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Leia o texto a seguir para responder as próximas 7 (sete) questões.
A IMPORTÂNCIA DO CACOETE NA EVOLUÇÃO LINGUÍSTICA
Por Aldo Bizzochi. Adaptado de:
http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/a-importancia-docacoete-na-evolucao-linguistica-337681-1.asp Acesso em 30 mar 2015.
A maior parte das inovações linguísticas surge da fala informal e não da fala ou da escrita formais. Exceto por neologismos técnicos, que em geral nascem em textos acadêmicos impressos, é sempre a fala popular que institui novas pronúncias (e, no limite, conduz à mutação fonética), novas construções sintáticas (por exemplo, a tendência à próclise é uma criação da fala brasileira) e novas palavras.
Por isso mesmo, é nos períodos costumeiramente chamados "de barbárie", em que não há ensino formal da língua, e quase todos os falantes são ágrafos, que as mudanças linguísticas ocorrem mais depressa. Não foi por outra razão que a língua da Lusitânia passou, durante a Alta Idade Média (séculos 5 a 11 d.C.), isto é, em apenas seis séculos, do latim vulgar ao ibero-romance e deste ao galego-português, ou português arcaico. Em compensação, a partir do estabelecimento do Estado português e da institucionalização da educação, sobretudo a partir do século 16, a língua mudou relativamente pouco. Isso significa que o português de Camões está mais próximo do atual que daquele das cantigas trovadorescas.
Um dos muitos fatores que contribuem para a mudança linguística é, por incrível que pareça, o cacoete. Na fala cotidiana, em que temos de pensar e falar ao mesmo tempo, tendemos a truncar palavras e frases, a repetir elementos, seja por redundância (a fala é, por natureza, muito mais redundante que a escrita, já que o ruído na comunicação também é muito maior) ou por insegurança, e a gaguejar bastante. Também são comuns as "muletas do discurso", certas expressões-chavão que utilizamos a todo momento (como "sei lá", "tipo assim", etc.) para preencher o vazio comunicativo enquanto pensamos ou para nos aliviar do peso de termos de ser criativos o tempo todo.
Muitas características definidoras de certos idiomas, como a negação dupla em francês (jene sais pas), resultam de cacoetes que, de tão disseminados na fala popular, acabaram sendo integrados à norma e hoje fazem parte da gramática da língua. [...].
O que são esses anacolutos que transformam uma oração do tipo sujeito-predicado em uma do tipo tópico-comentário senão cacoetes de fala que se espalham por contágio? Basta assistir no YouTube a entrevistas de 30 ou 40 anos atrás e compará-las com a fala atual das pessoas na TV para observar como a frequência desse tipo de construção aumentou nos últimos anos, mesmo entre pessoas escolarizadas, como repórteres, atores e cantores de MPB.
Redundâncias como as do espanhol (Le di una manzana a la maestra, "Dei uma maçã à professora"), do italiano (Questa mela la mangio io, "Esta maçã quem vai comer sou eu") ou do inglês (At what time do you do your homework?, "A que horas você faz a lição de casa?") nada mais são do que a cristalização e subsequente oficialização de antigos cacoetes que, por terem sido introduzidos, ou pelo menos disseminados, por falantes de uma certa influência social, contaminaram a maioria dos falantes há séculos e, de tão arraigados na fala coloquial, ascenderam à categoria de leis gramaticais, tornando-se, portanto, de uso obrigatório.
Após a leitura das assertivas a seguir sobre o texto lido, pode-se afirmar que:
I. A palavra anacoluto, presente no penúltimo parágrafo do texto refere-se a um recurso de linguagem no qual se utiliza uma palavra por outra, substituindo-a.
II. A palavra “ascenderam”, destacada no último parágrafo, poderia ser substituída pela expressão: “pôr em funcionamento”, sem que se alterasse o sentido inicial.
III. Em: “contaminaram a maioria dos falantes há séculos”, o verbo haver está empregado com sentido de existir, por isso, é considerado impessoal.
IV. Em: “O que são esses anacolutos [...] senão cacoetes”, a palavra “senão” poderia ser substituída, sem prejuízo de sentido, por “a não ser”.