões.

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